Eu me sinto feliz. Mas não é uma felicidade boba como ganhar chocolate do seus pais, ou esperar os presentes de Natal. Esses são tipos de felicidade egocêntricas, e o que eu mais quero é compartilhar com todos a minha felicidade. Meus pais vão dar uma festa neste final de semana, o mais legal, - sem ser a boa música e as comidas - vai ser os convidados que irão vir. Entre eles, as famílias O'Ryan e Hauser, assim vou poder rever meus melhores amigos do verão de 2013. Recebi uma notificação de chamada no Skype, atendi e era minha irmã Catarina. Sua imagem acabou preenchendo a tela do meu computador.

- Papai e mamãe acabam de sair e me pediram para cuidar de você, mas eu tenho uma festa para ir. Volto antes do horário do neném dormir. - Imagino se Cate parou de contar minha idade e acha que ainda tenho cinco anos.

- Seu quarto fica do lado do meu, qual a necessidade da chamada no Skype, Cate? -Pergunto e a vejo revirando seus olhos.

- Me pediram também para limpar o porão, já que terão que descer alguns móveis da sala para lá, por causa da festa, você sabe. E você vai limpar para mim.

- Vou? - É sério isso Caterina?

- Vai sim. Steven, por favor. Se você faze-lo, dou-lhe metade da minha mesada para você gastar naquele seu joguinho.

- Clash of Clans, fale o nome direito, mulher. - Ela riu, e fez brotar um sorriso também no meu rosto.

- Tudo bem, eu te amo. Se cuida.

Ela finalizou a chamada e sua imagem desapareceu. Desliguei meu computador e sai do meu quarto; quando ouvi a porta da sala bater. Era Catarina, não liguei muito.Eu nunca visitei o porão, na verdade só uma vez. Antes de mudar-nos para lá, meus pais fizeram questão que fizéssemos um tuor pela casa. Lá foi um dos lugares que acabamos por passar.

O porão é um excesso de primor, já que normalmente é um lugar escuro e sujo. Fiz certa força para abrir a porta de madeira, liguei o receptor da luz e desci a escadaria. O local é revestido de madeira fosca, e cheio de prateleiras cobertas por panos brancos. O chão extremamente coberto por poeira, e acho que acabei de ouvir ratinhos. Não hesitei muito e comecei a empurrar alguns moveis velhos para os lados das prateleiras, tentando conseguir o maior espaço possível. Avistei vários álbuns de fotografias velhas, mas um em especial que tinha como capa, uma foto de mim e minha família quando morava-nos na Califórnia. Sinto saudades de lá, principalmente da minha melhor amiga Cassie. Enquanto eu me distraia nos meus devaneios, ouvi uma das menores prateleiras cair no chão. O barulho não foi nada agradável, inclusive meu susto. Soltei o álbum sobre a escrivaninha mais próxima, e corri em direção a prateleira no chão.

- Droga.

Praguejei baixinho enquanto espirrava freneticamente por causa da poeira levantada. Tentei arrastar a prateleira, mas era muito pesado. Não tinha nada no chão, a não ser o pano branco e uma caixa velha e empoleirada. Enrolei o pano e joguei-o sobre um sofá vermelho. Peguei a caixa no chão e coloquei-a sobre a escrivaninha. Fui subindo a escadaria quando ouvi outro barulho. A caixa estava no chão, com alguns papéis fora dela e um objeto que - graças a minha miopia - eu não conseguia enxergar.

- Caterina, se eu não te matar depois disso, é porque alguma assombração já me pegou primeiro.

Debochei do fato de eu estar trêmulo, agachei perto da caixa e peguei os papéis. Percebi que esses papéis foram arrancados de algum livro, por causa de sua espiral e o número de páginas marcando 12 e 13. Eu tinha até às dez horas, não custaria cinco minutos lendo as duas páginas.

" Página 12. Game of Trangerbark.

Ingredientes.

- Bússola de Ivana Trangerbark.

- Mapa de Ivana Trangerbark.

- Um recipiente com água morna.

Preparação.

- Coloque a bússola de Ivana Trangerbark dentro do recipiente com água morna.

- Em seguida coloque o recipiente com a bússolo de Ivana Trangerbark no meio do mapa de Ivana Trangerbark.

- Os jogadores devem posicionar os dedos em suas respectivas casas.

- Leia o texto em voz alta da página 13. "

Peguei o outro papel, mas eu não conseguia entender o que estava escrito. Frases incompletas, letras ao contrário e rabiscos. Ignorei totalmente e coloquei os papéis sobre a caixa. Foi quando avistei uma bússola revestida de pedregulhos negros, sobre o chão. Talvez essa deve ser a bússola de Ivana, ou talvez é algum artefato velho da vovó. Guardei-o juntamente com os papeis, e coloquei a caixa sobre a escrivaninha. Subi a escadaria e desliguei o receptor. Fui em direção ao meu quarto e tranquei a porta. Liguei meu computador e acessei minha rede social do Facebook, tinha uma mensagem da Cassie, li e respondi-a. Eu já estava cansado, deitei em minha cama com a janela aberta, e me deixei ser dominado pelos meus pensamentos, até a hora que acabei por dormir.

Acordei às seis horas e quarenta e cinco minutos para me preparar para ir à escola. O mais curioso não foi o fato da janela - que eu tinha deixado aberta - estar fechada, mas sim quando fui calçar meu tênis e a bússola que encontrei no porão, cair no chão.