Em seus últimos dias de vida, a mulher mais importante de toda criação chorava sozinha em uma cama. Seu cabelo, que um dia já fora o mais lindo dos ruivos, caía sem vida sob o travesseiro. Ela se sentia inútil. Em todo seu tempo, o que tinha feito? Nunca teve filhos, viajou ou trabalhou no que queria. Agora todos os que já se importaram com ela estavam mortos. No fundo, ela nunca temeu a morte. O que sempre a deixava com medo, era na verdade a vida. Era nunca ter a chance de fazer o que queria, conhecer lugares diferentes, ajudar alguém. Nunca ter a chance de ser feliz. E por isso ela chorava. Ela só era mais uma entre milhares.

A mulher estava tão infeliz que não ouviu o estranho barulho, como um ruido repetitivo, que veio de sua sala. Pouco tempo depois, um homem entrava em seu quarto. Ele já tinha o cabelo grisalho, era alto e usava uma roupa estranha, preta e vermelha. Ela tinha certeza de nunca te-lo visto antes, mas algo no seu jeito era familiar. O modo como ele parecia carregar todo peso do universo nas costas, e mesmo assim mostrava um pequeno e reconfortante sorriso. A mulher percebeu que ele também estava chorando.

Aquele estranho se aproximou e sentou no canto da cama. Ele não disse nada, apenas sorriu e segurou a mão envelhecida da mulher. E então tudo voltou para ela, em uma onda de memórias.

Naquele momento ela lembrou. Lembrou de como salvou aquela família em Pompeia. Lembrou de resolver mistérios com a própria Agatha Christie, de salvar todos na biblioteca e o mundo inteiro varias vezes. Lembrou de um povo que até hoje canta canções lindas sobre ela. Lembrou de ser a mulher mais importante de toda criação, e de ter vivido as coisas mais incríveis que o universo pode oferecer.

Em seus últimos momentos, Donna Noble olhou para seu velho amigo e companheiro de aventuras e sorriu, agradecendo por tudo. Esse era o ultimo presente que ele poderia lhe dar.