Entre o cavaleiro e o ladrão escrita por Eduardo Marais


Capítulo 13
Capítulo Treze




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Regina não se cansava de olhar a sua criatura. Estava decorando cada traço, cada sinalzinho, localização de cada pelinho, elevações...como ele era lindo! Aquelas sobrancelhas escuras, os longos cílios enfeitando suas pálpebras...o desenho dos lábios. Sorri ao comparar a boca do marido com a pequena boca de sua menina.

Ah, Yasemine! A garota estava chorosa e inquieta desde que perdera os braços e os cuidados excessivos do pai. O constante sorriso banguela havia desaparecido e ela vasculhava os arredores em busca daquele com cheiro bom e corpo quente. Onde estava a voz que cantava enquanto a embalava? Onde estavam os ruídos engraçados que aquele homem fazia para que ela risse? Onde ele estava?

O som contínuo de um apito tira Regina do devaneio. Ela se assusta ao perceber que a máquina que auxiliava Vasco na respiração havia parado e o homem também. Um grito sai de sua garganta e é tudo o que consegue fazer, até ser retirada do quarto pelos enfermeiros.

Uma invasão de pessoas vestindo roupas brancas provoca pânico e uma horrenda sensação de impotência em Regina. Ela chora, tentando ver o que a equipe médica estava fazendo para a salvação daquele homem. Um inocente atirado em uma arena repleta de leões famintos e gladiadores assassinos.

As lágrimas queimam os olhos e o rosto de Regina. Iria perder Vasco, entregá-lo às mãos da morte e não tornar a ver aqueles lindos olhos apaixonados em todas as manhãs. Isso não poderia acontecer!

Os médicos e enfermeiros param suas atividades e começam a retirar suas luvas e desligar os aparelhos. Pelas expressões, sua luta tinha sido em vão. Alguns enfermeiros saem do quarto usando máscaras de derrota.

Haviam perdido Vasco.

Regina grita furiosa e avança para o grupo, invadindo o quarto e impedindo que Vasco tivesse a cabeça coberta pelo lençol. Com um gesto violento, ela exige que deixem o rosto do homem descoberto.

– Vasco... – ela se inclina e encosta a testa na testa de seu marido. – Não faça isso! Não saia de minha vida! Droga! Eu não posso mais ficar longe de você!

O choro torna-se alto e tão dolorido que todos conseguem sentir o impacto da dor emanada.

– Venha, Regina. – o Dr. Victor toca os ombros da prefeita e tenta afastá-la do marido morto.

A prefeita não permite ser conduzida para fora dali e vai envolver o corpo de Vasco com seus braços. Ela chora e chora muito. Afasta o rosto e fixa toda a sua atenção na beleza daquele homem e somente consegue recordar as lembranças dos sorrisos largos dele. Inclina-se e beija-lhe os lábios com tamanha carga de sentimentos, que as batidas do próprio coração revelam a existência de uma força maior dentro de sua alma. Era amor!

Todos os questionamentos, as dúvidas, as perguntas sem respostas foram apagadas da mente e do coração de Regina com aquele beijo e com o que pensava ser a perda de Vasco. Ela esconde o rosto no espaço entre a orelha e o pescoço dele, escondendo também o seu choro doído demais para ser exibido.

– O seu cabelo...está entrando em meu nariz...está fazendo cócegas...

Num ímpeto, Regina levanta-s e olha na direção do som. Encontra dois olhos cansados e bonitos, fitando seu rosto. O esboço de um sorriso surge naqueles lábios pequenos.

Ela grita e fica histérica. Afasta-se dele e em poucos minutos o quarto está cheio de médicos e enfermeiros para examinarem o paciente que já era dito morto.

Momentos mais tarde, já banhado e alimentado, Vasco observa Regina hidratando seus pés. A mulher era linda demais e tinha lábios que chamavam para serem beijados. E aqueles cabelos? O que era aquilo? Um manto negro derramado sobre sua cabeça. Quanta perfeição!

– O Dr. Victor me disse que sairá do hospital em dois dias. Ficará em observação em casa e eu estarei do seu lado. Sabia que Yasemine está sentando-se sozinha?

Vasco sorri. Deveria sorrir porque aquilo parecia ser importante para aquela deusa.

Regina não se contém e deixa sua atividade para aproveitar-se dos lábios do marido. É tomada de felicidade quando ele corresponde o beijo.

– Descobri que amo você, Vasco. É com você que quero ficar e ver nossos filhos crescerem.

Ele sorri. Era importante para aquela criatura deslumbrante, então era importante para ele.

– Eu vou para casa buscar alguns produtos que você precisa e estarei de volta pela manhã. Preciso dormir um pouco em nossa cama e cuidar de nossa filha. – Regina acaricia a franja dele, liberando os olhos. – Yasemine está sendo cuidada por Mary e está em boas mãos. Eu sei que você contratou Marian para cuidar de nossa menina, mas eu a afastei de nossa casa desde que ela envenenou o vinho.

Envenenar vinho? Marian tinha envenenado o vinho dele? Por quê?

Momentos depois, sozinho no quarto, Vasco consegue levantar-se e vai apanhar algumas revistas que estavam num móvel num dos cantos quarto. Ao virar-se para retonar para a cama, depara-se com Robin parado junto à porta e com um olhar temeroso.

– Robin...

– Eu quis ver com meus próprios olhos. A notícia de seu despertar ecoou rapidamente pela cidade.

– Estou entediado, mas não quero agitar minha noite com uma discussão. Quero paz!


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