O Pecado dos Anjos escrita por Kira Lin


Capítulo 34
Capítulo 34- Um conselho terreno




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Rosalya atende o telefone pronta para falar com o seu cunhado favorito (o único também), mas a voz que escuta no telefone é outra, que também soa familiar. 

—Rosalya? 

—Selena?  

—Sim, ei Rosa, tenho que te que pedir um favor. 

—O que foi? 

—Tem como eu ir dormir na sua casa hoje? É que meus pais tiveram que fazer uma viagem de emergência e eu só pude ficar aqui porque disse que iria dormir na sua casa. 

—Oh! Okay, eu acho que sim, mas vou ter que confirmar com meus pais primeiro, aguarda na linha que eu já volto. 

Selena volta a encarar Lysandre, que está calmamente observando o caderno que ela havia tentado mostrar pra ele antes, ela ficou envergonhada em saber que ele provavelmente leria cada cantada de pedreiro que ela escreveu quando conheceu ele ou quando ele mostrou a tatuagem, mas provavelmente ele iria gostar de ver sobre quando ele ajudou ela com o caso da Debrah. 

—Selena? 

—Oi, tá tudo ok? Posso ir pra aí? 

—Então Selena, na verdade a mamãe disse que poderia, mas a gente vai ir pra igreja hoje anoite, você se importa em ir com a gente pra lá? 

—Não, tudo bem, posso ir com vocês sim. 

—Okay, meu pai pode ir te buscar em casa antes da gente sair então? 

—Talvez fique um pouco tarde, eu vou de ônibus, é só eu pegar as minhas roupas que eu saio daqui. 

Selena desliga o telefone e o devolve para Lysandre, agradece e começa a arrumar as suas roupas para passar alguns dias na casa da Rosalya, ela pega a toalha, a escova de dentes, roupas de ficar em casa e as que ela usa pra ir pra aula, pijamas, mas tem algo faltando. O que será? 

—Suas roupas íntimas- Lys avisa ela, quase como se lesse os pensamentos dela- falta você botar suas peças de roupas intimas. 

—Verdade- ela fica corada por ser logo ele quem lembra isso a ela. 

—É que eu estou vendo o dia em que a Rosalya revirou sua gaveta na nossa frente- ele sacode o caderno de desenho e mostra. 

Aquele dia foi embaraçoso, mas Selena precisava colocar aquilo no seu caderno, apesar de ter tantas coisas pessoais nele, já que ele era praticamente o diário dela, ela não se importava em deixar Lysandre dar uma olhada, ela sabia que podia confiar nele.    

Ela bota todas as roupas então desce as escadas com o Lysandre, então ela volta pro andar de cima, certificando-se de que trancou todas as janelas do andar e porta da varanda do quarto dela, ela faz o mesmo no andar de baixo. Agora só resta ela e Lysandre na frente da porta da casa, ela pediu desculpas pelo o que aconteceu, e que ela teve um sentimento ruim quando ele tocou nas costas dela, mas que não foi culpa dele. Ele disse que entedia perfeitamente, e que as coisas deveriam estar em turbilhão na cabeça dela com tanta coisa pra processar. Por fim, ele deu um beijo na testa dela e se ofereceu pra carregar as coisas até a ponto. Quando ela está trancando a porta ela lembra de voltar pra pegar o cartão que o pai dela deixou pra ela comprar um celular novo pra ela. “A senha do cartão é o dia do aniversário do meu irmão e o meu” ela reparou quando leu a senha que ele deixou.   

Lysandre e Selena vão de braços dados até o ponto de ônibus, é só um gesto simples, mas ele mal poderia esperar o dia em que ele poderia andar de mãos dadas com ela por aí. Esse pensamento o alegrava, então Selena perguntou porque ele estava sorrindo pro poste do ponto de ônibus, ele desconversou e entregou as coisas pra ela quando o ônibus chegou. 

—Toma cuidado – ele alertou ela 

—Eu sempre tomo cuidado - ela responde indignada 

—Eu sei, foi assim que você parou com essa ferida na cabeça 

Ela precisava admitir, ele ganhou essa. No ônibus, ela começou a se sentir culpada por não ter contado pra ele que a ferida que ela tomou foi por causa do assalto que ela sofreu e que ela nem sabe direito o que aconteceu. Ela tocou no colar, “eu não posso deixar você mais preocupado comigo, Lys” ela pensou, era tanta coisa pra absorver que ela quase passa o ponto próximo da casa de Rosa. Em casa, Selena explica pra Rosa que seus pais viajaram por causa do falecimento da tia dela, mas os pais dela escutam e insistem em ir para igreja para rezar pela alma da tia dela, mesmo com Selena dizendo que isso não era necessário, na verdade ela queria dizer que a tia dela mereceria o lugar quente para onde ela estava indo, mas achou melhor evitar ter que explicar tudo o que ela passou aos pais da Rosa.  

A noite caiu e os pais de Rosalya foram para a igreja com elas, Selena não sabia que eles eram católicos, mas Rosa disse que com o emprego dos dois eles acabaram se afastando, porém estavam indo pelo menos no primeiro domingo de cada mês. Selena entra na igreja católica, assim como várias outras igrejas na França, essa igrejinha já tinha alguns séculos de história para contar, era do período que sucedeu o estilo barroco, mas Selena não conseguiu lembrar o nome dele. 

Selena avista que o confessionário está aberto e decide ir pra lá um instante, até pra se afastar de tudo aquilo um momento, fazia séculos que ela não entrava numa igreja, ela estava se sentindo uma hipócrita naquele ambiente, fingindo rezar por alguém cuja morte ela estava praticamente comemorando. 

—Você veio se confessar, jovem? - disse a voz de um padre no confessionário. 

— No thanks, A-ham! quer dizer- ela foi pega de surpresa que acabou respondendo em inglês, sua língua materna - eu não sei, desculpa 

—I can see that you are lost- ele respondeu- pra sua sorte, tive que aprender algumas línguas para estar aqui, e você? Por que está aqui? 

—Bem, eu não sei 

Ela foi falar com o padre que estava no confessionário, ela não se sentia à vontade nesse tipo de situação, mas ela tinha tanta coisa na cabeça que sentia que iria explodir se não contasse pra alguém, e os padres não podem contar o que eles escutam no confessionário, então ela estaria segura 

— Padre, eu sou uma hipócrita. Faz anos que não entro numa igreja, e quando finalmente entro, é pra agradecer que finalmente alguém que eu odeio morreu. Não consigo ver sentido em estar numa igreja agora, nem sei mais se eu acredito em justiça divina...na verdade, padre, nem sei se eu ainda acredito em deus...- ela esperou o padre responder o que ela tinha dito, mas ele ainda estava em silêncio-... então... qual é a minha punição por tantos pecados? 

—Adiantaria de algo se eu resolvesse te pedir para rezar 300 ave Marias por causa de tudo o que você me disse? 

—Provavelmente não 

—Então, porque não e conta o motivo disso. 

—Que mal poderia fazer- Selena começa a falar 

A dor que sentia em seu peito agora ardia mais que tudo, ela falou para o padre, esse mero desconhecido que se dispôs a ouvir, sobre coisas que aconteceram desde sua infância, grande parte ela já havia dito para Lysandre. Falou sobre como a tia dela bateu nela, botou toda a família contra ela quando ela ainda era uma criança, como ela teve que se mudar várias vezes porque depois que Lucy foi desmascarada, aparecia toda vez em que eles se mudavam para ameaçar Selena. Os pais dela, não aguentando mais as ameaças, resolveram denunciar ela para a polícia, o que foi uma dor intensa para a avó dela, não só por ver os dois irmãos brigando, mas pelo pai dela ter denunciado a irmã para a polícia, a mãe de Richard ficou extremamente desapontada com ele, e só veio entender a situação quando Richard, cansado da atitude da mãe, falou sobre as ameaças de Luci e como as vezes ela deixava animais mortos na frente da casa deles como uma forma de alertar que ela estava por perto.  

Ela não queria matar Selena, de fato, ela queria algo pior, queria transformar toda a existência da vida dela num tormento constante, num estado de medo sem igual. Lucy era uma especialista em fazer terror psicológico, mas que graças aos pedidos de proteção policial do pai dela, ela quase foi presa, após isso eles se mudaram pra essa cidade e Selena finalmente teve a oportunidade de experimentar dramas de uma vida adolescente normal. 

—Puxa, isso realmente explica o motivo de você estar melancólica aqui. Como Padre meu dever é dizer que apesar de tudo, você deveria rezar pela alma dessa pessoa, mas como ser humano, depois de ouvir tudo isso que você me disse, posso te dar apenas dois conselhos, eu sei que é difícil, mas o fato de você ter vindo aqui e falado tanto da sua história para alguém que você mal conhece, significa que você provavelmente já aceitou o que aconteceu com você. Seu passado é somente o seu passado, não tem nada que nenhum de nós possa fazer para mudar isso, mas seu futuro, esse sim você pode mudar, você pode usar o dia de hoje pra ser alguém que lamenta o passado ou alguém que usou o passado para ficar mais forte- o tom de voz do Padre muda de um calmo para algo mais esperançoso- E com tudo o que você passou, tendo apenas tão pouca idade, e ainda está de pé, eu não tenho dúvidas que é a segunda opção. 

—Obrigada Padre- Selena diz com o coração aliviado de tanto rancor- mas Padre, e o outro conselho? 

—O outro conselho? Ah sim, na verdade, eu só iria te falar que você não precisa se sentir culpada por não conseguir perdoar alguém, o perdão tem que vir de coração, e só quando você estiver pronta pra isso. Pode ser que você nunca esteja pronta para perdoar, talvez, e quer saber? Não tem problema, só não guarde mágoa, ódio e tristeza no seu coração, ou não terá espaço para os bons sentimentos quando eles chegarem. 

Ela poderia esperar muitas coisas numa visita a igreja, mas sair de lá depois de ter contado tudo, e não se sentir culpada, era realmente algo que Selena não estava esperando. Na volta para a casa de Rosalya, Selena estava silenciosa olhando para cidade passando pela janela do carro. 

—Tá tudo bem, Luna? - Rosalya falou chamando a amiga pelo apelido 

—Sabe Rosalya... acho que nunca estive tão bem em toda a minha vida. 


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