— A-LI-CE! - Minha prima Charbitten grita me balançando. - Você quer se atrasar no seu primeiro dia de aula na escola nova? - Char senta na ponta da cama esperando eu me levantar.

— Na verdade, eu adoraria! - Disse fingindo uma breve animação enquanto virava a cabeça no travesseiro. Char me olhou inpacientemente:

—Alice, eu vou contar até três e se você não se levantar eu vou jogar um balde de água fria em você! - Ela provavelmente estava mentindo, isso não seria modo de tratar sua prima.

—Um... Dois... TRÊS! - E no três eu senti água gelada congelando minha pele, estava morrendo de frio, me sentia congelada. Imagina você morar no Canadá, que já é muito frio, e ainda por cima receber um balde de água fria em sua pele, aí já era demais.

Corri para o banheiro, liguei o chuveiro no quente e fiquei ali embaixo, me esquentando e ao mesmo tempo cheia de indagações sobre como era a escola nova, como eram as pessoas de lá e se o conteúdo era difícil, e pensava inúmeras vezes no motivo que me trouxerá ao Canadá: Eu não aguentava mais meus pais.

Eles brigavam e se ameaçavam de morte na MINHA frente desde que eu era muito pequena, eu tinha que ouvir e presenciar cada uma dessas situações. Até o primeiro ano do Ensino médio, que foi quando finalmente ganhei a permissão de meus pais para morar com a minha prima, que era a única que tinha uma mente semelhante á minha e me compreendia.

E eu fazia absoluta questão de não manter contato com os meus pais, é claro que eu os amava mais... Eu não sei se eles me amavam e amavam um ao outro, porque realmente não era isso que parecia.

Encerrei meu banho em meio á esses pensamentos, coloquei uma blusa de manga comprida de um pug vomitando arco-íris, uma calça de moletom quentinha, 5 kg de agasalho (brincadeirinha 2 kg) e um All Star azul.

Sequei meus cabelos negros, e penteei-os fio por fio, tomei café correndo com a Char, escovei os dentes, peguei minha mochila, e fomos para a escola.

O trajeto foi curto porque a escola era bem próxima do apartamento em que a Char morava, e graças a Deus nossos vizinhos eram tão velhos que chegavam a ser surdos e não ouviam ela ouvindo Lady Gaga no volume máximo, pois é, minha prima não é uma adolescente normal.

Quando paramos em frente á escola, eu travei, estava com medo de dar o primeiro passo e desabar, estava com medo de não conseguir fazer amigos, de ficar em recuperação e ter que repetir de ano.

Mas eu lembrei, que independentemente do que acontecesse, minha prima estaria ao meu lado, e isso me deu forças para seguir em frente e dar o primeiro passo.

E eu sabia que ele não teria mais volta.