— Jane Clementine Rizzoli! - Angela gritou entrando no antigo apartamento de Jane, que agora era de Tommy.

— O que eu fiz? - Jane perguntou do sofá.

— Por que você está ai no sofá? por que não está se preparando?

— Primeiro porque me expulsaram da minha casa, e segundo que tenho bastante tempo.

“Minha casa” a morena ainda não se acostumara com essa frase, ela se mudou para a casa de Maura uma semana depois do pedido, e depois de um mês ainda parecia novidade. Angela nada disse, ficou estática em sua postura superior lançando um ar ameaçador para Jane, uma olhar que dizia "eu estou certa e você sabe disso".

— Tudo bem, eu vou tomar banho e me preparar.

— O vestido ainda está em bom estado?

— O que quer dizer com isso?

— Quero dizer: Você ainda não derrubou cerveja ou ketchup nele?

— Não e você sabe que eu não quero usá-lo - respondeu bufando.

— Jane, é o seu casamento! Finalmente vou ver minha menininha casar, ela tem que ao menos usar um vestido, e você disse que adorou o vestido quando o provou.

— Queria estar em casa, lá pelo menos tenho uma televisão boa - reclama indo para o banheiro com toalhas em mãos, se dando por vencida.

Não transparecia, mas a morena estava mais que animada, ansiosa e nervosa, acordou às oito da manhã com sua mãe a chutando para fora do quarto e da casa, dizendo que traria má sorte ver Maura antes do casamento, e desde então ficou no apartamento do irmão assistindo à programas aleatórios, esperando faltar poucas horas para poder se trocar e ir.

— Seus irmãos vão passar aqui pra checar você, ver se está mesmo se preparando – a mais velha disse grudada na porta fechada do banheiro

— Desnecessário isso, eu sei me cuidar. E ainda tenho seis horas pra isso tudo.

— Não importa, não queremos nenhum imprevisto – quando ouviu o som do chuveiro sendo ligado ela correu para a porta a abrindo, logo as pessoas foram entrando e se acomodando com as coisas. – Ér... – Angela tentava pensar em algo enquanto ajudava o pessoal a organizar suas coisas – Você já almoçou querida?

— Ainda não, mas não se preocupe em fazer algo.

— Nhoque?

— Ravioli – Jane respondeu.

Angela se mexeu apenas para pedir para que ninguém fizesse sons sugestivos que pudessem fazer Jane questionar o que estava acontecendo na sala de estar. Alguns minutos depois a morena saiu do banheiro em seu roupão e levou um susto ao notar as pessoas que brotaram em seu antigo apartamento, ela não disse nada pois não se impressionava mais com as maluquices de sua mãe, aprendeu a entrar na onda e tentar nadar a favor da maré se depois de muitos caldos não conseguisse nadar contra. Sentiu um cheiro estranho e procurava com os olhos por sua mãe no meio de rostos sorridentes.

— Isso não cheira como ravióli – disse esperando uma explicação.

— É só o babyliss esquentando, mas acho que não vamos precisar usar, seus cachos são perfeitos. Sua mãe tinha mencionado que eles eram uma bagunça de nós, mas acho que podemos trabalhar sem essa coisinha – um loiro tagarelou balançando o aparelho em sua mão.

— E vocês são...?

— Ah, é claro. Eu sou Loui, e essa é minha equipe, Amanda, Kathy, Roy, Phill e Dina – apresentou um a um enquanto eles iam e davam um beijo no rosto de Jane como comprimento. – Sua mãe pediu para que te ajudássemos.

— Mas eu não preciso de ajud... Inclusive, onde está ela? – Jane finalmente saiu do lugar e começou a procurar pela mais velha.

— Estou aqui, e estou com a sua gala – disse a mais velha entrando no apartamento.

— Onde você estava? Pensei que meu vestido estivesse no quarto. Ma o que você está aprontando?

— Por aí. Agora pare de fazer perguntas e deixe que eles façam a magia. Eu vou dar uma checada em Maura e volto assim que possível – ela dizia enquanto andava com uma capa preta que continha a roupa de Jane – Seus irmãos vão chegar a qualquer momento, então se comporte – deu um beijo na testa da sua filha e voltou à porta de entrada.

— Ma! – Jane gritou enfurecida

— Sim?

Respirou fundo e resolveu nadar a favor da maré.

— Diga a Maura que eu mandei um beijo – disse bufando e se jogando no sofá.

— Okay, temos muito trabalho pela frente... – disse Phill observando o rosto da morena – Estou pensando em uma maquiagem mais neutra...

A detetive fechou os olhos e choramingou ao ouvir o monte de palavras que saía da boca de todos sobre maquiagem, cabelo, unhas, pele...

*****

                Ao contrário de Jane, Maura ficou mais que feliz ao receber todos os seus especialistas em beleza em sua casa, porém por livre e espontânea vontade. Depois de um longo banho de espumas e sais, ela teve uma exfoliação e muitos outros mimos, queria estar perfeita para sua noiva, e sabia que sua equipe faria o melhor. Tudo o que a loira podia pensar era que a hora finalmente se aproximava, eram duas da tarde e faltavam apenas duas horas para a grande hora, seu vestido estava pendurado majestosamente em um cabide protegido por um plástico, seus cabelos eram moldados com alguns cachos nas pontas enquanto suas unhas tanto das mãos quanto dos pés eram feitas meticulosamente com muita delicadeza. Sentia-se uma rainha e mal podia esperar para colocar o vestido. Ela se lembra de tê-lo provado pela primeira vez na loja de noivas, podia se ver andando até o altar trajando ele, o primeiro sentimento de “é esse”. Um sorriso inevitável veio ao seu rosto ao perceber quão sortuda era por estar prestes a casar com o amor da sua vida.

Angela entrou na casa e foi de encontro à loira.

— Então, ele ligou e disse que vai atrasar um pouco, mas que tem tudo sob o controle.

— Você acha que vai dar tempo? – Maura perguntou receosa.

— Ainda temos cinco horas pra descobrir – a loira sorriu e suas expressões aliviaram – Como está indo por aqui?

— Perfeitamente. Estou muito ansiosa, como está Jane?

A doutora ainda não tinha visto sua detetive desde que dera boa noite para ela e foram dormir. Tinha medo que algo desse errado, que algo fugisse dos planos, tinha saudade de sua morena, dos seus beijos, se acostumou com a presença dela ali, com seus abraços e carinhos, já era de se esperar.

— Ela está bem, mandou um beijo.

Maura não pôde evitar sorrir.

— Imagino que tenha teimado quando viu a equipe.

— Não esperava menos.

— Já foi ao local? - a legista perguntou ansiosa.

— Sim, está prefeito, Amy está enlouquecendo alguns funcionários, mas faz parte. 

— Diga pra ela não se estressar, faz mal pro bebê. 

— Colocarei na minha lista de afazeres.

*****

   A chácara era iluminada pelas estrelas e pelas velas espalhadas ao chão, que também boiavam no pequeno lago ali perto. As lobélias em cor branco decoravam o local majestosamente. Os convidados estavam em seus lugares já emocionados com o ar romântico quase palpável que o local possuía. Quando o som do piano foi ouvido e a She keeps me Warm começou a tocar, todos os convidados se levantaram para observar a entrada de uma das noivas andava lentamente até o altar. Jane estava acompanhada de Frankie, e diferente do que imaginou, ela estava se sentindo mais que confortável em seu vestido simples de noiva com alças finas. Frankie a segurava fortemente para que nada desse errado, nunca penso que estaria nessa situação, nunca pensou que veria sua irmã se casar, nunca a vira tão linda, a maquiagem neutra que a deixava levemente angelical, os cachos quase que soltos caiam em seus ombros como sempre, mas dessa vez com um brilho diferente. Foi deixada no altar com Frost ao seu lado fazendo o trabalho de padrinho.

— Vou ter que te dar um discurso motivacional também? Porque eu tenho um preparado.

— Não será necessário.

Eles sussurram um para o outro sorrindo.

A alegria de Jane era inexprimível, seu coração acelerava de um jeito que jamais pensara ser possível, nunca imaginou que pudesse sentir tanta felicidade em um único dia. E então quando a música saiu do solo de piano e a cantora voltou a acompanhar com sua voz, Maura apareceu com Arthur ao seu lado. O coração de Jane quase explodiu – inclusive ela inteira quase explodiu – quando viu a loira em seu vestido sereia com rendas, seus cabelos cor de mel presos em uma trança cascata e uma coroa de flores o enfeitava delicadamente, seu rosto sim parecia o de um verdadeiro anjo, a detetive questionava-se como pôde ter tanta sorte, perguntava-se se isso tudo não era um sonho perfeito, se não tinha entrado em coma e isso tudo não passasse de sonhos. Mas aquilo era muito real.

O Dr. Isles entregou a mão de Maura para Jane com orgulho, deu um breve aceno de aprovação com a cabeça para a morena e então se posicionou em seu lugar. O juiz de paz começa com o discurso quando todos os convidados já estavam sentados. As mulheres não conseguiam prestar muita atenção nas palavras, Maura estava quase que sem fôlego, quando viu a detetive a esperando no altar maravilhosamente perdeu a fala, o ar e o chão por um segundo, ainda parecia surreal, ainda parecia bom demais pra ser verdade, estava se preparando psicologicamente pra qualquer catástrofe que possa acontecer.

O momento que todos esperavam havia chego, os convidados ansiavam para ouvir os votos de cada uma e finalmente era o momento.

— Eu passei muito tempo pensando no que te dizer e como dizer, mas é muito mais difícil do que eu imaginei que seria – Maura começou dizendo – Mas vamos tentar... Eu nunca fui boa com palavras, ou com sentimentos... ou com pessoas... Mas você sempre despertou esse lado de mim que acalmava meus medos dos seres humanos, você foi a mudança que eu precisava na minha vida, desde aquele momento na cafeteria em que nos conhecemos foi aí que tudo começou a mudar. Você trouxe felicidade para a minha vida, me deu uma família, carinho, amor, uma amizade que jamais poderá ser substituída, porque além de ser o amor da minha vida, você é e sempre será minha melhor amiga. Você me aceitou do jeito que eu sou, não tentou me mudar propositalmente, me fez ver o mundo com outros olhos, riu das minhas piadas mesmo não as entendendo, aguentou meus momentos prolixos, esteve sempre do meu lado. Então eu só tenho a te agradecer, e te prometer tentar retribuir o mesmo monte de felicidade que você trouxe e ainda traz em minha vida. Eu te amo, Jane e nunca vou deixar de amar, não importa se eu vá pra Londres, China, Brasil, não importa quanto tempo eu fique sem te ver, eu nunca jamais vou deixar de te amar. Simplesmente porque... – tomou um segundo para respirar e disse com ternura – É você.

As lágrimas corriam soltas pelo rosto das duas e de todos que as conheciam, que conheciam sua história.

— Primeiramente: Eu nunca vou deixar você partir novamente. Agora... Os meus votos não foram tão elaborados porque eu simplesmente não conseguia colocar em palavras todos os sentimentos que tenho por você, o amor que eu sinto, a felicidade, o carinho, a amizade é tudo muito... Viu? Não tenho um adjetivo pra isso. Não tenho como descrever pra você tudo o que eu sinto, porque é tão intenso e tão forte que não existem palavras suficientes que possam descrever, então eu só lhe digo que você me fez e me faz a mulher mais feliz do mundo, todo dia eu acordo e penso no quão sortuda sou por ter você ao meu lado, por poder te abraçar e te beijar, muito obrigada por me fazer tão feliz e muito obrigada por aguentar minha agressividade matinal.

Ninguém mais segurava as lágrimas, era possível sentir o amor puro que vinha das mulheres, ninguém fez nenhuma objeção quando o juiz de paz perguntou, ninguém ousou interferir o tão procurado amor que todos querem e elas encontraram.

— Eu vos declaro casadas, podem se beijar – o Juiz de paz disse sorridente após a troca de aliança.

E o beijo foi dado, selando o amor e o compromisso, a fidelidade e o companheirismo, a amizade que a tanto tempo evoluiu-se em algo tão grande e tão verdadeiro. Estavam casadas.

And I can't change, even if I tried
Even if I wanted to
And I can't change, even if I tried
Even if I wanted to
My love, my love, my love, my love
She keeps me warm, she keeps me warm

She keeps me warm...