Miles Apart escrita por rutepim


Capítulo 27
Love Hurts


Notas iniciais do capítulo

Obrigado fofinhas. Hoje o capitulo é uma verdadeira seca, mas espero que gostem Beijinhos



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(Maria Madalena/ Lisboa / 29 de Novembro de 2009 / segunda-feira / 14:21)


Andava à pelo menos uma hora pelas ruas de Lisboa, tentando arranjar coragem e força para poder enfrentar os meus amigos. Os meus amigos que já não via há três anos e, que me tinha andado a esquivar durante semanas. Ignorava telefonemas e, não retornava mensagens.
Eles podiam ser os meus melhores amigos, mas sabia que se os voltasse a ver iriam haver muitas perguntas, às quais eu não quereria responder. Pois tudo girava à volta do assunto tabu: Ele.
Haviam também outros assuntos pendentes, como eu nunca ter acabado oficialmente com o Pedro. Sim, esse era um grande problema. E se ele quisesse voltar? Eu amava-o, mas apenas sentia amizade por ele.
Deixei-me pensar nos prós e nos contras de uma visita a casa da Maria, onde todos deviam estar a minha espera. Prós: iria matar as saudades que tinha de todos eles e, provavelmente, se eu pedisse, podiam-me ajudar a esquecer. Contras: demasiadas perguntas, escassas respostas.

Que se lixe! - Gritei, fazendo com que as pessoas que se encontravam na rua, me olhassem de lado.

Comecei a correr pelas ruas, tendo como destino a casa da Maria. Não era longe do sítio em que me encontrava, por isso preferi ir a pé do que apanhar um táxi.

***
Respirei fundo antes de tocar a campainha da grande vivenda branca à minha frente.

Ainda podes voltar atrás. – Uma voz gritou dentro da minha cabeça – tu não estás preparada – continuo –, nunca vais estar – finalizou gritando ainda mais alto.

Comecei a andar para trás, deixando que essa voz que eu havia imaginado, se decidisse por mim.

Entra, estamos todos à tua espera. – Consegui ainda ouvir a Maria dizer.

Tinha de fazer uma escolha. Entrava ou fugia? Não podia ser assim tão cobarde ao ponto que até uma voz, que não existia, conseguia ter mais poder sobre mim, do que eu própria.
Soltei uma gargalhada como há muito tempo não o fazia. Credo. Eu precisava mesmo de uma psicólogo, pois até já conseguia imaginar vozes.
Enquanto me dirigia para o interior da casa, ia soltando varias gargalhadas e, bastante sonoras. Sempre tinha achado muita piada à minha desgraça.
Bem, o que é que eu tinha a perder? Iríamos falar dele, que cliché! Tudo na minha vida parecia que ia dar a ele. Podia doer mais? Podia, mas só tinha que me começar a habituar. Ainda tinha o psicólogo e os comprimidos, como alternativa a tudo isto.
Ele era famoso, iria sempre o ver: em revistas, na televisão, em placares gigantes, na Internet, etc. Já não importava. Se tivesse de viver sem ele, ao menos que vivesse em grande.
Quando dei por mim, já estava no grande sótão à frente de todos eles. Rafa, Maria, Pedro e Gonçalo. Quando os vi cessei as gargalhadas e, deixei um pequeno sorriso esboçar-se nos meus lábios. Observei cada um, mas rapidamente cheguei a uma conclusão: todos eles tinham mudado bastante.
A Maria continuava com há dias atrás, linda e loira.
A Rafa estava mais alta e mais magra. O seu cabelo castanho havia crescido e, os traços do seu rosto tinham-se modificado bastante, mantinha o seu ar de criança mas com traços de mulher. Olhei-a nos olhos e sorri, sendo correspondida com um sorriso luminoso.
O Gonçalo estava um homem bonito. O cabelo maior e mais despenteado. Os seus traços de homem assentavam-lhe perfeitamente e, o seu corpo mais definido. Tinha crescido quase meio metro. Mostrei-lhe a língua, fazendo-o soltar uma gargalhada.
Por ultimo, olhei o Pedro. O meu Pedro. Quer dizer, tecnicamente ele ainda era o meu Pedro, mas no coração, já havia sido trocado à muito tempo. Estava mais loiro, muito mais loiro. E alto. Mas de resto, continuava a ser o mesmo Pedro de sempre. Alto, bonito, loiro e, agora, um homem. Lancei-lhe um sorriso, que eu própria não o entendi, pois era uma mistura de saudade, felicidade e desassossego.

Tive saudades vossas. – Deixei escapar, fazendo-os sorrir abertamente.

Todos se levantaram e alcançaram-me para abraçarem. Sorri com vontade. Estava finalmente nos braços dos meus amigos, depois de três anos sem ele. Sem os desabafos, sem os abraços, sem os momentos bons e os maus. Eram eles… eles.

Como estás? – Perguntou-me a R, depois de muitos abraços e beijos.

Olhei-a fixamente, enquanto me sentava num dos sofás pretos, entre o Pedro e a Maria. Era suposto mentir e dizer que estava tudo bem, ou dizer a verdade, que a minha vida estava uma perfeita porcaria.

Bem. – Optei por mentir, tentando falar com uma voz firme. – Super bem. – Conclui, mas logo me arrependi, pois tinha sido demasiado irreal.
Que grandes ferias han? – O Gonçalo falou, tentando animar o ambiente. – Como foi? – Perguntou entusiasmado.

Todos me olharam, mas preferi encarar o chão. Era muito mais apelativo do que quatro pessoas com um olhar de interrogação estampado no rosto.
Era agora que estava, literalmente, a morrer por dentro?
Não me parece!

Não vamos querer falar sobre esse assunto pois não? – Perguntei, ainda fitando o chão.
Pim, passas-te mais de três meses enfiada no quarto sem receber ninguém. – Disse a Maria, bastante exaltada.
Importante lembrar que o fizeste, depois de teres passado três anos numa ilha perdida no Atlântico. – Continuo a R, enquanto se sentava num dos sofás a minha frente.
E olhasse para a tua e, podemos ver que está tudo menos “super bem”. – Disse o Gonçalo, fazendo com os dedos aspas na última parte.
Nós queremos saber o que é que se passa contigo e, o que se passou na ilha. – Finalizou a R, exigindo.

Levantei o rosto e, olhei para o Pedro. Mas rapidamente desviei o olhar, pois ele também me fitava. Estava espantada por ainda não ter ouvido a sua voz.
O que deveria dizer a ele? Eu não queria dizer nada, porque o pensamento positivo com que tinha entrado aqui tinha ido pelo cano a baixo. Sabia que não conseguiria aguentar a dor. Eu poderia aguentá-la, como de há três meses para cá o fazia, mas falar dos tempos felizes que estive com ele, iria certamente acabar comigo.
Mas por outro lado, qualquer dia teríamos de ter esta conversa, por isso mais valia ser o quanto antes. Adiar a dor nunca tinha sido um bom caminho a seguir.


O que é que querem que eu diga? – Perguntei, levantando-me do sofá e, os olhava a todos eles. – Que estou super feliz? Não, não estou. Querem que eu descreva os momentos que passei na ilha? Desculpem, mas não o conseguirei. – Levei as mãos aos olhos e, limpei as lágrimas que se haviam formado. – Eu amei e fui amada, todos os dias durante três anos! – Olhei para o Pedro e, reparei que o seu rosto estava vazio, sem qualquer demonstração daquilo que estaria a pensar – Dois anos! – Gritei. – E agora de um dia para o outro fico sem o… Bill. Foi ele que me protegeu, que não permitiu que eu desabasse. – Continuei, deixando as lágrimas serem derramadas, não me importando sequer em limpá-las. – Queriam o que? Que viesse ter convosco, quando o que eu mais queria era apenas estar com ele? – Gritei, mandando os braços para o ar. – A minha vidinha deprimente, já nem sentido tem!

Olhei-os atentamente, enquanto limpava as lágrimas. Todos eles me olhavam também, espantados. Não liguei a qualquer reacção deles e dirigi-me a mesa do canto, para poder pegar na minha mala e ir embora.

Tenho psicólogo agora, vou indo. – Declarei, com uma voz débil e ainda com lágrimas a caírem-me pelo rosto.

Sem olhar para trás uma única vez, saí porta fora e corri, para ver se a dor ia embora, até ao consultório.

***
Era um consultório luxuoso em tons de castanho e creme, dando uma sensação de bem-estar. Sim, bem-estar era tudo o que eu precisava agora.
Estava sentada num dos sofás de veludo à espera que me chamassem, para entrar. Já aqui me encontrava à pelo menos meia hora e, a espera estava a dar cabo de mim.
Quando pensava em ir-me embora, uma senhora de aspecto esquizofrénico sai de uma porta, seguida de um senhor bem parecido, que vestia um fato cinzento-escuro. A senhora dirigiu-se à porta de saída e, o senhor veio até mim.

Maria Madalena De Melo Amadeus? – Inquiriu, ao qual eu respondi com uma aceno positivo. – Siga-me por favor. – Pediu gentilmente.

Fiz o que o senhor mandou, entrando pela porta e deparando-me com um consultório muito diferente da sala de espera. Era espaçoso e em tons de preto, creme, lilás e vermelho, continha uma secretária e ao meio dois cadeirões em pele.
O psicólogo pediu que me sentasse e, assim o fiz. Ficando a olhar para ele.
Passaram-se cinco minutos, desde que entrara e, não havia dito nada. Era suposto ser eu a dizer alguma coisa? Era é que era o psicólogo aqui, eu era apenas a paciente maluquinha que precisava de ser tratada.
Quando o psicólogo viu que eu estava a ponderar ir-me embora, decidiu começar a falar.

Então diga-me porque é que está aqui. – Disse e, pude ver que o seu tom de voz era doce mas ao mesmo tempo profissional.
Se quer que eu lhe diga, nem eu própria o sei. – Declarei, sentindo-me particularmente ridícula por ter aceito a proposta da minha mae para vir para aqui.
Por algum motivo foi, não acha? – Perguntou.
Pois, se calhar. Mas porque raio hei-de falar consigo se não falo nem com os meus amigos sobre o assunto? – Perguntei num tom alto, mas mais para mim do que propriamente para o psicólogo.
Eu sou um desconhecido e, não a vou julgar nem opinar. – Declarou e, a partir daqui comecei logo a gostar do senhor.
Então, para que é que o senhor serve? – Interroguei descaradamente, sentindo um sorriso a aflorar-me nos lábios.
Para a ajudar. Mas se quer que lhe diga nem eu próprio sei porque. – Disse, com um sorriso jovial.

Sorri com algum esforço, tentando ganhar coragem e lançar-lhe toda a minha história. Talvez os pormenores não fossem necessários, se calhar só precisava do mais importante.

Eu estive três anos numa ilha com um rapaz e, apaixonei-me por ele. – Confessei, sentindo as entranhas a arder – Agora fiquei sem ele e, parece que nada mais faz sentido.
Continue. – Pediu suavemente o psicólogo.

E a partir daí, comecei a contar toda a minha história com o Bill. Sentindo sempre que a qualquer momento iria explodir de dor. Mas mantendo também sempre o mesmo pensamento: tinha de ser forte e, tentar ultrapassar tudo isto.

“Love hurts, love scars
Love wounds and marks
Any heart not tough
Or strong enough
Take a lot of pain
Take a lot of pain
Love is like a cloud
And it holds a lot of rain
Love hurts, (ooooo) love hurts”

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Notas finais do capítulo

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