Reféns de um segredo escrita por magalud


Capítulo 18
Com você ali para me ajudar




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Por mais que Mia tentasse não se preocupar, ela sabia que Severus seria transferido, e isso a matava por dentro. Heitor teve que voltar a Londres, para acertar os detalhes de sua mudança para Yorkshire, e aí então é que ela se sentiu ainda mais sozinha.

Passou, então, a auxiliar ainda mais a enfermeira, ajudando, inclusive, no banho de esponja do paciente. Mia tentou ser o mais profissional possível, mas a enfermeira Luscínia manifestou-se favorável a modernas técnicas hospitalares segundo as quais a família e os entes queridos podiam ajudar nos cuidados ao paciente. Mia até enrubesceu ao ser considerada ente querido.

Depois de dar banho em Severus e deixá-lo confortável, ela se sentou ao lado da cama, como fazia sempre, dizendo:

– Agora sim, você está limpinho e cheirosinho. Ah, Severus, eu só espero que eles cuidem de você tão bem em St. Mungo’s, quando você for transferido. Sim, Minerva está pensando em permitir sua transferência para lá. Eu fui contra, tentei argumentar, mas o fato é que você está entrando num estado vegetativo, e a enfermaria da escola não é o melhor lugar para tratar disso. Quem sabe assim você volta logo para nós?

A figura na cama permaneceu imóvel. Mas Mia não esperava nenhum movimento mesmo, então ela pegou uma revista já separada e suspirou:

– Acho que você vai gostar de ver a última revista de Poções, então. Fala de propriedades mágicas da plantas Foeniculum. – Mia estava com a cara enfiada na revista. – Sabe, os Muggles também conhecem algumas de suas propriedades, mas dão nomes diferentes às plantas: funcho, erva-doce, anis, maratro e até finóquio. Em geral mencionam Foeniculum vulgare, mas usam também até na cozinha! O anis é altamente digestivo.

– Mas o anis não pertence ao Foeniculum. Ele é Pimpinella anisum. Ao contrário da erva doce, que é Foeniculum dulce.

– Hum, isso mesmo – concordou Mia, ainda olhando a revista. – Sabe, é uma diferença tão sutil que nem todos conseguem perc...

Então ela se deteve. A figura na cama permanecia imóvel. Mas um dos cantos da boca estava levantado.

– Severus?

– Pois não?

– SEVERUS!!

– Shhh. – Ele abriu os olhos. – Quer acordar a escola toda?

– Você acordou! – Mia mal podia se conter. – Espere! Calma, vou chamar...

– Nem pense nisso!

Ela obedeceu, surpresa.

– Eu não agüentarei o escândalo. Já posso ver os presentes, as flores, os olhares de compaixão. Poupe-me.

– Todos estão torcendo por você. – Ela sorria de orelha a orelha. – Como se sente? Quer um pouco de água?

– Francamente, prefiro um filé à Chateaubriand com um Merlot profundo. Essas poções nutrientes podem dar conta do recado, mas são intragáveis.

– Espere aí. Há quanto tempo está acordado?

– Oh... uns cinco dias, eu acho.

Cinco dias?

– Mais ou menos. Quer abaixar sua voz?

– Por que não disse nada antes?

– Tinha que tomar uma decisão séria. Isso demorou algum tempo. Além do mais, achei que merecia umas férias depois de tudo. Só que eu não gostaria de ficar em St. Mungo's. Então achei melhor falar com você.

Mia se armou de um sorrisinho maroto e resolveu jogar o jogo dele:

– Bom, você merecia férias, sim. Então chegou a alguma conclusão? Sabe, sobre a tal séria decisão.

– Oh, sim.

Pausa. Uma pausa longa. Finalmente, Mia indagou:

– Há alguma coisa que gostaria de me falar sobre essa decisão?

– Então está curiosa?

– Considerando que presumivelmente eu sou parte interessada nessa sua séria decisão, sim, admito que estou curiosa.

– Não acha que é muita pretensão presumir-se parte interessada na minha séria decisão?

– Então estou errada em minha presunção?

– Não foi o que eu disse.

– Você pretende me comunicar sua decisão ou não?

– Claro que sim. Mas antes pretendo fazer você sofrer um pouco.

– Não tinha conhecimento desse seu lado sádico. E também estou achando você terrivelmente bem-humorado.

– Oh, bem, é um efeito colateral de se dormir durante algumas semanas a fio.

– Hum, preciso experimentar um dia. Mas eu gostaria que alguém tivesse pensado nisso na sua adolescência.

– Não vejo por que você está reclamando tanto. Você espera essa decisão há mais de 20 anos. Custa esperar mais alguns minutos?

– Bem, se esta é sua atitude, não me resta alternativa. Com licença.

Mia pegou sua varinha e usou-a para alargar a cama, cobrindo com lençóis fofos e um macio edredon de penas. Depois, prontamente subiu na cama, ordenando:

– Chega para lá.

– O que está fazendo?

Mia se enfiou debaixo dos lençóis, ao lado de Severus, respondendo:

– Se você vai me deixar esperando muito tempo, eu prefiro ficar confortável.

– Tem consciência de que essa atitude pode influenciar minha decisão, possivelmente revertendo-a?

– Duvido muito. Obviamente sua decisão já está tomada.

– Como pode ter tanta certeza?

– Eu ainda estou aqui, não estou? Se você não quisesse nada comigo, eu já estaria estatelada no chão, com um azaração daquelas horríveis na pele ou coisa semelhante.

– Hum. Então agora somos... namorados?

– Chame como quiser. De qualquer forma, somos um casal. Ao menos, é o que eu espero.

– Talvez seja bom lembrá-la de que não deve esperar muito de mim no momento. Como bem sabe, eu estou em recuperação. Portanto, se espera proezas sexuais de natureza atlética ou energética para selar nosso novo status, serei obrigado a desapontá-la.

– Em outras palavras, eu posso tirar o hipogrifo da chuva, porque você está com... dor de cabeça, é isso?

– Uma afirmação pouco refinada, mas, em essência, correta.

– Eu não estou esperando nada agora. Prestou atenção quando eu usei o advérbio agora? Indica que eu espero algo mais tarde.

– Sim, sim, sua sutileza foi bastante requintada. Bravo.

– Não podemos nos dar ao luxo de sermos sutis. Temos 25 anos de atraso para tirar.

– Ai, meu pai. Isso pode ser o bastante para intimidar um pretendente, sabia? Eu não tenho mais 17 anos.

– Você fala como se fosse um velho decrépito. Você nem chegou à meia-idade bruxa! Temos muito tempo para tirar esse atraso.

– Temos mesmo?

– Sim. Mas não devemos procrastinar isso indefinidamente.

– Você sempre fala tanto assim?

– Sabe, tem um jeito certo de me calar.

Severus virou-se de lado e efetivamente calou-a, cobrindo-lhe os lábios com os seus. Foi um beijo casto, roubado. Severus não podia fazer nada além disso, de qualquer forma.

– Hum.

– Posso fazer isso durante 25 anos sem me cansar.

– Eu posso me acostumar a isso.

Pausa.

– Não devíamos chamar alguém?

– Mia, eu mal dou conta só de você, que dirá de mais gente. Deixe que de manhã eles possam se surpreender. Não vale a pena acordá-los no meio da noite.

– Você está impossível.

– Impossível é você. Se está assim com essa idade, imagina quando envelhecermos juntos.

– Vamos envelhecer juntos?

– É o que pretendo. Se não for presunção minha, claro.

– Não. – Ela sorriu com os olhos, mais do que com os lábios. – Não é.

– Ótimo. Ia ser muito tedioso envelhecer sem você.

– Agora que você mencionou, concordo. Também ia ser chato sem você. – Ela sorriu para ele. – Bem-vindo de volta, Severus.

– Obrigado. Eu não teria conseguido sem você ali para me ajudar. Posso lhe retribuir o favor?

– De ajudar a salvar sua vida? Oh, claro.

– O que posso fazer por você?

– Hum, isso é difícil. Posso ter um tempo para pensar?

– Claro. Quanto tempo?

– Uns 50 ou 60 anos?

Severus sorriu.

– Parece razoável para mim.

– Ótimo. Está combinado. Agora cala a boca e me beija.

Severus ficou mais do que feliz em obedecer.

De manhã, o alvoroço seria grande. Mas dali para frente, eles só teriam que se preocupar em fazer os próximos 50 ou 60 anos apagarem todo o sofrimento dos últimos 25. Isso levava tempo.

Mas quem tinha pressa?

The End


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