– Pai... - a garota de cabelos negros disse. - Ela não gosta de mim.

– Não dê atenção a aquela puta. - Robert disse se referindo a Cersei Lannister, Rainha dos 7 reinos.

– Mas ela me expulsou da carruagem. - insistiu mais uma vez. A jovem inocente abaixou a cabeça mostrando um pouco de tristeza, todas as damas da família real deveriam está na carruagem, mas Cersei achava que uma bastarda como Selene não merecia ocupar um lugar na carruagem real, mas sim suas bagagens enormes e inúteis.

– E não é melhor ficar ao ar livre? - O grande Rei disse tentando alegrar sua filha. Fazia um mês que eles estavam na estrada e o cansaço era de se notar no rosto de todos, inclusive no do mesmo que teve que aguentar as diversas brigas de Cersei com Selene e os atos mimados do seu primeiro filho, Joffrey.

– O Norte é tão frio. - Selene disse observando os cascos do seu cavalo afundarem na neve espessa.

– É porque você nunca viu o inverno chegar nessa terra jovem Lady. - Jaime Lannister, mais conhecido como Regicida do Rei, interrompeu a conversa entre pai e filha.

Jaime era um dos poucos Lannister que gostava da garota, a tratava como uma pessoa de verdade, não como uma bastarda indesejada como via o resto do Reino

– Lia me contou histórias...Demônios de gelo que cavalgam encima de cavalos negros e imortais buscando almas de pobres homens perdidos na floresta. - já era costume Selene pedir para sua única serva contar histórias sobre um passado muito distante, onde criaturas sobrenaturais destruíram reinos e dizimaram aldeias inteiras. Eles eram os Vagantes brancos. Um leve calafrio subiu só em pensar em encontrar um monstro desses.

– Graças aos Deuses, esses demônios brancos desapareceram há milhares de anos. - Robert disse parecendo que fazia uma breve oração de agradecimento aos Deuses em seus pensamentos.

– Já consigo enxergar as torres de Winterfell. - o vento bagunçou seus cabelos e fez sua capa vermelha voar quase que atrapalhando seu meio irmão Joffrey.

– Lobos carniceiros. - Jaime falou fazendo uma cara de nojo ao ver as bandeiras da casa Stark. Todos ficaram em silêncio ao chegarem ao portão principal de Winterfell, onde foram recebidos por soldados do norte e os Starks em uma reverência.

O primeiro a descer do cavalo foi o Rei, como tradição ele foi falar com o Lorde da casa, que no caso era Ned Stark, Senhor do Norte e amigo de confiança de Robert.

– Ned. - o Rei foi o primeiro a dizer.

– Majestade.

– Você engordou. - Robert disse sério.

– Bom... - Ned falou avaliando o físico do Rei. Digamos que ele estava pior. Segundos depois os dois caíram na gargalhada e deram aquele bom abraço amigo.

– Olhe como você cresceu! - Robb sorriu ao percebe que fora reparado pelo Rei, a última vez que o viu tinha apenas 11 anos e agora estava já com sua maioridade. O garoto é o filho mais velho de Ned e Cat Stark, ele tem cabelos castanhos e olhos verdes esmeralda, seu sorriso era tão cafajeste quanto o olhar.

Robert comprimentou cada um dos filhos de Ned, até mesmo Jon Snow, o bastardo dos Stark. Não demorou muito e o longo olhar de Ned foi parar em Selene e ela entendeu o que isso significava.

– Tio Ned! - falou Selene quase que sumindo no abraço que dera no Lorde.

– Está linda Selene, como uma verdadeira princesa. - uma bastarda não merece o posto de princesa, mas aos olhos de Robert e todos aqueles que a apreciavam, o sangue real sempre corria em suas veias.

A garota nunca havia encontrado o resto dos Stark, a não ser Cat, que assim como Cersei, sempre a tratou mau.

– Ned e suas piadas sem graças. - um riso sorrateiro surgiu entre as vozes, a Rainha Cersei saira da sua carruagem acompanhada por suas damas e sua filha, Myrcella.

– Minha Rainha. - e novamente todos os Stark se ajoelharam diante a realeza.

– Evite reverências Ned. - falou a mesma.

– Bom senhores, não sei vocês, mas estou com frio. - Jaime Lannister se manifestara e todos olhares caíram no regicida.

– Leve meus filhos para dentro. - ordenou o Rei. - Tenho assuntos a tratar com Ned.

– Meu amor, passamos 1 mês viajando, podemos descansar e...

– Cale a boca mulher. - Robert a interrompeu. - Um Rei não se cansa. - a loira apenas assentiu envergonhada com o tratamento do marido.

(...)

Estavam todos reunidos no grande salão. Um barulho incontrolável ecoava pela sala, todos estavam comendo e bebendo, menos Selene, que apenas prestava atenção na conversa de Joffrey com um dos soldados.

– Um dia serei Rei. - falou com superioridade. - E todos esses lordes medíocres irão se curvar perante a mim.

– Cuidado com a língua irmão. - a morena sussurrou em seu ouvido. - Estamos na casa deles.

– Eu sou o príncipe deles, nunca ousariam tocar em mim. - a pura e única verdade, quem ousaria tocar no futuro Rei, protetor do reino e senhor dos primeiros homens? Nem mesmo os espíritos.

– Eles não precisam tocar. - a relação dos irmãos nem sempre era tão boa, Cersei sempre enchia a mente de Joffrey com mentiras sobre a garota, bem diferente de Tommen, que sempre a tratou com gentileza e a considerava sua verdadeira irmã. - Estão negociando sua vida amorosa.

– Com a jovem Lady Stark? - os dois desviaram o olhar para Sansa Stark que apenas retribuiu com um sorriso de canto e falou algo para a garota ao lado.

– Ela é muito bonita. - falou. - Espero que ela te suporte. - o loiro não disse nada, só direcionou a atenção de volta para a comida. - Dei-me licença milorde.

Selene saiu do grande salão sendo seguida pelos olhares vindos dos soldados do Rei e de Winterfell. Ela tinha apenas que sentir o vento gélido do Norte, mas seus pensamentos foram interrompidos por barulhos de espada vindos do celeiro, a curiosidade da garota era maior que seu mau pressentimento.

– Ele já está morto? - disse ao encontrar Jon Snow destruindo um pedaço de tronco com a espada.

– Milady. - o bastardo ajoelhou-se rapidamente.

– Não sou sua Lady. - a morena disse se aproximando mais um pouco. - Me chamo Selene e você é o bastardo dos Stark. - Jon assentiu em silêncio. - Desculpe.

– Já estou acostumado.

– Sou a bastarda do Rei. - foi a única forma de tentar consola-lo, mas o garoto não pareceu ligar muito. - Jon Snow, porque continua ajoelhado?

– Você não mandou... - e ele olhou pela primeira vez nos olhos dela. - Não parece uma garota do Sul. - era o que muitos falavam. Selene tinha os cabelos castanhos da casa Baratheon e a pele pálida como os nortistas, geralmente as garotas do Sul são donas da pele bronzeada.

– Talvez minha mãe seja uma lady do norte.

– Ou apenas uma puta. - Snow disse voltando a massacrar o tronco.

– Essa é a segunda opção.

– Porque não está no banquete? - pedaços de madeira voavam para todas direções enquanto a espada aos poucos se destruía também.

– Também pergunto isso.

– É um banquete para a família real, minha presença seria um desrespeito. - não é a primeira vez que Selene escutava isso, a mesma coisa já foi dita para mesma por Cersei. Jon sofria a mesma coisa que ela, talvez pior.

– Não me desrespeitou. - sorriu e observou Jon largar novamente a espada e a encara-la.

– Você não é da família real. - aquilo sim era um desrespeito, mas Selene não podia julga-lo por dizer uma verdade.

– Não sou uma Lannister e também não sou uma Baratheon. - os olhos cinzas de Snow alcançaram o chão, talvez ele não devesse ter dito aquilo. Com certeza seria punido por Cat mais tarde.

– Quem você é? - ele olhou curioso para a garota que ainda mantinha o olhar fixo no dele. Selene por muitas vezes pensava nisso..."Quem sou eu?"

– Poucas pessoas ao meu redor merecem saber quem eu sou de verdade. - respondeu com um tom de superioridade.

– Respondeu como uma verdadeira lady. - Snow riu baixinho.

– Quando se vive com os Lannister - em especial, Cersei. - Deve saber o que dizer quando for confrontada.

– Cercada de cabelos dourados, parece um pesadelo.

– Não sou eu que vivo com Lady Stark. - não se sabia qual das damas eram piores, talvez lady Stark seja mais piedosa que a bruxa Cersei.

– Não pretendo ficar aqui por muito tempo.

– E para onde vai? Para a terra dos bastardos? - o garoto riu e apoio-se na parede do celeiro enquanto a morena acompanhava cada movimento do mesmo.

– Muralha... - suspirou.

– Jon Snow, um patrulheiro da noite. - sorriu insegura e corou quando imaginou o bastardo com as vestes negras como um corvo. Assim como Robb Stark, Jon também era muito atraente, mas puxara a aparência do pai, com olhos cinzentos e cabelos negros, sua pele era pálida e seu porte físico era forte. Talvez ele se desse bem na patrulha.

– Não será mais "Jon Snow, o bastardo".

– A muralha parece um lugar solitário. - admitiu. O silêncio estalou-se, os dois recusavam-se a olhar nos olhos do outro, o silêncio só foi quebrado quando se ouviu um cavalo se aproximar e o portão principal de Wintefell se abrir.

– Tio Benjen! - era Benjen Stark, irmão mais novo de Ned Stark.

O homem se aproximou com seu cavalo negro como suas roupas.

– Benjen... - Selene balbuciou. Ned já contou várias aventuras vividas por esse possível irmão, e mesmo sem o conhece-lo a jovem já o admirava muito.

– Se não é meu sobrinho favorito com a lady Baratheon. - o homem velho disse.

– Cuidado tio, ela não gosta que a chamem de "lady". - disse irônico e Selene fez uma cara de tédio.

– Me perdoe Princesa. - Benjen desceu do cavalo e ajoelhou segundos depois.

– Ela também não gosta disso tio. - Snow riu e recebeu olhares de reprovação de Selene. - Vai acabar com sua cabeça em uma estaca.

– Jon, cale a boca. - o cavaleiro disse baixo.

– Creio que queira conversar com seu sobrinho. - não era isso que ela gostaria de falar, Selene queria perguntar sobre as demais aventuras que o patrulheiro havia vivido, tinha até indícios que ele havia lutado um demônio branco! Mas claro que a jovem esperaria por um momento mais apropriado.

– Sim. - assentiu ainda com a cabeça baixa. Jon olhou para a garota esperando sua próxima fala.

– Não irei atrapalhar. - deu um sorriso de canto e os olhares dos dois bastardos se encontraram. - Obrigado por ter melhorado um pouco mais minha noite, Jon Snow.

– Milady. - ele sorriu.

Foi a última vez que eles se falaram aquela noite, Selene não quis mais permanecer no banquete e foi guiada por Sansa até seus aposentos, as garotas não trocaram nenhuma palavra durante o trajeto, apenas quando chegaram a porta do quarto onde Selene agradeceu e desejou-lhe boa noite.

Já deitada, ela afundou a cabeça no travesseiro, fechou os olhos, deu um longo suspiro e repetiu as mesmas palavras que falava todas as noites:

– Três coisas não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a verdade.