Sinto-me leve, tão leve que poderia dizer que estou voando. Tento, de todas as formas, abrir meus olhos. Não consigo abrir, estão pesados. Minha cabeça parece que vai explodir. Como se estivesse pesada. Levanto a cabeça com certa dificuldade, na metade do caminho a cabeça tomba de volta a cama. Tento mais uma vez levantar, dessa vez eu consigo me sentar na cama. O quarto gira, e depois de um tempo tudo volta ao seu lugar.

O que aconteceu comigo? Não faço nem ideia de como eu vim parar na minha cama. Esforço-me para tentar lembra.

Uma briga com Plutarch. Saí correndo de casa. Fiquei sem rumo no meio da rua. Achei um rumo. Procurei refugio na casa de Haymitch. Haymitch estava bebendo. Ele não me deixou beber. Eu insisti. Ele me deu aguardente, à contra gosto. Haymitch ria de alguma coisa. Eu era essa coisa. Alguém bate na porta. Calor. Tiro minha blusa. Peeta entra na cozinha. Ai meu Deus, Peeta me vê sem blusa. Ele retira a bebida de minha mão. Eu tento pegar a bebida dele. Ai meu Deus, o quê que fiz? Peeta me leva para casa. Eu faço manha para Peeta ficar.

Tudo passa como um flash, algumas partes passam borradas. Não me lembro de muitas coisas. Espero não ter feito nada demais.

Sobressalto da cama quando ouço um barulho vindo da escada. Não faço a menor ideia de quem seja, mas corro para o banheiro, só de pensar que pode ser Peeta me apavora.

Quando eu fecho a porta do banheiro ouço a porta do quarto sendo aberta.

— Katniss? – Ouço a voz de Peeta. Ai meu Deus, e agora?

— Eu estou no banheiro. – Digo gaguejando.

— Você está bem?

— Sim, eu só vou me arrumar.

— Tudo bem, eu espero você na cozinha.

Não quero aparecer na frente de Peeta, não agora. Eu não sei o que eu fiz ontem. Meu Deus, o que eu faço agora?

Depois de refletir por muito tempo, e tentar lembrar o que eu fiz, eu saio do banheiro já arrumada. Respiro fundo, bem fundo, e saio porta a fora. Desço a escada o mais devagar possível, ouço barulho das panelas na cozinha e me encaminho até ela. Sento a mesa tentando fazer o mínimo de barulho possível. Mas parece que não deu muito certo.

— Oi. – Diz ele. Ele me olha de um jeito diferente, isso me deixa envergonhada. Fico sem jeito em olhar nos seus olhos, mas parece que ele procura olhar em meus olhos.

— Oi. – Falo meio sem jeito.

— Você se sente melhor?

— Melhor? Melhor por quê? – Sério, Katniss? Não tinha algo melhor do que se fingir de besta?

— Você não se lembra de nada? – Ele pergunta rindo. Ai meu Deus, o quê eu fiz pra ele está rindo?

— Olha, Peeta, eu não sei o que eu fiz ontem, quer dizer, não tudo. Mas também não quero nem imaginar, então me desculpa por qualquer coisa. – Falo abaixando a cabeça envergonhada.

Sinto ele se aproximar, mas me recuso a levantar a cabeça. Peeta se abaixa ao meu lado e respira fundo. Sinto suas mãos pegando em meu queixo e levantar minha cabeça, fazendo com que eu olhe para ele.

— Você não precisa se desculpar. – Ele diz olhando diretamente nos meus olhos. Estamos tão perto que posso sentir sua respiração bater em meu rosto.

— Eu... – Não consigo me concentrar no que falar. Essa aproximação mexe comigo. Ele olha diretamente para meus lábios e depois para meus olhos, me perco naquela imensidão azul, que nesse momento está como o céu calmo, com um brilho que não posso explicar. Assusto-me ao sentir seus lábios tocarem nos meus, um toque leve e doce, antes que eu possa fazer alguma coisa Peeta se afasta e dá um sorriso que me deixa sem ar.

— Não precisa falar nada. – ele vira e sinto meu rosto esquentar, depois volta a preparar o café.

Fico perplexa, sem saber o que fazer, sem nenhuma reação. Quem ele pensa que é? Ele não tem o direito de fazer isso comigo, não pode brincar com os meus sentimentos assim e também tem Delly. Ele está com ela, não podia ter feito isso, eu não sei o que fazer e nem o que pensar. Sinto a pressão das lágrimas em meus olhos.

— Você... Você não podia ter feito isso. – levanto e as lágrimas descem pelo meu rosto.

— Katniss, eu... – ele se aproxima e limpa minhas lágrimas.

— Não! Não faz isso. – falo me afastando e indo para a sala. Sinto-o vindo atrás de mim, quando chego perto do sofá viro para ele. – Peeta, por favor, vai embora, agora! – falo mais alto na última parte.

— Não, Katniss, eu não vou te deixar aqui. – fala ele chegando perto de mim, ele se aproxima tanto que posso sentir sua respiração. Isso me confunde. Afasto-me dele para não fazer algo que não posso.

— Por favor, Peeta, vai! – falo olhando para o lado. Ele chega perto novamente e coloca a mão em meu rosto e vira para olhar em seus olhos, fico perdida em seu olhar.

Fico tão perdida que não sinto quando ele chega perto a ponto de nossos corpos estarem a centímetros. Essa aproximação me deixa louca, olho para seus lábios e me seguro para não voar neles. Eu não posso fazer isso, Peeta está com Delly e seria errado de minha parte fazer isso com ela. Depois de pensar o quanto errado seria me afasto dele, porém ele se aproxima ao mesmo tempo fazendo com que nós dois caíssemos no sofá, ele por cima de mim.

Meu coração acelera que parece que vai sair pulando para fora de meu corpo, posso sentir seu coração do mesmo jeito. Peeta olha diretamente em meus olhos e já não estou mais ciente do que estou fazendo. Peeta se apoia em um braço levantando uma parte de seu corpo e a outra mão coloca em meu rosto, acariciando até chegar em meus lábios e contornar eles com seus dedos gélidos. Não posso mais evitar, passo meus braços por seu pescoço e o puxo para perto de mim fazendo nossos lábios se tocarem. Sinto um choque percorrer todo meu corpo, um choque que me faz falta, acho que esperei por esse momento há muito tempo.

Peeta acaricia meu rosto me fazendo ficar mais tranquila. Ele pede passagem com a língua e eu abro a boca para lhe dar passagem, o beijo se torna de leve e doce, para um beijo cheio de saudades e amor. Com as mãos em sua nuca acaricio seus cachos o puxando para mais perto. Sinto sua língua percorrer minha boca como se quisesse novamente a conhecer, essa é a melhor sensação que pode se sentir. Por precisar de ar nos separamos lentamente, continuo de olhos fechados até sentir sua mão em meu rosto, abro os olhos e o encontro um par de olhos azuis me encarando.

— Katniss, eu... – ele para de falar ao ouvir o som da campainha. Saio do meu transe e percebo o que acabei de fazer. Meu Deus, Peeta está com Delly, eu não podia ter feito isso. Empurro Peeta de cima de mim e sento rapidamente.

A campainha toca novamente e Peeta me olha confuso, olho para Peeta depois levanto e vou abrir a porta. Peeta levanta e vem atrás de mim, quando abro a porta me deparo com Delly Cartwrigth com um sorriso de orelha a orelha. Sinto uma culpa me consumir ao ver ela parada na porta.

— Oi, Katniss. – Ela sorri alegremente para mim.

— Oi. – falo sentindo meu rosto esquentar, eu tenho a certeza de que estou vermelha. Peeta sai de trás de mim e Delly sorri e lhe dá um abraço. Não posso evitar sentir raiva ao ver essa cena, eles poderiam pelo menos sair daqui.

— Peeta, vamos logo, eles já chegaram. Não vejo a hora de você conhecer eles! – Ela fala agitada e vejo um sorriso aparecer no rosto de Peeta. Ela vai apresentar os pais dela para ele?

— Até mais, Katniss. – Peeta sorri e vai com ela.

Ele se foi como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse rolado beijo nenhum. Talvez não tenha acontecido nada para ele. Penso isso ao ver Delly pular em seu pescoço quando eles estão na frente de sua casa. Entro antes que as lágrimas escorram e subo para meu quarto. Estou completamente confusa.

POV Peeta.

Depois que saio da casa de Katniss para ver os pedreiros que vão reconstruir a padaria Delly me enche de perguntas ao perceber que Katniss ficou vermelha e o sorriso bobo em meu rosto.

— Vai, Peeta, me diz o que aconteceu. – ela pede fazendo uma carinha de pidona.

— Não aconteceu nada, Delly. – falo tirando as chaves do bolso para abrir a porta. Mas ela entra na minha frente antes que eu abra.

— Fala, senão não vamos sair daqui.

— Está bem – suspiro – Nós nos beijamos.

— Ai meu Deus. – ela pula em meus braços. – Não brinca. Estou muito feliz por você. – Ela sorri e entra na casa pulando de alegria.

— Menos, Delly, foi só um beijo. – sento no sofá e suspiro. – Ela não me ama.

— Ah não, então me diz por que ela te beijou?

— Pela emoção do mento.

— Não tem nada a ver, Peeta. Você deveria se declarar para ela. – Ela me olha com ternura.

— Eu já fiz isso varias vezes, ela sabe que eu a amo. – Falo lembrando o beijo na praia.

— Mas você não falou depois que foi telessequestrado pela Capital. – Sinto uma agonia percorrer meu corpo ao ouvir falar isso.

— Você quer que eu faça o quê? – dou uma pausa e levanto. – Que eu chegue e diga, Eu amo você.

POV Katniss.

Preciso resolver isso, não pode ficar assim. Peeta não podia ter feito isso com Delly, sei que a iniciativa foi minha, mas ele poderia ter parado. Decido-me e levanto da cama para ir à casa de Peeta. Saio de minha casa e vou caminhando devagar até a casa de Peeta, preciso criar coragem durante o caminho. Quando chego perto da casa de Peeta vejo que a porta está aberta, me aproximo de sua casa e ao chegar à porta posso ouvir que eles estão coversando. Peeta fala alguma coisa com Delly que não consigo ouvir, chego mais perto para poder ouvir.

— Eu amo você. – Meu coração erra todas as batidas ao o ouvir falando isso. Realmente o beijo não significou nada para ele.