Cidade Adormecida escrita por Violet King


Capítulo 1
Despertar


Notas iniciais do capítulo

Olá! Este aqui será um capítulo teste, que significa que, se gostarem, continuarei escrevendo a fic. Espero que gostem, e boa leitura :)



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Abro os olhos lentamente, me acostumando com a luminosidade do cômodo em que me encontro. Percebo que estou em um quarto de hospital, deitado em uma maca com tubos e fios conectados em várias partes de meu corpo. Visto apenas uma camisola descartável. Tenho um cobertor sobre as pernas – uma delas, a esquerda, com uma bota ortopédica. Não há ninguém no recinto a não ser eu. Como é que fui parar aqui? Pergunto a mim mesmo em pensamentos. Resolvo vasculhar em cada canto de minha cabeça alguma lembrança que me ajude a compreender o que aconteceu. Entretanto, a única coisa que consigo é uma terrível enxaqueca. Encosto delicadamente os dedos na têmpora direita, local de onde vem a dor, e noto que há um curativo. Devo ter batido a cabeça com muita força e aberto um corte.

Decido me levantar. Não posso continuar aqui. Preciso descobrir o que houve. Arranco todos os tubos e fios presos a mim e me ajeito, ficando sentando. Depois, fixo meus pés no piso gelado e quando dou o primeiro passo, desabo. Sinto-me fraco. Tão fraco que nem consigo caminhar. Tão fraco que não consigo sair do chão e voltar para a cama que eu estava deitado. Não tenho forças nem para gritar. Pelo jeito terei de esperar algum funcionário passar por aqui e me ver caído para me socorrer. Não demora muito até que eu ouça passos de alguém se aproximando. Logo, vejo um par de sapatos brancos próximo da porta. Olho para cima e visualizo uma enfermeira loira de vinte e poucos anos observando minha situação com espanto. Ela rapidamente me ajuda a me erguer.

– Obrigado – agradeço assim que deito na cama, me acomodando.

– De nada – a enfermeira sorri enquanto reconecta os tubos e fios que eu havia retirado. – Você é bem agitado. Nunca vi um paciente acordar do coma assim.

– Eu estive em coma?! – exclamo surpreso. – O que aconteceu? Por quanto tempo fiquei assim?

– Você sofreu um acidente de carro e está aqui a mais ou menos um mês – ela responde cautelosamente. – Precisa de mais alguma coisa?

– Não, eu acho.

Na verdade, eu preciso. Preciso de mais respostas. Mas acho que essa enfermeira não saberia respondê-las.

– Bom, vou avisar o Dr. Philip que você acordou e mais tarde eu passo aqui novamente para te trazer algo para comer – diz ela. – Tente tirar um cochilo. – Aceno com a cabeça em concordância e ela vai embora.

– “Tirar um cochilo”... – repito, bufando em seguida.

A última coisa que quero fazer é tirar um cochilo. Já fiz isso durante um mês. Então, foco em tentar recordar o acidente de carro. Fecho os olhos e me concentro, porém, não me vem nenhuma lembrança. Do que ainda me lembro? Bom, me chamo Steve, tenho trinta e dois anos, sou um escritor de livros de suspense e tenho uma esposa chamada...

Jessica.

Sim. Jessica. Uma mulher muito bonita, por sinal. Possui um rosto sereno, cabelos castanhos ondulados com uma franja que cai sobre seus intensos olhos azuis. Ela tem trinta anos. É professora de inglês e dá aula para alunos do terceiro ano do ensino médio. A gente se conheceu em uma festa de um amigo que temos em comum. Namoramos durante dois anos, noivamos durante um, e estamos casados há três. Seis anos juntos. Eu a amo tanto, e tenho bastante sorte de esse sentimento ser recíproco.

Moramos em um pequeno apartamento na cidade de Nova Iorque. Não temos filhos, ainda. Mas vamos ter. Recentemente, Jessica havia descoberto que está grávida. Isso foi uma semana antes de completarmos três anos de casamento. Ter um filho é o melhor presente que eu poderia ganhar. Então, decidimos viajar para Nova Jersey, estado em que os pais dela viviam. Passaríamos alguns dias lá para comemorar mais um ano juntos, além de contar pessoalmente a eles sobre o bebê.

Espere. As lembranças estão vindo...

Nunca chegamos em Nova Jersey. Iríamos de carro. Estávamos na estrada, a luz alaranjada do pôr do sol banhando o rosto de Jess sentada no banco do carona enquanto eu dirigia. Conversávamos e riamos de piadas bobas, assistindo o céu anoitecer. Uma música no rádio tocava.

Então, um caminhão surgiu no horizonte, vindo do sentido oposto ao nosso. As esferas brilhantes de seus faróis aumentando e ficando mais intensas ao se aproximarem de nós. Não sei exatamente o que aconteceu, mas o veículo invadiu nosso lado, e girei o volante para a esquerda com todas minhas forças na esperança de desviar. Mesmo assim, o monstro sobre rodas atingiu a lateral direita de nosso automóvel. Perdi o controle e fomos jogados para um barranco. Capotamos, rolando diversas vezes colina abaixo. Eu via tudo girar enquanto os vidros se estilhaçavam, os minúsculos fragmentos cristalinos dançando ao nosso redor. No momento em que o carro parou, ficamos de ponta-cabeça. A última coisa que vi foi a imagem de Jessica inconsciente, o sangue pingando assustadoramente de um ferimento que não consegui localizar. Queria ter energias suficientes para tirá-la de dentro daquele enorme pedaço de metal amassado e retorcido em que estávamos. No entanto, minha visão foi escurecendo aos poucos até que apaguei.

Agora estou aqui, numa maca de hospital...

Será que Jessica está bem? Será que ela entrou em coma como eu entrei? E o nosso bebê? Essas dúvidas me fazem ficar inquieto a ponto de tentar escapar novamente. Porém, sei que eu não irei muito longe. Estou fraco e faminto. Além disso, um homem de jaleco branco e cabelos grisalhos segurando uma prancheta entra no quarto acompanhado de uma mulher. Eu a conheço. É minha irmã, Emma. Ela possui traços muito semelhantes aos meus, exceto por algumas diferenças. Seus cabelos são loiros escuros, já os meus, cor de areia. Seu nariz é reto como o meu, entretanto, a boca é pequena e delicada. Emma também compartilha os mesmos olhos dourados que eu, mas o rosto é fino com linhas mais suaves.

– Steve? – ela pergunta, aproximando-se lentamente, parecendo um pouco hesitante, não tendo certeza se eu a reconheço. Não seria por menos, afinal, as chances de eu perder a memória foram grandes, pois eu sofri um acidente e bati a cabeça.

– Oi, Emma – falei.

Ela avança, os olhos cheios d’água, dando-me um abraço desajeitado.

– Graças a Deus você despertou! Quando me ligaram dizendo que você tinha acordado, eu vim o mais rápido que pude, não conseguindo acreditar. Fiquei com tanto medo de... – ela se interrompe, balançando a cabeça como se tentasse se livrar de pensamentos inapropriados para o momento. – Deixa pra lá.

– Olá, Steve – o homem de jaleco me cumprimenta. – Sou o Dr. Philip. Como está se sentido?

– Faminto. Fraco. Confuso... – respondo. – Mas tirando isso, até que me sinto bem. – ele dá um sorriso de canto. – E qual é o meu quadro clínico?

– Estável, apesar de ter nos dado um grande susto – diz ele, olhando os papeis na prancheta por cima dos óculos. – Você sofreu uma concussão cerebral, uma fratura leve no osso da perna esquerda e alguns cortes. É um milagre ter sobrevivido e saído do coma.

– E, o que houve depois do acidente? O que houve com o motorista do caminhão e com Jessica? – a ansiedade por respostas toma conta de mim.

– O motorista tinha dormido ao volante quando bateu no carro de vocês – Emma me diz como se algo estivesse bloqueando sua garganta. Como se estivesse lutando consigo mesma por dentro. Uma parte esforçando-se para que continuasse falando. Já a outra, brigando para que ficasse calada. No entanto, ela prossegue: – Ele foi preso por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Então, se ele foi preso por homicídio culposo...

– Quer dizer que Jessica está...?

Morta. Jessica está morta, e nosso filho também.

– Eu sinto muito, Steve – ela lamenta.

Sinto-me enjoado. Um frio percorre por minha espinha. Meu coração martela furiosamente e minhas bochechas queimam, em chamas. Emma e Dr. Philip observam em silêncio minha expressão engessada de choque. Lágrimas deslizam por meu rosto. Arfo buscando ar, me afogando num oceano de tristeza, raiva e desespero.

– Eu que deveria ter morrido no lugar dela para que ela e meu filho estivessem bem – soluço descontroladamente, minha voz embargada. – Por favor, saiam daqui...

– Steve... – começa Emma.

– SAIAM DAQUI! – explodo. – DEIXEM-ME SOZINHO!

Sem protestar, os dois se retiram do quarto, Emma balbuciando algo sobre voltar mais tarde.

Agora percebo que o pior pesadelo não é estar em coma, e sim estar acordado. Quero voltar a dormir. Dormir para sempre. Mais tarde, a enfermeira loira volta com uma seringa na mão. Ela introduz a agulha num tubo conectado ao meu braço e injeta algo nele para eu adormecer. Provavelmente são ordens do Dr. Philip que viu o quanto eu estou agitado. Mas não resisto, pois é o que eu quero. Quero fugir do mundo real. Em poucos minutos, a escuridão começa a rondar os cantos de minha visão. Minhas pálpebras ficam pesadas. Não luto para manter os olhos abertos e fecho-os, mergulhando no mundo dos sonhos, onde, pelos menos lá, Jessica está viva.


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Notas finais do capítulo

Bom, se gostaram (ou não) e querem que eu continue, escrevam um comentário e digam que acharam. Se quiserem, favoritem e acompanhem a história também. Até a próxima, quem sabe, rs.



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