Runaway escrita por Grace


Capítulo 1
I know what you are


Notas iniciais do capítulo

Mais uma vez: sejam muito bem vindos! Espero imensamente que gostem da fic! Muito obrigada por estarem lendo! Vocês sempre fazem essa autora aqui feliz! <4



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Apressei o passo. Era inverno. O frio tomava conta de mim. Até meus ossos pareciam congelar. Me batia uma tristeza ao pensar que eu teria que andar um bocado mais até chegar em meu quarto. Eu odiava quando eu acabava enrolando no trabalho e demorava para ir pro quarto.

Eu tinha perdido até o jantar hoje. Meu estômago roncava, mas eu me recusava a ir até a cozinha roubar alguma coisa pra comer. Tudo o que eu queria era um banho quente e minha cama.

Eu andava pelos corredores da audácia. Era tarde já. Eu não tinha certeza de quantas horas, mas devia ser próximo da meia noite. Eu ouvia o barulho das águas que corriam pelo Abismo. Era violento, mas ajudava a acalmar, pelo menos um pouco. Era um som conhecido. Estava escuro, mas isso era uma coisa que eu havia me adaptado. Aqui, de noite, era mais fácil se localizar por sons e por instinto do que por visão. Os corredores sempre eram muito parecidos.

Eu não prestava muita atenção ao caminho. Pensava em dois anos antes, quando eu escolhi deixar minha família, minha antiga facção, para vir pra cá. Não me arrependo, eu acho. Sinto saudades deles apenas. Mas gosto da liberdade e dos perigos que a Audácia oferece.

Eu gosto de sentir a pele formigar de ansiedade, gosto de me sentir livre, de me sentir leve. Gosto de correr, gosto da sensação de perigo. Ainda vou com os outros para o último andar do prédio, só para “saltar” rumo ao desconhecido. Todas as vezes, a mesma sensação.

Ouvi um movimento a minha frente. Parei, prestando atenção. Ninguém nunca andava por esses corredores tarde da noite.

_Quem está aí? - Perguntei em voz alta e firme. Aguardei. Nenhuma resposta. Eu dei um passo para a frente, tentando forçar minha visão, e coloquei-me em forma de ataque - Quem está ai? - perguntei novamente.

Eu ainda sentia o peso do segredo que carregava, e todas as vezes que me sentia ameaçada, era por conta disso. Era por conta de quem eu era. Do que eu era. E eu não me sentia ameaçada com frequência.

Uma forma apareceu na minha frente. Era bem maior que eu. Recuei rapidamente. Eu não consegui ver quem era. Todos as células do meu corpo estavam alertas. Eu sabia que estava em perigo.

_É o fim pra você, DIVERGENTE - a voz de uma pessoa desconhecida atingiu meus ouvidos. A palavra divergente me paralisou. Eu tentei raciocinar rapidamente, mas fiquei em choque por alguns instantes. Quem poderia saber disso? Só duas pessoas sabiam, e eu tinha certeza que aquela sombra não pertencia a nenhuma delas. Eram pessoas que eu confiava totalmente, e que eu sabia que nunca me entregariam. - Vocês só servem para serem cobaias.

Como descobriram? Será que eu deixei alguma pista? Será que sempre desconfiaram e resolveram se livrar de mim por segurança? Por que isso importava agora? Por que eu, dois anos depois da iniciação? Cobaias? Cobaias do quê?

Então a sombra se moveu, me atacando. Eu me defendi da melhor maneira que consegui. Consegui abafar alguns socos e acertar alguns. A pessoa continuava atacando. Eu tomava cuidado para não me desequilibrar e cair no abismo. Eu era leve, não precisaria de muito esforço para me fazer passar por cima das grades e despencar do outro lado.

Um soco mais forte e eu quase me desequilibrei. O momento que perdi foi crucial. Meu adversário enfiou uma faca no meio da minha coxa esquerda. Eu reprimi um grito recuei um pouco mais, tentando pegar meu canivete no bolso de trás. Eu não podia demonstrar fraqueza. Não agora.

Eu não sabia se isso tudo era para me matar ou para me conter, e não estava nem um pouco afim de pagar para descobrir. A dor da facada ainda estava anestesiada pela adrenalina, mas eu sabia que isso não duraria para sempre. Eu precisava sair dali, mas eu tinha a consciência de que não conseguiria correr muito rápido agora. Pelo menos, não mais rápido do que meu adversário.

Mais golpes. Dessa vez, me desviei mais rápido, me deixando levar mais por instinto do que por raciocínio. Meu instinto gritava por sobrevivência. Fui atingida superficialmente no braço direito. Ataquei com o braço esquerdo, acertando o queixo dele. Não foi forte o bastante.

Consegui pegar meu canivete no momento que a pessoa me esfaqueou novamente. Dessa vez fui atingida no rumo dos rins. Uma dor absurda tomou conta de mim.

A adrenalina estava indo embora, dando lugar ao choque. Recuei tentando ignorar a dor na perna. Eu não podia entrar em pânico agora. Não quando minha vida dependia da minha sobriedade e agilidade.

Minha respiração estava pesada. Meu corpo estava ficando pesado. A dor não me deixava pensar direito, mas eu sabia que estava perdendo muito sangue. E rápido. E eu sabia que ia acabar morrendo se não estancasse isso, embora eu nada pudesse fazer agora.

Fiz então a única coisa que consegui pensar antes de meu adversário se aproximar novamente. Atirei o canivete nele. Eu não teria chance nenhuma se ele se aproximasse novamente.

Lembrei que Quatro uma vez havia me dito que, para pessoas pequenas como eu, a melhor defesa é o ataque. Lancei rumo a ele apenas, sem saber onde mirar, já que eu enxergava apenas um vulto.

Por que não podia ter a porcaria de uma luz ali? Minha vantagem era apenas o quesito surpresa. Ele não veria eu atirando o canivete. Mas eu tinha a consciência de que se errasse, eu estava morta.

Ouvi um baque surdo. O som de um corpo caindo no chão. Respirei fundo e esperei. Será que eu havia acertado um lugar fatal? Cabeça, coração, garganta… Meu coração batia descompassado e eu respirava com muita dificuldade.

Silêncio.

Esperei mais uns instantes, por cautela. Se ele estivesse acordado e puxasse os meus pés, me derrubando, eu poderia rolar por debaixo da grade e cair no rio, e seria apenas uma menina suicida que não aguentou a pressão que é a vida na audácia. Eu não daria esse prazer a ele.

Depois de uns momentos, me movi. Com dificuldade, cheguei até onde eu via a silhueta do corpo de meu adversário caído, já sem vida. Forcei minha visão. Coração. Eu havia acertado o coração.

Eu não conhecia o homem. Não me lembrava de tê-lo visto antes, embora eu mal o estivesse enxergando.. Não sabia se isso era bom ou ruim. Eu havia matado uma pessoa. Uma pessoa que estava tentando me matar.

Eu não podia deixar o pânico tomar conta de mim.

Puxei o canivete de volta. Eu não poderia larga-lo ali. Iria me incriminar. Claro que na Audácia, isso as vezes acontecia, e se eu dissesse que ele havia me atacado e eu estava só me defendendo, não teria problema nenhum. Mas eu acreditava que dessa vez seria diferente. Ele não teria me chamado de Divergente e nem me atacado se não tivesse tido ordens de alguém superior. Poderia ser só especulação dele, ou deles, e eles tentavam acabar com todos que pareceram suspeitos demais nos testes, mas eu não podia ter certeza de nada.

Tudo o que eu sabia era que se eu ficasse ali, eles com certeza me acusariam de assassinato e me matariam.

Sai arrastando a perna. Eu ainda estava perdendo muito sangue. Precisava de ajuda. Nunca conseguiria chegar até meu quarto. Não podia ir a enfermaria, já que eu teria que dar explicações sobre coisas que nem eu mesma sabia. E não ia ficar ali esperando a morte. Fui procurar a única pessoa que poderia me ajudar agora. Uma pessoa que, apesar de eu não ver muito frequentemente, eu considerava como um amigo.

Eu me lembrava perfeitamente do caminho até o quarto dele, embora tivesse ido lá poucas vezes.

_Quatro? - esmurrei a porta - Quatro, acorda. - eu gritei novamente, usando toda a força que me restava. Se ele não abrisse, eu estaria perdida - Abre a porta, pelo amor de Deus.

Silêncio. Minha cabeça rodava. Eu tinha dificuldades para aguentar a dor na perna.

_Quatro? Acorda - Eu estava começando a perder a consciência. Me apoiei no portal. Alguma coisa se movimentou na minha frente, embora e não conseguisse focalizar.

_Tris? - olhei para ele. Fiz o máximo de esforço que eu pode para enxerga-lo. Ele estava com cara de quem tinha acabado de acordar. Vestia apenas uma calça preta. Ele olhou pra mim assustado, e depois me pegou nos braços. A luz vinda do quarto dele me deixava momentaneamente cega.

Ele me colocou na cama dele e depois foi fechar a porta. Começou a estancar meus ferimentos rapidamente. Fez um torniquete na minha coxa e pressionava alguma coisa na região da facada na barriga.

_Tris? O que aconteceu? Quem fez isso com você? - ele perguntou, sem parar de tentar estancar meus ferimentos

_Eles sabem Quatro... eles sabem - eu estava tendo problemas para formar frases coerentes. As palavras simplesmente sumiam da minha cabeça. Eu ia apagar, a qualquer momento.

_Eles sabem sobre… - ele deixou a frase morrer. Quatro sabia da minha divergência. Ele havia sido meu instrutos para a iniciação à Audácia e ele havia percebido durante a segunda fase dos meus testes. Ele havia me ajudado a lidar e a esconder isso.

_Sim. Eu estava indo para o meu quarto... perto do abismo... alguém disse... me atacou... reagi… canivete - Só então eu percebi que ainda segurava o canivete na mão. O canivete com o sangue do cara que eu havia matado. Eu o soltei lentamente, e então mergulhei na inconsciência.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do capítulo??? Espero que sim!
Beijos e até o próximo!