– Vamos retardada! Saia da minha frente!

– Olá otária!

– Seu animal, você é estranha.

– Por Deus, não se aproxime.

Essas palavras eram dilema do meu dia a dia normal.

Eu já tinha me acostumado, ou achei que tinha me acostumado a lidar com isso e com tudo mais.

Um novo dia significa um novo remédio, mais drogas no meu organismo para me fazerem mais calma,exatamente como eu devo ser.

Eles não dizem que eu tenho que sair, eles me obrigam a sair.

Eu não entendo o bem que a luz do sol fará a mim se meia hora depois eu voltarei para meu confinamento, minha prisão física e mental.

Eu sou a mais nova daqui, eu sou a única que conseguiu ficar louca com apenas 18 anos. Mulheres que falam sozinhas, outras que imaginam estar junto de fadas e criaturas mágicas. Quem dera meu problema fosse esse.

Sento – me no chão, abraço meus joelhos e observo tudo a minha volta. E horrível estar aqui, é horrível ser quem eu sou no momento.

Mas eu devo ser uma boa menina, uma boa menina, uma boa menina...

– Meu filho esta aqui, achem – no...

– Anna sua danadinha, pare de correr desses rapazes e vamos sair para dançar...

– O meu navio já vai partir! Corram meninas...

As vozes a minha volta me dão vontade de gritar. Tampar os ouvidos e gritar, mandar todas calarem a boca e me deixarem em paz, me deixarem livre.

Tampo os ouvidos e espero que tudo passe.

Sinto uma mão em meu ombro. Abro meus olhos e vejo o sorriso agora sujo de batom vermelho de Beth.

– Vamos indo meu doce, esta tudo bem.

Meus passos são pesados, minhas pernas parecem sacos de areia, meus olhos estão turvos, minha cabeça começa a latejar.

O gosto de bile sobe por minha garganta, isso é tão horrível, é doentio ficar aqui.

Deito – me em minha cama esperando que tudo passe e que eu caia no sono que tudo desapareça.

Beth fala que eu estou febril, ela coloca um termômetro depois faz mais centenas de coisas até ela furar minha veia. Sinto o soro frio e repugnante circular dentro de mim até eu apagar.