Thorns escrita por Kamereon


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, pessoal!



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Entrei em casa com todos me recebendo calorosamente. Minha mãe e meu pai não paravam de falar o quanto estavam com saudades de mim, e é claro que eu estava com muitas saudades deles e de toda minha família, mas não gostava quando eles diziam isso. Sentia-me culpada por não aparecer lá durante todos esses anos, mas ao mesmo tempo eu me sentia bem por ter conquistado tudo o que conquistei, mesmo que não tenha sido muito.

Assim que vi Ino, dei um abraço muito apertado nela. Minha irmã sempre foi minha confidente, e estávamos tanto tempo sem conversar que, só naquele momento pude perceber realmente quanta falta me fazia. Vi meu sobrinho Inojin, filho de Ino e Sai, que já tinha completado quatro anos. Estava tão grandinho e lindo! A coisa mais fofa do mundo! Lembrava-me muito Ino quando era pequena.

– Preciso falar com a senhorita, viu? – Eu disse à Ino. Agora entendo porque Sasuke foi me buscar. Ela era uma das únicas que sabia da minha paixonite por ele no passado. Eu tenho certeza que tentou armar pra nós.

– Eu não fiz nada, eu juro!

– Ah, tá! Sei. O Sasuke, de todas as pessoas, foi me buscar no meio da estrada, e você não tem nada a ver com isso? Conta outra, dona Ino.

– Sakura, ele era um dos poucos funcionários da oficina que estavam disponíveis no momento... O que eu podia fazer? – Ela disse inocentemente, mas não me enganaria assim tão fácil.

– Pois você podia ter pedido pra qualquer outro funcionário me buscar, menos ele!

– Que horror, Sakura. Desde quando você passou a abominar tanto o Sasuke, hein? Que eu me recorde, há uns anos atrás não era assim.

– Garota, cuida do seu filho e do seu marido, ok? – Eu disse, fingindo começar uma briga e dando uma risadinha depois.

– Seu noivo que não vai gostar de saber que você esteve com Sasuke, não é? – Ela disse.

– Ele não precisa saber desse detalhe. Aliás, ele nem sabe da minha "história" com Sasuke. Sasori é ciumento, nem me atrevo a contar.

– Você não contou nada sobre Sasuke? Nossa, você não confia no seu noivo?

– Ah, não é assim. – tentei me explicar – Eu disse que eu tinha um amigo muito próximo por aqui, mas que acabamos nos distanciando. Contei só isso, e não deixa de ser verdade. Afinal de contas... Uma história de verdade entre nós, nunca aconteceu.

– Hm, tá. Bom, vamos logo ao velório. Mamãe e papai já estão lá, só falta a gente.

Não é um lugar assim tão legal de ir. Um enterro, quero dizer.

Porém eu me senti bem lá, de certa forma, por ter revisto tantas pessoas, muitos colegas e familiares distantes. Estávamos todos tristes pela perda do vovô, mas sabíamos que ele estava sofrendo aqui. A morte para ele foi como se estivesse descansando de tudo que passou devido à doença, e sentíamos certo alívio em saber que ele não sofreria mais.

Na hora do enterro, em pleno cemitério um "encosto" se aproximou de mim.

– Já contou pro seu namorado que você vai ter que passar mais uns dias aqui na cidade? – Sasuke perguntou com um sorriso sacana. Com toda certeza estava perguntando apenas pra saber se eu tinha namorado ou não, porque ele não sabia sobre Sasori. Era aquela história de "jogar um verde", mas ele ia acabar "colhendo maduro".

– É, o meu noivo não vai gostar. – Percebi que ele ficou sem graça quando eu disse aquela palavra. Até que me senti bem por ele ter ficado sem graça, sabe, é aquele lance de orgulho muito forte. – Se eu fosse você, eu consertaria logo aquele carro porque meu noivo é bravo.

Notei que ele fez um “tch”, logo depois que se afastou. Quem ele pensa que é?

–--x---

– Mãe, tem um colchão pra mim? – Perguntei. A noite já havia chegado e eu queria dormir, tinha acordado muito cedo e passado por altas emoções naquele dia. Meu corpo clamava por repouso.

– Filha, eu vou ser sincera... Eu não sei onde você vai ficar.

Hã?

– Como assim?

– Bom, meu quarto e do seu pai está cheio de bagunça por causa da nossa sala. Você viu que nossa sala está em reforma, não é?

– E a Ino? – Perguntei inconformada.

– Ela dorme no antigo quarto de vocês com o Sai e o Inojin, o apartamento que eles tinham alugado foi pedido de volta pelo proprietário. Você não tem como ficar em algum hotel por essa noite?

O que? Eu não tinha dinheiro o suficiente pra pagar um hotel. Talvez eu até tivesse, mas se usasse provavelmente ia ter dificuldades para pagar o meu aluguel e a prestação do carro. A minha vida não era um mar de rosas, como muitos pensavam. Eu até poderia tirar da minha poupança... Mas não queria mexer naquele dinheiro. É pra emergências!

– Querida, por que não fica lá em casa? Temos um quarto sobrando! - Escutei uma mulher falar, e ela me soava muito familiar. Só depois de um minuto a encarando, que lembrei. Cabelos negros, sorriso doce... Ai meu Deus! Era a mãe de Sasuke! Ela era confeiteira, tinha ido até a casa dos meus pais levar alguns doces e acabou ouvindo a nossa conversa.

Obvio que não...” pensei, já criando uma desculpa na minha cabeça para negar a oferta dela. Eu iria usar o dinheiro da poupança. Definitivamente iria.

– Claro! Que boa ideia, Mikoto! – concordou minha mãe.

Como é que é? Mãe! Como você pode falar isso?!

– Ela pode ficar lá, não é filha? – continuou.

Minha mãe estava empolgadíssima com a ideia, como se tivesse resolvido um grande problema.

"Não, mãe. Não posso. Eu durmo no banheiro, mas não vou pra casa do Sasuke!" tive vontade de dizer. Quantas vezes será que eu vou ter vontade de dizer as coisas e vou fingir estar tudo bem?

Depois de muito insistir – muito mesmo – minha mãe e a Sra. Uchiha conseguiram me convencer a ir me ficar naquela casa... Tão próximo da pessoa que eu fugi durante seis longos anos. Eu só podia estar maluca quando aceitei essa proposta. Isso não ia dar certo.

Sasuke’s P.O.V.

Ela vinha pra minha casa! Eu não podia acreditar. Parte de mim se sentia feliz por que minha única e melhor amiga de infância partiu há muito tempo e agora teria a chance de tê-la bem perto de mim. Mas por outro lado, eu estava decepcionado e zangado por ter que vê-la e tentar agir como se nada tivesse acontecido.

Eu tinha raiva dela, é claro! Quem ela pensa que é pra ir embora do nada, me deixar seis anos sem notícias, e voltar assim, sem mais nem menos? Garota atrevida. Mas eu não ia brigar e nem exigir explicações. Não acho que seja ideal agir assim.

Não era só essa situação que era estranha... Eu mais uma vez me sentia esquisito. Igual a quando éramos adolescentes. A presença dela fazia com que eu não soubesse se era boa e ruim. Era sufocante quando ela aparecia, mas relaxante em seguida. Quando a vi na estrada me senti um pouco orgulhoso por ver que ela havia mudado, parecia muito adulta e segura de si. Havia me esquecido que ela já tinha vinte cinco anos, e não mais seus quinze, dezesseis. Porém, me deixou aborrecido o fato dela nem parecer se importar com a minha presença ali. Não que eu me importasse em demonstrar claramente, lógico. Tudo bem que eu reclamei com ela no carro por estar sumida, mas ela encarou aquilo com naturalidade, como se soubesse que é meu jeito de dizer “bem vinda de volta”.

Ela finalmente chegou acompanhada da minha mãe, e eu desci as escadas com a desculpa de que iria ajudá-la com as malas. Eu vi de manhã que ela tinha apenas uma mala de tamanho médio, que podia muito bem carregar sozinha, mas fingi que tinha esquecido desse detalhe só pra poder descer e ver aquela cena.

– Filho, você pode levá-la até o antigo quarto do seu irmão?

– Claro, mãe. – sorri. Notei que ela rolou os olhos discretamente, mas não me incomodei muito com isso.

– Vocês devem ter muito o que conversar, eram tão amigos e passaram tanto tempo sem se ver, não é Sakura? – minha mãe sorria para ela.

Sakura parecia muito cordial com a minha mãe balançando a cabeça positivamente, mas mesmo com o tempo algumas coisas não haviam mudado. Eu sabia que ela estava sendo educada, mas estava odiando aquela situação, a conhecia muito bem. Só queria entender ao certo o motivo dela odiar estar na minha casa. Será que era por causa do tal noivo dela? Não, a Sakura que eu conheço não se afastaria dos amigos por causa de um relacionamento. Pelo menos era assim antes dela partir...

– Acho que agora a Sakura quer dormir, mãe. Ela chegou muito cedo hoje. – eu disse.

– É, como ele disse, eu quero só descansar um pouco. – concordou comigo, porém de jeito seco.

– Então suba querida, acho que deve se lembrar da casa. Pode ficar à vontade!

E então subimos. Olhei mais fixamente pra ela por um instante e notei como ela havia mudado. Ganhou corpo, usava roupas diferentes das roupas simples que usava quando morava aqui, e o cabelo dela estava um pouco mais curto. Pelo menos ainda estava cor de rosa, sorri ao pensar nisso. Sua expressão não era mais de uma adolescente, mas sim de uma mulher feita. Senti-me vulnerável quando paramos na frente do quarto e ela olhou pra mim, dizendo:

– É aqui, não é?

– Ah, sim. – Eu disse.

– Então, boa noite. – Ela se virou e abriu a porta.

– Sakura! - a chamei, e ela se virou para me ouvir. Acho que fiquei vermelho na hora, mas espero sinceramente que tenha sido uma impressão minha. – É bom te ver de novo. Boa noite.

E me virei para o meu quarto, que era logo à frente. Nem quis ver qual seria a reação dela diante das minhas ultimas frases. Me deitei na cama, achando-me um retardado por ter dito aquilo. Se eu fosse ela eu daria risada de mim. Que droga! Por que essa garota me deixa bipolar? Ela tem que ir embora. Vou consertar o carro dela logo de uma vez pra ela voltar pro "noivinho" dela.

–--x---

Na manhã seguinte lá estava ela, sentada na mesa da cozinha sozinha, pois minha mãe já tinha ido trabalhar.

Ela usava um babydoll e um hobby mais comportado por cima. Dali, eu podia ver a renda cor de rosa do babydoll dela no decote do hobby, e isso me deixou um pouco... Fantasioso. Mas logo tratei de afastar esse pensamento da minha cabeça, Sakura era uma mulher comprometida.

E além do mais, era a Sakura! Não era qualquer mulher, era aquela garota que fazia campeonato de arroto comigo no colegial. As coisas sempre aconteceram, e sempre vão acontecer de outra maneira entre eu e ela. Sempre foram tipo assim:

– Nossa, quando foi que você virou mulher? Você dormia de calça e camiseta de futebol uns anos atrás, parecia um garoto. – Eu disse, sentando de modo desleixado à mesa também.

– Cala a boca, Sasuke. – Ela me olhou com uma cara bem feia. Não estranhei, afinal eram oito horas da manhã e Sakura nunca dava um sorriso de verdade antes das dez.

– Hoje eu vou à cidade ver se consigo comprar a peça do seu carro. Só porque você é uma cliente especial cheia de compromissos. – A última frase foi em tom de deboche, óbvio.

– Hm, ok. Espero que você conserte isso de uma vez. – Ela disse se levantando.

O que aconteceu depois foi no mínimo inusitado. Sakura não sabia que eu e minha mãe tínhamos um gato agora. Quando ela olhou para o chão e viu o bichinho ela levou um susto e quase pisou no rabo dele. Entre o susto e o desviar do rabo do gato, houve um grito, um desequilíbrio e quando dei por mim havia um belo par de coxas sobre as minhas pernas. Acho que eu comecei o dia bem! Não é todo dia que uma mulher de babydoll cai sentada no colo de um homem solteiro como eu, não é mesmo? Isso soava pra mim como preces atendidas. A segurei firme pela cintura para que ela não caísse, devido ao impacto da "queda", e acabamos ficando bastante próximos um do outro. Ela baixou a cabeça na intenção de desviar o olhar do meu, e então nesse momento eu pude sentir a respiração dela contra o meu peito, na parte desabotoada da minha camisa.

Meu Deus. Ela é comprometida. Ela tem um noivo. Sasuke, se concentra. Vamos lá, cara. UM NOIVO.

– Belas coxas. – Eu disse com um sorriso bastante discreto, mas não imperceptível. Eu não deveria dizer isso, mas acho que acabei pensando alto demais, o que não era comum da minha parte. Cadê seu autocontrole, Uchiha Sasuke?

Achei que apenas eu estava sentindo aquele calor dos infernos queimar meu corpo por inteiro, mas notei que o rosto dela corou até ficar da cor de um tomate, e em seguida levantou do meu colo rapidamente, subindo as escadas correndo e bufando escandalosamente. Não pude evitar e acabei rindo sozinho.

–--x---

Assim que saí de casa fui para oficina, e disse que ia na cidade vizinha comprar uma peça pra um cliente.

– Eu vou com você, preciso encomendar umas peças também. – Sai disse.

No caminho, enquanto eu dirigia o caminhão, notei que ele ficava me olhando estranho. Com um sorriso esquisito, sei lá. Eu já estava ficando meio sem graça e com medo de que ele pudesse me atacar. Que eu saiba, ele era hétero. Tinha uma esposa e um filho, mas o jeito que ele me olhava me deixou um pouco confuso sobre isso.

– Que foi cara? – Eu finalmente perguntei.

– Você está indo comprar a peça do carro da Sakura, não é? – Ele disse, ainda com a mesma expressão.

– Hm... Sim. – Eu respondi normalmente.

– Como está sendo com ela lá na sua casa, hein? Eu me lembro de como vocês eram amigos na adolescência.

– Ah, normal, nada de mais. – Omiti o fato de que eu havia tido uma bela visão das coxas dela logo pela manhã. – Mas, por que esse sorriso pervertido?

– É porque sabe... Tá na cara que vocês sentiam alguma coisa um pelo outro. Eu me lembro perfeitamente de vocês juntos há uns anos atrás, era muito óbvio. E agora já somos todos adultos, eu pensei que finalmente você tivesse deixado de ser molenga e pudesse acertar logo as coisas com ela.

Espera aí. Eu ouvi direito? Vamos analisar a fala do Sai por partes.

Primeiro, ele disse "está na cara que vocês sentiam alguma coisa um pelo outro". Ok, isso foi um choque. Segundo, ele disse "eu pensei que finalmente você tivesse deixado de ser molenga e pudesse acertar logo as coisas com ela". Qual das duas frases é mais absurda? Eu não aguentei, dei uma gargalhada muito alta, não duvido que a pessoa do carro ao lado tenha escutado. Impressionante como direta ou indiretamente, Sakura já havia me feito rir duas vezes e ainda estávamos de manhã!

– Só ouvi absurdos, Sai. O que sua mulher anda colocando no seu café, hã? Drogas? – Perguntei brincando, ainda rindo.

– Só disse o que a cidade inteira acha e que ninguém nunca teve coragem de dizer.

Chegando à loja, Sai foi atrás do gerente para fazer as encomendas e eu fui atrás da bobina específica para o carro da Sakura. Procurei no corredor certo, eu tinha certeza disso, porém não encontrei. Procurei em mais um ou dois corredores onde possivelmente a peça poderia estar, quem sabe alguém havia trocado as sessões, mas ainda assim não encontrei a maldita bobina.

– Com licença, será que vocês têm no estoque alguma bobina pra esse modelo de carro? - Perguntei a um rapaz com uniforme da loja, entregando um papel com as especificações do modelo do carro dela.

– Desculpe, mas estamos em falta desse modelo, teve uma grande demanda por esses dias. Mas você pode encomendar se quiser. - Ele me respondeu.

Fiquei tenso com isso. Procurei Sai e ele ainda estava falando com o gerente, por isso tive tempo de incluir o meu pedido na lista dele. Depois que saímos da loja, eu fiquei mudo por um tempo. Sentei no banco do motorista, coloquei o cinto de segurança, e firmei as minhas mãos no volante.

– Aquela mulher... Quando eu chegar em casa, ela vai virar o demônio. – Desabafei.

– Você fala como se fossem casados. – Sai riu de mim.

– Vai continuar com esse assunto? Ponho você pra fora do meu caminhão.

– O caminhão é da oficina, não seu. – Ele respondeu, discutindo feito criança.

Depois que chegamos, continuamos com o nosso dia de trabalho normalmente, e pra falar a verdade eu desejei um pouco que aquele dia não terminasse nunca e eu não tivesse que voltar pra casa para encarar a fera. Se ela já não gostou quando eu disse que ia demorar uns três dias, imagina só quando ela souber que vai demorar mais ou menos uma semana.

Cheguei e já fui colocando no rosto a expressão mais inocente que eu poderia ter. Encontrei o quarto que ela havia ocupado com a porta entreaberta, e pude ouvir ela falando no celular.

– Eu sei, amor. Mas o que eu posso fazer? Eu vou ter que esperar. – Ela dizia. Devia estar falando com o tal noivo. - Eu também sinto sua falta. Qualquer novidade te aviso, está bem? Eu também te amo. Tchau.

A minha expressão de inocência no rosto imediatamente deu lugar a uma expressão de nojo. Eu não gostava nem de imaginar Sakura com outro homem. Mas enfim, um recado precisava ser dado, e eu não podia adiar esse momento. Torci para que saísse daquele quarto vivo, e bati suavemente na porta.

– Ah, é você? - Ela disse. Dessa vez não parecia tão hostil.

– Sim, eu preciso dar um recado.

– Diga. - Ela deu espaço para que eu entrasse.

– Bom... Eu fui comprar a peça do seu carro hoje mais cedo, e as coisas não correram muito bem como eu imaginei. – Percebi ela ficar séria, e aí comecei a ficar com medo. Tomando todo cuidado do mundo para me mostrar impassível, claro. - A loja não tinha a peça que seu carro precisa, por isso eu tive que encomendá-la. O carro deve demorar um pouco mais pra ficar pronto.

– O que?! – Ela disse, elevando o tom de voz. Os olhos dela se arregalaram e eu senti que minha morte estava próxima. Tive vontade de me encolher um pouco por causa da fúria rosada em minha frente, mas me mantive firme. – Quanto tempo?

– Em torno de uma semana.

– Uma semana? UMA SEMANA?! Você acha o quê? Que eu tenho tempo pra perder nesse lugar? Acha que eu não faço nada da vida? E por acaso só existe essa loja na cidade? Mas que tipo de oficina é aquela que demora uma semana pra arrumar o carro de um cliente? – Ela gritava e gesticulava com as mãos. Eu juro que não sei o que deu em mim, mas quando percebi, eu a tinha pego pelo braço e aproximei bem meu rosto do dela, olhando diretamente em seus olhos.

– Escuta aqui garota, eu estou fazendo meu trabalho honestamente, ok? Eu não tenho culpa se você mora na capital e agora está acostumada a ter tudo o que quer na hora que acha melhor, as coisas aqui são diferentes e você sabe muito bem disso, e sim, aquela é a única loja de peças automotivas da região. Eu poderia comprar qualquer peça e fazer um serviço porco só pra não ter que aturar mais as suas frescuras de gente da cidade grande, mas eu não sou um funcionário desse tipo. Agora para de fazer escândalo e comece a aproveitar a estadia, se é que você ainda se importa com as pessoas daqui. - Eu terminei de falar, soltando os braços dela e deixando-a sem reação. Não, não me deixei levar pelo cheiro bom que ela exalava ou pela aparente maciez dos seus lábios, muito menos por aquele olhar que sempre parecia doce. Aquele era o momento em que ela me tirou do sério, mas foi de uma maneira ruim, pra ser honesto, foi péssima. Como ela podia falar daquele jeito desse lugar que ela sempre amou?

Na verdade até eu fiquei sem reação depois daquilo tudo, mas eu fui ficar sem reação lá no meu quarto, e não na frente dela. A atitude dela sobre a nossa cidade vem me irritando desde que ela chegou. Aquela não era a Sakura que eu conhecia.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a quem tem lido, e tmb a quem tem comentado. Espero q continuem gostando *--*