O livro da morte

Ryuuzaki e Raito se secavam sentados na escadaria do prédio. Ambos estavam no telhado e tinham se molhado por causa da forte chuva que caía. A conversa tinha sido tensa, um clima de tristeza estava no ar. Ryuuzaki sabia que logo não mais veria o amigo Raito e, então, num tom de melancolia se despediu. O seu celular toca e ambos se encaminham rapidamente para a sala de reuniões.

L recebia de Watari as últimas informações sobre o caso Kira. L então decide usar o caderno uma vez para verificar a autenticidade de uma regra. A regra onde a pessoa que escreve no caderno deve fazer isso a cada 13 dias ou morre. Nesse momento a shinigami desaparece da sala...

O alarme dispara! L olhava para o monitor esperando uma resposta de Watari, mas a única coisa que aconteceu foi o sumiço de todos os dados coletados até aquele momento. O pânico e o espanto estavam estampados no rosto de todos. O

único que sabia o que aquilo representava era o próprio L.

- Instrui Watari a deletar todos os dados caso algo inesperado acontecesse a ele...

- Algo inesperado? – disse um dos investigadores antes de entrar em choque com o verdadeiro significado daquelas palavras.

- Onde está a shinigami? – L perguntou em vão, não haveria resposta para aquela pergunta.

No instante em que perceberam a situação, todos ficaram petrificados esperando pelo pior. Apenas uma batida de relógio havia tocado. Um instante interminável que fez todos na sala sentirem o verdadeiro medo da morte.

Apenas um par de olhos vermelhos escondia o sabor da vitória iminente. Olhos que estavam vidrados em Ryuuzaki. O novo mundo começaria naquele instante, nada mais estaria no caminho de Kira. Seu maior inimigo, L, estaria morto em instantes. Instantes que pareciam uma eternidade. Só mais um pouco e a farsa poderá ser desfeita. Pelo menos para aquele que se mostrou ser o maior desafio de sua vida. Sim, ele merecia saber a verdade antes de morrer. Seria sua última homenagem.

Uma segunda batida de relógio e os gritos começaram. Todo o medo e desespero foram expressos através de grunhidos e palavras sem muito sentido. A morte era certa. Mas quem seria o primeiro? Quem a shinigami mataria primeiro? Sim. Somente ela teria esse poder.

Uma terceira batida. Mas não era o relógio que tocava agora... Uma colher quicava no chão fazendo um barulho que chamou a atenção de todos, mesmo com o barulho da gritaria.

A mão que antes segurava a colher ainda pairava no ar. Uma última batida de coração não pode ser ouvida por ninguém, mas a dor foi aguda. A queda era inevitável. Lenta demais para os olhos de Kira, mas rápida demais para os outros.

Vitória! Finalmente a vitória! Antes que o corpo caísse no chão um último movimento para ludibriar aqueles que tão facilmente foram enganados e manipulados até aquele momento. Uma demonstração de amizade e carinho. Segurar o corpo de seu maior rival enquanto via a luz da vida se apagar de seus olhos seria gratificante. Além de poder revelar a verdade. Ele, Raito, era Kira!

Mas algo inesperado aconteceu. Seus pés não foram mais rápidos que o de Matsuda, que conseguiu pegar no ar o corpo de Ryuuzaki. Estranhou a demora do movimento de seus pés, mas o que mais lhe assustou foi o que havia em suas mãos.

Não sabia dizer como aquilo havia acontecido. Por que? Seus olhos não conseguiam desviar da cena a sua frente, mas sua mente estava presa no objeto que podia sentir em suas mãos. Ninguém além dele mesmo havia percebido que carregava isso. Tudo fora lento demais na percepção de todos, mas muito rápido ao tempo do relógio.

Olhou para as mãos e viu ali o caderno aberto. Escrito de forma rápida e desleixada estava o nome de Ryuuzaki. O verdadeiro nome. Não se lembrava de quando tinha ouvido aquele nome... Então se lembrou de uma conversa com Misa. Ela havia dito o nome para ele, mas ele mesmo tinha decidido adiar aquela morte. Em seu plano se livraria da shinigami juntamente com seu arqui-rival. Agora ele mesmo havia escrito o nome de Ryuuzaki. Ele mesmo havia matado L!

Não soube dizer por que, mas sentiu um peso enorme na consciência, uma dor forte no peito. Remorso. Culpa. Talvez ele realmente se importasse com aquela criatura estranha que era Ryuuzaki. Talvez ele o amasse como um irmão.

Matsuda chorava com o corpo de Ryuuzaki nos braços. Os outros estavam ao redor sem saber exatamente o que fazer. Mais uma vez tentou mover os pés, mas desta vez obteve êxito. Poucos passos até o último obstáculo de seu novo mundo.

Antes que os outros pudessem ver, Raito guardou o caderno novamente e se aproximou.

- Deixem-me a sós com ele. – sua voz era um murmúrio.

Todos concordaram e saíram à procura da shinigami e deixaram Raito e Ryuuzaki sozinhos. O assassino aproximou-se de sua vítima e deixou uma lágrima cair. Tanto tempo sonhou com aquele momento, mas agora que ele chegara, simplesmente estava arrependido. Não havia outra palavra para aquele sentimento. Era uma dor muito profunda vê-lo morto.

Seus olhos se fecharam momentaneamente e quando abriram encontraram dois olhos castanhos o fitando. Aquilo não podia estar acontecendo! Devia ser algum tipo de delírio! Chacoalhou a cabeça tentando colocar os pensamentos em ordem, mas o toque em seu braço o fez acreditar no que via. Depois ouviu as palavras que saíram fracas da boca de sua suposta vítima.

- Raito... Meu coração... O que aconteceu?

A resposta veio com um movimento de mão e a revelação do caderno que carregava. Na página que se abriu pôde se ler o nome de Ryuuzaki.

- Você escreveu meu nome no caderno?! – mesmo fraca podia-se perceber o espanto em sua voz - Como? Como ainda estou vivo?

Raito não sabia dizer como aquilo era possível. Teria ele escrito o nome errado? Então por que L teria sentido o coração parar? Seria uma farsa para pegá-lo? Não... Com certeza havia outra explicação... Foi então que se lembrou de algo. De uma regra que até então não pareceu relevante. Claro, afinal somente ele possuía um death note, além de seu shinigami, mas ele sabia que ele nunca usaria. Mas agora havia outra shinigami disposta a usar o caderno, mesmo que custasse sua vida... Agora tudo fazia sentido.

- Claro. Se um nome for escrito em dois cadernos ao mesmo tempo, um anulará o efeito do outro. – Raito não falava com L, ele apenas pensava alto. Tinha percebido o que realmente tinha feito: não tinha tirado a vida de Ryuuzaki e sim salvado.

- Do que está falando Raito? Eu não entendo... – Ryuuzaki parou de falar quando ele mesmo se lembrou da regra.

Mas como Raito saberia o momento certo de escrever o seu nome? Como saberia que ele era o primeiro alvo? E como ele sabia seu verdadeiro nome? Um quebra cabeça começou a se encaixar na cabeça do detetive. As peças que faltavam finalmente tinham sido encontradas. Mas o detetive tinha que perguntar de qualquer maneira.

– Raito! Você é Kira? – ele já sabia antes mesmo de obter a resposta de Raito.

A resposta não veio em palavras, elas não precisavam ser ditas. O abraço inesperado e forte foi a confirmação das suspeitas do detetive.

- Me desculpe Ryuuzaki... Eu sou um monstro! Não mereço compaixão. Agora percebo que tudo o que fiz foi egoista e monstruoso. - uma lágrima se soltou de seus olhos - Eu vou me revelar e ser punido...

- Não! Você me salvou Raito. Acredito que mereça uma segunda chance. Claro que ficarei com o caderno...

- Hã? Mas... – Raito olhava incrédulo para o detetive. Não entendia sua reação.

- Não! – mais uma vez enfatizou o detetive – É minha última palavra! Acabou agora!

Aquelas foram as palavras finais de Ryuuzaki. Não haveria punição para Kira. A amizade prevaleceu perante a justiça. Talvez o mundo nunca mais ouvisse o nome Kira... Ou talvez algumas vezes mais...

__________________________________________________________________ FIM