Alice olha para mim com olhos esquisitos, ela não esboça nenhuma reação imediata a minha revelação, para falar a verdade, ela ainda dá algumas garfadas em seu omelete antes de falar alguma coisa. A única coisa que eu consigo perceber nela é sua mão, que treme como nunca enquanto segura o garfo, deixando cair algumas pequenas porções de ovos de volta no prato. Passam-se minutos e ela não fala nada, por isso eu tenho que pressioná-la:
– Alice?
Ela responde na mesma hora, sem tirar os olhos do prato:
– Pare de falar. Eu ainda estou digerindo o que você falou, e se tem uma pessoa que tem direito a isso esta pessoa sou eu.
Prefiro ficar calado. Não dou nenhuma palavra até ela terminar de comer, e ela começa a falar.
– Adam, espero que você tenha noção da grande merda que você acabou de fazer. - neste momento vejo lágrimas escorrendo de seus olhos. Acho que ela as estava contendo. - Espero que você tenha noção que com esta sua revelação, você amassou meu coração, pisou, cuspiu e dançou em cima de suas cinzas. Você me fez acreditar que eu estava tendo o melhor relacionamento da minha vida, com uma pessoa que eu ame, que surgiu a partir de um desastre. Um romance lindo, digno de cinema. E ainda me fez transar com você. Isto é o que me deixa mais chateada. Você me fez fazer sexo oral em você por que você estava broxando. Eu fui uma burra, mas na hora eu estava cega de amor e não me toquei que você não gostava da fruta. Na hora eu pensei que você estivesse nervoso ainda por conta da situação atual. Você fez uma coisa da qual eu me lembrarei pro resto da minha vida, e ficarei com ódio eterno até meu último dia.
– Alice, entenda. - digo. - Eu não queria destruir seus sentimentos, por isso segurei isso tudo, por isso não falei do Logan. Eu sei como é isso, eu quando era mais jovem me apaixonei por um menino que era meu melhor amigo, e ele deixou claro com todas as letras que ele era hétero. Isso me destruiu, e eu não queria fazer o mesmo com você. Por experiência própria.
– Adam, seria muito mais fácil no momento em que você acordou daquele seu desmaio, você me contar que o Logan era seu namorado. Isso quebraria bem menos meu coração do que depois de nós transarmos você vir falar comigo isso.
– Mas entenda que eu não sabia como falar...
– Que falasse! - grita Alice, se levantando bruscamente da cadeira, deixando-a cair. - Que falasse qualquer merda para mim do tipo "olha, eu queimo uma rosca" ou um simples "eu não te amo". Mas não! Você falou "eu te amo" múltiplas vezes para mim, você me beijou múltiplas vezes nesta merda deste Condado fantasma! Você me fez acreditar que eu finalmente achei o homem da minha vida! E eu nunca lhe perdoarei por ter feito isso comigo!
– Alice, se senta, por favor. - falo, me levantando e empurrando seus ombros para baixo.
– Você não me diz nada aqui! - grita Alice, pegando a faca da mesa e apontando para mim.
– Alice, se acalma... Eu não vou te machucar...- falo, me afastando um pouco dela.
– Há! Você já me machucou, Adam! - grita ela, se aproximando de mim com a faca na mão.
Não consigo pensar em nada nesta hora.
– Alice, por favor. - estas são as únicas palavras que eu consigo pensar.
Alice para um pouco, e me olha nos olhos com seus olhos cheios de lágrimas, ainda com a faca apontada para mim, antes de derrubá-la no chão e falar:
– Você me fez me apaixonar por você, transar com você, e achar que eu havia encontrado o amor depois de todos estes anos trabalhando numa merda de um Pentágono! E agora, me joga fora como sendo um lixo. Acho que seria muita honra para você me deixar lembrar disso pelo resto da minha vida. Não. Eu não vou deixar que você me faça lembrar disso pelo resto da minha vida.
Alice se afasta de mim, e vai em direção a janela da sala.
– Alice, o que você está fazendo? - pergunto, dando alguns passos na direção dela, que se senta na sacada da janela.
– Não vai ser eu que vou me lembrar disso, Adam. - fala ela. - Eu vou fazer algo para ser lembrado, algo que você vai chorar toda vez que olhar para esta janela.
– Alice, calma... Não precisa ser assim. - falo, me aproximando lentamente dela.
– Precisa, Adam! - grita ela, e seu grito ecoa por provavelmente meu condomínio todo. - Eu vou fazer algo que você... Que você...
Alice para, coloca as pernas para o lado de fora da janela, e tento andar mais rápido em sua direção. Mas é tarde demais. As últimas coisas que consigo ouvi-la falar é:
– Nunca se esqueça.