Por trás de um sorriso

Parecia não haver escolha. Ela deveria seguir a vida “sozinha”. Pessoas a machucavam, falavam coisas que doíam. Ela não queria mais sofrer, não queria mais sentir lagrimas escorrendo por sua face, então se fechou, construiu uma fortaleza em torno de si mesma.

Um sorriso para um amigo...

Passou a escolher os amigos a dedo. Amizade sempre fora algo importante, não um contrato, mas uma relação de dar e receber na medida certa, de confiança, de parceria. Amizade acima de qualquer outro problema. Sabia que nada era para sempre, algumas amizades duravam mais que as outras, mas ela havia aprendido a confiar apenas nas pessoas certas, porque havia sofrido com o final de uma amizade com uma pessoa da qual ela se importava e confiava.

Uma briga sem sentido, o cansaço de ter de ouvir o amigo descontando nela todas as frustrações que tinha. Então, BUM! Ele não quis mais saber dela, nem ela dele. Por peso na consciência, depois de seis meses falou com ele, fez as pazes. Mas aí já era! Não existia confiança, e nem vontade de voltar a ser o que era antes. Afinal, as pessoas aprendem com seus erros.

Falava com ele como se estivesse falando com um conhecido. Ele havia mudado, se transformado em tudo o que um dia tinha abominado, ela havia mudado, amadurecido enquanto ele parecia ter retrocedido. Ele achava que agora tudo era festa, ela tentava conviver com algumas amarguras pelas quais tinha passado. Ele só queria o carinho de uma menina, poderia ser qualquer uma, ele não ligava, só não podia estar sozinho, ela tentava se manter longe de um relacionamento, queria apenas amizades.

O ex amigo tentou provar que estava melhor sem ela. Ela se tornou amiga de todas as meninas que ele chamava de amigas, e transformou as meninas em pessoas de confiança, amigas também, mas em um nível muito mais profundo que ele havia conseguido chegar. Mesmo sem namorado, sair para festas ou baladas, ela provou para ele e para ela mesma que agora tinha uma vida boa, com amigos fora e dentro da escola e que ela aproveitava isso com bom senso e acabava se divertindo muito mais.

Um sorriso, um sentimento...

Ela não era fria com os outros, dava concelhos, ria, contava segredos. Mas no momento em que alguém a xingava ela se desligava emocionalmente, era como um botão liga/desliga de abajur, ou qualquer outro eletrônico. Não tinha muita explicação, ela apenas era capaz de fazer isso.

Quando não conseguia ser impassível, ficava com raiva de si mesma. Xingava um pouco, se acalmava. Ela foi aprendendo a se controlar e não mostrar certas emoções para as pessoas. Claro, que alguma hora ela não conseguia aguenta, mas eram raras ocasiões.

Porque ela era a menina do sorriso. Tinha os lábios voltados para cima o tempo todo, certas pessoas falavam que nunca há tinham visto triste. Era atrás daquele sorriso, que uma menina escondia toda uma vida, de tristezas, risos, alegrias, foras. Os amigos a conheciam, o resto das pessoas pensavam conhece-la, mas não sabiam nada sobre ela.

Um sorriso, um comentário...

De tempos em tempos, “the cool kids” vinham falar com ela, bajular. Então ela se lembrava de quando era mais nova, de uns dois anos atrás, quando ela era uma deles. Quando tinha toda a sala em suas mãos, era convidada para todas as festas, vivia como uma princesa na escola. As meninas a copiavam e olhavam para ela como se estivessem olhando para alguém superior.

“The cool kids” haviam se tornado idiotas, que pensavam no hoje, e deixavam o amanhã de lado. No amanhã eles se ferrariam. A vida acabava com pessoas desse tipo, ela tinha sentido na pele que a vida era malvada com as “crianças” assim. Não gostaria de passar por isso de novo, havia desistido. A saudade batia na porta quando os populares vinham falar com ela, mas então as memórias das consequências batiam na porta, e os contras se tornavam muito maiores que os prós.

Um sorriso, uma mensagem...

Tudo era na base do mistério, porque uma garota que tinha tudo que queria nas mãos, havia desistido da popularidade?

A popularidade também vinha com um preço, um preço alto a se pagar. Ir junto com a moda, e se tornar algo que não era, uma imagem, uma ilusão. Não, não se dignou a mudar. Descobriu que já existiam pessoas que naturalmente tinham o padrão pedido, e resolveu deixar que essas pessoas assumissem seu lugar. Enquanto perdeu todas as amizades antigas e começou a procurar por novas.

Um sorriso, um mistério...

Ninguém parecia notar a bagagem que ela carregava, ninguém parecia notar sua mudança, ninguém parecia notá-la. Todos pareciam ter se esquecido dela. Invisível, talvez fosse melhor assim. Existia porém, a saudade dos holofotes, de ser o centro das atenções, de ter as pessoas perguntando sobre a vida dela.

Olhando para trás, tudo lhe parecia um sonho agora. A mesa dos populares, as conversas, as saídas, as amizades. Um mundo construído de maquiagem, pessoas maquiadas e moldadas conforme o que a sociedade dita. Um mundo de glamour, que esconde a feiura de cada um. Um mundo que parece um sonho, mas que se não se tomar cuidado pode virar seu maior pesadelo.

Um sorriso, várias lembranças...