Resolvi guardar aquele pedaço de papel que apenas trouxe confusão para a minha cabeça e ir dormir. Mas foi totalmente em vão. Não consegui pregar os olhos de madrugada. Culpa de uma visão.

Eu estava caminhando dentre uma floresta, estava escuro e fazia muito frio. O vento uivava contra a copa das árvores e elas respondiam se chocando uma contra a outra. Neblina espessa tinha por todos os lados, o que dificultava a visão.

Continuei andando, pisando em alguns galhos e folhas molhadas. Algo me impulsionou a correr, eu sentia medo, mas a adrenalina no meu corpo falava mais alto. A cada passo meu coração acelerava ainda mais e eu suava frio.

Corria sem rumo algum, apenas passando entre as árvores e arranhando meu braço com alguns espinhos. Quando começou a chover. Primeiramente foi apenas um chuvisco até que ela engrossou realmente, as pesadas gogas caíam contra meu corpo me deixando desnorteada. Mudei de direção e continuei a correr.

Vi de relance algumas imagens que mexeram comigo. Na primeira, eu via uma garotinha de cabelo loiro e um sorriso de orelha a orelha brincando com um lobo perto de uma casa. Ela corria para um lado e para outro e sorria muito. Em seguida vi a mesma garota chorando dentro de uma casa incendiando, ela corria e gritava, mas ninguém a ouvia.

Vi quando ela pulou de uma árvore alta e caiu sem nenhum arranhão, saiu correndo e voltou a brincar. Aquela garotinha se parecia comigo, mas eu não lembrava de onde a conhecia. Eu sabia que já havia visto, mas não lembro aonde.

Parei, sem ar e respirei rápido, procurando pegar todo ar possível. Meu pulmão ardia como brasa a casa inspiração. E logo em seguida vinha uma tontura. O que é que estava acontecendo comigo? Meu coração parou e eu fui caindo aos poucos. Será que eu estava morrendo? Meu corpo perdeu as forças e eu caí no chão. Só senti quando mãos quentes tocaram minha pele e então eu apaguei.

Acordei na minha cama, suando muito e respirando pesadamente. Meus cabelos grudavam em meu pescoço e eu sentia vontade de chorar. Levantei- me lentamente e fui lavar meu rosto, prendi meu cabelo e o lavei. Tinha olheiras enormes abaixo dos olhos e uma expressão cansada.

Voltei para o quarto, troquei de roupa e desci para tomar café. Minha tia me olhava alheia a todos os meus movimentos, o que me incomodava um pouco. Sorri triste para ela e voltei a comer, quando terminei, coloquei minha louça na pia e voltei para o quarto. Passei o restante do dia lá, até adormecer novamente.

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Acordei quando senti que meu corpo era carregado, minhas costas ardiam muito e o ar queimava em meu peito, levantei minha mão e vi muito sangue nela. Arquejei e gemi de dor. Perceberam que eu havia acordado e apressaram o passo.

Não conseguia ver com clareza, apenas alguns vultos e sussurros. Tudo estava embaçado e minha cabeça doía e rodava. A cada, mais ou menos, 10 minutos eu desmaiava, e logo voltava ao consciente. Fiquei naquele negócio até chegar em casa e me colocarem numa cama macia, onde eu vim saber onde estava muito tempo depois.

Falaram comigo mas eu apenas balbuciava palavras incoerentes, talvez delirasse, resolveram me deixar lá até que eu melhorasse e pudesse contar o que aconteceu e explicar o porque que eu estava assim. Mas nem eu mesmo sei o que aconteceu. Desmaiei.

Acordei com alguém tocando minha pele com delicadeza. Já estava mais lúcido, por isso percebi que era Betha que limpava o lugar onde fui atingido, o corte estava feio, mas nada que não pudesse cicatrizar.

Já enfrentei batalhas muitos mais sangrentas e já cheguei a beira da morte, já perdi pessoas que eu amava e sangrei sem parar, já enfrei magos e bruxos, não seria esse pequeno corte que me tiraria da jogada. Lorcc ainda terá muito o que aprender comigo.

Senti também algumas pinicadas na pele e senti um leve puxão quando Betha costurava o corte, que ainda sangrava. Uma tontura me atingiu e eu gemi de dor. Continuei acordado, eu sou um guerreiro, não posso me deixar abater por um corte e uma pequena dor. Fechei os olhos e respirei fundo, até que a dor fora mais forte do que eu, e com uma forte pontada eu desfaleci novamente.