Lord Of The Seas escrita por Mrs Jones


Capítulo 1
Eu Sou A Esperança - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo! Sim, aqui estou com mais uma belíssima fic Hooked! Alguns já sabiam dessa fic, tem meses que estou dizendo que vou postar e não posto kkkk Sorry, eu queria ter certeza de que a história ia desenvolver bem, por isso a demora. Já tenho o segundo capítulo pronto, só vou postar quando a fic tiver um bom número de acessos e comentários. Bem, como já devem ter percebido, a ideia surgiu de Piratas do Caribe. Já que temos em Once o Killian Jones e em Piratas o Davy Jones, pensei: "por que não transformar os dois em um personagem só?". Daí nasceu essa doideira toda.

Como eu sei que muita gente não lê o Disclaimer, torno a dizer que:

*A história se passa no século XVIII. Não significa que o enredo vá ser cem por cento fiel ao modo como as coisas eram na época.

* A fanfic é Hooked (Killian Jones e Ruby Lucas), mas o Killian é o Davy Jones (de Piratas do Caribe). Nesta história o nome completo dele vai ser Killian Davy Jones, mais conhecido por Davy Jones.

Também tenho que dizer que:

* Diferente das minhas outras fics Hooked, nessa o Killian não é bonito. Não se preocupem, teremos nosso pirata sexy de volta. Nesta, a Vovó não aparece, simplesmente porque já morreu. Os homens da série estão aqui, só não são muito bonitos (não se preocupem, eles não serão sempre assim).
* Pra compensar a falta de beleza do nosso Davy, nesta história o Killian vai ser mais gentil com a Ruby.

* Vão notar que eu usei uma linguagem mais formal nos diálogos. Quis retratar mais ou menos a linguagem da época. Podem achar um pouco cansativa, mas não se preocupem, essa linguagem é só nos dois primeiros capítulos, depois volta a ser informal, cheia de gírias e palavrões (afinal, é uma história de piratas).

* A personagem Karolyn tem a aparência da diva Meryl Streep. A Madge tem aparência da Kirsten Dunst (aqui ela vai ser loira). A Brigite tem aparência da Teresa Palmer. A Pearl tem aparência da Sierra Mccormick criança. Mas é assim que as imagino, vocês podem imaginar como quiserem.

* O Sir Victor Wade é o Dr. Whale de OUAT. Eu mudei o sobrenome porque Whale não parecia muito chique para um nobre.

* A ideia é que seja uma short fic com menos de 10 capítulos, por isso os capítulos são bem extensos.

Espero não ter esquecido de nada. Comentem por favor e não tenham medo de criticar. Qualquer dúvida, perguntem nos comentários. Espero que gostem da história, estou amando escrever. Vejam pelo lado bom: vão aprender um pouco de história durante a leitura!




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/616447/chapter/1

Se o Mar pudesse falar, diria que aquela era a quinta vez que Ruby Lucas se sentava sozinha na praia. Se fosse provido de sentimentos, teria pena dela. E se pudesse dar conselhos, sugeriria que ela fosse embora com ele (para viver nas profundezas do oceano, onde outras milhares de almas jaziam no Baú de Davy Jones).

O Mar, no entanto, manteve-se indiferente ao sofrimento da garota, quando ela se sentou na areia fina e amarelada da praia, pondo uma cachoeira pelos olhos. Se o Mar tivesse um tiquinho de piedade, diria que ela devia ter esperança.

Mas o Mar não era piedoso. E Ruby não era nada esperançosa.

Sentada ali, enquanto punha uma cachoeira pelos olhos, ela pensou no quanto a Vida era cruel e injusta com ela. Ou seria culpa do Destino, que tinha um péssimo senso de humor? Quem quer que fosse o responsável por seu sofrimento, teria de se explicar. Nenhum dos dois apareceu para lhe dar respostas, no entanto.

“Por que é que estou destinada a tanto sofrimento?”, perguntou a si mesma, esperando que, de alguma forma, a resposta viesse cair a seus pés.

Nada aconteceu. Dali a trinta segundos, um berro veio lá de cima.

– RUUUUUBYYYYYY!

A garota bufou, enxugando as lágrimas de forma brusca. Se Karolyn tivesse consciência do quanto sua voz soava estridente e insuportável, não gritaria daquele jeito. Espanando a areia da roupa, a jovem se arrastou morro acima, até onde a casa se equilibrava perigosamente à beira de um penhasco (Ruby bem desejava que um ciclone passasse por ali e resolvesse levar a casa com toda sua família dentro, assim não teria mais de agüentar Karolyn e suas filhas detestáveis).

– Onde é que estivestes, tua inútil? – Karolyn a recebeu com pedras na mão, como sempre – Procurei-te por toda parte.

– Desculpe, Karolyn, estive na praia – disse Ruby, de cabeça baixa (para que a mulher não percebesse que ela estivera chorando).

– Estivestes na praia! Estivestes NA PRAIA! – a outra gritou, aumentando o tom de voz a cada palavra – Por acaso dei-te permissão para sair de casa e perambular por aí? Preguiçosa e imprestável, igualzinha à mãe. Eu devia dar-te uma surra para a ensinar a me obedecer quando mando.

Ouviram-se risinhos. Ruby tentou ignorá-los, mas logo se transformaram em gargalhadas escandalosas, quando Karolyn resolveu humilhá-la um pouquinho mais.

– O que é que ainda estás fazendo aqui? Move-te! – gritou para a garota, empurrando-a com força (Ruby foi tropeçar no porta-casaco, o que desencadeou o acesso de gargalhadas).

As gargalhadas, é claro, vinham de suas irmãs postiças. O som dos risos perseguiu Ruby escada acima, até que ela estivesse longe demais para ouvir qualquer coisa (até mesmo os berros de Karolyn, que brigava com o pobre mordomo e mandava as garotas se calarem, pois aquele comportamento não era apropriado para damas).

Ruby Lucas dava graças aos céus por Karolyn e suas irmãs detestáveis não serem sua família de verdade.

Ruby não era adotada, no entanto. Ela só tivera o azar e a infelicidade de perder a mãe quando era pequena, aí seu pai se casara com a “bela e gentil senhora Moore” (bela e gentil nas palavras dele, já que Karolyn era mesmo muito bela, mas nada gentil). A partir daí, Ruby não só ganhou uma madrasta, mas três irmãzinhas que vieram de brinde. E adivinhem só: com o tempo, a madrasta se revelou cruel e as irmãzinhas – miradas no exemplo da mãe –, revelaram-se como criaturinhas de uma maldade execrável. Isso, é claro, só aconteceu depois que o pai de Ruby morreu afogado (Madrasta cruel, irmãs malvadas, pai falecido... já não ouvimos esta história antes?).

Ruby dava graças aos céus por ter uma casa e uma família. Ela, no entanto, desejava ter sido deixada órfã.

Pela janela de seu quarto, ela observava o horizonte. Se Ruby fosse esperançosa, teria esperança de que o navio do pai retornasse. Mas o navio não poderia retornar, não é mesmo? Não após ter sido inteiramente destroçado, após seu encontro com um navio inimigo.

Foram os piratas, disseram, que destruíram o navio do senhor Lucas. E o senhor Lucas, que não conseguiu agarrar-se a uma tábua sequer, afundou como uma pedra e morreu afogado. Vivia agora no Baú de Davy Jones. Uma expressão para aqueles que morriam no mar. Suas almas, diziam, viviam lá nas profundezas, guardadas pelo temível capitão do Holandês Voador.

Ruby foi procurar pelo vestido que usaria naquela noite. Uma coisa que ela apreciava em sua madrasta, era seu bom gosto para festas e bailes. Karolyn jamais perdia uma “boca livre”- que nada mais é do que uma oportunidade de encher a pança, encher a cara e chacoalhar o esqueleto (e tudo isso de graça).

Os bailes, naquela época, apenas eram promovidos às famílias mais abastadas da sociedade inglesa. Talvez os pobres também fizessem esse tipo de coisa, mas suas festas jamais se comparariam ao glamour dos bailes da nobreza.

Os Wade se enquadravam como nobres porque, além de morarem num belíssimo e luxuoso solar à beira-mar, também eram uma das famílias mais notórias e mais bem endinheiradas de toda a Londres.

Karolyn e suas filhas nem sempre tiveram tanto prestigio social, no entanto. É necessário dizer que Karolyn estava em seu terceiro casamento. Ela não era apenas uma mulher escandalosa, maldosa e sem classe, era também uma terrível parasita sugadora de dinheiro. E Ruby sabia muito bem disso.

O primeiro marido de Karolyn fora Gaspar Moore, com quem ela tivera suas três filhas. Gaspar era rizicultor (alguém que cultiva arroz, caso esteja se perguntando) e possuía uma vasta quantidade de terras nos campos de Birmingham. Ele era rico o bastante para possuir meia dúzia de escravos e uma imponente casa de campo. Gaspar, porém, acabou endividado e teve de vender todas as terras, os escravos e a casa. Os Moore acabaram na rua da amargura. Um dia, o corpo gordo de Gaspar foi encontrado num beco. O imbecil tinha sido morto por conta de uma briga de bar.

Karolyn e as filhas viveram numa pobreza terrível por uns tempos (o que, para elas, era pior do que a morte). Mas aí Karolyn conheceu o senhor Henry Lucas, o pai de Ruby, que era um navegador e explorador a serviço da Coroa. Henry, como já sabemos, era tão apaixonado por Karolyn que a descrevia como uma pessoa bela e gentil. Os dois se casaram e finalmente Ruby teve uma mãe substituta e irmãs com as quais pudesse brincar. Nos primeiros anos de convivência, Karolyn se mostrara uma pessoa muitíssimo gentil, carinhosa e atenciosa. As filhas já eram malvadas naquela época, mas Ruby era inocente demais para perceber que quando as garotas a chamavam de burrinha, o faziam com intenção de humilhar e não por brincadeira.

Bastou que Henry morresse para que as coisas mudassem completamente. Toda a fortuna que ele possuía passou para o nome de Karolyn, assim como sua casa e todos seus pertences. A gentil madrasta mostrou sua verdadeira face e a pobre Ruby Lucas, que a partir daquele momento viu-se completamente desamparada, passou a viver um verdadeiro inferno nas mãos da madrasta e das irmãs.

E então veio o terceiro marido.

Se Karolyn tinha alguma ilusão de que Sir Victor Wade a amava, estava muito enganada: Sir Victor não passava de um tolo, cujos olhos se arregalavam toda vez que viam um rabo de saia.

Sir Victor Wade era um Baronete, um filho de Barão, e pertencia a uma antiga linhagem de senhores de terras. A família Wade existia desde a época do feudalismo e por isso os Wade eram grandes possuidores de terras. Sir Victor era um nobre, ainda que o título de Baronete não fosse lá grande coisa. Ele não era um Visconde, ou um Marquês, ou um Duque, mas era rico. Podre de rico. E os olhos de Karolyn arregalaram-se com ambição quando ela soube disso.

Quando os dois se casaram, Karolyn vendeu o casarão na qual Ruby crescera com o pai. Aquilo fora extremamente doloroso para a menina. Ela deixara uma parte sua para trás quando vira o casarão Lucas pela última vez. Karolyn, obviamente, não se importara com os sentimentos de sua enteada.

– Tratas de enxugar estas lágrimas – ela dissera, indiferente à tristeza da garota – Aquilo não passa de um casarão em decadência. Iremos morar num lugar muito mais glamoroso, um lugar que se adéqua muito bem à nossa classe. Finalmente teremos todo o luxo que merecemos.

Todo o luxo que elas mereciam... O solar Wade com certeza era o que Karolyn e suas filhas procuravam. Adequava-se muito bem à classe delas. A classe que elas acreditavam ter. Mas não tinham, pois Karolyn e suas filhas não passavam de mulheres fúteis e sem refinamento. Elas podiam ter largado os campos de arroz de Birmigham, a vida simples e pacata do interior, a pobreza cultural daquela gente que vivia longe das cidades e da modernização; mas os campos de arroz e a pobreza cultural não largaram Karolyn e suas filhas. Elas se vestiam como damas nobres, cultas e refinadas, mas no fundo, bem lá no fundo, ainda conservavam um quê de mulher do campo. Ruby costumava pensar que sua madrasta e suas irmãs postiças não passavam de camponesas ignorantes. Porque esta era a verdade.

Ouvindo os berros de Karolyn (que brigava com o mordomo, com as filhas e com qualquer outra pessoa que estivesse pelo caminho), Ruby podia afirmar isso com mais certeza. Sua madrasta era uma completa ignorante.

Eu, pessoalmente, não sei como Sir Victor foi se interessar por uma mulher tão vulgar como aquela.

Mas como eu ia dizendo, Ruby Lucas escolhia o vestido que usaria aquela noite. Quando o convite do baile chegara ao solar, Karolyn e as filhas correram a comprar os melhores tecidos importados disponíveis no mercado, além, é claro, de contratarem os melhores modistas da cidade para a confecção de seus vestidos. No entanto, como você já deve ter imaginado, a pobre Ruby não teve a oportunidade de adquirir novos vestidos, por isso a coitadinha ia usar um de seus modelitos antigos.

“Por que a pobre Ruby Lucas não adquiriu novos vestidos?”, você se pergunta. Ora, por que mais? Porque sua madrasta cruel e ignorante desconsiderou o fato de que ela, provavelmente, compareceria ao baile. Era comum que a menina fosse excluída de todas as atividades familiares e esta não era uma exceção. Seria melhor que Ruby ficasse em casa, trancada em seu quarto, atirada na cama, abafando o choro no travesseiro e lamentando o quanto sua vida era sofrida. Mas ela queria isso? É claro que não! Bailes eram a oportunidade perfeita para que uma pessoa se promovesse socialmente. Aquela, Ruby sabia, era a sua chance de encontrar um marido e construir uma nova vida. Mas Karolyn e suas filhas insuportáveis, ridículas, malvadas e extremamente irritantes, pareciam dispostas a impedir que aquilo acontecesse.

– Que é que estás fazendo com este vestido? – Karolyn indagou, abrindo a porta do quarto de Ruby sem bater e assustando a garota, que experimentava alguns vestidos de frente para o espelho – Não me vás dizer que tens pretensão de comparecer ao baile...

– Na verdade... eu tenho sim.... – respondeu Ruby, completamente confusa. Karolyn nunca a impedira de comparecer a festas, por que é que faria isto agora?

– Ora, não percas teu tempo, imprestavelzinha. – a mulher adentrou o quarto e, sem nenhuma cerimônia, começou a remexer no armário da enteada – Por que é que queres ir ao baile? Nada haverá lá para ti.

– Bem, eu pensei que... que talvez fosse uma boa oportunidade de eu conhecer pessoas novas. Talvez eu pudesse conhecer alguém interessante...

Karolyn soltou uma sonora gargalhada.

– Estás achando que irá encontrar um marido? Por que é que alguém haveria de querer-te? Ninguém quer uma esposa burra e analfabeta!

Os olhos de Ruby ficaram marejados, mas ela não soltou uma lágrima sequer. Não ia permitir que a madrasta percebesse o quanto suas palavras podiam afetá-la. Karolyn encontrou o que queria: um maravilhoso chapéu que o senhor Lucas comprara especialmente para a filha.

– Combinará perfeitamente com o vestido de Brigite – disse ela, sem nem ter a decência de pedir a Ruby o chapéu emprestado. Já ia saindo, quando se lembrou de acrescentar – Oh e já que queres tanto ir ao baile, tratas de arrumar-te de forma adequada. A última coisa de que precisamos é de uma órfã analfabeta maculando o nome da família.

Ruby desejou que Karolyn rolasse escada abaixo e quebrasse o pescoço. Mas nada aconteceu.

***

O coche negro parou diante do solar. Ruby olhou pela janela e viu o cocheiro cuspir no cascalho da entrada e ajeitar o chapéu na cabeça. Devia estar impaciente com tanta demora. Ela se dirigiu à escadaria, rindo internamente ao passar pelo quarto de Pearl e ouvi-la reclamar da quantidade de anáguas que Karolyn a obrigara a usar. A jovem alcançou a escada e desceu os degraus de maneira graciosa. Ela tinha a delicadeza de uma princesa de contos de fadas, embora não passasse de uma analfabeta.

– Karolyn, o coche está a esperar! – Victor gritou de algum lugar da casa e Karolyn gritou de volta:

– Eu já vou, querido! – e em seguida para as filhas – Apressais-vos! Apressais-vos! O coche está a esperar!

“Sempre atrasadas”, Ruby pensou, antes de alcançar o último degrau.

– Ora, mas ela tem a delicadeza de uma flor – disse a voz de Victor, que acabava de sair de um dos salões da casa. Ele veio até Ruby e lhe tomou a mão direita, beijando-a. – Estás linda, querida.

– Obrigada! – respondeu ela, livrando-se do homem e caminhando até a porta de entrada, que um criado acabara de abrir para ela.

Ruby odiava seu padrasto, não apenas pelo fato de ele ser um completo idiota, mas por ser um louco pervertido. Infelizmente, ela era desafortunada o bastante para atrair o olhar de Sir Victor. Tinha plena consciência de que o homem a via como qualquer outra coisa, menos como uma filha. A verdade é que ele defloraria a inocência da jovem, se pudesse. E isso era o que Ruby mais temia.

A moça cumprimentou o cocheiro antes de subir para o coche, ajudada por uma criada. Aquele maldito espartilho a sufocava e ela praguejou baixinho quando a barra do vestido prendeu na porta. Dali a pouco Victor subiu para a carruagem, sentando-se no assento oposto ao da enteada, e Ruby fingiu não perceber os olhares maliciosos do homem. Depois veio Madge, a filha mais velha de Karolyn, seguida por Brigite, a filha do meio, e Pearl, a filha mais nova. A última a entrar no coche foi Karolyn, que sorriu para as filhas e entrelaçou seus dedos aos do marido.

– Elas não estão lindas? – perguntou, orgulhosa.

– Lindíssimas, assim como tu – respondeu ele, sem deixar de encarar Ruby.

Sim, elas estavam realmente lindas, Ruby teve de admitir, embora não deixasse de notar certos detalhes ridículos em suas aparências.

Madge parecia um balão com as armações que usava sob o vestido, sem falar no exagero de perfume que passara. “É para disfarçar o cheio da banha de porco”, Karolyn dissera, quando Pearl comentou sobre o cheiro forte que impregnara a minúscula cabine na qual estavam espremidos. Madge besuntara os cabelos com banha de porco, a fim de alisá-los, e agora estavam esticados para cima e presos num imenso topete enfeitado por flores. Bizarro!

Já Brigite, embora fosse belíssima e tivesse pele clara, usara tanto pó no rosto que parecia uma defunta. Ruby ainda não acreditava que alguém pudesse passar gesso na cara, a fim de clarear a pele. Isso quando não usavam farinha de trigo. Não bastasse a palidez, ela ainda respirava com dificuldade – resultado do apertado espartilho que usava – e o som do ar sendo inspirado soava como um fole de forja.

Se Madge parecia um balão e Brigite parecia uma defunta, a situação de Pearl não era diferente. Apesar de ser uma criança, vestia-se de maneira espalhafatosa e mirava-se no exemplo da mãe e das irmãs. Felizmente, ainda não chegara ao ponto de usar cabelos gigantes ou espartilhos, mas estava sufocada por milhões de anáguas e com a cara melecada por um exagero de maquiagem.

– Se tudo der certo, minha pequena Pearl haverá de encontrar um marido hoje – dizia Karolyn, sorrindo para a filhinha.

Imaginem só, uma menina de doze anos arranjando marido... E a pobre Ruby, coitada, ainda ia morrer solteirona. Mas, é claro, seria pior se Karolyn arranjasse para ela um daqueles velhos ricos, como um Marquês que ela certa vez conhecera. Graças aos céus, o tal Marquês era tão velho, mas tão velho, que bateu as botas antes mesmo de pedir a mão da senhorita Lucas em casamento. Isso, é claro, foi motivo de deboche para Karolyn e as filhas, que afirmavam que Ruby jamais encontraria um marido sem que algo trágico acontecesse ao mesmo.

– Não quero um marido, mamãe, sou muito nova... – resmungou a pequena Pearl, cruzando os braços e emburrando.

– Não tens de querer ou não querer. Sou tua mãe e sei o que é melhor. – retrucou ela e Pearl emburrou ainda mais – Se tudo der certo, Madge e Brigite também haverão de encontrar bons partidos.

– Isso, é claro, quando deixarem de lado o orgulho – comentou Victor, ao que Karolyn assentiu com a cabeça.

– Bem observado, querido. Quando deixarem de lado o orgulho, haverão de encontrar bons partidos.

Madge e Brigite já haviam sido cortejadas pelos mais ricos e bem apessoados rapazes das redondezas. Mas elas sempre os rejeitavam, ou porque eram feios, ou porque, de algum modo, as desagradava. Se Ruby alguma vez já tivesse sido cortejada, aproveitaria a oportunidade (menos, é claro, quando se tratasse de um velho caquético e com o pé na cova). Ela esperava conhecer alguém interessante na festa. Certamente, não devia ser tão feia a ponto de passar despercebida. E, bem, se Victor arregalava os olhos para ela, devia ser porque a achava bela e encantadora.

– E quanto a Ruby? – perguntou ele, lançando um olhar à enteada, que se ocupava em observar as paisagens escuras que passavam pela janela.

– Ora, esta aí terá muito sorte se encontrar um pobre coitado que se interesse por ela. – Karolyn se abanava com um leque, pois suava como uma porca dentro do imenso vestido que usava – Quem é que gostaria de casar-se com uma analfabeta?

– Oh, não falas assim, minha querida. Bem sabes que a menina tem dificuldade...

– Dificuldade? – a mulher soltou uma de suas sonoras gargalhadas (e pensar que ela ria educadamente quando em meio a outras pessoas) – A garota mal sabe o alfabeto. É uma ignorante! Nunca aprenderá a ler.

Ruby nada disse, estava acostumada àquilo. Não era incomum que a humilhassem de todas as maneiras possíveis, debochando de sua dificuldade com a leitura. Ela já até se acostumara à sua falta de inteligência. Na verdade, já até aceitara sua condição. Reconhecia que algumas pessoas nasciam destinadas a fracassar. E bem, ela podia ser terrivelmente ignorante e analfabeta, mas era uma moça educadíssima e refinada, coisa que suas irmãs postiças e Karolyn estavam longe de ser.

“Por que Ruby Lucas não sabia ler?”, você se pergunta. “Teria Henry Lucas sido tão negligente a ponto de nunca ensinar à menina?”.

Bem, meus caros, a situação da senhorita Lucas era terrivelmente complicada. Vejam bem, ela tivera o infortúnio de nascer disléxica. Bem, naquela época não se falava em dislexia, visto que esta era uma condição ainda desconhecida. Era por isso que quando a pobre Ruby dizia que as palavras pareciam dançar na página, Karolyn gargalhava e dizia que a menina estava enlouquecendo. Burra e ignorante aquela Karolyn Wade.

– Claro que irá aprender! – disse Victor, que sempre defendia a enteada (é claro, ele só o fazia porque admirava a aparência física da garota. A verdade é que ele era tarado por ela e só não a pegara de jeito ainda porque esperava pela oportunidade certa) – Eu mesmo a ensinarei.

Ruby estremeceu só de pensar naquilo. Filho da mãe maldito! Ele só estava dizendo aquilo porque queria ficar sozinho com ela. Ele ia se aproveitar de sua burrice para poder conseguir algo com a garota. Mas isso jamais ia acontecer. Jamais. Ruby jurou por Deus que cortaria as mãos do homem, caso ele ousasse tocar nela. Felizmente, Karolyn foi curta e grossa.

– Não há de ensinar nada a ela! – retrucou – Ouviste? Não há de ensinar nada a ela. Nasceu burra, morrerá burra.

As três filhas gargalharam estrondosamente (mais para humilhar Ruby do que por terem achado graça do que a mãe dissera). Madge balançava no lugar, parecendo um balão de gás envolto por rendas e usando uma trepadeira na cabeça. Pearl soltava risinhos e segurava a barriga, parecendo um presunto gordo envolto em anáguas. Quanto a Brigite, esta se assemelhava a um porco asmático e ria aos guinchos. Karolyn limitou-se a lançar um olhar de desprezo na direção da enteada, enquanto esta apenas se manteve impassível, ainda observando as paisagens escuras pela janela.

– E tu? Não tens nada a dizer em defesa? – perguntou ela a Ruby, lançando um olhar severo às garotas, que se aquietaram no mesmo momento.

– Que queres que eu diga? – Ruby se voltou para olhá-la, exibia um sorriso apático – Não lamentarei o fato de as pessoas serem tão ignorantes a ponto de não serem capazes de entender que minha condição é extremamente rara e desconhecida.

– Que queres dizer com isso? – Karolyn se mostrou indignada – Estás a insinuar que somos pessoas ignorantes? Oh, porque tu és extremamente inteligente, não é? Não podes se dar ao luxo de exibir-se por aí, não foi agraciada com um dom. Não serves para nada.

– Minha arte é boa o suficiente, muito obrigada. – retrucou Ruby, enraivecida – E tu? Tens algum talento que não seja fofocar, criticar e humilhar os outros?

As três irmãs imediatamente arregalaram os olhos e escancaram suas bocas rebocadas de batom. Ruby jamais falara a Karolyn utilizando aquele tom, jamais tivera tamanha coragem. Karolyn soltou um “oh” exagerado e cerrou as mandíbulas, ameaçadora.

– Ora, tua...

– Acalma-te, querida! – Victor interferiu, segurando a esposa no lugar. – Ruby não quis ofender, não é mesmo?

– Como ousas afrontar-me de maneira tão desrespeitosa? – respondeu a mulher, a cara pegando fogo de tanta raiva – Achas que tua arte é boa o suficiente? Jamais poderás comparar-se a um Da Vinci ou a um... – Karolyn não era culta o bastante para conhecer os principais pintores famosos de sua época -...ou a qualquer artista que exista por aí. Se tiveres pretensão de alcançar sucesso, tiras esta ideia de tua cabeça oca. Não vai acontecer. Nunca. Tu não serves para nada. Tu não passas de uma analfabeta. Sempre serás uma analfabeta. Sabes do que mais? Morrerás sozinha e rejeitada, pois homem nenhum há de querer-te.

– Karolyn, já chega...

– Acabarias na rua da amargura, não fosse a fortuna de teu pai. Se dependesse apenas de mim, largaria-te para morrer sem um tostão sequer. Então agradeças por ter um lar e uma família. Aturamos-te por caridade e obrigação. Tu não significas nada para mim e minhas filhas.

E este, senhoras e senhores, é o momento em que apertamos os punhos e xingamos Karolyn de vaca ignorante e roceira (ou de qualquer outra coisa que vossas senhorias queiram xingá-la). Em seguida, fazemos cara de pena, dizemos “pobre Ruby” e sufocamos a coitadinha num abraço, porque ela merece.

Como era de se esperar, nossa Ruby está de olhos marejados e a vaca ignorante que é sua madrasta sorri com escárnio e satisfação, enquanto os três projetos de vilã (o balão de gás, o presunto gordo e o porco asmático) gargalham escandalosamente.

– Por Deus, Karolyn, como tens uma língua maldosa! – exclamou Victor, extremamente desapontado com sua roceira... digo, sua esposa. – A garota é tua enteada! Que é que teu falecido marido diria se estivesse aqui?

– Henry Lucas já não pode dizer nada, querido, pois vive agora no Baú de Davy Jones e jamais sairá de lá, a não ser que o próprio Davy o retire das profundezas.

Ruby tremeu as pernas, tremeu os braços e tremeu os olhos, mas não esboçou nenhuma reação, nem permitiu que as lágrimas marotas fugissem. Henry Lucas, eu posso afirmar com certeza, remexeu-se com fervor em sua tumba nas profundezas, ao ouvir sua ex-esposa falar daquela maneira. Por que é que ela usara tanto desprezo? Por que é que a bela e gentil senhora Moore, aquela que saíra direto das roças... quero dizer, dos campos de arroz, estava falando daquela maneira? Por quê? Por quê?

Henry, querido, sejamos realistas, a bela e gentil senhora Moore nunca foi gentil, mas tu foste tolo demais a ponto de apaixonar-se por tal criatura. Logo tu Henry, tu que foste um homem extremamente inteligente e honesto, tu que foste um excelente navegador, tu que foste um exemplo de pai e homem batalhador... Como é que foste apaixonar-se pela roceira ignorante que cultivava arroz nos campos de Birmigham? Logo tu Henry, logo tu...

Retomemos a narrativa.

Ruby estava pensando nas últimas palavras de Karolyn. “...a não ser que o próprio Davy o retire das profundezas.”, ela dissera. As palavras ecoaram pela cabeça da garota. A cabeça que não era oca, como Karolyn achava, mas dotada de uma inteligência incrível. É de se esperar, meu caro leitor, que as pessoas disléxicas, embora incapazes de ler perfeitamente, tenham sucesso em outras áreas de conhecimento. Bem, Ruby era, de fato, uma analfabeta e mal sabia somar um mais um. Mas isto, é claro, nunca a impediu de desenvolver seu lado criativo.

Como já sabemos, Ruby era uma artista. É claro, não chegava a ser um Da Vinci, ou um Picasso, mas segurava os pinceis com destreza e pintava belíssimas paisagens na tela. Também sabia bordar, graças à sua falecida avozinha, que a ensinara todos os tipos de costura. E sabia tocar umas notas no piano, embora não fosse tão boa quanto Brigite. Oh, e é claro, como todas as outras moças inglesas da época, sabia todos os passos da contradança.

Portanto, meus senhores, se Karolyn achava que sua enteada era estúpida, estava muitíssimo enganada. A verdade é que Ruby sabia fazer muitas coisas e, além disso, tinha uma mente livre e cheia de pensamentos. Pensamentos estes que rodopiavam por sua cabeça, quase a deixando tonta.

“A não ser que o próprio Davy o retire das profundezas”, ela pensava, os olhos fixos na janela “Bem, e se houver um meio de convencer Davy Jones a retirar papai das profundezas? Aí seríamos felizes de novo”.

Eu não disse? Ela tinha uma inteligência incrível!

Naquele momento, Ruby sorriu com felicidade e satisfação. Agradeceu a Karolyn mentalmente por ter dito aquelas palavras e então começou a bolar um plano. Precisava encontrar Davy Jones, o capitão do Holandês Voador, e então arranjar um meio de convencê-lo a retirar Henry das profundezas do oceano. Não seria fácil, obviamente, uma vez que Henry teria de ser ressuscitado. Mas Davy era o rei dos oceanos, é claro que ele tinha poder para isso. Bastava que ela pensasse em algo que pudesse dar a ele em troca.

Se a Esperança tinha nome, seu nome era Davy Jones.

***

Jogando cartas com um grupo de nobres, Ruby mal conseguia concentrar-se no jogo. Sua cabeça ainda fervilhava de pensamentos e o fato de Karolyn encará-la com tanto desprezo e ódio não ajudava em nada.

Por todo o salão, pessoas riam, conversavam, apreciavam uma bebida ou dançavam. Isto, é claro, de maneira refinada. Tudo o que se via era um mar de perucas. Perucas, milhares de perucas. A moda fora lançada pelo Rei Luís XIV da França, que estava ficando careca, e, a partir daí, toda a nobreza européia adotou o uso dos cabelos postiços. Graças aos céus, Karolyn e as filhas não as usavam, muito menos Ruby. Já Sir Victor...

Os nobres não deixavam de ver aquilo como um item indispensável às suas aparências, algo que destacava sua posição social. Naquela época os padrões de beleza já existiam e se você quisesse se adequar às imposições da sociedade, devia usar uma peruca. Isto é claro, sem falar na pele extremamente clara, que, na cabeça dos nobres, era sinônimo de status.

Para Ruby tudo aquilo era uma babaquice sem tamanho. Ela, por exemplo, nem se preocupara em empalidecer o rosto com gesso ou embranquecer os cabelos escuros com farinha. Usava uma maquiagem extremamente simples, composta unicamente de um batom vermelho, e mesmo que não usasse nada, ainda seria a mulher mais bonita do salão.

Devo descrever brevemente a moda da época. Os homens usavam um casaco (ou sobreveste), por cima das vestes e das calças justas que iam até os joelhos, os chamados culotes. Aí vinham as meias brancas, subindo até os culotes, e os sapatos. As perucas geralmente tinham poucos cachos dos lados e terminavam num rabo de cavalo. Victor, como devem imaginar, estava ridículo com aquela roupa.

Quanto às mulheres – e essas coitadas sofriam desde aquela época -, apesar de usarem trajes mais práticos e simples do que os que se viam na França, sofriam com o peso das anáguas e armações de metal, que por vezes usavam sob os vestidos para dar volume. O corpete e as mangas eram bem justos, sendo que as mangas terminavam um pouco abaixo dos cotovelos e tinham rendas nas pontas. Os decotes costumavam ser quadrados, mas as moças mais direitas usavam decotes mais discretos e recobertos por pequenos pedaços de linho.

Naquele baile, no entanto, via-se todo tipo de vestido diferente. Karolyn e Madge, por exemplo, vestiam-se de acordo com a moda Francesa, com vestidões que quase não passavam pelas portas. Ruby, que era discreta, optara por um robe a l’anglaise de cor branca com detalhes em creme, o que lhe dava um ar de garota inocente.

Enquanto Madge e Brigite rodopiavam pelo salão e Pearl andava de um lado para o outro com as amiguinhas, Ruby era obrigada a sentar-se com um bando de gente chata e aturar suas conversas fúteis. A seu lado, Victor coçava a peruca ridícula que usava e lhe lançava olhares de esguelha.

– Espero que não estejas chateada com o que Karolyn disse – ele falou, lançando suas cartas na mesa. – Tu sabes que ela pode ser... maldosa. Mas também sabes que, se não fosse por ela, estarias desamparada.

– Hum – Ruby resmungou, fingindo concentração. Victor estivera falando em sua cabeça por mais de uma hora e, naquele tempo todo, nenhum rapaz viera convidá-la a dançar.

– Estás aborrecida por minha conversa? – perguntou ele, girando o pescoço para encará-la.

– Não, estou apenas concentrada. Depois que esta rodada acabar, farei algo diferente. – ela encarou o homem e seus olhos focaram na peruca do mesmo, bem quando um piolho escalava os fios brancos. Imaginem só... Victor tinha piolhos (este é o momento em que exclamamos um “eca!” em conjunto), era por isso que coçava a cabeça a todo momento. – Eu... eu já estou farta das cartas...

– Ah, então estás aborrecida! – ele sorriu e a garota voltou a encarar as cartas, rezando para que os piolhos não resolvessem praticar salto livre – Bem, será que gostarias de... deixar o salão e encontrar algo mais interessante para fazer?

Os olhos verdes de Ruby Lucas quase saltaram de suas órbitas. Minha gente, Sir Victor estava com A MÃO NA PERNA DELA. E, se querem saber, não foi um gesto nada inocente. Ele, inclusive, deslizava a mão para frente e para trás, seguindo o contorno da perna da garota.

– Como é que é? – ela falou meio esganiçada, recusando-se a acreditar. Como é que ele podia ser tão audacioso a ponto de tocá-la daquela maneira? E por que é que, de repente, todas as outras pessoas na mesa estavam distraídas demais para perceber alguma coisa?

– Oh, sabes que Karolyn já não é mais tão bela e jovem... Mas tu... tu tens uma beleza estonteante e uma pele tão tenra... – neste momento ele apertou a coxa da garota, que soltou um guincho abafado.

Que horror, que homem mais pervertido e deselegante! E só Deus para saber onde ele andara com aquela mão, aquela mão pervertida que agora passava pela perna dela, ainda que por cima do vestido. Ruby se levantou no mesmo momento, pedindo licença e dizendo que precisava tomar um ar. É claro que as pessoas na mesa ficaram surpresas por ela sair no meio de uma rodada, mas nada disseram.

Aturdida, ela caminhou a passos rápidos, martelando os saltos no chão de mármore da imponente residência na qual estavam. Sua cabeça rodava e ela mal via as pessoas em seu caminho. Acabou por tropeçar num rapaz que assistia a dança e por pouco não se estabacou no chão, como uma fruta podre que cai do pé.

– Mil perdões! – exclamou, quando o rapaz a segurou – Que desastrada! Não tive a intenção de...

– Tudo bem, senhorita! – ele sorria para ela – Já que apareceste tão subitamente, não gostarias de ser meu par na próxima dança?

É claro que ela aceitou! Eu mesma aceitaria. E que cavalheiro ele era! Seu nome era Peter Hutch e ele era, ninguém mais ninguém menos, do que um dos moradores daquela mansão. Ora, senhoras e senhores, aquele baile fora dado pelos Hutch justamente para que Peter encontrasse uma noiva. A sorte batera à porta de Ruby quando ela esbarrara naquele cavalheiro. E, finalmente, depois de muito tempo, ela teve esperança!

– Uma perfeita dama – disseram os pais de Peter, quando foram apresentados à senhorita Lucas.

Bela, gentil e educada, foram apenas alguns dos muitos elogios que ela recebeu. Felicíssima, Ruby foi dançar uma contradança com Peter, que sorria de uma orelha a outra toda vez que olhava para ela. Sim, caros leitores, Ruby conseguira a admiração do rapaz. E, acreditem ou não, ele estava perdidamente apaixonado por ela (ainda que só a tivesse conhecido há uns quinze minutos)!

A contradança nada mais era do que uma dança envolvendo vários pares. As mulheres, enfileiradas lado a lado, colocavam-se de frente para os homens, também enfileirados. Aí, quando um grupo de músicos começava a tocar, as damas faziam pequenas reverências a seus pares e então todos começavam a rodopiar de um lado para o outro. É claro, as danças tinham várias variações e podiam ser bem animadas, dependendo do contexto.

Karolyn, Madge e Brigite, obviamente, não gostaram de ver Ruby e Peter juntos. Karolyn podia ser ignorante e sem cultura, mas era mestre na arte de avaliar um homem. Neste exato momento, ela dizia às filhas que Peter era o homem perfeito para uma delas: rico, bonito, inteligente e cavalheiro.

– Mas é para ela que ele está olhando – falou Brigite, os braços cruzados (ela ainda respirava com dificuldade e seu espartilho estava a ponto de estourar de tão apertado). – Não é justo!

– É, não é justo, eu sou a mais velha! – retrucou Madge, empinando o nariz – Ele deveria estar dançando comigo.

– Nada disso! Já tivestes duas danças, eu só tive uma. – reclamou a outra e começaram a discutir, até que Karolyn interferiu, mandando que se calassem.

– Nada podemos fazer – falou, ajeitando o cabelão, preso num imenso topete – Ruby foi a escolhida.

– Mamãe! – fez Brigite, o chapéu de Ruby quase despencando de sua cabeça – Estás concordando com isto? E se por um acaso ele pedir a mão dela, vais permitir que ela se case com ele?

– Oh, não, não... Quem falou em casamento? Eu disse: ela foi a escolhida. Não quer dizer que eu vá permitir uma coisa dessas... – Karolyn sorriu maliciosamente e as outras duas a imitaram, animando-se.

– Que faremos? – perguntou Madge.

– Acabaremos com um sorriso...

Enquanto isso, do outro lado do salão, Ruby sorria para Peter, que lhe beijou a mão. Seu sorriso, porém, apagou-se quando ela avistou Victor e a expressão que ele lançava em sua direção. Tal como Karolyn e as garotas, Victor desaprovava o fato de sua enteada estar tão próxima de outro homem. Convém dizer a vocês, caros leitores, que Victor não era apenas muito rico e muito pervertido. Ele também era, infelizmente, apaixonado por sua enteada. Não o tipo de paixão romântica e fofa que vemos nos filmes, mas uma paixão doentia. E, naquele momento, vendo-a sorrir para outro homem, a vontade de Victor era massacrar o mesmo.

– Gostarias de uma bebida, senhorita Lucas? – perguntou o Sr. Hutch, sorrindo abertamente.

– Sim, seria ótimo.

Pela primeira vez, em muito tempo, Ruby sentia-se tão feliz que seria capaz de rodopiar pelo salão. E bem teria feito isso, se não estivesse em público. Limitou-se a sorrir como boba, enquanto Peter ia lhe buscar uma bebida. Oh, como ele era bonito! É claro, o fato de ele usar uma peruca como a de Victor a desagradava, mas um detalhe bobo como aquele poderia ser facilmente esquecido. Oh e ele era tão inteligente! Até tocava violino!

Ah, mas você já pode imaginar o que aconteceu em seguida...

Ruby ainda estava lá, parada no meio do salão esperando por Peter, quando sua madrasta e as suas irmãs imbecis vieram encontrá-la.

– Que pensas que está fazendo? – Karolyn a puxou pelo ombro, obrigando-a a se virar – Aquele rapaz não é para teu bico!

– Nós apenas dançamos...

– Se pensas que conseguirá algo, tratas de tirar esta ideia de tua cabeça. Tu não passas de uma analfabeta. Achas que ele a olhará do mesmo modo quando souber?

Vaca maldita! Então era isso, ela pretendia contar a Peter... Ruby temeu por um momento, depois deu de ombros.

– Estou certa de que ele não vá se importar. – sorriu gentilmente – O Sr. Hutch tem a mente aberta, ao contrário de certas pessoas.

– É mesmo? – Madge botou as mãos na cintura e ia dizer mais alguma coisa, mas nesse momento Peter retornou trazendo uma taça de cidra.

Ficou muitíssimo contente por conhecer a família de sua futura noiva. Sim, noiva, porque ele pretendia se casar com ela. E, de fato, quando expressou a Karolyn o quanto amara conhecer aquela belíssima moça, fez Ruby ficar emocionada. Homem nenhum jamais a cortejara daquela maneira, nem mesmo aquele velho Marquês que bateu as botas antes de pedi - lá em casamento.

– Se permitires, senhora, gostaria de pedir a mão de tua filha em casamento.

E este é o momento em que batemos palmas e fazemos “Yeaaaay!” em conjunto. Nossa Ruby fica tão emocionada que está prestes a cair no choro. Quanto a Karolyn e sua criação de porcas (me refiro a suas filhas gordas, não a porcos de verdade), estas ficam terrivelmente aturdidas e furiosas. “Como ele pôde escolher a analfabeta?”, pensam elas.

– Oh, senhor Hutch, lamento muitíssimo... – foi a resposta de Karolyn, que botava a mão no coração fingindo pena – Será que não sabes no que está se metendo? Minha pobre Ruby – abraçou a enteada de lado – é uma criança incapaz. A pobrezinha nasceu com uma condição genética que a impede de assimilar conhecimento.

Vaca maldita!

– Eu... não entendo o que queres dizer, senhora Wade... – Peter franziu a testa, encarando Ruby, que não conseguia dizer nada.

– Oh, meu caro, quero dizer que Ruby é uma criança iletrada. Não sabe ler, nem escrever...

Ah, roceira desgraçada!

– Verdade? – ele voltou a encarar a garota, que assentiu e abaixou a cabeça, constrangida e humilhada. – Oh... Mas isto não é problema para mim, senhora Wade. Gostaria de uma esposa humilde, honesta e gentil. Sei que tua filha é a mulher perfeita!

Engula essa, criadora de porcos!

– Oh, senhor Hutch... – Karolyn soltou uma risadinha. Aquela maldita tinha vários planos em mente. Já que o A falhara, agora ia usar o B. – Espero que compreendas que há condições para que minhas filhas se casem. Ruby apenas poderá se casar depois de Brigite, que é a segunda mais velha. E Brigite apenas poderá se casar depois de Madge, minha primeira filha.

Filha da mãe esperta!

– Pois estou disposto a esperar o tempo que for – sorriu ele, olhando para Ruby, que sorriu meiga.

Toma essa, ô da roça!

Karolyn soltou um longo suspiro, mas não porque estivesse irritada e sim como parte de sua atuação. Ainda abraçava Ruby pela cintura, fingindo amar a garota. Ora, Deus sabe o quanto Karolyn era fingida. Aquela vaca leiteira (esperem aí, ela era velha demais para dar leite... Tudo bem, não importa.)...

– Oh, Ruby... Não contaste a ele, não é? – olhou para Ruby com excessiva pena, dando palmadinhas na cabeça da garota – Oh, senhor Hutch, lamento que minha filha não tenha dito a verdade... Ela já está noiva! Está noiva do senhor Mendell...

Mas que diabos estava acontecendo? Ruby não sabia o que fazer. Sua vontade era socar a cara de Karolyn no chão, mas já que ela não podia fazer isso... E que história era essa de noivo? Será que sua madrasta tivera a coragem de lhe arranjar um noivo sem que ela soubesse? Será que algum daqueles velhos milionários também se interessara por ela?

Mas o senhor Mendell se revelou como um homem de trinta e poucos anos começando a ficar careca. Era alto e esguio e exibia um sorriso antipático no rosto.

– Olá, querida! – disse, beijando a mão de Ruby ao parar a seu lado.

Madge e Brigite seguravam a vontade de rir e Karolyn sorria com exagerada inocência. O senhor Mendell e o senhor Hutch trocaram um aperto de mão e este último encarou Ruby, esperando uma explicação, mas ela estava se sentindo humilhada demais para dizer qualquer coisa.

– Perdoa minha noiva, senhor Hutch – disse o senhor Mendell – Tenho certeza de que ela não teve intenção de aproveitar-se do senhor. Vi-los dançando juntos. Creio que ela só estava sendo gentil...

Peter disse que estava tudo bem, deu mais uma olhada em Ruby, pediu licença e se afastou. Madge e Brigite caíram na gargalhada e Madge teve de se apoiar na mãe, pois o peso do vestido e do cabelo quase a desequilibraram.

– Por que fizeste isso, Karolyn? – Ruby deixou as lágrimas escaparem – Ele gostou de mim...

– Quem pensas que é? – ela soltou uma risada debochada – Ele não é para teu bico! Foi melhor assim... Acertaremos o preço, senhor Mendell.

É isso aí, comecem os xingamentos!

Depois que a vaca leiteira criadora de porcos dissera “Acabaremos com um sorriso”, subornara o primeiro homem solteiro que encontrara pelo caminho. O senhor Mendell ficara felicíssimo por poder participar daquela farsa, em troca de uma graninha extra em sua conta.

Agora que haviam acabado com a felicidade de Ruby, Madge e Brigite riam da cara dela, enquanto Karolyn e o careca se afastavam para falar com Victor. Como é de se esperar, Ruby não ficou parada. Foi atrás de Peter e tentou explicar que tudo não passara de um engano, mas ele estava demasiado irritado e desapontado com ela, por isso apenas desapareceu em meio aos convidados.

Pobre Ruby... Ela merece um abraço, não acham?

A garota fugiu para o maravilhoso jardim da mansão Hutch. Caminhou por entre as flores que ali havia, enquanto lamentava o quanto sua vida era sofrida. Por mais que ela tentasse melhorar as coisas, nunca conseguia. Enquanto Karolyn e suas irmãs estivessem em seu caminho, nada iria melhorar. E foi por isso que Ruby tomou uma decisão.

Enquanto chorava pela segunda vez naquele dia, decidiu que iria procurar pelo Holandês Voador. Não sabia como o encontraria, mas sabia que não poderia desistir antes de tentar. Tinha plena consciência de que, talvez, tudo não passasse de uma lenda para assustar marinheiros. Mas se Davy Jones realmente existia, então ela ia fazer um acordo com ele. Faria qualquer coisa em troca de ter seu pai de volta...

– Não devias estar aqui sozinha – disse a voz de Victor, assustando Ruby.

Um frio percorreu sua espinha e ela congelou no lugar, amedrontada. Depois do que acontecera durante o jogo de cartas, ela sabia que podia esperar qualquer coisa de seu padrasto.

– Eu só... eu só estava tomando um ar... – ela balbuciou, de costas para o homem.

– Tens medo de mim? – mesmo sem poder vê-lo, ela sabia que ele sorria – Não temas, minha querida.

Mas ela devia temê-lo, principalmente pelo fato de ele estar tão próximo e de os dois estarem sozinhos no jardim. Se algo lhe acontecesse, ninguém viria em seu socorro. Ruby duvidava que alguém pudesse ouvi-la gritar.

– Estás trêmula...

Victor se aproximou fazendo menção de agarrá-la e Ruby, quando percebeu as intenções do homem, afastou-se bruscamente, tropeçando na barra do vestido e desabando em meio às orquídeas brancas. Victor aproveitou para prensar a garota contra o chão, tapando sua boca para que ela não gritasse.

– Shhh! Quietinha!

– Hummm! – ela tentava se livrar dele a todo custo, mas não tinha força suficiente. E é claro, ainda havia o fato de o vestido limitar seus movimentos.

– Eu sei o que estás a pensar – ele riu, usando uma das mãos para abrir as calças – Karolyn jamais acreditará em uma palavra do que disser. Ela sabe, ou melhor, ela acredita que eu a amo. O que não é exatamente verdade.

– Hmmm!

– Oh não chores, meu amor, não chores...

Mas ela já estava chorando. Então era assim que terminava? Violentada pelo padrasto? De jeito nenhum! Ela jamais permitiria uma coisa dessas. Devemos agradecer à Adrenalina, aquela que foi secretada pelas glândulas supra-renais, preparando seu corpo para o que viria a seguir. Tomada por uma explosão de raiva e usando uma força fenomenal, Ruby conseguiu empurrar o homem para longe, chutando suas partes baixas e socando seu rosto em seguida. A peruca voou para um lado, prendendo nos espinhos de uma roseira, e Victor voou para outro.

– Cadela! – ele gritou para a garota, quando ela se levantou aos tropeços e correu de volta para a mansão. – Aaaah desgraçada!

E este, senhoras e senhores, foi o dia em que Victor Wade, o cara piolhento da peruca ridícula, foi vencido por Ruby Lucas, a órfã sofredora. Um a zero para Ruby! E viva a Adrenalina!

Correndo como louca, Ruby adentrou o salão procurando por Karolyn. Avistou a madrasta jogando cartas com o senhor Mendell e já ia se encaminhando para lá quando se lembrou do que Victor dissera. Karolyn jamais acreditaria nela. Jamais. Ela diria: “Não sejas tola, garota, que pensas que vai conseguir contando uma mentira dessas?”.

Karolyn era como São Tomé, só acreditava vendo.

Ruby estava desesperada demais para conseguir pensar em algo. Ninguém pareceu notar sua agitação, no entanto. Temendo encontrar Victor, que devia estar se recompondo antes de voltar para o salão, ela pensou que seria melhor fugir a ter de ficar perto daquele homem de novo. Encaminhava-se para a porta da frente quando esbarrou num homem, que abriu um sorriso ao vê-la.

– Oh, até que enfim te encontrei! Vamos, precisa de uma bebida. – disse ele, puxando-a para um canto mais afastado. Então apanhou uma taça da bandeja de um dos garçons e ofereceu à moça – É disso que precisa! Uma boa dose de espumante.

– Mas...

– Beba tudo!

Ruby não sabia o que estava acontecendo, mas bebeu todo o conteúdo da taça. Seja lá o que fosse aquilo, não era um simples espumante. E ela pôde afirmar isso com certeza quando o salão começou a girar muito rápido. Tudo o que ela via eram borrões coloridos, como os borrões de tinta com as quais estava acostumada a lidar quando estava pintando uma tela. Mas aquilo não era uma tela, era real. Era como se, de repente, todos na sala tivessem virado borrões de tinta.

– O que... o que está acontecendo? Que fizeste comigo? – perguntou, tão zonza que teria caído se não estivesse apoiada a uma parede.

– Oh, não se preocupe, esta é só uma amostra do que posso fazer – respondeu o homem, sorrindo de maneira divertida. – Estou abrindo sua mente!

– Para o quê?

– Para a magia! – ele arregalou os olhos e assumiu uma expressão que era um misto de loucura e exaltação. Era o único que não parecia um borrão de tinta. E era o único que se destacava em meio às pessoas no salão. Não estava vestido como os outros homens, nem usava uma peruca. Suas roupas pareciam bem gastas e se assemelhavam às roupas camponesas. Já seus cabelos – que não eram curtos como os cabelos que os outros homens escondiam sob suas perucas – estavam completamente desgrenhados, como se tivessem pegado uma lufada de vento.

– Magia?

– Sim! Magia! – e ele soltou uma risadinha estranha – Consegue ver? Todos viraram borrões de tinta!

– E por quê?

– Por quê? Ora, porque é assim que analisamos a essência de uma pessoa! Venha comigo!

Ruby estava achando tudo muito estranho. Talvez ela estivesse delirando. Talvez Victor a tivesse nocauteado no jardim e agora ela sonhasse essas coisas estranhas. Como é que, de repente, todos tinham virado borrões? Aquilo era coisa de louco! Ela estava louca! Era de se esperar que uma coisa dessas acontecesse... Morar com os Wade era pedir para ficar insano.

– Isto está acontecendo mesmo? Eu estou ficando louca?

– Mas é claro que não! Oh, lá estão elas, encontrei! – ele a arrastou até onde Karolyn e Madge conversavam, a uns metros do senhor Mendell.

– ...riquíssimo! – dizia Karolyn, que virara um borrão quase irreconhecível. Várias cores se misturavam por seu corpo, como uma pintura abstrata feita de qualquer jeito. A cabeça era dourada, a cor que inspirava riqueza, o que talvez significasse que ela não pensava em outra coisa que não fosse dinheiro. – O senhor Mendell é o marido perfeito!

– Mamãe! – Madge parecia profundamente enojada – Que horror! Não vou me casar com um velho nojento.

– Ele não é velho, tem apenas trinta e seis anos... e uma fortuna bem gorda!

– Aí está, ela só pensa em riqueza... – murmurou o homem, parado ao lado de Ruby, que ainda parecia bastante aturdida – E veja as cores espalhadas por seu corpo. Vermelho é paixão, o que significa que ela ama aquele piolhento com a qual se casou. Amarelo é alegria, desinibição e adivinhe... mais riqueza. Ela só pensa em dinheiro, essa safada!

– Desculpe, mas... mas será que elas não estão nos vendo? – Ruby perguntou, depois que Karolyn olhou em sua direção e pareceu não vê-la.

– Mas é claro que não! Oh... olhe aquele tom de cinza no coração dela... Pobrezinha, tem um coração de pedra, quase morto. Ela já viveu um estado de pura morbidez... e pode voltar para ele se, por um acaso, perder as coisas que mais ama. É por isso que ela tem tantos bens materiais, quer ser feliz à custa disso.

Aquele homem parecia um crítico de pinturas. Um crítico de pessoas, na verdade. Parecia saber tudo o que se passava com uma pessoa só de analisar as cores que a compunham. Quando passaram a analisar Madge, encontraram tons de rosa no coração dela. O homem disse que aquilo significava romance e que, muito provavelmente, a filha mais velha estava à procura de um amor verdadeiro.

– Por isso ela nunca encontrou um noivo de seu agrado? – indagou Ruby, surpresa.

– Exatamente! Ela não tem um coração ruim, mas é facilmente manipulável. Pobre menina! Está sendo corrompida pelo exemplo da mãe... Ora, mas o que é aquilo? Venha!

E ele saiu arrastando Ruby por entre os borrões que se moviam. Ela ainda achava aquilo estranho, mas estava se acostumando. Encontraram Brigite ao piano e Ruby ficou surpresa por ver tanto azul na cabeça dela. Azul, ela bem sabia, era a cor da tranqüilidade, ternura e raciocínio lógico.

– Ela é mais inteligente do que aparenta ser – disse o homem à Ruby – E o coração laranja indica que ela é muito mais do que todos pensam. Ela pode ser generosa, se quiser, e acredita que tudo é possível.

– Desculpe, senhor, mas não acredito que estas cores estejam corretas – falou Ruby, um tanto confusa – Eu conheço minhas irmãs há muito tempo, sei que elas são maldosas, esnobes e egoístas...

– Minha querida, estes são os defeitos que elas demonstram, mas não quer dizer que seja o que elas guardam no coração. É claro, elas amam a riqueza, mas com intensidade menor do que a mãe. Como eu disse, estão sendo corrompidas pelo exemplo da matriarca. Mas ainda podem ser salvas.

– Como?

– Como é que tiramos as ervas daninhas de um jardim ou plantação? Arrancando-as pela raiz!

– Então temos de arrancar o mal pela raiz?

– Exatamente! Logo que saírem de perto da mãe, voltarão a ser pessoas boas. Isto, é claro, se houver quem lhes mostre a luz. – ele lançou a Ruby um olhar sugestivo e ela pensou que, talvez, fosse a pessoa a levar as irmãs por outro caminho. Não teve tempo de perguntar isso ao homem, porque ele já a levava para o outro lado do salão, onde Pearl conversava com as amiguinhas. – Ora, vejam só! Há muito branco no corpo dela. Sua alma ainda não foi corrompida!

Ruby se viu sendo sufocada num abraço e dali a pouco estava rodopiando com o homem. Ele parecia muitíssimo feliz por saber que Pearl era um borrão de tinta branca. E branco, como muitos devem saber, simboliza pureza e inocência. E viva o borrão de tinta branca!

– Ela é a única com a qual pode contar neste momento – ia dizendo o homem – Sinto que podemos confiar nela.

– Perdão, mas por que estamos fazendo isso? Por que estás me ajudando?

Ele não respondeu. Apenas estendeu um braço e apontou para um borrão distante.

– Oh, lá está! Vamos, vamos! Eu estava mesmo à procura daquele homem.

Aquele homem era Victor. Vinha mancando e coçando a peruca, que não estava bem ajeitada na cabeça e deixava escapar uns fios do seu cabelo loiro. Parecia muitíssimo furioso pelo o que acontecera no jardim e olhava em volta, procurando por Ruby. Bem, ele não poderia encontrá-la, uma vez que ela estava invisível aos olhos dos outros.

– Misericórdia, que homem pervertido! Quantos tons de vermelho...

Os tons de vermelho no corpo de Victor, o homem explicou, significavam que ele era um tremendo conquistador, além de muitíssimo pervertido. Além disso, ele podia ser raivoso e agressivo, o que poderia levar a muita destruição. Segundo o homem, Victor ainda seria responsável pelo desmoronamento de sua família e era por isso que Ruby tinha que agir rápido.

– Não podemos salvar este pobre coitado, nem sua esposa. Não se pode mudar a essência de uma pessoa. O Destino já foi escrito. Karolyn e Victor vão destruir a si próprios e isto vai levar a família Wade à falência.

Ruby escancarou a boca, surpresa. Ela já imaginava que uma coisa dessas fosse acontecer, mas ouvir da boca de alguém era outra coisa.

– Mas ainda podemos salvar tuas irmãs. Ou melhor, tu podes salvá-las, depois que salvar Davy Jones.

– Como é? Como é que sabes sobre Davy Jones?

– Ora, minha querida, eu escuto pensamentos. – ele sorriu – Acreditou em mim e então vim em seu auxílio.

– Quem és tu, afinal?

Eu sou a Esperança. Mas podes me chamar de Rumplestiltskin, gosto deste nome.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Podem ver nos vídeos como eram as contradanças. A diferença é que são cenas de Orgulho e Preconceito, a história se passa no século 19, por isso as roupas são mais simples.https://www.youtube.com/watch?v=8lpgesehOjIhttps://www.youtube.com/watch?v=1Y9hGQImApERecomendo esse filme (e o livro também) pra quem gosta de História e romance. Tem também o Maria Antonieta com a Kirsten Dunst, em que podem ver os trajes do século 18.As roupas masculinas eram mais ou menos assim: http://2.bp.blogspot.com/-SsjTu5Gf3cQ/UsMDyn8ZCZI/AAAAAAAAALA/Dx7I4liGhiI/s1600/1770ss.jpg. A moda mudava o tempo todo, por isso, se pesquisarem, vão achar outros estilos dessa época (agora imaginem o Victor vestido assim, que coisa bizarra!).A moda feminina também mudava o tempo todo, havia vários estilos de vestido, tinha o estilo francês que era exageradíssimo, o inglês que era mais simples. Vocês devem ter uma ideia de como a roceira...ops, a Karolyn e suas porquinhas se vestiam.Eu perdi a foto do vestido da Ruby, mas era mais ou menos assim: http://www.kostuemwerkstaetten-ulm.de/WebRoot/Store11/Shops/61440009/4AB4/EA87/5D18/4536/D7FE/C0A8/28BD/0DEA/CIMG5249_2_gross.jpgEnfim, espero que tenham gostado e espero merecer que acompanhem e comentem. Beijos e até a próxima (se houver próxima kkkk)