A madrugada velando o pai de Du durou quase uma eternidade e logo pela manhã a família, amigos e alguns conhecidos puderam se despedir dele. Eduarda passou grande parte da cerimônia de despedida consolando a mãe e os irmãos mais novos… João Lucas ficou lá, porem dando espaço para o “momento deles”, ficou refletindo no quanto tudo aquilo era triste, e por pior que fosse o relacionamento com a família ele jamais gostaria de perder algum membro dela para a morte. Ficou observando Eduarda e admirando ainda mais sua força… Força que na real era uma armadura apenas externa, porque por dentro ela sofria com a dor, com a perda… Mas, ela precisava ser o elo forte ali naquele momento, afinal sua mãe era muito frágil e seus irmãos eram crianças, mal entendiam direito o que acontecia ali.

Quando tudo acabou ela agradeceu a Lucas todo apoio que ele prestou a ela, falou para ele ir para casa descansar... Mas teimoso do jeito que era, ele não queria deixa-la e pediu para levar ela e a família em casa!

Assim que chegaram, os irmãos e a mãe de Du foram para seus quartos descansar e Lucas e Eduarda foram para o quarto dela.

>> Lek, vai pra casa. Tu tá com a maior cara de cansado ai! - Ela disse assim que conseguiu tirar o sapatos apertados do pé

>> Não vou te deixar sozinha Du. Vocês podem precisar de mim!

Eduarda abre um sorriso para o amigo. Ela nunca havia o visto tão preocupado com ela e seu bem estar.

>> Tu é muito teimoso, eu vou lá tomar banho, vou cair nessa cama e nem sei a hora mais que vou acordar...

>> Vai lá! Eu espero você tomar banho...

Eduarda seguiu para fora do quarto e João Lucas ficou lá, sentou-se na cama e ficou observando todo o quarto e em como ele era a cara de Du... Tanto as fotos dos dois no mural, quanto os pôsteres pendurados na parede, ele sorria para cada detalhe. Estava fascinado no quanto era tão simples mas tão ela.

Depois de alguns minutos Eduarda volta para o quarto e encontra Lucas cochilando em sua cama e involuntariamente ela sorriu, mesmo sem forças, cansada, ela ficou por longos segundos o observando encostada no batente da porta. Tão lindo, meu Deus do céu... – Ela só conseguiu pensar nisso e foi até ele e fez carinho no seu rosto com intuito de acorda-lo.

>> Lek, lek. Acorda cara. - Ela falava baixinho

>> Quê? Que foi?

>> Tu ta aí todo morgado cara... Vai pra casa tomar banho e descansar...

Eduarda vestia apenas uma roupão e assim que Lucas pode reparar nos seus trajes ele não conseguiu esconder o sorriso malicioso.

>> Tomou banhozinho? - Ele perguntava manhoso

>> Não só fui pro banheiro ligar o chuveiro e ver a água cair... - Ela brincou - Vai chega pra lá, quero deitar

>> Vamos fazer o seguinte: Eu fico aqui esperando você dormir e quando isso acontecer vou lá em casa rapidão tomar um banho e depois eu volto... Tá bom?

>> Se você quer tanto voltar: Ok! - Ela disse deitando sentando na cama enquanto Lucas ajeitava o travesseiro para ela deitar

Quando Eduarda pôde colocar a cabeça no travesseiro, seus olhos pesaram… Não só pelo sono, mas também pela vontade de chorar novamente.

Enquanto ela estava deitada, Lucas levantou e se sentou no chão de frente pra cama dela…

>> Melhor assim... Tô com roupa de cemitério... - Ele riu e ela também - Você tá melhor? Tá bem?

>> Não sei... É como se tivessem arrancado uma parte de mim, do meu coração entende? Dói. Por mais que ele não tenha sido um pai tão presente, carinhoso, sempre me deu tudo que podia, sempre se esforçou pra me criar. Quando eu era pequena, me lembro vagamente de quando ele brincava comigo e me dava atenção. E depois que cresci ele sempre deixou que eu tomasse o rumo que eu quisesse da vida. Sem me julgar ou exigir as coisas… Eu sei que muita das vezes eu precisava de um puxão de orelha, e até sentia falta disso… Mas ele quase nunca estava em casa. Sempre trabalhou muito e agora eu não sei como vai ser… Vou ter que continuar trabalhando dobrado porque minha mãe não vai dar conta. - Ela dizia sobre o pai com os olhos marejados e olhando fixamente nos olhos de Lucas

>> Calma tá? Não pensa nisso agora… Tenta dormir… - Ele dizia alisando as mãos na bochecha exposta dela - Eu nem imagino a dor que você tá sentindo Du, mas se eu pudesse tirar um pouco dela de você e colocar em mim, eu o faria. Tenha certeza.

>> Obrigada por tudo Lek. - Ela disse e fechou os olhos para sentir os carinhos dele e assim então tentar dormir

João Lucas ficou lá até que ela pegasse no sono… Ficou acariciando os cabelos, o rosto e velando o sono dela… Se lembrou que tinha de ir em casa não só tomar um banho, mas, também dar um sinal de vida, já que ignorou o celular e o deixou no porta-luvas do carro o tempo todo…
Chegando no apartamento seu pai se encontrava na sala sentado lendo um jornal, e Maria Marta como era de costume uma revista sobre moda… Assim que colocou os pés na sala foi recebido com um olhar preocupado dos dois.

>> Aonde você estava seu irresponsável? - Maria Marta o questionou e ele a ignorou

>> João Lucas sua mãe está te perguntando… - Disse José Alfredo

>> Pai será que eu podia conversar com você? Porque não vou aguentar as histerias da Dona Marta agora cedo…

>> Que foi meu Filho? - José Alfredo perguntava

>> O que você quer com seu Pai? Isso é hora de chegar em casa? - Marta insistia

>> Pai por favor... - João Lucas o chamava enquanto subia as escadas

José Alfredo pediu para Marta permanecer lá em baixo e foi de encontro a Lucas que o esperava no corredor que de sua casa que dá acesso aos quartos...

>> Fala meu filho!

>> Pai, o pai da Du faleceu noite passada! Acredita cara?

>> Que lasqueira em Lucas. E como ela está? Você o conhecia?

>> Pô acredita que ontem foi a primeira vez que fui na casa da Du, e chegando lá o coroa dela já estava sendo socorrido! Fiquei lá com ela, a mãe e os irmãos... Vai ser brabo pai! Eles estão malzão...

>> Estão precisando de algo meu filho? Você sabe que pode contar com seu velho aqui. - Ele abraçou Lucas

>> Então pai... Isso a gente vai conversar depois porque agora eu vou correr, tomar um banho e voltar pra lá.

>> Faz isso meu filho! Vá ficar com a moça...

>> Obrigado pai! Só queria te contar pra você não achar que eu tô aprontando por aí... - Ele sorriu

>> Tudo bem meu filho, vá, vá…

João Lucas foi para o quarto e tomou um banho de forma rápida, quando saiu e avistou sua cama sentiu vontade de ficar por ali mesmo… Mas quando se lembrou de Eduarda, quis sair logo para ainda encontra-la dormindo… Foi o caminho todo pensando nela, exclusivamente: Eduarda e quando chegou novamente em sua casa, Dona Ana, mãe de Eduarda veio recebe-lo e o informou que ela ainda estava “ferrada” no sono… Lucas entrou e pediu para que pudesse esperar ela acordar…

>> Meu filho, com toda a correria, esqueci de perguntar seu nome…

>> João Lucas. - Ele disse sorrindo para ela

>> Ah, João Lucas… Bonito nome… - Ela devolveu o sorriso

>> Obrigado!

>> E que mal lhe pergunte: De onde você conhece a Eduarda? O que você é dela?

>> Da vida - Ele riu - Pra ser mais preciso, nem eu sei… Conheci ela por acaso, por meio de uns colegas em comum… E ficamos amigos… Muito amigos…

>> Namorados? - Ela perguntou sem jeito

>> Não. - Ele riu - Não ainda… - Ele disse em tom de brincadeira - Somos melhores amigos

>> Ah sim… João Lucas né?

>> Pode me chamar só de Lucas…

>> Obrigado pela ajuda à nós…

>> Que nada… Não tem que agradecer…

>> Eu preciso ir pra cozinha organizar umas coisas… Fique a vontade tá bom?

>> Beleza. - Ele disse sem graça - Vou me sentar aqui… - Ele apontou para o sofá.

Lucas se sentou no sofá e logo os irmãos de Du apareceram por lá, ligando a tv e eles não pareciam estar tão tristes mais… “Como era bom ser criança…” Luiza a mais nova e Pedro o do meio, eram duas crianças tranquilas e passaram a maior parte do tempo concentrados no programa de tv e em silêncio…
João Lucas estranhou tanto duas crianças serem tão “na delas” que resolveu quebrar aquele gelo e se apresentou para eles… Contou histórias, brincou com eles e era engraçado o quanto eles gostaram de Lucas. E ele por sua vez ficou abismado com o dom que tinha com crianças.

Depois de algum tempo o irmão de Du ligou o videogame velho que havia na sala e Lucas se ofereceu para jogar e passar algumas fases para ele... O garoto sorria de orelha a orelha... Luiza por sua vez pendurou no pescoço de Lucas... Queria brincar e ser carregada por ele...

Eles logo cansaram e caíram no sono... Pedro deitado no tapete da sala e Luiza no colo de Lucas, que estava sentado no sofá com a cabeça deitada no encosto... Ele também se permitiu tirar um cochilo... Estava cansado, estava virado e não tinha dormido nada.

Eduarda acordou e achou estranho o silêncio fora do normal que pairava em casa quando levantou e foi vestir uma roupa confortável, afinal ela caiu no sono de roupão mesmo… Assim que saiu do quarto ela foi direto para a cozinha beliscar alguma coisa e encontrou a mãe por lá cozinhando…

>> E aí mãe, tá mais tranquila?

>> Tô tentando filha… Descansou?

>> É, um pouco… - Ela disse e mordeu a maça que estava em sua mão

>> É Eduarda… Esse garoto gosta mesmo de você né?

Eduarda por dois segundos não entendeu a pergunta da mãe, mas logo se tocou de que ela falava de Lucas e franziu a sobrancelha de curiosidade...

>> Porque?

>> Ele está aí esperando você acordar tem um tempinho… Brincou com seus irmãos e tudo mais… - A mãe de Du disse e abriu um sorriso

Eduarda também não perdeu a oportunidade de sorrir com o que a mãe disse, e estava mais surpresa ainda por estar tendo um diálogo diferente com a mãe… E logo em seguida ela foi para a sala e encontrou os três dormindo… E quando viu Luiza deitada no colo de Lucas seus olhos brilhavam… E queria gravar aquele momento na memória pro resto da vida, ficava mais encantada ainda vendo ele dormir… Era a coisa mais linda de se ver, para ela!

Lucas então acordou de supetão e olhou para trás… Viu Eduarda com uma roupa bem despojada em que deixava suas pernas descobertas e sorriu quando viu ela mordendo uma maça… De alguma forma, era sexy para ele…

>> Oi. - Ele disse sorrindo

>> Tu já conheceu bem meus sapecas né? - Ela também sorria

>> É… E acho que não é só você a única membro dessa família que gosta de mim…

>> Nossa… - Ela revirou os olhos - Nunca perde a oportunidade de ser um metido né?

>> Fazer o que se eu sou encantador Lek? Fala sério?

Eles conversavam baixo para não acordar as crianças e Du logo fez com que Lucas os pegasse e os deixasse dormindo no quarto deles… Logo eles foram para o quarto de Du e passaram bastante tempo conversando…

>> E aí? Tá se sentindo melhor? - Ele perguntou

>> É tô. É uma dor que não vai passar… Mas ameniza com o tempo né?

Lucas apenas concordou com a cabeça…

>> Lek, tá com fome? Porque eu tô morrendo… - Ela perguntou

>> É… Eu acho que tô.

>> Vou lá preparar uns sandubas e trago pra cá. Marca um dez aí rapidão…

>> Quer que eu ajude?

>> Não cara. A mestre aqui sabe fazer sozinha… - Ela riu

Eduarda foi até a cozinha preparar um lanche e quando o fez, ela voltou para o quarto e logo Lucas se levantou para ajuda-la. Eduarda desequilibrou as coisas na mão e deixou com que o suco caísse em cima de Lucas… Os dois começaram a rir e quando ela pôde enfim ter as mãos livres, pegou uma toalha para tentar concertar o estrago…

>> Lek, acho melhor você tirar… - Ela disse olhando para ele

>> A camisa? - Ele lhe lançou um olhar malicioso

>> É… - Ela corou

>> Pera aí… - Ele disse e começou a tirar a camisa

Quando Lucas terminou Eduarda olhou fixamente para o tronco desnudo de Lucas, mas logo desviou o olhar para não ficar tão na cara que ela estava o desejando…
Se aproximou dele novamente com a toalha e levou até a barriga definida de Lucas… Ela se arrepiou quando passou o pano sobre a pele dele. Ele apensa observava em silencio… Eduarda fazia aquilo devagar, era como se não quisesse parar nunca… Mesmo com um tecido atrapalhando suas mãos de encontrar enfim a pele dele. Ela já estava mais que atraída por ele…

>> Pronto. - Ela se afastou sorrindo

>> Valeu. - Ele olhou para ela - Gosto do seu sorriso. - Ele soltou quase que sem querer

>> Nem é tão bonito assim… - Ela dizia sem graça

João Lucas se aproximou dela colocando as duas mãos em seu rosto… Uma em cada bochecha e esticou fazendo com que o sorriso dela se alargasse… Aproximou ainda mais o corpo do dela…

>> Olha que é bonito sim… - Ele ria se divertindo com o próprio gesto

Eduarda em um ato irracional levou sua mão até a cintura de Lucas e segurou ali…

>> Para Lek…

Ela gelou quando tocou o corpo dele, mas tinha que disfarçar… João Lucas se arrepiou ao sentir a mão dela em contato com sua pele… Ela novamente levou a outra mão na barriga dele o empurrando para frente e o afastando dela… Depois daquele momento Eduarda foi novamente para a cozinha preparar outro suco e João Lucas ficou no quarto com um sorriso bobo e se perguntando porque ele estava sentindo “aquelas coisas” quando estava perto dela… Porque um simples toque dela tinha um efeito sobre seu corpo e porque só agora ele pôde perceber isso… Ele não desejava parar… Eles no final das contas se provocavam involuntariamente e aos poucos descobriam novos sentimentos um pelo outro…

Quando anoiteceu Eduarda estava quase expulsando João Lucas de sua casa… Ele não queria ir embora… Não queria que o dia acabasse… Era como se a companhia dela fosse a coisa mais importante que ele precisava. E apesar de cansado, ele queria ficar… Queria deitar na cama dela e dormir com ela… Mas como sempre nada sai como ele espera. Du exigiu que ele fosse para casa descansar na cama confortável dele e ele ficando ali, confortável era a ultima coisa que ele estaria…
Lucas resolveu acatar a decisão de Du e se despediu dela como se nunca mais fosse a vê-la na vida… Deu um abraço demorado, um beijo na testa, na bochecha e na mão quando saia pela porta…

…

Alguns dias se passaram e já era fim de semana… Eduarda não precisou trabalhar o resto da semana e ficou trancafiada em casa todos os dias. João Lucas ia vê-la e tentava arranca-la de casa de todas as formas, mas nunca conseguia… Ele também teve que tolerar a prima em alguns momentos, e sem falar na mãe que o enchia por estar tanto tempo com Eduarda… Maria Marta só não desejou que Eduarda morresse no lugar do pai, porque aí seria maldade demais…


Era sábado no final da tarde quando Lucas chegou na casa de Eduarda e a arrancou quase à força de casa, queria leva-la para ver o pôr-do-sol na praia e assim ele fez… Quando chegaram à praia eles tiraram os sapatos e caminharam em silencio pela areia… Se sentaram quase próximos ao mar e João Lucas pegou na mão de Eduarda e entrelaçou seus dedos aos dela… Ela estranhou a atitude de Lucas mas logo se permitiu e aceitou o gesto dele… Na verdade, Eduarda estava estranhando todas as atitudes de Lucas com ela durante dias… Antes mesmo até de seu pai falecer… Ele estava extremamente carinhoso e cuidadoso com ela. Era como se ela fosse uma boneca de porcelana ou mesmo um diamante cor de rosa valiosíssimo.

Eles permaneceram sentados em silencio, e com as mãos entrelaçadas… Ficaram olhando o horizonte e João Lucas beijou a mão de Eduarda… Cantou uma parte de uma música que ele gostava muito… Cantou mais para si do que para ela…

>> “Cause with you, I'd withstand… All of hell to hold your hand…” - Cantou a frase bem baixo

>> O que? - Ela se desencontrou dos seus pensamentos

>> Nada não. - Ele apenas disse e ficaram em silencio novamente fixados no infinito que era aquele mar...

“Porque com você, eu resistiria a todo o inferno para segurar sua mão.”– Era o que dizia