Ele era diferente.

Eu podia dizer apenas olhando para ele. Cabelos brancos, um corpo magro, apenas um pouco mais alto que eu, olhos azuis claros que pareciam brilhar sob a luz.

Ezreal: Hey! - ele abriu um sorriso largo, mais radiante do que qualquer manhã -

Eu: O-Olá! - era muito difícil falar com ele -

Ezreal: O que você está fazendo por aqui?

Eu: Ah, só achei que mudar de ar poderia me fazer bem de vez em quando.

Ezreal: E você precisava subir essa montanha? hahaha - a risada dele ecoava em minha cabeça, como uma melodia -

Eu: Bom, não exatamente, mas valeu a pena - acabei corando e desviei o olhar para a bela vista do pôr do Sol a minha frente -

Ezreal: Realmente, um dos mais lindos que eu já vi em minha vida!

Ele era aventureiro por natureza, ouvi dizer que ele mapeou muitos túneis em Piltover e se tornou famoso por isso, também há boatos que ele foi a Shurima e viu uma múmia de verdade. Ah como a vida dele deve ser divertida e livre, mas algo não parece certo nele... Os relatos contam sobre um aventureiro destemido loiro, mas seus cabelos são brancos como a neve e não há vestígios de que um dia fora loiro. Além disso ele costuma agir despreocupado e cheio de energia, mas há momentos em que ele demonstra certa frieza, solidão, arrependimento, algo que eu não consigo compreender apenas observando.

Ezreal: Por que uma expressão tão séria? - ele diz sorrindo novamente -

Eu: N-Nada demais - me envergonho por cair em pensamentos profundos sobre a pessoa que está bem do meu lado -

Ezreal: Posso me sentar ao seu lado? - aponta para perto de mim -

Eu: Claro! - me concentro no pôr do Sol para que pensamentos desnecessários fiquem longe de mim -

A visão era realmente excepcional de onde estávamos, eu não sabia como eu tinha escalado essa montanha, mas para ele deve ter sido fácil, apenas me pergunto o que ele estava fazendo aqui.

Ezreal: AHÁ! - ele grita ao mesmo tempo que me cutuca na cintura -

Eu: Ahhh!!! - grito pelo susto -

Ezreal: Hahahahahahahaha! Você precisava ver a expressão que você fez agora a pouco!!

Eu: Que ideia foi essa?! Eu estava distraída, não é justo! - grito em um tom de raiva, mas divertida -

Ezreal: Desculpe, eu não resisti - continuava rindo -

Eu: Não teve graça! - viro meu rosto e finjo que ignoro ele -

Ezreal: Heeey! É sério, desculpa - ele diz com uma voz manhosa, quase irresistível -

Eu continuo fingindo estar ignorando-o por mais alguns instantes até perceber que ele estava me observando atentamente.

Ezreal: Você é bonita -diz com uma voz quase inaudível -

Eu: O que? - viro imediatamente para ele -

Eu tinha escutado bem ou meus ouvidos estavam me traindo? Seria possível os meus desejos serem tão fortes a ponto de me fazerem escutar coisas que não foram ditas?

Ezreal: Ahá! Finalmente você olhou pra mim - outro sorriso radiante -

Olhei para ele confusa, até que percebi que tinha parado de ignorá-lo fazendo do jeito que ele queria.

Eu: Seu trapaceiro! - gritei frustrada -

Avancei sobre ele para beliscar suas bochechas e deixá-las vermelhas para livrar minha frustração e quando as toquei uma sensação muito estranha passou por todo o meu corpo e chegou ao meu cérebro em um raio, em seguida me afastei dele. Ambos estávamos parados olhando um para o outro, ambos sem reação, ele parecia se sentir culpado com uma expressão de choque, e eu estava assustada. Quando o toquei a única coisa que eu consegui pensar foi "gelado", seu rosto estava completamente gelado e nem estávamos no inverno. Como seria possível?

Eu: Por... que?

Ezreal: Eu fui descuidado... - disse baixo recuperando-se -

Eu: Por que? O que aconteceu? Por que você está tão frio? - voltei a tocá-lo para confirmar minha sensação -

"Gélido"

Então ele levou a mão dele até a minha, também estava gelada.

Ezreal: Sinto muito por te surpreender - ele abaixou o olhar -

Eu: Por favor, me explique - pedi com calma -

Ezreal: Bom... Não sei como te contar, mas acho que precisa ser do início né? - ele sorriu meio triste - Eu não estou vivo, ao menos não deveria estar...

Prendi a respiração. Como ele não deveria estar vivo? O que é que está na minha frente nesse momento?

Ezreal: Alguns anos atrás eu soube de um artefato místico raro que estava em uma das cavernas de Freljord, eu tinha ouvido falar deste item apenas em livros ou lendas que circulam as cidades, nunca achei de fato que ele existia, e quando eu escutei sobre esse rumor eu tive que saber se era verdade ou não. Organizei uma expedição para Freljord em busca de tal caverna e encontrei o que eu estava buscando... - ele fez um pequena pausa - Acontece que quando eu encostei no item, imediatamente eu fui empalado pelo gelo que o sustentava, no coração, e supostamente eu morri.

Eu: Ai meu deus - lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto -

Ezreal: Então eu perdi a consciência... Não sei quanto tempo depois eu acordei, mas eu não sentia mais frio ou calor, minha aparência havia mudado e o artefato estava em meu braço esquerdo. Eu sentia a magia correr pelo meu corpo inteiro - ele me olhou - Então percebi que isto me manteve vivo, não sei como, mas manteve - apontou para seu artefato brilhante - Este é o meu novo coração, e a única coisa que eu ainda sinto é minha paixão por aventuras.

Agora tudo fazia sentido, eu não conseguia parar de chorar e nem sabia exatamente por quê. Ele estava vivo, não completamente, mas estava, e isso deveria ser o suficiente.

Eu: Desculpe - consegui finalmente dizer -

Ezreal: Você não precisa se desculpar, eu sim - ele limpou minhas lágrimas com o dedo - Eu não queria que ninguém soubesse a verdade porque daria uma confusão muito grande, por isso sempre mantive certa distancia das pessoas... Mas eu deveria ter dito isso pra você antes

Eu: Mesmo assim, me desculpe...

Ezreal: Tudo bem, não precisa mais chorar - ele sorriu - Vamos, está escurecendo

Eu: Pra onde? Acho que não conseguirei descer a montanha nessa escuridão - lamentei -

Ezreal: Não se preocupe, eu já vim aqui antes e sei que tem uma cabana por aqui - falou despreocupado -

Eu: Realmente, um explorador digno de sua fama - sorri -

Ezreal: Não é mesmo? - ele riu -

Depois de andar por 10 minutos guiada por ele, chegamos a uma pequena cabana. Não havia muitas árvores por perto, na verdade a plantação em volta dela era bem rala, como um jardim, muito bonito e florido.

Eu: Que lugar lindo!

Ezreal: Que bom que gostou, passaremos a noite aqui, tudo bem?

Eu: Sim - respondi sem prestar muita atenção -

Estava encantada com o lugar, nunca tinha visto algo assim. Logo depois entrei na cabana seguida dele e o lugar era bem simples, uma sala ampla com dois sofás um de frente pro outro e uma lareira no meio deles, do outro lado havia uma mesa simples de jantar e uma cozinha pequena, mais ao fundo havia uma cama de solteiro sob uma janela.

Ezreal: Acho que é suficiente pra passarmos a noite, você pode ficar com a cama

Eu: Obrigada

Ezreal: Imagine - sorri e se vira para acender a lareira -

Fui até a cama e me sentei olhando pela janela, apreciei a chegada da noite até me dar conta de uma coisa.

"Eu vou ter que ficar a sós com ele uma noite inteira."

E então eu entrei em pânico. Me virei discretamente para olhar o que ele estava fazendo e me deparei com a visão de seu peitoral nu. Ele havia tirado a camiseta sem aviso prévio e o único que eu consegui fazer foi observar. Ele não possuía grandes definições, e sua pele era muito branca.

"Parece suave, será que ali também é gelado?"

Fiquei perdida em meus pensamentos sobre o quanto aquele garoto era bonito e não me dei conta que estava olhando-o fixamente.

Ezreal: Desculpe, te incomodou? - ele pegou a camisa do sofá e estava prestes a colocá-la -

Eu: Espere! Não me incomoda - corei - Quero dizer, se você se sentir confortável assim não tem problema

Ezreal: Tem certeza? - perguntou inocente -

Eu: Sim, absoluta. E... - hesitei por um segundo -

Ezreal: Sim?

Eu: Você... - me aproximei dele - é totalmente gélido?

Ezreal: Sim - riu -

Como ele poderia rir tão casualmente em um momento como esse? Ele era muito bonito e ficava perfeito sorrindo. Eu precisava tocá-lo.

Eu: Posso...? - estiquei minha mão em direção á seu peito -

Ezreal: Tudo bem - ele assentiu ficando levemente corado -

Pousei minha mão sobre seu peito, era gelado como suas mãos e rosto, e uma nova sensação nasceu em meu peito, uma sensação única e prazerosa entre o calor de minha mão e seu corpo gélido. Deixei ela parada onde estaria seu coração e não consegui sentir nenhum batimento. Depois subi com a mão por seu ombro esquerdo e deslizei por seu braço onde está o artefato, consegui sentir um leve calor, mas que eu poderia ter confundido com o meu próprio calor. Fiquei intoxicada por esse sentimento, levei minha outra mão até a sua barriga e deslizei suavemente até sua cintura, então me aproximei mais dele e coloquei minhas duas mãos em suas costas.

"Gelado e suave como eu imaginei, não me cansaria disso nunca."

Então eu o abracei ternamente, abracei toda aquela sensação que despertava minha curiosidade e prazer, também quis abraçar todas as suas dores e arrependimentos, eu queria que ele voltasse a sentir.

Quando me dei conta do que tinha feito eu me afastei corada e olhei pra ele, havia uma expressão vulnerável em seu rosto suavemente vermelho totalmente diferente da expressão cheia de confiança que eu estava acostumada a ver.

"Ele está sem reação, totalmente frágil e dócil. Tem como ele ficar mais fofo? Impossível."

Eu: Me desculpe - falei baixo -

Ele olhou pra mim sem jeito e então eu me aproximei e o beijei suavemente, estava surpreso e aos poucos se deixou levar, perdendo suas forças. Então fui empurrando ele levemente até deitá-lo no sofá, parei para observá-lo e ele estava tímido, evitando o meu olhar. Continuei com pequenos beijos em seu pescoço trilhando seu corpo até a cintura, eu não tinha certeza se ele conseguia sentir tudo, mas ele estava tremendo e terrivelmente corado.

"E eu achava que ele não podia ficar mais fofo"

Tirei minha camisa e deitei sobre seu corpo, toda a sensação gélida passou para o meu corpo em um agradável instante.

Eu: Ez... - falei olhando para seus lindos olhos azuis - Eu amo você.

Passei a mão por seus cabelos prateados com gentileza e depositei um beijo em sua testa.

Eu: Quero ser o que você perdeu. Ambos, o seu calor e o seu coração.

Então ele sorriu pra mim, o verdadeiro e mais lindo do dia, e me abraçou.

Ezreal: Não sei exatamente como me expressar nesse momento - sua voz estava trêmula - Mas obrigado, por tudo.

Sua expressão era quase de choro. Eu poderia recuperar ao menos suas emoções genuínas?

Essa duvida durou apenas até ele me abraçar mais forte, esconder seu rosto em meu peito e sussurrar um "Eu te amo" que pareceu ecoar pela cabana.