Se você estiver lendo isso, saiba que provavelmente eu já estarei morta. Não que memórias póstumas não tenham lá o seu charme, mas só para você querer, quem sabe, me desejar um bom descanso, não custa deixar avisado e...

Certo. A quem estou querendo enganar? A verdade é que eu sou azarada até para morrer na hora certa. Provavelmente vou sobreviver a essas duas horas vagando no metrô, indo e vindo, pelos quatro cantos de Manchester, apenas para pagar em terra pelos pecados da pequena, mas poderosa, mentira que inventei.

Will não me perdoará nem em cem anos. Sei disso, porque nos conhecemos desde o primário e ele é uma dessas pessoas que tem o dom para guardar rancor. É óbvio que desmentirá essa farsa ridícula na primeira chance que tiver, e então minha vida estará acabada. Literalmente.

Caso um dia leia isso, Will, espero que saiba que não tive a menor intenção de coloca-lo numa saia justa. Na verdade, eu só não queria admitir o que eu precisei fazer para um homem aceitar me ceder um quarto (o sótão, para ser precisa). Imagine o quão humilhante não seria dizer algo assim para os meus antiquados pais... Eles ficariam arrasados. Além de que você não pode, de jeito nenhum, me culpar pelas aulas de interpretação que minha mãe provavelmente andou faltando no ensino médio. Está muito além do meu terreno de compreensão (e da minha época).

Sua eterna amiga – e ladra oficial de camisas do United,

Ellie Ridgeway

03/06/1990 – (espero sinceramente que hoje)