Estelar se jogou em sua cama, ficando com a cabeça para fora, os cabelos rosa-avermelhados caindo da cama como uma cascata. A missão que os titãs haviam feito recentemente a havia desgastado totalmente. Fechou os olhos e esperou que o sono a fizesse dormir e descansar. Mas uma batida na porta a fez praguejar e voar até lá. Era Cyborg, que estava com correspondências nas mãos.
-Correspondência para você, Estelar.
-Obrigada, Cyborg -a garota disse pegando a carta e lhe dando um sorriso.
Após a porta fechar, ela rasgou rapidamente o envelope e leu a carta.
-"É de Tamaran, terei notícias do meu planeta!" -pensava a garota com um sorriso estampado no rosto.

Venho por meio desta carta, pedir para que Koriander retorne à Tamaran imediatamente. O antigo governador foi morto, e Komander (Estrela negra) quer assumir o trono. Quando sua irmã assumiu o trono, nosso planeta acabou sofrendo. O trono é seu por direito, Koriander, mas se não aparecer, Komander assumirá o poder. Venha para cá o mais rápido possível.
Tremanid, embaixador de Tamaran
Estelar encostou as costas na parede, deixou o corpo escorregar até o chão e apoiou a cabeça nos joelhos. Ela havia feito amigos na Terra, tinha feito amigos ali, é claro que sentia saudade de Tamaran, mas sentia que seu lugar era com o titãs. Robin, ela nem mesmo conseguira contar para ele o que sentia. Na verdade dissera e demonstrara várias vezes que gostava dele, porém ele achava que ela gostava de ser amiga dele. Claro que não, ela queria algo a mais com ele, queria ser sua namorada, queria poder beijá-lo de novo, queria que ele correspondesse. Como era egoísta, os tamaranianos seriam escravizados se Estrela Negra fosse ao poder, ela sabia que sua irmã gostava muito de seu planeta origem, e também sabia que vê-lo destruído faria Estelar sofrer. Estava tão confusa, era muita responsabilidade, e para piorar tudo, aquele que havia cuidado dela desde pequena havia partido. Quando ela o colocou no poder, esperava que aquilo fosse a escolha certa, mas agora que ele havia partido...
Levantou o rosto coberto de lágrimas, e foi até o guarda-roupa. Escolheu algumas trocas de roupa e colocou na pequena mala rosa que havia pegado. Foi até a cozinha, pegou um pedaço de tofu e o guardou na mochila, queria se lembrar da Terra. Cyborg e Mutano estavam jogando videogame, então nem perceberiam sua partida. Era bem melhor, já que despedidas a fariam chorar e repensar em sua escolha de partir ou não. Ravena provavelmente estaria em seu quarto lendo e meditando, e Robin no arsenal lutando, ou tentando descobrir algo sobre vilões. Foi até o Hangar, e ali avistou sua nave. Olhou para trás, se despedindo de tudo mentalmente, e então virou-se para subir na nave.
-Estelar...?
Os olhos da garota arregalaram-se, e um arrepio correu pela sua espinha, ela amava tanto aquela voz, assim como amava seu dono.
-Onde está indo? Não me ignore...
Sentiu uma mão quente e maior que a dela pegar seu braço. Ela virou-se para encarar o garoto mascarado que estava em sua frente a encarando, e atrás dele estavam Ravena, Mutano e Cyborg.
-Preciso voltar para meu planeta, se eu não abdicar o trono, será destruído. Estrela Negra quer o poder, e sinto que ela destruirá meu planeta...
-Nós podemos ajudá-la, daremos um jeito nela -disse Robin.
-Não. Isso é de minha responsabilidade, estou sempre dependendo da ajuda de vocês, já está na hora de eu me virar sozinha.
-Nós somos uma equipe, estaremos sempre juntos, sou teu amigo, quero você aqui.
Estelar sentiu o sangue ferver. O garoto prodígio era obcecado por perseguir criminosos, e ela era obcecada por ele. Pensou na possibilidade de ele saber de seus sentimentos, mas escolher ignorar por não corresponder. Agora que ela talvez nunca mais iria ver os titãs, teve coragem para soltar as seguintes palavras:
-Amigos? Seremos sempre "amigos", não é isso o que você quer, Robin? Sempre fingindo achar que eu te amava como amigo, mesmo sabendo que na verdade eu queria algo a mais. Tão obcecado por perseguir vilões, Slade, mas sem tempo para a sua "amiga". Não preciso de alguém que só me rejeita. E enquanto a vocês, titãs, sentirei falta de vocês, você foram como uma família para mim.
A garota voou para dentro da nave e deu partida, não olhando para trás, e sabendo que ninguém tentaria salvá-la de seu destino.
***
Desde que Estelar se fora, os titãs quase não se falavam mais, até Mutano havia maneirado nas piadas. Ele e Cuborg haviam chamado Ravena e Robin para jantarem o que eles preparariam. O andamento da janta estava maravilhoso, até que Mutano deixou a comida queimar, e tudo virou uma gororoba grotesca.
-Foi mal pessoal, eu acho que não sei cozinhar mesmo.
-Por mais ruim que esteja, a Estelar adoraria comer isso... -disse Cyborg.
-Mas ela não está, não podemos ficar nos lamentando, precisamos combater a cidade dos vilões, em equipe. Estelar fez sua escolha, não há nada que possamos fazer para mudar isso... -disse o garoto prodígio dando as costas e indo para seu quarto.
****
Estelar nem tentou deitar-se e cair no sono, seus pensamentos estavam agitados, sua mente estava perturbada. Andou até a sacada de seu grande aposento, e sentiu a brisa fria passar por si e fazer o vestido negro que ela usava esvoaçar. As mangas do vestido vinham até os cotovelos, o comprimento até seus pés, e um cinto prateado marcava sua cintura, fora o mais simples que conseguira com as suas criadas, mas mesmo assim era esplendido. Já fazia uma semana que ela havia partido, e desde então não tinha mais nenhuma notícia dos titãs. Estelar sabia que vir para Tamaran era a coisa certa, mas abandonar os titãs a deixava com um peso na consciência. Pensou em Robin, ela havia sido tão rude com ele, e talvez agora nunca mais o veria, nem nenhum outro de seus amigos. Voltou para dentro de seu grande quarto, e sentiu sua visão ficar turva e sua cabeça doer. Imediatamente levou a mão a parede, e conseguiu recuperar o fôlego. Isso era estranho, os tamaranianos quase não ficavam doentes ou coisas do tipo, ela precisava de um médico.
-Rainha Koriander, o doutor chegou -disse a criada.
-Diga a ele para entrar -disse uma Estelar pálida e cansada.
Na sala entrou um tamaraniano que não devia ter mais que quarenta anos, magro, cabelos vermelho, e vestes brancas.
-Olá, sou o doutor Kuhri.
-Sou Koriander.
-O que há de errado? Quais são os sintomas?
-Tenho tido tonturas, dores de cabeça, dores nas articulações, enjôos...
O doutor arregalou os olhos e engoliu em seco, deixando Estelar nervosa.
-Er... eu atendi quem comandava o reino antes de você, e ele me chamou pelos mesmos sintomas...
-E o que eu tenho?
-Ele foi vítima de envenenamento, um veneno potente que nem eu consegui encontrar a cura, e então ele morreu...
-E-Eu vou morrer?
-Se não encontrarmos a cura, você morrerá.
Estelar olhou boquiaberta para ele, como se esperasse uma resposta.
-Pegarei uma amostra de seu sangue, e então pesquisarei para encontrar o antídoto e te salvar. Enquanto não acho, fique o máximo possível de repouso, não se esforce nem se arrisque.
-Está bem, obrigada doutor.
Após a saída do médico e da criada de seu quarto, Estelar olhou para baixo e conteve o choro.
-Estou morrendo...