A escolha



Várias carroças e homens montados a cavalo se amontoavam nos pátios de Winterfell. Mais uma comitiva acabava de chegar e Robb mirava tudo aquilo, do alto de sua janela, completamente desanimado.

Há algumas semanas fizera dezesseis anos, e seu pai lhe comunicara que seria melhor para a família e para o norte se houvesse um casamento dos Starks com alguma nobre família nortenha. E Robb tinha que admitir que no raciocínio do pai havia algum sentido. Um longo verão vinha se arrastando, o que significaria um longo inverno pela frente, e o norte tinha que estar unido contra qualquer ameaça. E nada melhor que fortificar aqueles laços com um casamento. Seu avô Rickard Stark havia se casado com uma descendente dos Flint, importante clã das montanhas do Norte. Enquanto seu pai fizera laços com o sul, com a casa Tully, no lugar de seu irmão Brandon. Agora era a vez de Robb se voltar novamente para o Norte, já que por nada Eddard preferiria uma união com alguém de sangue Lannister, mesmo que Robert pudesse algum dia ter cogitado oferecer Mircella Baratheon em casamento ao norte.

_Preparado para dançar e entreter jovens casadoiras caro irmão? – Jon perguntou fazendo força para não gargalhar da cara desanimada que Robb exibia. Aquilo seria um suplicio. Ele sabia que um dia teria de se casar, fazer alianças e ter herdeiros se quisesse ser um bom Senhor de Wintefell. Ele só achava que ainda demorariam vários anos antes que tivesse de escolher.

Então simplesmente grunhiu como resposta ao irmão.
Jon podia estar se divertindo as suas custas, mas nada se comparava com o brilho de deboche e excitação de Theon Greyjoy. Aquele seria capaz de conseguir uma noite com qualquer uma das pretensas noivas de Robb, apenas pelo prazer de atormenta-lo e influenciar em sua escolha“provando-as antes” como ele lhe dissera mais cedo que faria caso Robb se interessasse, o que levou o herdeiro do norte à fúria pela insolência de tais palavras. Apreciava a amizade de Theon, mas às vezes ele ia longe demais.
Arya entrou como um furacão pelo quarto.

_ Papai mandou te avisar que você tem que estar limpo e arrumado para iniciar o banquete de boas vindas aos Karstarks dentro de três horas Robb. – ela disse enquanto tentava recuperar o fôlego da corrida pelas escadas até o quarto do irmão.

_Mamãe vai te colocar de castigo de novo se te ver correndo por aí. Caminhe, não corra. – Robb ralhou com ela.

-“Moças não correm, andam”. Você é tão rabugento quanto Septã Mordane. E eu já decidi o que eu vou ser, agora que Bran não pode andar, vou ser um Cavaleiro no lugar dele. – ela disse empinando o nariz e saindo do quarto tão rápido quanto havia entrado.

_Que a sua mãe não a ouça dizendo isso, ou vai achar que é ideia minha as coisas que ela faz. – Jon disse entre preocupado e descrente com a nova resolução de vida da irmã.

_E porque ela diria isso? – Robb perguntou se voltando para o irmão.

_Sor Rodrick me viu ensinando alguns golpes de espada para ela e contou para o Pai. Ele pediu que eu não a incentivasse a continuar com treinamentos do tipo, mas acho que no fundo ele concordava em deixar Arya ter algumas aulas.

_Talvez ele contrate um instrutor para ela que não seja você ou Sor Rodrick. Assim mamãe não teria que ter mais um motivo para ficar contra você.

_Não faz mal, não vou ficar por aqui por muito mais tempo. - Jon disse de forma séria, sem demonstrar se gostava ou não da ideia de ir embora.

_Vai ficar enquanto o Pai queira que fique e ponto final. Agora saia daqui e vá você também se arrumar para o banquete de boas vindas.

_Não tenho que me arrumar, não tenho que impressionar ninguém. Bastardos não escolhem moças nobres como noivas. Você vai dançar com todas elas enquanto eu vou estar confortavelmente sentado, bebendo uma taça de vinho assistindo você pisar no pé das pobres damas.

Robb buscou algo em que jogar no irmão e encontrou o copo de madeira que usava para beber água durante a noite, mirou no bastardo, mas Jon sempre fora mais ligeiro que o irmão e saiu gargalhando porta a fora.

Robb suspirou. Só esperava que fosse quem fosse a escolhida, que certamente teria a indicação ou influencia dos seus pais, ela fosse ao menos bonita, e um pouco inteligente. Não queria passar os próximos anos de sua vida casado com alguém que lhe matasse de tédio.


************

Robb descontaria toda a sua raiva e frustração em Jon e Theon no dia seguinte na arena de treino com espadas. Suas bochechas já estavam dormentes do sorriso forçado que carregava a noite toda.

Fizera seus préstimos impecavelmente à família Karstark. Lord Rickard parecia estar mais alegre e confiante do que todos os outros Lords nortenhos, e lhe apresentou a jovem Alys Karstark como se já fosse sogro de Robb e um parente intimo de Eddard Stark.

_Meu senhor Robb já teve o prazer de ter essa beleza em suas mãos uma vez aqui neste mesmo salão. – Rickard disse.

_Papai pare, ele nunca se lembraria. – A jovem Alys declaroi enquanto aceitava a mão que Robb oferecia para uma dança.

O momento foi silencioso. Ele não sabia o que dizer e ela não puxou nenhum assunto. Por mais que visse a expectativa do pai ao mirar-lhe de onde estava sentado na mesa principal ao lado do senhor de Winterfell com Harrion, seu irmão mais velho e herdeiro de Karhold, Alys não conseguiu nenhuma aproximação mais intima com Robb stark. Anos haviam se passado e ela ainda não sabia como poderia seduzir o futuro Lord de Winterfell.

Quando a musica acabou, Robb a levou de volta até a mesa a principal. Sorriu e lhe fez uma vênia antes de se retirar. Ela tentou colocar a respiração no ritmo certo. Não queria decepcionar o pai, mas realmente não sabia como levar aquilo adiante. Robb Stark era lindo, com seus cabelos vermelhos, penetrantes olhos azuis e corpo forte. Tornaria-se um homem maravilhoso com certeza, e havia pelo menos mais seis pretendentes das quais ele poderia escolher tomar a mão naquele salão.

Com o passar das horas tudo foi ficando cada vez mais barulhento e selvagem. Seus olhos seguiam o herdeiro dos Starks passar de mesa em mesa daqueles ilustres convidados, os Umber, os Mormont (com suas e bonitas filhas guerreiras), Hormwood, os Cermyn, os Manderly, Glover, Talhart. Todos importantes vassalos. Todos com lindas descendentes para oferecer em casamento.

Fingindo que ia dar uma volta pelo salão acabou por conseguir escapar de lá. Respirou o ar puro da noite e começou a caminhar a esmo. Houvera neve de verão aquele dia e toda a paisagem estava do mais lindo tom de branco e cinza. Definitivamente a cor da casa Stark.

Andou até se deparar com um alto portão de madeira entalhada, percebeu então que era a entrada para o Bosque Sagrado. Olhando para os lados para ver se mais alguém estava por perto, ou a seguindo (já que seria bem o estilo do irmão para tomar conta dela), passou pelo portão assim que não percebeu ninguém por perto e adentrou no Bosque Sagrado. Sempre apreciara os Deuses antigos. O Bosque sagrado de Karhold não era não lindo quando o de Winterfell. Os pequenos lagos de águas quentes exalavam um vapor que contrastava com as folhas vermelhas dos represeiros do bosque, com o mais impressionante deles no centro, com sua face triste esculpida e lagrimas vermelhas formando um clima de paz que ela nunca havia sentido antes.

Tocou a Arvore Coração e fez uma prece silenciosa. Queria apenas um futuro bom, e que não decepcionasse seu pai sendo ou não a escolhida de Robb Stark.

_Eu me lembro. – disse uma voz que a assustou em seu momento de prece. Com o coração disparado percebeu ser Robb Stark o dono da voz atrás de si.- Desculpe, não queria te assustar ou interromper sua prece. Apenas, queria dizer que eu me lembro. Dancei com você quando tínhamos uns seis anos de idade. E depois você dançou com Jon.

_Sim, você se portou muito bem, mas ele estava de cara amarrada e taciturno - ela respondeu sorrindo para o herdeiro Stark. Como podia ele estar com um ar ainda mais impressionante do que dentro do salão? Vê-lo naquele ambiente cheio de vapores e folhas vermelhas que caiam ao redor era como ver um quadro pintado, ou uma tapeçaria ricamente bordada em tons de branco, cinza, azul e vermelho.

Ela se sentiu corar com seus próprios pensamentos. Respirando fundo se sentou em um tronco ao lado da arvore coração, enquanto observava Robb se adiantar de encontro a ela.

_Já dançou o suficiente com todas as suas pretendentes? - ela perguntou por fim e pensou ter visto uma careta quase se formar no rosto bonito dele.

_Já dancei com todas sim. – ele respondeu de modo baixo enquanto permanecia de pé à sua frente.

_E já escolheu? - Alys perguntou tentando deixar a ansiedade fora de sua voz. Se ele escolhesse qualquer uma das outras pretendentes seu pai já tinha seu destino selado com Daryn Hornwood.

_Não sei se eu conseguiria escolher alguém para esposa só porque dancei com ela uma ou duas vezes.

Alys riu. Ele estava certo, ela sentia o mesmo, mas era mulher e quase nunca discutia aquele tópico em especial com seu pai.

_Como é em Karhold? Quando visitei a casa dos Karstark era ainda menor do que a primeira vez que nós dois dançamos no salão de Winterfell, quase não me lembro de lá.

_O castelo não é tão grande e bonito quando Winterfell, mas é um castelo forte e sólido, bom para uma defesa de cerco. Os homens de Karhold são típicos nortenhos, feitos para aguentarem o inverno. E as mulheres da casa, fortes em manter o sol de inverno sempre aquecido. Não somos guerreiras declaradas como as Mormont, mas ainda assim, somos fortes o suficiente.

_Você me lembra de Arya quando fala tais palavras. Chegou a conhecer Arya, minha irmã?

_A Senhora Catelyn nos recebeu com as meninas quando chegamos. Arya é a de cabelo escuro, certo? Ela parece mesmo ter um ar mais ...selvagem e nortenho...que sua irmã Sansa.

_Sansa foi feita para o Sul, tem mais de minha mãe do que de meu pai.

_E você? Tem mais de qual deles?

_Gosto de pensar que sou meio a meio. Mas, aprendi muito mais com meu pai sobre o que é ser um homem do norte do que com minha mãe e suas maneiras do Sul. – Robb sorriu para ela. Sim, ela lhe lembrava de Arya. Os cabelos eram castanhos, a pele branca, os olhos cinza e o rosto bonito em formato de coração. O corpo era magro, mas pareceria ser muito bem distribuído. Era a primeira vez que ele realmente olhava para ela e seu escrutínio a estava fazendo corar. E ele gostou daquela cor que se espalhou pelo rosto dela.

_Gostou de Winterfell? - Robb perguntou enquanto se aproximava mais um passo. Perto o suficiente para tocar na Arvore coração e para tocar Alys se assim o quisesse.

_Sim, muito. Winterfell é bastante aprazível. Em ambas as vezes em que aqui estive fui muito bem tratada e recebida. E esse bosque. – ela respirou fundo, deixando que o ar entrasse por seus pulmões e a enchesse com a vitalidade daquele antigo e poderoso lugar. – É o Bosque Sagrado mais lindo que eu já visitei em minha vida.

_Você parece ser uma boa seguidora dos Deuses Antigos.

_E que Nortenho não é Senhor Stark? Os Deuses Antigos, assim como a força dos Primeiros Homens e os Filhos da Floresta, são o cerne do Norte. Os Deuses Antigos nunca serão esquecidos aqui. - Alys disse encarando fundo os profundos olhos azuis de Robb Stark. Seu Pai, Rickard, por vezes dizia que Ned ao se casar com uma filha do sul seguidora dos Sete nunca conseguiria ensinar para os filhos a força dos Deuses Antigos. Robb parecia entendê-los, só não tinha a força da fé neles como qualquer outro Nortenho teria. Realmente ele era meio a meio.

“E é por isso que ele precisa de uma mulher no Norte ao lado dele.” Seu pensamento concluiu.

Não disseram mais nada, apenas se olharam por um longo tempo até que passos, vozes e riso foram ouvidos se aproximando.

_Você está aqui, seu pai mandou te procurar Robb. – Um Theon Greyjoy, levemente embriagado se dirigiu a Robb. Ele parecia não ter notado a figura dela ali sentada. Mas o outro notou, e foi o suficiente para que ele fechasse o semblante. Ele não gosta de mim, o bastardo não gosta mesmo de mim. Alys pensou de forma descorfortavel.

_E eu devo me recolher também. Obrigada pela companhia Robb Stark. Senhores. – Alys disse ao levantar e se preparar para sair.

_Eu é que agradeço a companhia Lady Karstark. Já está tarde, não deve caminhar sozinha, Jon vai levá-la em segurança até o castelo.

_Eu? – Jon perguntou assustado mirando o irmão.

_Não precisa se preocupar Stark, sei cuidar de mim mesma. – Alys ainda tentou, mas Robb nem a ouviu enquanto mirava o irmão.

_Sim, você. Agora. Enquanto eu vou ver o que o Pai quer comigo. – Robb disse com a sua voz de “Lord”. Jon nunca sabia se o respeitava e obedecia ou se troçava quando o irmão usava aquele tom de voz consigo. Ou ainda tinha a opção de socar a cara do Greyjoy ao seu lado, pelo sorriso sarcástico pregado na face enquanto via a luta interna do bastardo.

Suspirando, Jon obedeceu. Fez um gesto para que Alys o acompanhasse, ambos em um passo mais lento que o do irmão e o de Greyjoy, que rumavam rápido de volta para os salões de Winterfell.

_Não precisa me acompanhar caso não queria senhor Snow. Posso muito bem encontrar meus aposentos.

_Fui designado para lhe acompanhar, então é isso que farei Lady Karstark.

_Por que você não gosta de mim? – ela perguntou sem ver. Deveria ter ficado calada e segurado a língua.

_Como Lady Karstark? – Jon perguntou enquanto levantava as sobrancelhas para a garota ao seu lado

_Você não gosta de mim. Não ficou feliz quando nos conhecemos pela primeira vez e ficou ainda mais infeliz quando me viu no bosque com Robb Stark.

_Que menino de seis anos ficaria feliz por ter que dançar com uma menina em frente a um salão lotado de pessoas, sendo bastado, e correndo o risco de dar vexame ao seu pai?

_ Robb não estava tão infeliz quanto você.

_Robb sempre soube o lugar dele. E sempre cumpriu com seus deveres. Você não me viu dançando hoje, porque não cabe a um bastardo dançar com convidadas nobres de seu pai. – Jon disse simplesmente como se fosse uma conclusão óbvia.

_Você é amargo. Lord Stark parece ter tanto apreço por você quanto por seus legítimos filhos. Não deveria pensar assim.
Jon sorriu de forma triste para Alys enquanto parava o passo, chegaram por fim à porta de entrada da ala do castelo em que os Karstark estavam alojados.

_Talvez sim, e talvez não Mi lady. Quando você, ou qualquer uma das outras garotas, se casar com Robb e vierem viver aqui muito provavelmente já terei partido. Lady Stark não irá tolerar minha presença por muito mais tempo na vida de meu pai e de meus irmãos. Tenha uma boa noite Lady Karstark, espero que você tenha boas noticias pela manhã, e desculpe se lhe deixei a impressão de não gostar da senhorita. Isso não é e verdade, é apenas o meu jeito de ser com pessoas que ainda não conheço bem o suficiente. Boa noite. – e se virou para ir embora.

Se ela fosse escolhida para se casar com Robb Stark, não iria querer que o bastardo partisse quando fosse viver ali. Ele seria uma boa companhia com quem conversar.


*******


Outro grande banquete estava sendo preparado para dois dias depois da chegada dos Karstarks. Todos os lordes vassalos de seu pai já haviam prestado contas de suas colheitas, forças de guerra e situações financeiras. Um acordo havia sido selado em que independente da escolha da noiva de Winterfell, o norte permaneceria unido, fiel aos sete reinos e à casa Stark. Alguns lordes ainda tentaram adiantar acordos de noivado para com os filhos mais novos da casa Stark, mas Ned recusou polidamente. Queria esperar. Pensava em enviar Sansa para o Sul, Arya tinha que ser domada e ensinada a ter um papel de esposa antes de ter qualquer noivo prometido. Bran, talvez nunca se casasse e Rickon era ainda muito novo.

Mas Robb, esse sim já tinha que ter sua escolha firmada. Havia passado todo o dia anterior discutindo com o pai quais daquelas famílias poderiam representar uma união mais forte com a casa Stark, e qual das garotas mais chamara a atenção de Robb.
Ned sabia que o filho tinha um papel a desempenhar, e que em muitas famílias não era nem sequer dada a chance de uma escolha, era simplesmente imposta e pronto. Como foi com Catelyn. Apenas a informaram que se casaria com Brandon Stark, e depois com Eddard, no lugar do irmão mais velho que fora morto.

Se Ned tivesse tido a oportunidade de escolha, sua escolha teria sido muito diferente, ainda que ela também fosse uma moça do Sul. E por isso queria dar ao filho a chance de ao menos conhecer aquelas donzelas com quem poderia chegar a dividir muitos anos de vida.

As horas corriam e por fim Ned liberou Robb da reunião satisfeito com as escolhas e os argumentos do filho. Ele quase escolhera uma das moças Mormont ou a mais nova dos Manrdely, mas por fim, seus olhos se dirigiram à outra direção.

Robb então teve permissão para contatar a moça antes que os anúncios fossem feitos. Ele seguiu em direção à ala onde sabia que a mãe entretinha todas elas com costuras e conversas femininas, mas por algum motivo sabia que não a encontraria lá. Por isso, depois de confirmar suas expectativas, saiu e respirou fundo o ar gelado das neves de verão que começavam a cair.

O sol começava a fazer o seu caminho em direção ao poente, dando inicio àquela cor característica e fascinante do pôr do sol que refletiam sobre as folhas vermelhas dos represeiros. O Bosque sagrado estava silencioso, e ele achou que estivesse um pouco mais silencioso que o normal, como se aguardasse algum grande acontecimento.
Ela estava lá, sentada no mesmo lugar em frente à Árvore Coração. Respirando fundo foi de encontro a ela, mas sem saber o porquê de suas pernas se tornarem tão pesadas e quase desajeitadas. Bem diferente do seu lobo que silencioso e rápido correu e se postou em frente a moça que orava aos Deuses Antigos.

Ela riu um riso límpido e cumprimentou Vento Cinzento com um alegre “olá”. Robb se surpreendeu quando ela levou a mão até ele, e o lobo deixou que ela lhe afagasse as orelhas. Ele estava enorme, quase maior que ela quando sentada naquele tronco. Viu muitos homens assustados cortando caminho dos lobos dos filhos de Ned Stark naqueles dias de festa. Mas aquela garota, simplesmente afagava as orelhas do lobo gigante. Robb sorriu, talvez ele tivesse realmente feito a escolha certa.

Andou até ela, tentando fazer aquele chumbo nas pernas e o frio da barriga desaparecerem. Não era hora de ficar nervoso. Ele sabia o que tinha de fazer então que simplesmente o fizesse.

_Você é uma das poucas pessoas que não se assunta com Vento Cinzento Lady Karstark.

_Ele é lindo, lindo e perigoso. Se eu temesse pela minha nesse momento talvez tivesse medo dele.

_Não te assustei dessa vez.

_Não, ele te segue para todo lugar. Sabia que você chegaria logo atrás dele.

_Sim. – Robb corou, “estúpido, é claro que ele está sempre com você.”

_Fui uma garota esperta como meu raciocino? – Ela perguntou com um fascinante ar travesso.

_Sim, só estou me sentindo estúpido. È claro que ele sempre me denuncia e vice e versa.

E ela riu mais uma vez.

_Se você não se tornar uma Stark, o que o seu pai pretende fazer com você? - Robb perguntou antes que perdesse a coragem de matar aquela curiosidade que martelara em sua cabeça.

_Se eu não for a sua escolhida, ele provavelmente me arranjará outro casamento respeitável e com uma forte aliança. Os Hornwood parecem ter demonstrado algum interesse. Por quê?

_Curiosidade.

_É hoje o seu anuncio não é?

_Sim, é hoje. Diga-me, você está aqui porque o seu pai ordenou, ou porque você quer estar aqui?

Alys pensou por poucos segundos, antes de finalmente responder.

_Veja bem Robb Stark. Por mais destaque que uma mulher possa ter este ainda é um mundo masculino. Sou a caçula de quatro filhos e a única mulher. Meu pai tem mais três herdeiros, e se os deuses assim o permitirem ele continuará tendo. E se assim o for, eu devo me comportar de acordo com as minhas responsabilidades para com a minha Família. Mas não sou nenhum cordeiro a ser abatido, sou uma mulher do norte e sei enfrentar uma adversidade quando ela surge. Se algum dia, eu me visse em alguma situação complexa de vida ou morte, você certamente me veria lutando ou encontrando alianças que pudessem ao menos me ajudar por algo em troca no futuro. Não é porque não sou uma herdeira, que não possa ter um cérebro para pensar Stark. Apenas utilizo-o nas batalhas certas. Sei cozer e cozinhar como qualquer uma daquelas outras damas na sala de costura. Vim até aqui porque tinha de vir. Como quando vim quando ainda éramos crianças e meu pai desde aquela época cultivava alguma esperança de casamento, mas se eu não quisesserealmente estar aqui, eu não estaria Robb Stark.

Robb sentiu o coração acelerado martelando de ansiedade. Ele nunca teria adivinhado aquela resposta. E ele gostou daquelas palavras. Seus pais haviam aprendido a se amarem. Ele também aprenderia a amar com o tempo.

_Muito bem dito Lady Karstark. Palavras dignas de uma dama do norte e futura senhora de Winterfell.

Alys demonstrou espanto com a simples conclusão dele. ”Futura senhora de Winterfell” Estava paralisada, sem saber porque havia sido a escolhida do jovem lobo. Mas por fim, sorriu quase envergonhada, pensando que havia passado naquele teste como se ele só tivesse decidido que a queria naquele momento e não horas antes junto do pai.

Robb se aproximou, ajoelhou-se em frente a ela que ainda permanecia sentada naquele banco, e sob a Árvore Coração e seu murmurar de folhas vermelhas pediu, como uma mulher sempre deseja um pedido daquele modo.

_Se for do seu agrado senhora, pois o é do meu, de minha família e como sei que será da tua, tu Alys Karstark, deseja ser a futura senhora de Winterfell?
Surpresa e quase paralisada, Alys só pôde contemplar seu futuro esposo naquele mar de azul profundo que formava os olhos dele e assentir. Prendeu as mãos de Robb nas suas e levou-as até os lábios depositando nelas um cálido beijo.

_Fico honrada Robb Stark, em aceitar seu pedido e prometer que serei a melhor das esposas para ti.

Robb sorriu abertamente, o que o deixou com o semblante ainda mais fascinante e amável. Alys sentiu sorte por poder ter aquele homem como futuro esposo, pois sabia que ele seria um dos maiores Lords que Winterfell poderia ter.



FIM