Reféns de um segredo escrita por magalud


Capítulo 16
Promessa de bruxa




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À noite, durante o jantar no Grande Salão, Minerva fez o anúncio oficial aos alunos de que haveria várias mudanças acadêmicas a partir do dia seguinte, ainda que de caráter temporário. Alguns alunos reagiram com pânico ao comunicado de que o professor de Poções estava em coma mágico devido a uma antiga maldição. Pensaram que Voldemort estava de volta. Mia observou que Minerva rapidamente reassegurou que não era nenhum ataque de Comensais, nem resquícios de algum feitiço de Você-Sabe-Quem.

No dia seguinte, Mia mal tomou café, de tão nervosa. Recolheu seus papéis e foi direto para a sala de aula. Achou melhor passar primeiro no escritório de Severus, para ver se havia planos de aula ou outros documentos úteis. Sentiu um choque logo ao entrar. A presença de Severus estava entranhada no local. Ela quase podia esperar vê-lo ali, as vestes espiralando à medida que ele se virava.

Foi um dia difícil. Mia não podia negar que, para quem nunca tinha feito isso antes, dar aulas não era tão simples quanto parecia. Os alunos, porém, pareciam satisfeitos que seu Mestre de Poções estivesse sendo substituído. A única coisa que a tranqüilizava era que a enfermeira Luscínia garantira que a condição de Severus, embora ainda de sofrimento, continuava estabilizada.

Ao final do dia, Mia estava exausta, tanto fisicamente quanto emocionalmente. E sozinha. Heitor estava na biblioteca pesquisando os novos aspectos da maldição, e Bill tinha ido com Remus e Tonks à antiga casa de Sirius com o mesmo objetivo. Todos os envolvidos tinham a expectativa de varar a noite com suas pesquisas.

Também para Mia foi difícil conciliar o sono. Com a manhã, porém, veio a boa notícia: Bill, Remus e Tonks tinham encontrado um ritual que podia ser realizado dali a três dias. Ou melhor, três noites. Era a primeira Lua Minguante, perfeita para o feitiço.

Então, na data prevista, depois da meia noite, o círculo cerimonial se formou, voltado para o leste, em plena Lua Minguante, como requeria o feitiço. O feitiço também requeria incenso de benjoim, queima de angélica e velas ungidas com óleo de alecrim, de preferência brancas.

O ritual foi presidido por Minerva, auxiliada por Bill. Em vestes cerimoniais, ela se posicionou em frente à pequena fogueira que queimava a angélica e ergueu um saquinho preto feito de seda previamente preparado. Em seguida, proferiu o encantamento ritualístico:

– Um feitiço foi lançado pedindo o afastamento dessas duas pessoas. Eu agora peço o favor de remover esse feitiço. Entendendo que remover o feitiço significa desistir de algo dentro do meu próprio espírito e que minhas intenções são boas, eu ofereço este anel que eu possuo. Transfiro o feitiço para esse recipiente contendo cabelos das duas pessoas. Assim, o feitiço vai se transmutar e essas pessoas poderão se unir, como estão no recipiente. Nenhum mal deverá vir do cancelamento deste feitiço. Nenhum poder mais ele deve ter. Este é meu desejo, então que seja assim.

Minerva, então, jogou o saquinho com os cabelos no fogo, provocando chamas altas por alguns segundos. O saquinho virou cinzas, e o ar encheu-se de cheiro de cabelo queimado. Teria sido imaginação ou Mia sentiu um arrepio em seu corpo?

O grupo foi direto para a ala hospitalar, onde tanto a enfermeira Luscínia quanto o Curador Spencer estavam acompanhando as reações de Severus.

– Deu certo! – foi o grito animado do curador Spencer assim que o grupo entrou. – Ele não sente mais dor.

Finalmente, depois de todos aqueles dias, Mia pôde chegar perto de Severus. Ele estava deitado numa maca, mortalmente pálido, os cabelos cuidadosamente arrumados. Ela o encarou, vendo com atenção e com detalhes, pela primeira vez, o rosto do homem que amava há tanto tempo.

Distraída, ela não notou a aproximação de Minerva, que comentou com a enfermeira:

– Ele parece bem mais calmo.

– A dor cessou há alguns minutos – informou Luscínia, animada. – Confirmamos com o diagnóstico teúrgico de varinha. Agora cabe a ele sair do coma induzido.

Mia indagou:

– E os outros indicadores, como estão?

– Temperatura normal, oxigenação vem aumentando desde o fim da dor. Estado geral é satisfatório para um quadro comatoso.

O curador Spencer adiantou:

– Vamos continuar monitorando o paciente até que ele recobre a consciência. Devido ao quadro de hiperalgesia e sofrimento, calculo que deva demorar mais umas 10 ou 12 horas para o despertar espontâneo.

– Tudo isso? – Minerva parecia preocupada.

– É um cálculo estimado. Preferimos não induzi-lo à consciência para evitar qualquer choque transicional.

Vendo que a diretora ainda não parecia tranqüila, Mia garantiu:

– Este é o procedimento padrão para coma induzido, Minerva. Severus vai acordar naturalmente, e, nesse tempo, seu corpo vai se recuperar sozinho desses dias de inatividade e dor. Assim, quando ele acordar, estará a meio caminho da recuperação.

– Por isso é que estaremos aqui – reforçou o curador Spencer. – Depois, Madame Byington poderá supervisionar a recuperação do paciente, e pode nos chamar se precisar de ajuda.

– Então, ele só acordará amanhã à tarde? – quis confirmar Minerva.

– Precisamente.

Para quem garantiu tanta precisão, o curador Spencer podia estar bem errado. E estava.

Severus não acordou na tarde seguinte. Nem na noite seguinte. Nem em dois dias.

Mia tentava garantir aos outros (e a si mesma) que o Curador Spencer estava correto, e que ele tinha razão ao achar que esse sono prolongado era bom: assim o corpo de Severus estaria ainda mais recuperado para a consciência.

No terceiro dia, porém, o otimismo evaporou-se completamente.

– Ele ainda está em coma – anunciou Spencer, pesadamente. – E nós não sabemos por quê.

– Como assim, não sabem por quê? – perguntou Minerva, alterada. – Vocês o induziram ao coma, não foi? Pois que o tirem!

– Na verdade, fizemos isso ontem. Ele não reagiu. Checamos por resíduos mágicos, por isso chamamos o Sr. Weasley e o Sr. Stoklos. Eles não acharam nada; ele não está sob efeito de qualquer magia ou azaração.

– Bom, por quanto tempo ele vai ficar assim? – exigiu a diretora de Hogwarts. – Vocês têm uma estimativa?

– Lamento, diretora. No momento, só o que sabemos é que o Prof. Snape decidiu fechar-se dentro do seu corpo. Havia uma chance de ele acordar com uma ligeira amnésia, mas agora todos os prognósticos precisam ser revistos.

Mia estava revendo furiosamente, em sua mente, toda a sua literatura médica.

– Curador Spencer, é possível que o Prof. Snape não queira acordar desse coma?

O loiro olhou para ela e assentiu:

– Não me resta mais nenhuma explicação.

Heitor tentou dizer:

– Mãe, você não está... "psicologizando" demais a situação? Digo, não é aquela piada dos psicólogos que só trocam a lâmpada que *quer* ser trocada?

Mia olhou para o filho com aquela cara de "você-não-é-velho-demais-para-levar-uma-surra-de-sua-mãe, menino", mas o curador Spencer interveio:

– Na verdade, há um componente psicológico neste caso que eu, medicamente, não posso ignorar. Emoções alimentaram a maldição que o atormentou, então emoções podem influenciar seu estado clínico. – Ele se virou para Mia. – Madame, a senhora é a especialista em abrir mentes. Alguma idéia?

– Não conheço Severus o suficiente para tentar saber que conflitos ele pode estar passando. Mesmo sem conhecer o caso, posso sugerir que ele esteja com medo de acordar e enfrentar o que o espera.

Minerva quase riu:

– Severus, com medo? Ele enfrentou Voldemort frente a frente!

– Madame Byington pode ter razão. Ele pode estar com medo de enfrentar suas próprias emoções. Coma é um estado muito similar a alguns distúrbios psiquiátricos, como certos tipos de depressão, esquizofrenia, catatonia e síndrome de emparedamento conhecida como LIS.

– E o que se pode fazer?

– Basicamente, esperar que ele decida acordar – confessou o curador. – Um coma só dura alguns dias, no máximo duas semanas. Mas se ele reverter para um estado vegetativo...

Mia instintivamente lembrou-se do caso de uma menina Muggle que se internou para retirar um apêndice aos seis anos. Morreu com 43 anos, sem jamais ter acordado de seu coma. Mia se arrepiou e tentou tirar isso da cabeça.

– Algum estímulo ajuda – sugeriu o curador. – Sabe, conversar com o paciente, música, luz, cheiros.

A conversa então girou em torno de horários, revezamento de voluntários ao lado da cama, opções de tratamento. Apesar do estado de Severus ter evoluído, a força-tarefa (como Mia tinha apelidado a equipe que tratava dele) estava 100% de prontidão.

O primeiro turno de vigília foi cumprido por Mia, apesar de sua exaustão. Ela tinha recebido nas masmorras a Revista Técnica de Poções e leu o artigo de capa para ele, deitado sem resposta e sem movimento na cama da ala hospitalar. Mia sentia-se bem só de estar com ele.

Foi rendida por Remus, que lhe sorriu e sentou-se ao lado de Severus. Ela deixou a ala hospitalar e voltou para as masmorras.

Heitor a esperava.

– Deixou sua porta aberta. Não é perigoso?

– Sim, sempre tem alunos dispostos a pregar peças em professores de Poções. Quer um chá? Estou morrendo de vontade de tomar um.

– Tem alguma mistura grega?

– Para ser sincera, tenho, sim. Deixe-me preparar.

Heitor se sentou na salinha de estar e logo Mia apareceu com uma bandeja e um bule.

– Você o viu, mãe? Como ele está?

Mia o serviu, respondendo:

– Na mesma. Remus está com ele agora.

– E como você está?

– Ansiosa para que ele acorde.

– E o que vai acontecer quando ele acordar?

– Quem sabe? Eu sei que terei meus aposentos de volta. Sabe, não é aqui que eu fico. Meu cantinho é pertinho da ala hospitalar, mas o curador Spencer e a enfermeira estão ocupando ali.

– E você? Como está?

– Oh, esse lugar até que é bom, e surpreendentemente quentinho, considerando a proximidade com o lago e ...

– Mãe – interrompeu Heitor suavemente. – Não estou falando dos aposentos, e você sabe disso.

– Hum – Ela tomou um gole de chá, irônica. – Então agora você está pronto para a conversa "psicologizante"?

– Mãe. Está mudando de assunto.

– Tá bom. Quer saber como me sinto? Estou ansiosa. Não sei o que vai acontecer se Severus sair daquele coma. Mas tenho medo do que posso sentir se ele não sair.

– Ora, vocês se amam, não? Não acha que deveriam ficar juntos?

– Não é tão simples assim, filho. Tenho que considerar, por exemplo, seus sentimentos. Ainda acha que traí você e seu pai?

– Argh, desculpe por aquilo. – O jovem enrubesceu. – Eu... fiquei em choque, como você disse. Fui um tolo, me desculpe. Papai significou tanto para mim.

– Eu sei. Para mim também. Seu pai era único.

– Você realmente o amou, não?

Mia sorriu e chegou perto de seu filho, explicando:

– Sua avó teve uma séria conversa comigo. Ela era uma bruxa muito, muito sensível. E era, acima de tudo, uma mulher grega. Ela me explicou que dentro de todo homem grego jaz um herói clássico. Todo homem grego quer ser um Ulisses, um Aquiles, um Teseu. E todo herói precisa de uma heroína: uma Penélope, uma Helena, Ariadne, Andrômeda. No meu caso, seu pai queria me salvar. Você também carrega isso, filho. Como seu pai, você também está tentando me salvar.

– Você não precisa ser salva?

– Eu não disse isso. – Ela sorriu. – Talvez eu precise apenas de um outro Aquiles. Lembre-se: Aquiles era o herói, mas Helena escolheu Páris.

– Páris era um rapaz bonito. Já o Snape...

– Eu falei herói. Não falei um Adônis.

– É, mas não precisava exagerar, né?

Mia riu-se ainda mais com as observações do filho. Se Heitor brincava, é porque ele tinha feito as pazes com a situação. Mas ainda assim, ela tinha que perguntar:

– E você? Recuperou-se do choque?

Ele brincou:

– Eu não vou ter que chamar ele de papai, vou?

– Heitor! – Ela ralhou, mas viu que era somente brincadeira. – Já disse: nem sei se alguma coisa vai acontecer entre nós.

– Eu conheço você. E eu ouvi algumas coisas dele. Então posso fazer alguns palpites educados. – Ele deu de ombros. – Só estou dando uma de psicólogo. Pimenta no olho dos outros é colírio, né?

Sim, pensou Mia, Heitor definitivamente tinha feito as pazes com a situação.


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