Sonho é um encanto que você talvez não possa explicar. Para mim, sonhar é como caminhar entre as nuvens, despertando a imaginação e construindo todo um universo em apenas algumas horas de sono. Um lugar que pode ser especial, onde você pode encontrar pessoas especiais e até mesmo viver momentos angustiantes ou preciosos, os quais você não esquecerá jamais. Isso é o que eu penso.

Desde aquele dia... aquele dia em que eu sonhei pela primeira vez com um anjo. Um anjo que eu nunca havia visto em nenhum momento de minha vida. Um ser incomum, mas infinitamente valioso... eu senti isso quando eu o olhei. Ele era alguém muito importante para mim? Isso eu não sei dizer... mas desde aquele primeiro sonho com ele eu nunca mais pude esquece-lo.

Sonhava todas as noites com um anjo.

Meu nome é Yunho, tenho 24 anos e sou um pintor profissional. Sigo um modelo clássico de pintura, preferindo sempre pintar paisagens. Um dos meus hobbies também é fotografar, mas isso eu aprendi com meu pai, que foi um fotografo muito famoso e que infelizmente faleceu há alguns anos e que agora deve estar fazendo companhia a minha querida mãe que se foi um pouco antes.

Não saio muito, ao contrário de meus amigos. Prefiro ficar em casa pintando meus quadros do que sair para boates ou locais que não é muito de meu agrado. Minha paixão é ficar em casa, entre tintas, telas e pincéis.

- Como não posso deixar de pensar nele? – resmunguei enquanto jogava mais uma de minhas telas no lixo – Já é o quinto quadro que não consigo pintar hoje... O que está havendo comigo? – suspirei cansado. Eu não estava conseguindo me concentrar em minhas belas paisagens... O que eu faria? Todos os dias eu estava ficando assim... Desde que eu comecei a sonhar com ele. Desde que eu me apaixonei por ele.

Sentei-me no sofá com sua imagem em minha cabeça. Sorria bobamente ao me lembrar dos sonhos... Alguns doces, outros excitantes e até mesmo sonhos apenas com ele. Em um impulso, me levantei em direção a tela já pronta para ser pintada. Comecei a traçar retas e curvas, com a mais eterna delicadeza. Por incrível que pareça, pensar nele me fazia me concentrar em minha paixão...

Pintar ele me fazia sentir mais vivo... deixava aquela solidão vazia.

Era a primeira vez que eu pintava um ser humano. Nunca apreciei quadros com pessoas, mas este... este era inevitável pintar. Precisava ter aquilo, precisava estranhamente usar minha aquarela para pintar aquele anjo.

Tantos quadros que eu pintei naquela semana... Todos eram dele, eram para ele e eu apenas me sentia bem em faze-lo... Isso era incrível! A sensação apenas em ver seus olhos em minhas telas, sua boca tão rosada naquele espaço que antes era branco, seu perfeito rosto naqueles quadros... Era como se ele realmente existisse, como se estivesse ao meu lado.

Deitado em minha cama pensava em como aquilo poderia estar acontecendo comigo. Eu estava apaixonado pro um sonho? Um sonho que não existia e não existirá?

- Não posso estar tão iludido – ri incrédulo – Ele não existe... não existe.

Quanto mais eu falava, mas ele parecia me provocar mais. Os sonhos se tornaram muito mais emocionante, mas real... real!? Como poderia isso ser real? Mas eu sentia que estava acontecendo, sentia que seu coração batia em algum lugar deste mundo... no mesmo compasso que o meu.

E eu continuava a pintá-lo como nunca. Paisagens já não existiam mais em meu apartamento... Eu estava obcecado por ele... mas não louco. Sabia perfeitamente que era algo de minha imaginação... talvez por eu viver sempre sozinho.

Sozinho... Isso é ruim. Tão ruim como pensar que aquele anjo não existia.

Queria que ele fosse real e batesse em minha porta nesse exato instante, enquanto eu tentava dormir.

Dias se passaram... telas pintadas... mas sonhar com ele? Eu não conseguia mais. Senti-me quebrado, sem rumo. Cheguei ao ponto de rezar e pedir para sonhar com ele novamente, mas nada foi realizado. Era como se eu tivesse perdido um amor, um amante, um amigo. Não podia deixar de vê-lo.

Mesmo que eu tenha todos aqueles quadros... cada quadro com um humor diferente, uma sensação distinta. Com ele sorrindo, chorando, rindo, até mesmo falando...

Minhas lágrimas eram tragadas pela terra... meu coração murchando e eu não podia fazer nada. Teria algum jeito de trazê-lo para mim?

Um dia resolvi sair com meus amigos. Queria tentar esquecê-lo e talvez estando naquela pequena lanchonete no centro da cidade, acalmaria meu coração.

- Anda Yun! – Junsu apertou de leve minhas bochechas, as puxando um pouco para os lados – Sorria!! Não fique assim...
- É cara – Yoochun também tentava me animar – Vamos nos divertir muito hoje! Junsu até aprendeu algumas piadas novas não é, baby? – falou sorrindo para o mais novo de nós. Eu apenas começava a fingir uma cara mais animada.
- OK! – Jun ficou empolgado... e eu já sabia o que vinha por aí – Tem uma que eu aprendi hoje mesmo pela internet *-*
- Então conta – ri de leve. Ele conseguia me animar com esse jeito tão infantil.
- Bom... Lá vai! O que é um pontinho verde no meio do gelo? 8D
- Hum... – ok, eu realmente não sabia. Essas piadas de pontinho eu nunca consiguia acertar – Não sei... o que é?
- UMA AZEITONA ESQUIANDO *O* - eu e Yoochun gargalhamos de rir. Não pela piada, mas pelo jeito que Junsu respondeu. Ele realmente era uma criança.

Entre risos e mais piadas, o garçom - diferente do primeiro veio nos atender – se aproximou perguntando se já tínhamos decidido o que beber. Yoochun pediu um whisky, Junsu um suco natural e eu olhando o cardápio enquanto os dois pediam. Quando finalmente escolhi apenas um refrigerante, me virei para que pudesse olhar o garçom e lhe pedir aquela bebida... mas eu não consegui.

Meus olhos se prenderam aos dele como se nunca mais eu pudesse olhar para outro ser. Não me permitia falar nada... eu estava surpreso, em choque e ao mesmo tempo... bobo por que graças a Deus eu descobri...

Eu vi que o meu anjo realmente existe. Que seu coração batia como meu, pois sua respiração estava um pouco acelerada e que em sua mente concerteza eu devia estar, assim como ele habitava cada parte de meus pensamentos.

- V-você – dissemos em uníssono, ainda meio desligados de tudo ao redor. Ele sorriu pela coincidência de nossas palavras, abaixando a cabeça, envergonhado. Eu havia sorrido também, mas não conseguia desviar meu olhar daquele ser tão lindo... tão perfeito como em meus sonhos.

Despedi-me de Junsu e Yoochun após nosso lanche e esperei o expediente de meu anjo acabar para que eu pudesse saber mais dele. O céu estava nublado, parecia que ia chover, mas isso não me importava. Só queria ouvir sua voz mais uma vez e desejava ouvi-la o resto da minha vida.

Ouvi a porta ser aberta e ele finalmente apareceu, abotoando seu casaco. Carregava uma pequena bolsa e levava na cabeça uma boina da mesma cor de seu casaco marrom.

- Oi – sussurrei para não assustá-lo. Ele se virou rapidamente e logo abriu um lindo sorriso.
- O-Olá... – mais uma vez envergonhado... suas branquinhas bochechas em um tom rosado.
- Você... me conhece de algum lugar? – perguntei um pouco curioso. Será que ele sonhava comigo assim como eu sonhava com ele?
- Talvez – ainda com aquele sorriso doce e tímido – E você?
- Talvez – respondi igualmente, em um tom brincalhão. Nos olhamos em silencio.. meu coração a mil – Hum, será que eu poderia te acompanhar até em casa? Já está tarde da noite e não é muito bom andar sozinho, não é?!
- S-sim... vamos

Caminhamos e trocamos algumas palavras, mas ele era tão tímido que quase nada dizia, mas para mim só importava ouvir sua leve e suave respiração... sentindo que ele estava ali comigo.

Não demoramos a chegar em sua casa. Ele subiu alguns degraus em silencio em direção a porta e parou. Eu o olhava sentindo meu coração se apertar... eu o veria novamente? Lágrimas já estavam marejando meus olhos. Desviei meu olhar por um instante para que pudesse enxugá-las e foi quando o senti me abraçar. Seus soluços fracos e seu choro começavam a molhar minha camiseta. Ele me abraça forte, como se estivesse com medo de eu partir.

O abracei com toda a minha força, sentindo aquele aroma que não se desprendia daqueles quadros. Sentindo como seu corpo era suave e sua pele macia, como apenas eu via nas texturas da pintura.

Ele olhou para mim, seus olhos levemente avermelhados e suas bochechas úmidas. As limpei com cuidado e depositei um beijo em cada olho. Suas mãos subiram devagar até meu rosto, fazendo um carinho tão sutil... Fechei os olhos e sorri de soslaio... Queria ficar assim a cada milésimo de segundo a partir de agora.

Abri novamente meus olhos e ele ainda me fitava com aqueles olhos tão bem desenhados e tão grandes... Nos aproximamos cada vez mais até que finalmente eu pudesse sentir seus delicados lábios que tanto almejava... Um beijo calmo e apaixonado.

Apenas ouvi um sussurro contra os meus lábios que me fez sorrir e então eu sussurrei as mesmas palavras, tentando deixa-las tão doces quanto ele as proferiu para mim.

- Eu te amo...

Meu anjo... meu anjo que não estava mais em uma tela, que não era mais um simples borrão de tinta... Era mente, alma e coração, bem ali... na minha frente e agora em minha vida para sempre.

Pergunto-me agora, o que ele pensará quando ver todas aquelas telas com ele em meu apartamento... Talvez ele entenda... Talvez ele compreenda o porquê.

Os sonhos foram reais. Ele estava comigo por que ele também sonhava comigo... Por que eu também velava seu sono naquele universo que eu construí, onde nós nos encontramos e que se tornou uma lembrança inesquecível. A guardaremos em nossos corações nessa realidade em que vivemos juntos, eternamente.

Desde aquele dia... aquele dia em que eu sonhei pela primeira vez com um anjo. Um anjo que eu nunca havia visto em nenhum momento de minha vida. Um ser incomum, mas infinitamente valioso... eu senti isso quando eu o olhei. Ele era alguém muito importante para mim? Isso agora eu sabia dizer...

Sim, ele era a pessoa mais importante da minha vida.