Entre o cavaleiro e o ladrão escrita por Eduardo Marais
Ao acordar, Regina encontra sua cama parcialmente vazia. Vasco não estava ali, como costumava estar em todas as manhãs. Não a havia despertado com longos beijos e nem havia trazido seu café da amanhã, com aquele solitário com a rosa vermelha. Pela primeira vez depois do casamento, ela havia acordado abandonada.
No berço, Yasemine ainda dormia serenamente, movimentando a boquinha como se estivesse mamando num seio imaginário. Regina percebe os lábios de Vasco naquela boca. Não eram os seus lábios, mas todo o desenho pertencia ao pai.
Por longos minutos, ela observa sua criança. De repente, em micro segundos, a criança desaparece diante de seus olhos, tomando-a de pânico e agonia. Ao piscar várias vezes, percebe que era um engano e a pequena Yasemine continuava seu sono matinal.
– Talvez eu tenha cochilado... – ela murmura de si para si, apavorada com a lembrança das palavras de Mary sobre a permanência de Vasco e Yasemine em sua vida. Leva a mão ao peito e sente o coração agitado ali.
Durante todo o dia, Regina nutre aquela sensação horrível dentro da alma e precisa buscar constantemente a presença da filha, dentro do seu descanso ao lado de sua mesa, para conseguir acalmar o seu medo. Yasemine ainda está ali, viva e doce como era desde o dia em que nascera.
Agora, ela desejava ouvir a voz do seu homem, seu amigo e seu amado. Tenta ligar inúmeras vezes e para seu desespero e desamparo, não é exitosa. O mero fato de perceber a existência da mágoa na alma de Vasco, feria profundamente a sua alma também. Sua impulsividade havia magoado o único ser que a amava sem cobranças e de forma incondicional. Enquanto Henry fazia cobranças e críticas, Vasco a mantinha na mais alta conta, protegendo-a numa redoma de amor para que não fosse atingida pela dor.
E ela havia quebrado essa confiança e iria chorar as mesmas lágrimas que Vasco deveria ter chorado.
Naquela noite, dormira abraçada à filha. Queria ter a certeza completa de que a menina não desaparecia de seus braços e que estaria ali, quando o dia chegasse.
Por três longas noites, Regina havia ficado longe do corpo de seu marido, seu amante e seu protetor. E como aquilo fazia falta! Era como se a cada um dos movimentos, pedaços de seu coração fossem caindo pelo chão daquele mausoléu em que tinha se transformado sua casa.
E quando Vasco retorna de sua viagem, traz o rosto liso de expressões, como se uma camada de cera tivesse sido depositada ali. Estava sem linhas de expressões ou era apenas obsessão na mente de Regina.
– O que resolveu com o ladrão?
– Não tenho visto Robin desde aquela tarde na prefeitura. Não resolvemos nada porque não há o que resolver.
Mas era preciso resolver e aquilo não poderia ser adiado.
Regina encontra Robin numa casa afastada do centro da cidade. Queria discrição e tranquilidade para conversar. Antes do anoitecer, tudo estaria definitivamente resolvido.
– Você está morando aqui?
– Killian conseguiu esta casa para mim, assim como me arranjou um emprego. Deixei Marian e Roland na pensão e preciso trabalhar para sustentá-los. – Robin sorri ao ver Regina colocar o bebê descanso sobre o sofá desgastado. – Conversou com seu marido?
– Eu magoei Vasco ao beijar você. Estou ficando hábil em magoar o meu marido e penso que ele vai acabar afastando-se de mim. Uma vez, ele me disse que me perdoaria setenta e sete vezes sete vezes, cada um dos meus erros. Porém, não era obrigado a conviver comigo e na época, Yasemine não existia.
– Ele está aceitando o nosso amor?
Regina senta-se no sofá, enojada pelas condições do móvel e não contém uma careta de reprovação.
– E você? Aceita o amor que vivo com ele?
– Você me disse que não o amava, Regina!
– Não o amo como amo você. Vasco é especial e recebe um amor especial. Não tenho a certeza se quero abrir mão do que ele me ofereceu.
Robin senta-se ao lado de Regina e inclina-se para beijá-la. Não é repudiado. Sorri nos lábios dela ao perceber que sua amada queria amar os dois homens ao mesmo tempo e não abriria mão de nenhum deles.
Horas depois, Robin observa o carro de Regina afastando-se de sua casa, retornando para sua vida de casada e certamente iria terminar a sua noite, nos braços do seu marido jovem e apaixonado.
O desespero toma conta da alma de Regina, quando no meio do trajeto, ela busca o rostinho de sua menina em meio aos cobertores e não encontra criança alguma. Parando carro, a prefeita começa a retirar os cobertores e nenhum sinal de Yasemine é encontrado. Gritando, ela sai do carro e corre para a porta do passageiro, abrindo-a e buscando mais uma vez a presença da criança.
Para sua surpresa, encontra a menina deitada dentro do bebê conforto, onde havia sido procurada anteriormente. Continuava embrulhadinha e até ronronava como se fosse um gatinho. Regina agarra a menina e chora compulsivamente, mais uma vez ouvindo as palavras de Mary. Estava ficando louca!
“Vasco e Yasemine deixarão de existir em seu conto de fadas!”
E agarrada à filha, Regina grita ruidosamente expulsando seu desespero.
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