Reféns de um segredo escrita por magalud


Capítulo 11
Para chorar-lhe uma música




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Demorou algum tempo para Mia se acalmar, e até lá Minerva e Remus conseguiram dar os primeiros socorros a Severus. Mas ele estava muito mal. E ficou pior ainda quando Mia entrou na ala hospitalar. O sangramento no peito voltou no momento em que ela pusera o pé na enfermaria.

Remus teve que levá-la para fora. Ela resistiu.

– Mas eu sou a enfermeira! Preciso ir para meu posto!

– No momento, você é a causa disso tudo. Venha, vamos à cozinha.

– Mas eu não fiz nada! – Mia se desesperou de novo. – Eu tentei salvá-lo!

Remus a arrastou para as escadas e começou a descer com ela:

– Eu vi tudo, Mia. Vi que você só queria salvá-lo.

– Viu?

– Vamos até a cozinha. Precisamos conversar longamente.

– Mas eu quero ficar com Severus!

– Mia, acredite: isso é justamente o que você não pode fazer.

o0o o0o o0o

Com uma xícara de chá nas mãos trêmulas, Mia lembrou-se de como os gregos gostavam de usar comida e bebida na hora que a emoção parecia descontrolada. Um dos pratos preferidos no momento de tensão era a *baklava*, um doce com limão, mel e o tradicional *filo*.

Mia morreria por uma *baklava* naquele momento.

– Em primeiro lugar, Mia, tente se acalmar. Nada disso é culpa sua.

– Como não? Severus pode morrer, Remus! – Ela recomeçou a chorar. – Ele está praticamente em coma.

– Minerva o estabilizou e chamou um curador de St. Mungo’s. Ele estava para chegar quando você entrou.

Ela não respondeu, mas sentiu um arrepio a percorrer sua espinha, fazendo a xícara de chá emborcar perigosamente. Ele podia morrer! Se ele morresse... Oh, Deus, Mia não conseguia encarar essa possibilidade.

Mas se isso acontecesse, ela teria que encarar o fato de que provavelmente ela é que o matara.

O homem que amava.

Lágrimas grossas, quentes e marcantes, desceram por suas faces diante da injustiça de tudo.

Remus tinha a voz engraçada ao quebrar o silêncio, conjurando um lenço de pano para ela, mas incapaz de encará-la:

– Eu lhe devo mil desculpas, Mia. Aliás, eu preciso lhe pedir perdão, mas não sei se vou obter. Se você não quiser me perdoar, eu vou entender. Pior de tudo é que eu vou até achar que você tem razão. – Ele desviou o olhar. – Não sei se eu conseguiria perdoar a mim, se estivesse no seu lugar.

Finalmente Mia lembrou-se do que Remus tinha dito anteriormente e quis se certificar:

– Remus, você ouviu o que aconteceu? Como?

– Isso tudo foi uma armação de minha querida esposa – disse o lobisomem, num tom amargurado. – Ela encasquetou a idéia de que você e Severus tinham alguma espécie de amor não-resolvido, e que cabia a ela corrigir a situação.

– Mas... mas... de onde ela tirou essa idéia?

Remus suspirou:

– Ela me disse que andou conversando com o retrato de Albus. Foi ele que deu a sugestão da Sala Precisa, e então ela se transfigurou num aluno chamado John Smith, que não existe de verdade. Eu só soube quando a coisa estava acontecendo, e aí era tarde demais. Dora montou uma sala ao lado, para acompanhar o que ela jurava que seria um “emocionante reencontro de duas pessoas apaixonadas”.

– Então vocês viram o que aconteceu?

– Cada palavra.

Mia teve que se controlar, tamanho ódio que começava a nascer em suas entranhas. Ela amava Remus como um irmão. Droga, ele era o seu único irmão vivo, de certa forma. Por isso, ela se controlou. Mas não pôde evitar perguntar:

– E você sabe de que feitiço Severus estava falando? Merda, Remus, o que foi que vocês fizeram?

Remus se encolheu ao ouvir o palavrão. Mia nunca, nunca, falava coisas assim. Era sinal de que ela estava realmente magoada. Por outro lado, ele estava confuso:

– Não sei se poderei responder a todas as suas perguntas, porque eu mesmo não entendo tudo. Mas agora eu sei do que Severus está falando todo esse tempo. Eu simplesmente tinha me esquecido.

– Tinha se esquecido do quê?

– Foi no sétimo ano. Sirius estava cada vez mais nervoso, porque você e Severus pareciam muito amigos. Parecia idéia fixa. Vivia reclamando que Snivellus isso, Sinivellus aquilo. Foi de Sirius a idéia de jogar uma azaração nele. A idéia era uma coisa que fizesse uma irritação na pele toda vez que ele se aproximasse de você. Mas só devia durar uns cinco dias, talvez uma semana. Não entendo como durou todo esse tempo e como ficou nesse estado.

– Aquilo não é nenhuma azaração. É uma maldição e daquelas bem perversas. Qual é o contrafeitiço?

– Eu não sei – disse Remus, e parecia angustiado. – Foi um feitiço caseiro.

– Caseiro? Foi Sirius quem fez?

– Peter. O mesmo que teve a idéia de usar Polissuco para que Severus pensasse que você também estava na brincadeira.

– E o que vocês fizeram?

– Uma noite, nós o atraímos para o banheiro da Murta e lançamos a azaração. “Você”, quer dizer Peter, disse que Severus não deveria se aproximar nunca mais. Precisava manter a distância. Ele tentava reprimir as lágrimas, mas olhava para Peter com ódio, e dizia que ele tinha adivinhado que não devia confiar em você. Não era bem isso que Sirius tinha planejado, mas mais tarde ele elogiou a inspiração de Peter. James jamais soube disso. Hoje eu percebo que Peter tinha mesmo um pendor para o mal.

Mia tentou inspirar. Tentou se acalmar. Infelizmente, tudo foi inútil.

Ela tinha atingido seu limite. A gota d'água.

O copo transbordou.

– Merda! Merda! Merda! – Mia bateu com os punhos na mesa da cozinha, e um elfo que estava próximo disparou para longe, assustado. – Aquele miserável, traiçoeiro, roedor filho de uma puta, desprezível, abjeto, vil, nojento, desgraçado! Tenho certeza de que Aras e as Eríneas o amaldiçoaram até mesmo no reino de Hades e Perséfone, de tal maneira que ele não tenha descanso nem que ele consiga se esconder debaixo da menor pedra do Estige, cujo coração é mais negro do que a própria Nix!!

– Mia! – Remus chamou, com força. – Mia, você está xingando em grego! Quero dizer, eu acho que isso é grego.

Ela tremia, tentando recuperar o controle. Respirava fundo, buscando serenidade e tranqüilidade para lidar emocionalmente com o fato.

Mia tomou um grande gole da xícara de chá, respirando mais uma vez. Com outro gole, ela acabou com a xícara. Finalmente as técnicas de controle de pânico pareciam ter funcionado. Então, ela se virou para Remus e pronunciou, de maneira firme, mesmo que a voz por vezes tremesse um pouco:

– Remus, eu não vou lidar com você nesse momento. Minha prioridade é saber o que pode ser feito por Severus agora. Mais tarde, aí eu vou ver o que meu coração vai decidir a seu respeito. Porque eu conheço você, sei que nada disso foi idéia sua. Mas você jamais conseguiu se impor com Sirius. Você sempre se omitiu, Remus, e eis aí a sua culpa. Então deixe-me dizer-lhe apenas isso: eu venho carregando as conseqüências de sua omissão pelos últimos 25 anos, tanto quanto Severus, talvez até mais. Mas só mais tarde veremos isso. Até lá, você vai conhecer uma fração da dor que temos agüentado esses anos todos. Então, neste exato momento, vamos fechar um ciclo de 25 anos de dor, voltar para a enfermaria e ver se o tal curador chegou de St. Mungo’s. No momento, só no que posso pensar é Severus. E se você tem um pingo de consideração ou amizade por mim, Remus, você não vai dar um pio.

Remus não deu um pio.

Os dois voltaram à enfermaria num silêncio tenso.

O tal curador tinha, efetivamente, chegado. Mia, contudo, não pôde saber de nada. Teve que ficar do lado de fora, depois de três tentativas de se aproximar de Severus que resultaram na piora imediata do paciente. Tonks ficou com ela, tentando se desculpar. Mia sabia que ela não tinha culpa de nada.

Na verdade, nem Remus tinha culpa. Os verdadeiros culpados eram Sirius Black e Peter Pettigrew. Ambos mortos. Um pela prima, outro por Lord Voldemort em pessoa, ao descobrir que Pettigrew ajudara Harry Potter por causa da tal dívida de bruxo.

Então, em quem ela podia descarregar sua raiva, sua mágoa, sua ira?


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