We Are Young escrita por Mad


Capítulo 10
Digno de Confiança




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O copo café já havia tornado-se frio em minhas mãos. O assunto não morria, e por mais que eu me sentisse confortável com o olhar familiar da senhora Helena, o clima de tensão em meus ombros era quase insuportável. Eu não sabia o quanto ela sabia sobre o acontecido com seu filho em relação a mim, ou seja, ficava sempre gaguejando e pensando um milhão de vezes antes de pronunciar cada palavra que saia de minha boca.
E o pior de tudo não era a tensão, e sim a tortura; Helena havia aceitado tomar um café comigo, e já estávamos há uma hora sentados juntos conversando apenas sobre assuntos fúteis como o preço da gasolina e o clima. Eu sentia que ela estava se preparando para lançar uma bomba em minha estrutura mental, e eu realmente não fazia ideia de minhas bases aguentariam o tranco.
Ao final de mais um assunto incoerente, ouvi-a suspirar e soube que aquele era o momento.

– Irian fala muito de você. – Ela foi bastante sutil.

Tomei um gole do meu café amargo e gélido.

– Ele é um bom aluno.- Foi tudo o que me permiti responder.

Helena observou-me silenciosamente por eternos segundos antes de resolver ser sincera.

– Eu sei que você ofereceu abrigo a ele ao encontrá-lo e... Ele me contou sobre, e tenho certeza que você já possui consciência da situação que ele é obrigado a presenciar dentro de casa. – Ela engoliu em seco. Permiti-me concordar levemente com a cabeça. – Pois bem. Eu só queria... Agradecer. Agradecer por ter cuidado do meu filho. Eu... Tento, eu estou tentando e pretendo dar um fim a tudo isso, porém eu acho que quando eu conseguir... – Ela deu uma fraca risada amarga – Não vou aproveitar por muito tempo.

Demorei alguns minutos para anexar aquelas palavras em minha mente.

– Seu filho fala muito bem de você, ele entende a situação. – Me inclinei lentamente para frente, pousando meus cotovelos na mesa. – Ele é meu melhor aluno, e é muito bem vindo em minha casa sempre que quiser e precisar. Eu...

– Sim, era isso que eu gostaria de falar com você. – Ela me interrompeu - É completamente humilhante, mas eu já estou em um ponto beirado ao desespero. Meu filho ele é... – A mulher fez uma longa pausa – Tudo pra mim, tudo o que eu tenho de melhor no mundo. Se algo acontecesse com ele, eu não sei o que seria de mim. – Ela finalmente retirou seus olhos dos próprios dedos e fitou meu rosto – Eu estou doente e... Não tenho mais forças para relutar contra o meu marido. Irian não sabe disso, então continuo tentando. Mas, provavelmente vai acabar acontecendo novamente, e eu não quero que ele precise presenciar mais do que já presencia. Por isso, se eu pudesse contar com a sua ajuda, se eu pudesse confiar... – A mulher avançou em minha direção de forma rápida e inesperada, segurando minhas duas mãos gélidas em contato com as suas, que estavam agradavelmente quentes. – Eu seria intensamente grata... O resto de minha vida se eu pudesse contar com você para a proteção de Irian. Eu sei que é loucura, sei que é besteira, eu mal o conheço, porém, ele, Irian, admira você mais que tudo. Chega em casa contando as novidades do dia, fala de você toda a hora, então eu pensei que talvez... Eu poderia ficar um pouco mais aliviada se soubesse que você pode tomar conta dele por mim, quando eu não conseguir.

Senti espasmos espalharem-se por meu corpo. Minha expressão era em misto de pavor e surpresa. Eu jamais imaginei que ela me diria algo do tipo, jamais pensei que... Que ela fosse tão forte, meu Deus, ela estava quase trancando a circulação de sangue das minhas mãos.
Meus olhos percorreram o ambiente calmo da cafeteria ao meu redor, antes de finalmente pousarem nos de Helena, tão firmes e esperançosos.

– E então, Max? – Sua voz vacilou levemente – Eu... Posso contar com você?

Então.

Ela poderia contar comigo?
Eu seria... Responsável o suficiente, eu era digno de confiança? Será que eu conseguiria dar conta e... Me preocupar com Irian... Mas...
Espere. Eu já não fazia aquilo? Eu já não me preocupava com o garoto?

– Claro, Helena. – Minha voz saiu assustadoramente calma, até mesmo para mim.

A mulher soltou minhas mãos e jogou-se novamente sobre a própria cadeira, suspirando pesadamente em alívio. Eu sentia meu rosto quente, fiquei batucando as pontas de meus dedos sob a mesa, meus olhos brincavam com um cubo de açúcar.

O silêncio começou a me esmagar.
Pigarreei e levantei meu olhar para Helena.

– Você disse que... Está doente? Irian... Eu soube que ele está de licença médica e tal, então...

– Irian está com uma infecção alimentar, apenas. É algo passageiro, assim espero, prefiro que ele fique em casa a correr o risco de passar mal na rua. Logo ele voltará às aulas, até porque não aguento mais ele reclamando comigo sobre perder as suas. – Ela riu – E o que eu tenho... Sabe, eu prefiro não falar muito, entende? Quanto menos eu penso, melhor me faz. Apenas vou... Continuar levando até não conseguir mais. Não é como se eu precisasse de alguém se preocupando comigo. – Helena levantou-se da cadeira, passando a alça de sua bolsa ao redor de seu ombro. – Foi um prazer conhecê-lo, Max.

Seu sorriso era gentil e seus olhos calorosos como o pôr do Sol. Observei-a dar as costas para mim, sem conseguir fazer nada além de permanecer estático.
Helena trancou-se subitamente, virando-se para mim e dando mais um sorriso.

– Ah, e Irian, ele... Não precisa saber disso, ok? Odeia que se preocupem com ele, aquele garoto teimoso. Ele não entende que eu sou mãe, como vou poder evitar? – Seus olhos brilhavam sempre que o nome de Irian era citado. Era claro que tinha orgulho do garoto. - E obrigada. Desde agora, por tudo.

"A quem será que ele puxou?", pensei.

O lugar pareceu ficar mais bonito. O vestido laranja tremulava ao redor da pele morena de Helena, o frio pareceu cessar. Enquanto ela andava até a porta de saída do restaurante, consegui vê-la como ela verdadeiramente é, tão segura de si, tão amável, que era impossível pensar que alguém seria podre o suficiente para lhe fazer algum mal.
Radiante o suficiente para evitar notar-se que estava morrendo.


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