Passei horas em estado de transe tentando digerir o que acabou de acontecer. Tentando me guiar pelos dois quarteirões do prédio do menino que organizou a social party até o prédio do apartamento onde eu moro com meu pai, apenas deixando que as pernas me levem. Não falo nada, apenas abro o portão e subo no elevador antigo até chegar no meu andar e me arrastar até meu apartamento, abrindo a porta com a maior dificuldade do mundo. E aqui estou eu, sem camisa, sentado na mesa da sala com um suco de laranja na minha frente intocado. Não consigo ter nenhuma reação em meio a isso. Apenas tento pensar no meu pai e no nosso último contato, onde eu simplesmente mandei ele ir se foder antes de eu sumir para ir para a festa onde, posteriormente, perderia a virgindade. Isso me quebra, me faz desmoronar, me faz ficar sem chão. Não chego a chorar, pelo menos não por enquanto. Até a porta abrir, e ao levantar meus olhos rapidamente, ver minha tia que eu não vejo a meses. Minha tia que cortou o cabelo bem curtinho, deixando seus cabelos cor de mel na altura da sua boca. Vejo tia Mandy derrubar no chão sua bolsa, e olhar para mim com olhar choroso, deixando lágrimas escorrerem de seu rosto enquanto tira seu cachecol e seu casaco. Vejo ela se aproximando, e puxando uma cadeira para ficar ao meu lado, me dando um abraço. Neste momento sinto toda tristeza que atualmente reina meu ser ser convertida em uma enxurrada de lágrimas que descem pelo meu rosto e encharcam o suéter da minha tia.
– Pode chorar, Henry... - fala ela, enquanto sinto suas lágrimas também encharcarem meu ombro.
– Eu nem falei direito com ele... - estas são minhas primeiras palavras depois das imagens que vi na televisão de um desconhecido.
– Não se preocupe - fala tia Mandy, se soltando do abraço com seu rosto vermelho e molhado. - Você vai vir morar comigo.
– Mas...
– Não fale nada. - fala ela. - Você vai morar comigo.
Não tenho muita escolha a não ser a acompanhar até o térreo do meu prédio, onde, com o portão aberto, vamos direto ao seu carro.
– Mas e minhas coisas? - falo, a alguns passos do carro.
– Depois eu venho pegar. Eu tenho a chave.
Mas antes que eu entre no carro, consigo ter uma vista do outro lado da rua, onde consigo ver a menina que ficaria marcada para o resto da minha vida, mas ao mesmo tempo seria esquecida por mim: Diana. E eu nunca vi um ser humano desta forma. O dia está congelando neste outono, e ela está com roupas curtas, se tremendo enquanto chora rios de lágrimas andando pela calçada mal acabada.
– Diana! - falo alto, fazendo minha tia se virar antes de entrar no carro.
Diana vira o rosto, e ao me ver não fala nada, apenas chora e se ajoelha da calçada com os joelhos nus por conta de seu short curto.
– Tia, eu...
– Vá. - fala minha tia, enquanto chora mais.
Corro até o outro lado da rua, e me ajoelho em frente a Diana, apenas vendo seu rosto vermelho com lágrimas caindo a todo instante.
– Diana... - falo, levantando seu rosto.
Ela me olha com seus olhos azuis, e não fala nada. Apenas me abraça, me abraça como se eu fosse seu último contato antes de sua morte.