Crônicas de Arkauss escrita por Annonnimous J, Aline Shintaku


Capítulo 10
Capítulo 10 - Finalmente um reencontro


Notas iniciais do capítulo

Fala galera! Então, mais um capítulo da história, dessa vez com a volta de uma personagem muito importante. Espero que gostem, abraços!



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 O dia nasce graciosamente no horizonte, os raios de sol iluminam as nuvens que vagueavam sem direção pelo céu do reino, a vegetação que rodeava o vilarejo parecia mais viva aquele dia, tremulando com a leve brisa como se reverenciassem toda a paisagem. Connor acorda preguiçosamente no quarto da hospedaria e fica bons minutos fitando o teto de madeira e telhas de barro sem se levantar e sentindo o corpo um pouco dolorido por ainda não ter se acostumado com a armadura nova.

 Sua cabeça estava confusa com os acontecimentos da noite anterior: por um lado ele se sentia feliz, pois finalmente estaria com Luna de novo e dessa vez por mais tempo. Ele se perguntava há muito tempo como ela estaria agora, se sentia a sua falta como ele sentia a dela ou se estava forte como sempre, seguindo a sua vida e talvez se aventurando nas costas de algum cavalo de quando em quando.

 Mas ao mesmo tempo a outra face da moeda aparece, envolta em cabelos loiros como ouro e olhos de um azul que só o oceano parecia ter igual. A imagem da princesa surge em sua mente e logo a noite passada volta à tona. O calor do corpo de Susana em seus braços, o sabor suave de sua boca, sua voz aveludada e sua expressão de vergonha, tudo isso voltava ao pensamento do jovem como uma torrente, afogando-o nas ondas de seu próprio mar de pensamentos. Ele procurava os afastar da melhor maneira que conseguia.

 De um salto, ele se levanta da cama e pega a tina para se lavar, não podia deixar que algo como aquilo deixasse o seu dia melancólico, não em um dia tão importante quanto aquele, em que ele finalmente veria a sua protegida, aquela que ele tanto queria bem. Ele se divertia ao imaginar como reagiria ao saber as boas novas. Mais ainda, Connor não podia evitar de pensar como ela reagiria ao ver seu brasão na armadura do rapaz.

 Focando nisso, ele logo termina o seu banho infelizmente gelado e se arruma rapidamente, vestindo novamente a lustrosa e imponente armadura com o símbolo da águia no peito e encaixando seu escudo com esmero em suas costas, deixando a espada descansar em sua cintura.

 Assim que termina os preparativos, ele abre a janela e deixa o vento soprar em seu rosto, o dia estava realmente ensolarado e as ruas movimentadas. Alheio a isso, ele desejava sair logo daquele lugar, o caminho seria um pouco longo até seu destino e ele queria aproveitar o máximo de seu tempo para ficar com Luna, afinal, ele não a via há um bom tempo.

 Connor se despede do dono da hospedaria e coloca seus pertences na garupa do seu animal, que hoje parecia tão animado quanto o dono, às vezes Connor pensava que ele podia ler a sua mente, tamanha era a sincronia entre os dois.

 - Vamos parceiro – diz o cavaleiro subindo no cavalo – hoje veremos como ela está, sei que você também está preocupado.

 O animal relincha como se entendesse as palavras e se vira para a saída do pequeno vilarejo que rodeia o palácio das Rosas. Connor monta ao ajeitar suas coisas e inicia seu trote ritmado até os limites da cidade, assim que o alcança, seu coração dispara, tinha esperado por muito tempo pelo momento em que poderia cavalgar novamente.

 Ele se ajeita e em um rápido movimento de pernas dá o comando para o animal avançar, disparando em uma velocidade ascendente à medida que se distanciavam da cidade.

 O cavaleiro observa a planície a sua frente o rodeando como se fosse o engolir. Para onde olhava, havia uma plantação ainda rasteira, uma árvore ou outra coisa raramente aparecia para se destacar do verde das gramíneas baixas e vivas. Porém o que ele realmente via eram outras coisas que vez ou outra chamavam sua atenção, lugares por onde passara sozinho ou acompanhado de sua amiga, mas principalmente os que ele dividira com sua protegida. Do meio do borrão verde que parecia enxergar, destacou-se o caminho que passou rapidamente com o “Demônio de Guerras”, uma simples estrada sinuosa de terra que marcava o campo verde. Connor sente um arrepio ruim ao se lembrar de tudo o que passou com aquele homem.

***

 O tempo passava de uma maneira fora do comum para Connor, concentrado apenas no trote ritmado do animal que o acompanhava. A paisagem pouco variava no caminho, então ele não pôde ter grande noção da distância que percorrera com exatidão, mas com certeza foram boas horas de cavalgada. O animal parecia cansado, mas tão determinado quando seu companheiro.

 Então, uma silhueta familiar se desponta no meio do verde quase nauseante de folhas e gramíneas, uma árvore com um riacho ao lado, era lá que ele tinha passado bons momentos com Luna e um dos maiores sustos também, mesmo que por pouco tempo. Connor imagina como teria sido ter perdido a sua protegida por um instante e aquilo o atinge de uma maneira inexplicável. Afastando esse pensamento da cabeça, eleguia o cavalo de encontro com a árvore e para à sua sombra agora projetada de folhas envelhecidas e levemente vermelhas, simbolizando que o fim de mais uma estação estava próximo. Dando um descanso ao animal, que toma água diretamente do riacho com uma sede incrível, o jovem desce e tira alguma comida que ele comprara anteriormente para a viagem, se sentando ao lado da árvore logo em seguida:

 - Tome velho amigo – diz ele esticando o braço com um punhado de feno ao cavalo que parava agora de beber água – um pouco de feno para você e um pouco de cereais para mim, devem ser o suficiente para matar nossa fome por agora.

 O sol ia alto no céu, e por isso ele resolve esperar um pouco para seguirem viagem até o próximo vilarejo, ele conhecia um atalho que poderia encurtar o caminho mesmo sendo um pouco difícil de trespassar, então um pouco de ócio não lhes faria mal algum. Ele se encosta na árvore e fecha os olhos, tudo que ele passou nos últimos meses lhe vem à cabeça, desde a sua viagem para participar de um teste que se tornou um convite para a guarda real, o encontro com a bruxa, o treinamento duro nos campos de treino do palácio e o beijo inesperado da princesa Susana, esse último ainda vivo em seus pensamentos, o que o deixava envergonhado e de certa forma feliz ao mesmo tempo.

 Depois de algum descanso, a saudade volta a lembrar Connor de sua viagem e ele logo se coloca de pé, pronto para montar o seu cavalo, que estava se refrescando na água. O cavaleiro bebe um pouco de água de um cantil que trazia consigo, e coloca a espada na cintura, prestando atenção aos detalhes. Queria fazer uma surpresa para ela, estar apresentável para mostrar que foi duro, mas ele conseguiu o que queria, mas talvez, mesmo que inconscientemente, lá no fundo, ele queria mostrar que agora era capaz de protegê-la, como ninguém nunca o fez.

 Em questão de minutos estão os dois companheiros indo em direção do vilarejo em que Luna estava, Connor sentia o cansaço do animal, então não o forçou a andar mais rapidamente, pois mesmo sendo mais curto, o caminho pelo atalho era desgastante, pois passava por uma pequena floresta, cheia de nascentes de água e pedras. Ele podia vê-la de onde estava, ainda emergindo por entre a linha arredondada do horizonte, o que sinalizava que a viagem estava caminhando para seu desfecho.

 Sem demora, adentraram o bosque de interior rochoso que serviria de atalho para eles. Dentro dele, para onde se olhasse, árvores de diferentes dimensões os rodeavam, formando uma manta verde-amarelada que os isolava do mundo exterior. Enquanto andavam, o som dos cascos do animal nas rochas ecoava, contrastando com um silencio agradavelmente fresco e o canto de pássaros que se amontoavam nas árvores, curiosos e temerosos, revoando de tempos em tempos assim que o cavaleiro e sua montaria se aproximam. O solo era irregular, com pedras, fazendo com que o cavalo mude sua trajetória muitas vezes enquanto tenta vencer a trilha que cortava a floresta de uma extremidade à outra.

 O caminho ficava hora mais difícil, hora mais fácil, junto a isso, a manta verde dificultava a noção da passagem do tempo, então o rapaz tenta apressar o amigo da forma que pode, sem exagerar. Depois de muito caminhar, Connor vê uma luz há alguns metros de si, ele agradece aos céus e apressa o animal, que espantava com o rabo de forma irritada os mosquitos que teimavam em tentar picá-lo no traseiro. Para a felicidade de ambos, em questão de minutos saem de dentro da floresta e já são recebidos pela bem-vinda visão do vilarejo adiante logo após o suave vale, o que os anima a continuar.

 Connor e o cavalo se apressam em chegar logo, o sol estava começando a se pôr e ele queria achar Luna antes disso.

 Não muito depois chegam ao lugar. O vilarejo não tinha mudado nada, as mesmas casas baixas e simples e a mesma animação do povo que dava para se escutar de longe, tudo moldado em ruas e passeios sinuosos adornados de pedras lisas ou mesmo de solo puro que recortavam a cidade por todo o lado. Assim que Connor adentrou vilarejo, as pessoas que por ele passavam o encaravam curiosas, pareciam já saber que se tratava de um guarda real, classe de guerreiros muito respeitada e temida pelo povo. O jovem achou aquilo engraçado, mas ainda se sentia constrangido com tantas pessoas o olhando. “Talvez não tenha sido uma boa ideia usar a armadura” pensa ele, mas já era tarde.

 Descendo do cavalo, Arkauss se dirige para a hospedaria em que Luna estava, seu coração começa a acelerar de expectativa e quase pula pela boca quando alguém o puxa pelo escudo repentinamente vindo de dentro da multidão que o cercava, por um reflexo o jovem agarra o punho de sua espada, mas ele logo a solta ao ver quem era:

 - Pelos céus, vejam se não é o senhor Arkauss – diz um homem grisalho alto e forte – lembra-se de mim?

 - Poderia ser... – Começa Connor estreitando os olhos para reconhecer o homem– o dono da hospedaria!

 - Quem bom que se lembra de mim – diz o homem abrindo um largo sorriso – pelo visto se tornou um guarda real efetivamente agora.

 - Sim, consegui essa proeza – diz o jovem ainda constrangido – vim para ver...

 - Luna? – corta o homem grisalho ainda sorrindo.

 - Muito previsível? – Diz o jovem sem jeito.

 - Deveras – responde o homem – aposto que não viria para visitar um homem velho como eu. Ela está lá dentro, é uma ótima garota! Está trabalhando comigo agora, tenho sorte por isso, minha hospedaria nunca esteve tão bem arrumada. Sabe, não sou mais tão jovem, então alguns serviços agora me são difíceis de fazer. Mas entre, entre! Ela vai gostar da surpresa, é tão calada...

 Connor mal pôde falar diante da enxurrada de palavras do homem enquanto ele o guia até a porta da hospedaria, onde é deixado sozinho enquanto o mesmo volta à multidão se gabando por hospedar um guarda da mais alta realeza quase aos berros. O jovem ri disso olhando por cima do ombro. Deixando seu cavalo amarrado no mesmo troco, ele desce suas coisas e acaricia o animal, que balança e se apreça a comer o feno deixado no colchete logo a frente. Entrando pela mesma porta rústica, não demora muito para escutar o som de algo se mexendo em um quarto, ele anda vagarosamente para evitar ser ouvido e para na porta.

 Dentro do quarto, agachada limpando o chão, estava ela, vestida com uma saia escura adornada de babados de um tom azulado escuro que lhe cobria até os tornozelos. Acima da cintura, uma blusa também escura quase totalmente escondida por um avental branco de bordas também com babados que provavelmente foi dado pelo dono da hospedaria. Na cabeça, usava um lenço branco segurando seus curtos cabelos para trás, isso a fazia parecer uma autêntica aldeã, o que estranhava o rapaz, mas ainda sim caia bem nela.

 Ela parecia mais bonita que antes. Com a luz do sol poente entrando pela janela, os fios de cabelo roxo de Luna pareciam reluzir um brilho roxo brando, bonito, quase gélido, assim como uma noite de inverno ou a folha de uma flor de lótus. Nunca antes ele havia notado isso. Seu rosto, sério e fechado, mesmo sujo deixava transparecer a sua beleza pura, quase angelical, contrastando com lindos olhos castanhos que com a luz do sol, agora pareciam mais claros e mais profundos, como se pudessem sugar o jovem cavaleiro para outra dimensão. Assim que ela se levanta para pegar algo na mesa, Connor se vê logo atrás dela, como se seu corpo tivesse se movido sozinho sem que ele percebesse. Ela ainda não havia percebido o homem, muito ocupada em fitar o ambiente que acabara de arrumar e tirando alguns fios de cabelo que lhe caíam pelo rosto, olhando direito para os dois era possível perceber que ela estava mais saudável e tinha crescido um pouco desde a última vez que se viram, mas Connor ainda era levemente maior que ela.

 - Espero não estar incomodando – diz Arkauss em um tom sereno logo atrás dela, o que a faz dar um pequeno salto para frente – vim ver uma amiga.

 Luna se vira rapidamente e arregala os olhos, a visão do cavaleiro a assusta de primeiro momento, mas assim que vê seus longos cabelos negros caídos nos ombros, ela o reconhece:

 - Co-Connor? – Gagueja ela ainda assustada – você veio...

 - Sim – responde ele sorrindo – estava com saudades de ti, queria ver como está e talvez, passar algum tempo com você novamente, se quiser.

 Ela sorri timidamente, mas era visível que a notícia a alegrava muito, ela logo abaixa o rosto e fita as suas roupas:

 - Desculpa, eu estou...

 - Está linda! – atalha Connor de uma maneira abrupta, pegando de surpresa ela e a ele mesmo – E parece mais feliz desde a última vez que nos vimos. Como você está aqui?

 - Bem. – Responde ela um pouco mais friamente do que queria sem saber o motivo, confundindo o rapaz – Estou bem, estou trabalhando aqui, então tenho um teto agora.

 - Que bom que está bem. – Responde o cavaleiro meio encabulado, pensando que tinha dito algo ruim – Fico feliz com a notícia, quero que se sinta feliz aqui.

 - Eu estou bem – responde ela agora olhando-o diretamente nos olhos – eu também fico muito feliz com a sua vinda Connor, eu também... Também senti... Saudades suas.

 Connor se alegra com o que a jovem diz, ele a queria muito bem, então saber que ela está feliz por tê-lo ali com ela, era mais que um privilégio. Ele abre os braços e ela se aninha em seu peito em um abraço tímido, mas quente. Nesse momento ele percebe que ela olha para a armadura do jovem com certa curiosidade e seus olhos brilhavam:

 - A águia...

 - Sim. - Responde o cavaleiro tocando o animal gravado no metal – Agora somos protegidos pelo mesmo animal, o que acha?

 - Que ele vai ter bastante trabalho.

 Os dois riem.

 Luna parecia muito feliz com a homenagem que o jovem fizera e Connor estava radiante ao ver o rosto de sua protegida brilhar daquela maneira. A mulher oferece um jantar e o jovem logo aceita, faminto, mas teria de ser depois que ela se lavasse. Como ele também estava com essa mesma vontade, concordou com a proposta.

 Connor se oferece para levar os utensílios de limpeza para a moça, que insistentemente recusa, querendo levar ela mesma. Com muito custo ele a convence e ela os entrega, ainda a contragosto. Carregando as coisas, o jovem as empilha perto do balcão na entrada da hospedaria, onde também se registraria.

 - Não se preocupe meu rapaz! – Fala o dono que chegava.

 - Mas eu vou passar um tempo considerável por aqui – insiste o jovem incomodado pela oferta do homem – seria injusto não pagar pela minha estadia.

 - Mas você já está pagando meu rapaz, e há muito tempo.

 Connor levanta uma sobrancelha e cruza os braços.

 - Veja – o homem continua, achando graça do gesto do rapaz – você me trouxe a melhor ajudante que um velho como eu poderia ter, e além do mais escolhe a minha hospedaria para ficar sempre que vem a esse vilarejo, tem ideia de quanta propaganda você fez só por esse ato, ainda mais por ser um guarda real?

 Por algum motivo o rapaz sentia que essa propaganda do homem vinha desde antes de sua nomeação.

 - Mas ainda sim...

 - Ora, pense nisso como você ficando na casa de um amigo Connor – o homem para – posso te chamar de Connor? Ou prefere Cavaleiro Real de Lihlium?

 - Apenas Connor está bom – responde o jovem sem conseguir conter o riso com o homem. – Nesse caso, como devo lhe chamar? Não cabe bem a um amigo chamar o outro de “senhor”.

 - Nesse caso, me chame pelo nome também – o homem estende a mão direita para o jovem como se fosse a primeira vez que se falassem. – Prazer, meu nome é Edward Lawford, pode me chamar de Edward.

 Connor resolve entrar na brincadeira.

 - O prazer é todo meu, me chamo Connor Arkauss. – Diz ele cumprimentando o homem – Pode me chamar de Connor.

 - Agora, Connor, se me der licença eu vou à venda, se precisar de algo não hesite em me avisar.

 - Agradeço a boa vontade, digo o mesmo – responde o jovem.

 - Na verdade tem algo que eu queria lhe pedir... – diz o homem passando a mão pela nuca sem jeito.

 - Se puder falar para seus amigos cavaleiros que se hospedem aqui quando passarem por essas bandas, eu agradeceria.

 - Lhe prometo que o farei, meu bom amigo – responde o rapaz, era impressionante como Edward não perdia uma oportunidade para fazer negócios.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Espero que tenham gostado! Mais capítulos vindo logo, então fiquem ligados. Abraços!



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