Hera piscou seus belos olhos tentando afastar as lagrimas, eram de raiva, dizia para si mesma, mas sabia que em certa parte eram de dor. Pesar, por ter que deixar algo que por um longo tempo amou, a sensação irritante de que sua missão não havia sido cumprida socou seu estomago. Não era culpa sua, tentara por muito tempo ajudá-lo, tentara manter seu casamento mesmo que a fizesse sofrer, mas não era a mesma mulher. Não era a mesma Hera ingênua, que acreditava que devia insistir naquilo, era livre.

Sentiu o ar faltar em seus pulmões, braços finos a rodeavam ao mesmo tempo em que um bolo negro e liso de cabelo acertou seu rosto, se deixou aspirar aquele cheiro gostoso de água salgada enquanto retribuía o abraço animado de Aeris. A garota afrouxou o abraço e soltou-a, deixando com que visse a bela imagem que era seu rosto, seus olhos verdes vivos e o sorriso branco e alegre, aquela garota que não aparentava mais do que dezesseis anos era toda Poseidon. A garota saiu de sua frente para deixar Skiá cumprimentá-la, o garoto pálido beijou uma de suas bochechas e lhe ofereceu um sorriso gentil, não havia como não ver ambos os pais naquele garoto, Hades estava em seu jeito tímido e fechado, na pele pálida e nos cabelos negros, de Perséfone ele tinha os olhos, o sorriso e a gentileza.

−Estava me perguntando se não tinha esquecido nosso piquenique. –Aeris falou, segurou uma de suas mãos e a outra do primo e os puxou até uma toalha xadrez forrada na grama. Hera sentou-se e admirou o Jardim das Ninfas que se abria a sua volta, o cheiro delicioso de biscoitos mortais se misturava com o aroma das flores, afastando aquela sensação ruim de si.

−Você quis dizer que estava perguntando a mim, não é, Aeris? –Skiá perguntou sarcástico, a garota lhe mostrou a língua sem se importar se isso a faria parecer infantil. Era por isso que ela amava aqueles dois, eles conseguiam afastar qualquer preocupação de si.

−Zeus quis falar comigo após o conselho, por isso acabei me atrasando. –explicou para os sobrinhos, rindo das caretas que eles faziam. Era só citar aquele nome que os dois emburravam o rosto.

−Ainda acho que você devia juntar suas coisas, falar que cansou dele e se mudar para Atlântida, e ai viver comigo e com meu pai. Tudo bem que lá tem o chato do Tritão, mas ele não manda em nada, então não tem problema. –a morena falou, e logo em seguida se deitou na grama olhando para o céu azulado.

Poseidon parara de agir como Zeus quando Aeris tinha dois meses de vida, se separara de Anfitrite e pedira desculpas por todas suas traições, não queria que aquela coisinha pequena e banguela visse a si como alguém daquele tipo. Com o tempo, Poseidon amadurecera, se tornara responsável por algo além de Atlântida. Qualquer um podia ver seu orgulho por Aeris, deusa das mudanças.

−As coisas não são tão simples na vida real, Aeris. –Hera se arrependeu daquele comentário no mesmo momento, algo mudou na expressão da garota, como se ela lembrasse que realmente não eram, mas em segundos voltou a sorrir e abriu a cesta espalhando a comida pela toalha.

−Talvez não sejam. –ponderou mordendo uma romã vinda do Mundo Inferior. –Mas pelo menos temos comida.

−O que Zeus queria? –Skiá perguntou em seu tom de voz tipicamente inexpressivo, mas seus olhos castanhos eram preocupados.

−Nada demais, querido. –respondeu delicada, lhe dando um sorriso.

E então eles começaram seu piquenique, conversando sobre banalidades e espantando qualquer tristeza da rainha dos céus.