Ela corria desesperadamente, procurando por todos os lados. Aquela chuva forte só atrapalhava sua visão e se misturava com suas lágrimas. Aquela noite parecia ainda mais escura e tenebrosa. Além de preocupação, havia dor física. Não agüentava mais correr, parou, tossindo descontroladamente.

     

Escondida perto dali, a garotinha molhada só assistia a cena. Viu sangue, sua mãe deitando na poça daquela rua deserta. De repente a tosse parou e só se pôde ouvir o som da chuva batendo furiosamente no chão. E depois, nenhum movimento.

Nenhum movimento para sempre.
     

“Eu vi o que ela viu. Senti o que ela sentiu.
          Sei o que você fez.

     Espero uma resposta e uma solução.
Com amor,
     Suzie.”


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     Eu pensava que não poderia estar mais feliz! Estava finalmente me mudando daquele prédio barulhento/apartamento minúsculo. O melhor de tudo é que agora moro perto do David e da Jéssica!
     
Meu nome é Suzie, tenho 15 anos. Minha família é composta por eu, meu pai e meu irmãozinho Adrian de 2 anos.
     
Minha mãe sempre foi muito carinhosa, ela me amava muito e sempre adorou crianças. Não sei ao certo o porque, mas ela teve muitas dificuldades pra engravidar depois de mim. Após muitos anos de tentativas teve o Adrian e por seu amor, faleceu no parto.
     

Depois disso, meu pai tem trabalhado muito. Ele parece não entender que não é só ele que está sofrendo com tudo isso.
     

Por falar nele, foi trabalhar no dia em que nos mudamos, eu fiquei no meu quarto arrumando minha coisas, desempacotando tudo.

Decidi ligar para Jéssica e chamá-la para conhecer minha nova casa e me ajudar a arrumar minhas coisas. Quando passei pelo quarto de Adrian, ele estava sentado virado para a parede. Estranho.
     
     Adrian não fala. Duas ou três palavras, talvez. Mas ele nos entende bem, ele é esperto apesar deste problema. Já o levamos a pediatras e fonodiologos, mas parece ser algo normal, há crianças que demoram para começar a falar.
     

Liguei para Jéssica e ela aceitou vir na hora. Como agora moramos perto ela chegou em poucos minutos. Jéssica e David são meus melhores amigos, estudamos juntos há 2 anos. Prometemos ficar juntos e nos divertir um pouco nessas férias.

- O que deu no Adrian? – Jéssica falou após nos cumprimentarmos e subirmos pro meu quarto.

- Eu não sei, está assim já a um tempo. – Falei, começando a sentir preocupação. – Adrian?

Ele olhou para mim, sério.

- Ta tudo bem?

Ele sorriu que sim, e apontou para a parede. Não tinha nada ali.

- Já sei! Adrian ganhou um novo amiguinho imaginário! – Falou Jéssica sorrindo, com sua cara de quem sempre sabe de tudo. Chegou mais perto e abaixou-se perto do Adrian. – Não é isso?

Adrian fez que sim e em seguida não com a cabeça.

- Ué, é uma amiga, então?
Ele sorriu largamente e levantou o polegar em aprovação.
- Como é o nome dela, Adrian?
- Bala!

Ok, Adrian já havia falado a palavra bala outras vezes, ele adora doces! Mas quem sabe essa “Bala”, sua nova amiga, seja uma boa. Talvez Adrian fale outras palavras.

Eu e Jéssica voltamos para o meu quarto e acabamos de arrumar tudo.
- Que tal chamarmos o David? – Jéssica sugeriu.
- Boa ideia !
     
     Adrian ainda estava virado para a parede. Já estava assim há horas. E não falava nada. Isso é muito estranho, ele nunca foi de ficar muito tempo parado.
     
Ligamos para o David. Ele disse que chegava em 5 minutos. Exatamente 10 minutos depois, ele chegou.

- E-então é aqui que você mora ? – Ele pareceu estremecer um pouco, mas como estava vindo de bicicleta, achei que fosse o cansaço.

- é! Gostou? Entre!

Ele não falou nada. Mas quando entrou na casa algo estranho aconteceu. Ouvimos barulhos de panelas vindo da cozinha e um grito alto e agudo.

Quando olhamos para trás, Adrian estava lá. Parado na sala de estar olhando para nós três. Ele tinha lágrimas no rosto, mas estava sério.

- Adrian, ta tudo bem? Porque você gritou?
Ele só ficou parado. Por um ou dois minutos, ninguém falou nada.

Então, Adrian foi para o canto da sala e se sentou de costas para nós.