O Beijo da Rosa escrita por Belle


Capítulo 1
Capítulo 1




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Antes de começarmos, seria importante explicar-lhes que este não é um conto sobre princesas e cavaleiros qualquer. Não começa com um “Era uma vez” e não termina com um “E viveram felizes para sempre.”. Na verdade, não posso-lhes dizer com certeza absoluta como termina essa história, ninguém poderia confirmar com exatidão como tudo termina. Mas eu, como um bom descendente de cavaleiro, creio que as coisas tenham se ajeitado para o bem.

Pois bem, tudo aconteceu na época medieval da história. Na Idade Média. Aquela época de castelos, princesas prometidas a grandes príncipes e cavaleiros em guerras.

Existiu uma princesa, nesta época, que se chamava Rose. E seu nome havia-lhe sido dado propositalmente por conta de sua graciosidade. A beleza daquela moça carregava a leveza e a força que uma rosa carrega. Seus olhos eram azuis como o céu na primavera, seus cabelos eram louros como as pétalas de um girassol e seus lábios avermelhados como uma verdadeira rosa. Mas o que encantava a todos era seu sorriso. Ah, este era indescritível. Rose trazia a alegria consigo mesma no sorriso. Seus dentes eram perfeitamente brancos, eram como a imensidão branca das nuvens. E quando seus lábios vermelhos contrastavam com o branco de seus dentes, formando um sorriso completo e cheio de vida, o reino todo sorria junto.

A beleza de Rose era tão grande, que atraía príncipes de todo o mundo, mas seu pai, o grande Rei Montert II, estava encarregado de escolher o homem para quem entregaria sua filha. Após meses de longas viagens, visitando castelos de diversas partes do mundo, conhecendo vários moços jovens, que se encantaram por sua filha, a escolha foi feita. Montert II escolheu Gregor, um príncipe de 20 anos com cabelos castanhos, olhos verdes e pele clara. Era encantador, mas superficial. Rose olhava em seus olhos e não via sua alma, não via amor. Rose não o amava e Gregor definitivamente não amava a princesa. Porém, a mão da moça estava prometida ao príncipe e nada poderia ser feito para mudar isto, pois quando o Rei Montert II decidia algo, nada nem ninguém o fazia mudar de ideia.

A princesa implorava ao pai que mudasse seus planos, mas o homem em meio de certeza e angústia, dizia que casar-se com um nobre como Gregor só haveria de favorecer a vida da filha. Então, para que não surgissem maneiras de o destino ou talvez a própria moça acabarem com seus planos, o casamento fora marcado para dali dois meses. Rose casaria-se com Gregor em dois meses. Estava feito. Nada haveria de mudar isto. Apenas o amor, o verdadeiro.

O reino Canter, de Montert, passava por tempos sombrios, tempos de guerras. E tudo também por causa do amor. Na época da juventude de Montert II, prometeram-lhe a mão de Marcelia, sua Rainha. Mas havia uma disputa pela mão da moça, uma disputa entre Montert e Arthur. Ambos eram perdidamente apaixonados por ela e por conta disto, seu nobre pai lhe dera o direito de escolher com qual gostaria de passar o resto de sua vida. O coração de Marcelia escolheu Montert II. A partir desde momento, Arthur passou a odiar Montert e também Marcelia. E após 20 anos, invadiu o reino Canter com exércitos de cavaleiros muito bem treinados. Arthur dizia que era sua vingança por ter entregado seu coração à Marcelia e ela tê-lo despedaçado tão cruelmente. Dizia também que acabaria com aquela “porcaria” de reino e mataria a princesa Rose, o fruto do amor de Marcelia com Montert II.

Sabendo que Arthur tentaria matar Rose, Caius, o conselheiro do Rei, levou a garota para o outro lado do castelo. Um lado pouco frequentado, que serviria de esconderijo até que as buscas terminassem. Lá a princesa passava seus dias tranquilamente, sem perigos. Nenhum inimigo havia descoberto aquele lado do castelo. Tudo corria como o planejado, até que um cavaleiro em especial mudou os planos. Frederich, um homem de cabelos negros, pele morena e olhos castanhos. Um homem de fibra, um homem forte, um cavaleiro real, um dos melhores. Após matar três outros cavaleiros, conseguiu entrar no castelo e lembrou-se das ordens de Arthur:

Encontre a garota.

– Mas como saberei quem é esta garota, senhor?

– No momento certo, você saberá. Quando encontrá-la, mate-a. Sua missão é acabar com o fruto da traição de Marcelia.

– Sim, Senhor.

Frederich sabia que a Rainha Marcelia não havia traído seu Rei, mas Arthur era seu mestre, seu Senhor, e o que ele dissesse era lei.

Então, com as ordens de seu Rei em mente, percorreu todo o lado leste do castelo procurando a tal garota que deveria assassinar. Suas buscas não tinham sucesso, não encontrava a princesa de jeito algum. Então, já sem esperanças, entrou no último cômodo do castelo que ainda não havia checado. Era uma sala vazia, que continha apenas um longo tapete vermelho estendido no chão desde a entrada até o outro lado da sala. Frederich enraiveceu-se. “Oras, estão brincando comigo?” Já furioso, percorreu a distância em que o tapete se estendia e parou de súbito em frente à parede. Não havia nada lá! Era uma simples parede de pedras acizentadas! Os olhos do cavaleiro percorreram novamente as pedras e só então notaram algo que sempre estivera lá; eram linhas que contornavam as pedras de cima a baixo. Formavam uma porta. Receoso, o homem encostou os dedos rudes no meio da tal porta e como em um passe de mágica, os blocos de pedra se moveram uns 3 centímetros para frente e depois moveram-se para o lado direito. A porta fora aberta. Frederich estava encantado com tal engenharia. “Isso deve ser magia!” Até hoje, ninguém sabe explicar como fora construído o tal portal. Mas continuando nossa história…

Frederich adentrou o cômodo, que se parecia com um corredor. Era cheio de portas, mas apenas uma lhe chamou atenção, uma porta no fim do corredor. O homem caminhou lentamente até ela e abriu-a com todo o cuidado possível. E assim, ele encontrou seu objetivo; a princesa. E Frederich sabia que era ela, pois recordava-se muito bem das ordens de seu Rei: “Quando vê-la, saberá quem é…”. E ele sabia. Os olhos azuis, profundos e misteriosos como o oceano a acusavam descaradamente. Normalmente era o sorriso de Rose que atraía os homens, mas em uma ocasião como aquela, Frederich nunca arrancaria um sorriso da pobre moça e nem precisava, pois para ele, os olhos assustados da princesa lhe trouxeram um sentimento anormal. O azul intenso daqueles olhos lhe faziam querer navegar naquele oceano, voar naquele céu azul, azul, tão azul. Aqueles olhos profundos. E por um momento, o cavaleiro esqueceu-se totalmente de seu objetivo principal. Esqueceu-se de que sua missão era matar a princesa. O que lhe importava agora era observá-la por todo o tempo que pudesse. A doçura dos traços de Rose trazia um alívio, uma leveza ao coração do cavaleiro, que moça alguma havia trazido antes.

Mas Rose já não sentia-se assim. O medo da morte dominara a moça. Um cavaleiro do reino inimigo permanecia intacto à sua frente, com certeza planejando o modo mais doloroso de lhe matar.

– Peço-lhe, nobre cavaleiro, que repense seus conceitos. Não sou o fruto de uma traição, sou o fruto de um lindo amor. Use a inteligência, que certamente tem. – Implorou a princesa.

Ouvindo a voz doce, cheia de força e ao mesmo tempo tão insegura, da garota, seu estado de hipnose se desfez e o cavaleiro pôde voltar à realidade.

– Perdão, princesa. – Começou fazendo uma reverência. – Minha intenção nunca foi assustá-la. – Sorriu sem jeito.

A voz do alto cavaleiro à sua frente era forte e rouca como um trovão, mas seu meio-sorriso fez com que Rose cai-se em um tipo de feitiço, um feitiço que lhe fazia desejar o som daquela voz para todos os dias restantes de sua vida. Aquele homem tinha uma beleza bruta, um sorriso encantador e uma voz confortante. E em questão de segundos, Rose e Frederich estavam na mesma sintonia tanto de pensamentos quanto de sentimentos.

– A que devo a honra de sua presença, cavaleiro? – Indagou com um leve rubor nas bochechas.

– Meu Rei deu-me ordens para que lhe matasse, mas a senhorita não me parece uma grande ameaça.

– E não sou! Não compreendo o porquê de um homem nobre como Arthur sentir tanto ódio de mim.

– O ódio dele não pertence diretamente à senhorita, princesa. O ódio dele vem de um coração partido. Meu Rei é um bom homem, só não soube lidar com o amor.

– Pois então este seu Rei depositou o ódio na pessoa errada, cavaleiro! Não mereço morrer, muito menos minha mãe!

– Ah, princesa, meu mestre nunca mataria a Rainha Marcelia ou o Rei Montert II. Meu Rei quer vê-los sofrer com sua morte.

– Oh, mas que crueldade! Cavaleiro, tenha piedade! Duvido que tenha sido treinado para matar princesas!

– Fui treinado para seguir as ordens de meu Rei. Mas a senhorita tem razão em parte. Não consta em minhas regras matar moças. O que posso fazer para ajudar-lhe?

– Veja bem, em dois meses me casarei com um príncipe muito rico e não morarei mais aqui. Dois meses! Não é um longo tempo! Faça com que seu Rei mude de ideia e deixe-me ir embora.

– Tentarei, princesa.

– Se conseguir, lhe serei grata eternamente. Mas, como posso compensar-lhe agora?

– Se puder me conceder um sorriso seu, já estará de bom tamanho.

Rose corou mais ainda e um sorriso escapou de seus lábios involuntariamente.

– Como imaginei... – Riu sem jeito.

– Cavaleiro, me daria a honra de saber seu nome?

O homem que já dava as costas, voltando à porta de pedra, virou-se e respondeu:

– Frederich. Meu nome é Frederich.

– E quando completar a missão que lhe ordenei, como saberei que a cumpriu?

– Procure-me no bosque além do campo. Estarei lá todas as noites.

– Todas as noites? Mas preciso que esteja lá durante uma, apenas!

– Oh, princesa… A senhorita sabe que não nos veremos durante uma noite apenas, não sabe? – O cavaleiro sorriu brincalhão e seguiu seu rumo.

E quem haveria de saber que Frederich estava completamente certo?! Na noite seguinte, já não suportando a ansiedade, ela decidiu visitar o misterioso cavaleiro Frederich.

Rose lembrou-se das instruções de Frederich. O bosque além do campo ficava fora do reino de Canter, e a única passagem para o mesmo, que não arriscasse a identidade da princesa ficava atrás do castelo. Era um buraco estreito nas muralhas que foi esquecido pelo tempo. Então, vestida da cabeça aos pés com uma capa azul-marinho, a donzela correu até chegar à cozinha real. As duas cozinheiras principais cochilavam sentadas em cadeiras de madeira. Em passos lentos, a moça atravessou o cômodo e chegou à porta.

A brisa da noite era fria e chacoalhava os fios louros da princesa, mas a sensação de liberdade era inigualável. Estreitando-se pela grande rachadura da muralha, Rose passou ao outro lado, sujando seu vestido com o sereno da grama. Estava feito! A princesa havia saído de seu reino, seu castelo. Então ela correu até que seus pulmões implorassem por calma.

Passando pelo campo aberto, ela entrou no bosque e logo avistou uma luz fraca por entre as árvores. Se aproximando mais, percebeu que eram chamas e logo concluiu que era uma fogueira.

– Princesa? – Uma voz grave lhe chamou. Rose virou-se de súbito e viu Frederich.

E naquela noite fria, em que o céu era iluminado apenas por estrelas e pelo luar, uma nobre princesa e um cavaleiro se apaixonaram tão intensa e verdadeiramente, que até as flores floresceram mais rápido sentindo o amor dos dois. Eles conversavam, compartilhavam histórias e entre um assunto e outro, trocavam olhares e beijos. Passaram horas sentados à frente da fogueira namorando as estrelas e planejando seus futuros, um ao lado do outro. E só quando o sol já começava a despontar no leste, Rose despediu-se de seu amado e correu de volta ao castelo.

E assim foi durante um mês. Sempre que as luzes do castelo se apagavam, Rose saía de fininho durante a noite e ia de encontro ao seu cavaleiro. Os dois faziam amor e beijavam-se intensamente. Faziam juras de amor um para o outro sempre que podiam. Frederich prometeu à sua princesa que a amaria além desta vida, que levaria uma rosa para todos os lugares em homenagem à Rose, para que pudesse lembrar do rosto de sua amada sempre que olhasse a flor. E Rose prometera-lhe que, mesmo que seu pai descobrisse o caso da filha com um cavaleiro inimigo, ela não deixaria que isto os afastasse de modo algum. As promessas foram feitas à luz daquela fogueira, a que Frederich acendia todas as noites.

Sem que percebessem, dois meses passaram-se e o casamento de Rose com Gregor aconteceria em menos de uma semana. Mas como ela poderia se casar com um homem a quem seu coração não pertencia? Duas noites antes de seu casamento, Rose correu novamente para os braços de seu amado e contou-lhe tudo novamente.

– Oh, minha princesa, sei que não é o que planejamos e que talvez isto nos separe. Mas apenas fisicamente.

– O que quer dizer, Frederich?

– Nada separa o amor verdadeiro. Estaremos sempre ligados. – Então, ele arrancou uma pequena rosa do solo e levou-a de encontro a seu peito. – Comparo você a esta rosa, minha princesa. Comparo seus beijos a cada pétala desta graciosa flor. E se for preciso, olharei para esta rosa todas as noites apenas para recordar-me de seus olhos.

– Não quero viver longe de você! Não é justo. – Declarou com os olhos cheios de lágrimas.

– Então, fuja comigo!

– Fugir?

– Seu casamento acontecerá depois de amanhã, certo?

– Certo, certo. – Disse curiosa.

– Então, Rose, sugiro que fujamos amanhã à noite.

– Mas para onde? Aonde iremos, Frederich?

– Isto realmente importa? Desde que estejamos juntos…

– Pois que seja feito assim. Amanhã à noite fugiremos e começaremos a traçar nosso destino longe de perigos. Eu te amo, meu cavaleiro!

– Também lhe amo, minha princesa. Agora, vá! – E Rose o fez.

Os preparativos para o casamento do príncipe Gregor com a princesa Rose estavam sendo feitos. Muitos banquetes seriam servidos, muita música seria tocada, muitos nobres seriam recebidos…

Na tarde de sexta-feira, um dia antes do casamento, Marcelia, mãe de Rose, invadiu o quarto da filha com um sorriso imenso estampado no rosto.

– Oh, minha querida! Veja que beleza, que beleza!

– O que é, minha mãe?

– Veja este vestido! Seu vestido! Não é perfeito?

E realmente era. A seda branca com bordados típicos da realeza europeia fazia com que a beleza da princesa automaticamente combinasse com o vestido. Mas ela não queria ter de usá-lo.

– Mamãe, não sei se estou preparada para isto. Não amo este príncipe.

– Oh, querida, as grandes histórias de amor começam assim!

– A sua não começou! A senhora escolheu o papai! A senhora pôde escolher seu verdadeiro amor…

– E você, por acaso, tem um verdadeiro amor que gostaria de escolher?

– Se não tivesse, me conformaria com isso tudo. Mas sim, eu tenho.

A rainha, que era de coração muito bom, sentou-se ao lado da filha e lançou-lhe um olhar de compreensão que só as filhas entendem.

– Minha doce Rose, não sabe o quanto me sinto mal em saber que tem alguém a quem dedicar seu amor. Pois se não tivesse, poderia ocorrer-lhe, com o passar dos anos, a ideia de talvez amar o príncipe Gregor. Mas se o amor que sente é verdadeiro, sei que não passará. Peço que me perdoe por forçar-lhe a se casar com Gregor, mas é o que deve ser feito. O amor sobrevive, minha filha. Ele prevalece. E mesmo que se case com outro homem, saiba que o destino tem seus truques, ele sempre encontra um modo de unir o que foi criado para ficar junto.

– E se o destino não cumprir com seus deveres? Não posso arriscar algo grande assim, minha mãe. Fugirei esta noite. – Ela confessou.

Após um longo suspiro, uma expressão cheia de calmaria estampou-se no rosto da rainha.

– Se acha que é o melhor para o seu coração, o faça. Qualquer risco é válido para o amor. – E com um sorriso doloroso, temendo pela vida da filha, Marcelia saiu do quarto.

A princesa sentiu-se mais segura com a aprovação da mãe e ainda mais porque sabia que ela não contaria a ninguém. Quando se tratava de segredos, não existia pessoa que soubesse guardá-los melhor que Marcelia. Tudo correria bem para Rose, seu plano funcionaria, se não fosse por um pequeno detalhe: os guardas.

Como o reino de Canter passava por invasões diretamente, os guardas do castelo seguiam a Rainha e o Rei para todos os cantos, principalmente quando iam visitar a filha na zona oeste do castelo. E durante a conversa da princesa com sua mãe, um guarda esperava a Rainha do lado de fora do quarto, ouvindo cada palavra dita. “Então a princesinha irá fugir à noite? Veremos!”.

Não que aquele homem fosse mau, mas ele trabalhava para o príncipe Gregor, e a princesa prometida ao seu Mestre iria lhe trair. Não podia deixar que aquela fuga acontecesse! Quando Marcelia saiu da ala oeste, o guarda correu aos aposentos de Gregor e contou-lhe detalhe por detalhe da conversa entre as duas mulheres.

– Oras! Quem essa princesinha pensa que é para trair-me?! – Indignou-se dando um soco na mesa.

– Quais são suas ordens, mestre?

– Siga-a durante sua fuga e se ela não parar, mate-a!

O guarda engoliu em seco e respondeu:

– Quem assim seja, meu Senhor.

A noite chegou e o coração de Rose batia tão descompassadamente, que os móveis ao seu redor giravam. Ela sentia medo, mas estava animada. Chegara o momento de viver com seu verdadeiro amor até o fim de sua vida!

A princesa vestiu sua capa azul-marinho, como de costume, atravessou o castelo e chegou à cozinha. Em passos silenciosos, passou pela porta e seguiu seu caminho para fora dali. Ela caminhava apressadamente, não corria, pelo campo de relva verde-musgo. E de repente, ouviu-se um grito:

– Ei, princesa! Pare agora! – Era o guarda do príncipe Gregor. – Pare, senão atirarei! – Ele segurava um arco e flechas.

Mas ela não lhe deu ouvidos. Seguiu correndo, seguiu seu caminho até o bosque. E o homem fez o mesmo. Correu atrás da princesa com toda fúria que podia carregar.

– Pare! Pare, senão atirarei! – Repetia, mas ela o ignorava.

Então, após dois avisos e nenhuma resposta, o guarda o fez. Tirou uma flecha de sua alijava, posicionou-a em seu arco e atirou. Como um raio passando pelos céus, a flecha atingiu as costas de Rose, que caiu imediatamente na grama. Seu corpo chocou-se contra a relva molhada da madrugada, seu rosto com uma expressão assustada. Ela tentava puxar o oxigênio de volta aos pulmões, pela garganta, mas de nada adiantava, pois ela já começava a cuspir sangue.

Enquanto isso, no meio do bosque, Frederich caía de joelhos no chão. Uma dor avaçaladora invadia seu peito e o ar já não habitava mais seu corpo. Por um momento, o cavaleiro sentiu-se morto, como se uma flecha atravessasse seu coração. E de súbito, o rosto de sua princesa lhe veio à mente.

– Rose! – Gritou.

Frederich levantou-se e correu o mais rápido possível até o campo, mas o seu mais rápido não fora o suficiente. Quando chegou até o corpo da moça, ela dava seu último suspiro de vida. Rose desfalecia à cada segundo.

O cavaleiro jogou-se contra o chão e ajoelhou-se ao lado de sua amada. As lágrimas escorriam de seus olhos, atravessando seu rosto e caindo sobre o vestido da garota.

– Rose! Rose! Não faça isso comigo! Reaja! Rose! – Ele implorava, chorava, praguejava aos céus pela volta de sua princesa, mas ela já estava morta.

Percebendo que agora a Rose no chão era apenas um corpo morto, e não mais a sua doce princesa, Frederich acomodou o lado esquerdo do rosto no peito dela. E chorou. Vendo os olhos entre-abertos da moça, a boca sangrenta, desejou morrer também. Queria que ela se acordasse de repente ou queria juntar-se à ela na morte, mas não tinha coragem de tirar a própria vida. E por escolha própria, escolheu permancer ao lado do corpo de Rose o resto da noite.

Em meio às lágrimas de Frederich, uma luz muito brilhante foi surgindo lentamente em volta do corpo da princesa. Era uma luz crescente e por um momento, o homem pensou estar delirando. Mas então, o corpo no meio daquele brilho intenso e em questão de segundos, tudo que se via era aquela luz branca. Frederich tentou tocá-la e o brilho transformou-se em algo maior, algo que levitava. Só então ele percebeu que o corpo de sua amada continuava ali, no meio do brilho. Seu corpo subia e subia, até que nivelou-se com a cabeça de Frederich e virou-se no ar, como em um truque de mágica. O corpo de Rose estava frente a frente com o do cavaleiro. Ele observou-o por uma última vez, sentindo toda a dor que lhe cabia no peito, e de súbito, a luz que envoltava a princesa tomou conta de todo o corpo, transformou-se em um círculo luminoso e desapareceu no ar. O brilho tão intenso causou uma cegueira momentânea em Frederich, que esfregou os olhos com força. Abriu-os novamente e, como em um passe de mágica, o corpo havia sumido. Uma brisa leve passou por entre os cabelos pretos do homem, que ainda derramava algumas lágrimas. Mas aquela brisa trouxe-lhe uma paz indescritível. Era como se as mãos de Rose tocassem-lhe o rosto e fizessem movimentos circulares por entre seus cabelos. Aquele sentimento foi-se acabando e então, um pensamento invadiu-lhe a cabeça; a rosa.

Não era um pensamento dele, surgiu-lhe de repente. Então ele retirou uma flor de seu bolso e jogou-a ao chão.

– Sei que jurei levá-la comigo, caso não pudesse tê-la ao meu lado, doce Rose, mas esta rosa seria apenas um objeto. Meu amor por ti, princesa, não morrerás nem em mil anos. Te levarei para todos os lados em meu coração e mente e juro solenemente honrar teu nome sempre que ouvir-lhe.

Frederich reverenciou a rosa caída ao chão e, como se já não bastasse, mais uma “mágica” aconteceu. A rosa que fora jogada ao chão sumiu como o corpo de sua amada e no lugar de ambos, nasceu uma nova rosa. Nasceu uma roseira. De repente. Assim, sem mais nem menos. Apenas nasceu e as rosas começaram a florescer em questão de segundos. Então, Frederich ajoelhou-se, abaixou a cabeça e desejou:

– Que esta roseira permança florescida eternamente, guardando as lembranças de uma princesa, que morreu por amor. Que todos lembrem dela no futuro e que sua história seja levada aos quatro cantos do mundo. – E em um misto de lágrimas e suspiros, ele disse “Eu te amo, minha princesa.”, pela última vez.

A lenda conta que a roseira permanece intacta naquele campo até os dias de hoje e que, todos que lhe arrancam uma rosa, sentem uma brisa por entre seus cabelos. Dizem que a roseira de Canter realmente guarda o espírito da princesa Rose, filha do Rei Montert II e da Rainha Marcelia.

Mas o mais interessante em tudo isto é que todos que entram no bosque de Frederich, afirmam ouvir as chamas de uma fogueira e um sentimento de ternura invadir-lhes o coração.

Eu, sinceramente, não posso afirmar-lhes nada disso, mas como já disse, descendo de cavaleiros e quero acreditar que, no final, os dois encontraram-se e se amaram eternamente.

Esta, certamente, não é uma história de amor comum e também não é uma das melhores, mas é uma das verdadeiras, uma das que prevalecem ao passar dos anos, dos séculos e quem sabe, até mesmo de vidas.


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Notas finais do capítulo

Se quiserem contatar-me, estou no Twitter como @agentromanoffa



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