Já passava das quatro da manhã, e seus olhos teimavam em não fechar. Sua mente, deturpada com vários projetos para entregar em algumas semanas, trabalhava à mil por hora( herança maldita de anos de trabalho e promoções, que levaram ao cargo de chefe do setor de Design Gráfico)sem perder tempo com descanso.
Descanso.

Fazia mais de duas semanas que não sabia o que era dormir pelo menos seis horas por noite. Também não sabia o que acontecia dentro de sua própria casa(sua mulher Cintia, já mudara os móveis da sala de visitas umas cinco vezes de lugar em menos de um mes, na tentativa de surpreender o atarefado marido, mas sem sucesso), nem com os seus filhos, o hiperativo Jhonatan que assim como o pai tinha que ser domado por sua mãe com horários para descanço e o rebelde Lucas, o primogenito, que não via o pai como deveria, respeitoso e chefe de familia. Mas Daniel, o bem sucedido Designer( e fracassado pai e chefe de familia)não podia perder tempo com coisas superficiais, como saber porque Cintia trocara a mesa de centro para o canto da sala de visitas! Ele precisava somente terminar mais quatro projetos. E depois receberia suas merecidas férias.

Olhou para o relógio em cima do criado ao lado da cama. Quatro e meia ainda.- Ainda falta uma hora e meia pra eu levantar! pensou coçando os olhos, na tentativa falha de fechá-los. A fraca luz do rádio-relógio, iluminava todo o quarto do casal, mostrando os móveis que mobiliavam charmosamente o aposento.
- Como a Cintia gosta de perder tempo com futilidades. E olhando para mulher deitada ao seu lado( com os olhos tampados, descansando plenamente afundada em dois travesseiros) a invejava por dormir tão profundamente, sem se importar com o barulho dos carros que passavam irregularmente lá fora.
Levantou-se, caminhando trôpego para a porta que estava ilumninada vermelhamente pela luz do rádio-relógio. Passou pelo quarto de Jhon(como ele chamava o filho mais novo, pois queria que o filho tivesse esse nome, mas como sempre sua mulher tinha a ultima palavra, ficou sendo Jhonatan)e viu o garoto deitado de uma forma que sua perna direita estava quase totalmente fora da cama, o braço esquerdo jogado pra cima da cabeça, alcançando a cabeceira da mesma. Lentamente, o falho pai, ajeitou o pequeno filho na cama, e o cobriu com o edredon de estampas do Mickey Mouse( ganhado de tia Beatriz, quando fizera uma viagem à Orlando). Deu um beijo na testa do filho, que sentindo algo incomodando, virou-se para o lado da parede.
Saiu do quarto do garoto, e seguindo sua procissão até o piso de baixo, passou obrigatoriamente pela porta do quarto de Lucas,que se encontrava semi-aberta. A passos lentos e abafados, ele foi em direção da porta na tentativa de averiguar o que se passava lá dentro. Viu que uma luz branca e fraca irradiava de lá, levando-o a crer que o filho se encontrava acordado também. Alcançando a porta branca, ele pode ver pela fresta que o monitor do computador do filho estava ligado, e uma imagem de jogo(desses que adolecentes são acostumados a jogar, perdendo horas de suas vidas)mostrava uma porção de bonecos coloridos andando de um lado para o outro.