Era uma cachopa loira, muito loira.

Seus olhos quase totalmente brancos me fitavam ao longe.

Aquilo era um sonho, um sonho muito lindo.

Um campo de margaridas brancas afofavam o terreno.

Meu vestido azul balançada diante do vento de uma tarde fresca de primavera.

Só havia uma única árvore, com a maior sombra que eu já vira, e nela tinha um balanço de cordas pendurado.

Eu apenas seguia seu corpo esguio por entre as flores.

Nós corríamos e ríamos, e sorríamos juntos, como se nada tivesse acontecido na noite anterior, como se eu não tivesse passado maus bocados no passado, e como se nós nunca tivéssemos brigado.

Então eu caía em seus braços, por entre as folhas, e por entre esses teus cabelos que eram o dobro de minha cabeça, alemão aguado, ingrato.

Embora eu me lembrasse de tudo, naquele momento, não era um sonho lúcido, porque eu não estava chorando. Eu assistia tudo por trás de um vidro imaginário, me vendo de longe girando agarrada à sua cintura.

E então, sem o menor sinal, eu acordo.

Minha cama era o campo de margaridas, cheio de lenços de papel que eram brancos, antes de eu limpar meus olhos tantas vezes com eles.

Meu vestido era uma camisa velha masculina.

O vento frio de primavera, era minha janela aberta numa madrugada de quarta-feira, em alto inverno.

Aquele sorriso? As boas lembranças?

Elas eram nossas fotos espalhadas pelos tapetes de um quarto desarrumado e amargurado por tantos gritos e lágrimas.

Onde estava você quando eu precisava, quando meu corpo chamava, quando meu coração apertava e batia muito mais rápido?

Onde você estava quando eu ligava depois das jantas, quando eu mandava mensagens de texto preocupada com um músico após seus shows?

Eu queria muito ter um campo de margaridas, não um campo de batalhas.

Talvez, eu não precisasse do campo de margaridas, eu precisasse de você, e de seus cachos dourados encostados no meu travesseiro, enquanto eu estaria encostada em você, fazendo nada, olhando o teto branco sem graça, e cantando mentalmente com seu coração se fazendo de metrônomo.

O cheiro das flores seriam seu hálito, muito próximo de mim.

Sabe aquele balanço? Era meu mundo depois da primeira vez que você cruzou meu caminho.

Mas toda a paisagem sumiu. Todos os sentimentos foram tracados à sete chaves por você. Todos os sorrisos foram apagados com o lado azul da borracha, por mim, porque eles não se desenhavam mais sozinhos.

Tudo porque você foi embora, meus olhos verdes!