Era uma noite quente na pequena cidade de Grodic's Hollow, mas, o tempo estava contradizendo todos os telejornais. Parecia que iria chover.

Lílian Evans abriu a porta de sua garagem, deixando a luz invadir o local. Ali, o carro de seu pai estava coberto por uma lona. Ela nunca havia visto o pai (ou a mãe) dirigir. Ao lado do carro esportivo, coberto, o belo piano de cauda da família Evans repousava. Lílian retirou a fina lona do piano, e pousou a mão sobre ele.

– Tão esquecido... - murmurou. - Vamos dar um jeito nisso.

Lílian nunca havia tocado piano antes, mas a garota era boa em tudo que fazia. Seus pais a haviam colocado em uma escola de Ballet, alguns anos antes. Mas não era isso que a garota gostava. Ela fugia das aulas de ballet para ir à aulas de violão e piano, do outro lado da rua. Era isso que ela gostava. Tocar e cantar. Pois é. Lílian Evans também era boa em canto.

Naquele dia, Godric's Hollow viu a perfeita vida de Lílian Evans virar às avessas. E tudo por causa de seu vizinho punk.

Lílian Evans puxou o banco do piano. Ficou na ponta do pé e esticou o braço para pegar uma das partituras antigas da prateleira.

Ela se sentou, com a partitura à sua frente. Ela começou a tocar graciosamente. A sorte era que seus pais estavam de viagem. Lílian havia ficado com sua irmã, Petúnia. Lílian não suportaria se seus pais descobrissem seu belo segredo.

A pequena Lílian de catorze anos (e um mês, como fazia questão de lembrar sempre) mal tinha começado a tocar, que já vinham lhe incomodar:

– Toc toc, Majestade. -Lílian parou de tocar. Sem olhar para o intruso, disse:

– Severo. - ela suspirou. - O que faz aqui?

– Vim ouvir Sua Majestade tocar novamente o tema principal de Quebra-Nozes. – Lílian suspirou novamente.

– Severo, vá embora. - pediu.

– Já pensou em tocar guitarra? - Lílian estremeceu. - Cantar rock? Bom... Claro que não. Sua Alteza é muito delicada para tanto.

O garoto se virou para ir embora. Lílian odiava ser tratada assim. E odiava ser desafiada.

– O que quer? - disse, se levantando. - Quer que eu me junte ao seu grupinho de deslocados?

Lílian saía agora de sua garagem. Começou a chover. Mas nenhum dos dois ligava muito. Logo, os cabelos ruivos de Lílian estavam grudados ao rosto, e o vestido florido, ensopado. Severo não parecia estar melhor que a garota.

– Não Alteza. - ele disse, ironicamente, virando o rosto para a ruiva. - Eu só... Queria saber se sua Alteza poderia sair de sua bela área de conforto.

A garota cruzou os braços, apertando os olhos para Severo.

– Apostou isso com quem? - ela perguntou.

– Ninguém. - disse Severo, rindo.

– Diga-me! - a garota gritou.

– Hm... Posso pensar na resposta?

– NÃO! – Lílian se virou, e voltou para sua garagem. Mas dessa vez, a ruiva fechou o portão, deixando Severo lá fora, na chuva.

~Duas Semanas Depois~

Lílian passara as últimas duas semanas pensando no que iria fazer. Respirou fundo. Separou o cabelo ruivo em mechas, as tinturas coloridas já prontas à sua frente no banheiro de seu quarto. Começou pelo azul. Depois verde, rosa, roxo, amarelo...

Ela esperou o tempo da tintura agir no cabelo e entrou no banho, tingindo os ladrilhos brancos, como um arco-íris.

Algum tempo depois, Lílian abiu o guarda-roupa, procurando a roupa mais punk que tinha.

Ela se vestiu, colocando uma calça jeans, um tênis preto, e uma blusa cinza grafite com uma caveira vermelha na frente (ela escondia essa blusa da mãe à uns três anos, quando uma banda de rock local fez um show, e Lílian conseguiu entrar no camarim dos músicos. Mas isso já é outra história.).

Ela abriu a janela, passou as pernas para o lado de fora e pulou para o telhado.

– Santas aulas de ballet. - murmurou, ao se equilibrar no telhado. Foi andando devagar, até chegar à janela do vizinho.

Ela bateu na janela.

– Toc toc, Snape. - Lílian sorriu ao ver a cara de espanto do vizinho. Ele caminhou até ela e abriu a janela. - O que foi? Não achou que eu fosse capaz?

Ela passou as pernas pela janela, já invadindo a casa do vizinho.

– Quarto legal. - mentiu, encarando os posteres de rock que cobriam o quarto inteiro.

– Ahn...

– O que foi? - ela chegou perto de Snape. - Eu o deixei... Surpreso?

Ela se sentou na cama de Snape.

– Quando sua turminha chega? - Snape apontou para um Post-it na tela do computador que dizia:

"Bellatrix e turma,

13h."

Lílian olhou para o relógio de caveira de Severo.

– Ei, posso te chamar de Sev? - o garoto assentiu, ainda sem palavras. - Vamos, diga algo! Estou ficando sem jeito aqui. - Lílian sorriu, já aceitando o que fizera com si mesma. Ela tinha mudado tanto em meia hora... Mas ela queria mudar. Será mesmo?

~Dois Anos Depois~

– Olá de novo, Lil's! - o garoto dissera, atrás da ruiva. Ela virou o rosto para encarar o garoto.

– Porquê, Deus? - murmurou. E então, falou mais alto: -

– O que faz aqui?

– Sua Majestade não gosta de minha presença? - ele perguntou ironicamente. Ele deu um sorriso torto. - Mas Sua Majestade... Poderia falar comigo um instante?

Lílian suspirou.

– O que quer que queira falar comigo... - ela encarou o amigos com o canto dos olhos. - Fale na frente deles.

– Queria apenas que... Voltássemos a ser amigos, Lil's.

– Nós nunca fomos amigos de verdade, Sev. - ela cobriu a boca com as mãos e pragueijou mentalmente.

– Será que não? - o garoto perguntou, chegando mais perto de Lílian. Tiago, ao lado da ruiva, foi comçando a ficar vermelho. Sua mão procurou a torta de sorvete que estava na mesa. Marlene, que já tinha certa experiência com essas coisas, percebeu a intenção de Tiago e sorriu. E então... Havia um Severo coberto de sorvete na frente do grupo.

– GUERRA DE COMIDA! – exclamou Marlene. Lílian foi atigida por um prato de macarronada vegetariana (eca... Sem querer ofender os vegetarianos, claro), e logo lançou alguns pães de queijo pelo Salão. Lílian riu. Nunca havia feito isso. Minerva se levantou para botar ordem na algazarra adolescente, quando alguém acertou nela um bolo de chocolate com muito chantilly decorando. O belo e elegante vestido de veludo de McGonnagal ficou completamente machado de branco. O Salão caiu em silêncio.

– Ih, droga. - ouviram exclamar. - Acertei a McGonnagal.

Quando Lílian se virou para ver qum havia exclamado, deu d cara com a Delacour. Ela já usava o uniforme da escola, mas estava toda suja.

– Foi ela? - Lílian sussurrou para Tiago.

– Sim.

Ela engoliu em seco.

– Ela se ferrou. - e então, ela riu, ao ver a Falsiane da Delacour se ferrar.