Pouco depois de vinte minutos o homem atravessava o corredor escuro passando as mãos sobre os cabelos negros úmidos, Alice, Naoki e Hana conversavam, enquanto Hana em certos momentos tentava jogar algumas palavras em portugues, Hiro se encontrava no canto do sofá com o celular na mão ignorando completamente a visita e que ela parecia está se divertindo ali.
– Meu filho mais velho sendo sempre muito sociavél. - Comentou o homem com um pequeno sorriso enquanto se juntava aos outros na sala. Hiro resmungou algo que provavelmente não foi em resposta a brincadeira do pai. - Então vamos jantar. - Chamou-os.
Todos se levantaram e foram em direção a cozinha branca e começaram a se posicionar na mesa de seis lugares, Alice não sabia muito bem onde se sentar então apenas ficou em pé atrás de uma cadeira, Hana trazia um prato com Sushi e o marido ajudava enquanto conversavam sobre algo banal, Naoki encontrava-se sentado ao lado do irmão mais velho que a analisava parada atrás da cadeira.
– Você não vai se sentar? - Perguntou o rapaz, um tom ríspido em sua voz.
– Mas eu não sei... - Ela calou-se.
– Pode se sentar em qualquer lugar. Melhor do que ficar parada com essa cara de idiota e também -
– Hiro. - O pai o interrompeu chamando sua atenção - Sem insultar a garota, você mal fala durante a noite e quando diz algo é para chamá-la de idiota? - O rapaz revirou os olhos e calou-se. Então Alice decidiu se sentar de frente para Naoki.
– Ei, Ally - Chamou o garotinho - Depois do jantar podemos jogar um pouco? Irei te mostrar o quanto sou bom.
– Se sua mãe deixar tudo bem.
– Eu nunca ganho do meu irmão - A criança soltou - Talvez contra você eu tenha chance.
– Quem sabe. - Alice soltou com um pequeno sorriso, enquanto Hana sentava-se na primeira cadeira e o marido na última em frente a ela.
– Eu fiz algumas comidas japonesas. Espero que goste. - Só de olhar para mesa a boca de Alice se encheu de água o que mais lhe chamou atenção foi o Teriyaki, o frango enrolado no pequeno pedaço de alga parecia aguçar sua fome. Todos juntaram as mãos e falaram ao mesmo tempo.
– Obrigada pela refeição. (Itadakimasu) - Então começaram a comer.
– Isso é Tempura? - Perguntou Alice, apontando com os Hashi para o prato a sua frente, onde um bolinho de arroz tinha em cima um pedaço de frango frito.
–Sim. Você gosta?
– Sim, faz tempo que não como - A garota soltou, pegando a comida e colocando-o na boca. - Isso está muito bom. Deve ter dado muito trabalho fazer tudo isso.
– Fico feliz que tenha gostado. - Hana sorriu começando a comer - Foi apenas um pouco difícil encontrar os ingredientes, afinal aqui não é um Japão e eu não queria comprar comida já pronta para nossa visita. - Ela fez uma pequena pausa. - Então logo eu descobri uma pequena lojinha que vende coisas japonesas, lá se encontra de tudo. - Alice sabia onde era a loja, já havia passado em frente a ela algumas vezes.
– Entendi, mas está tudo muito bom. - A garota falou - Muito obrigada.
E o jantar seguiu, logo após de comerem Hana fez chá para todos, embora Alice não gostasse muito tomou por educação, Hiro parecia que a qualquer momento estava pronto para sair dali e assim como a garota tomava o chá por educação ele ainda estava sentado naquela mesa pelo mesmo motivo.
– Então Alice - Começou o pai de Hiro depois de dá um gole em seu chá - Vejo que fala fluentemente japonês como você aprendeu? Fez algum curso?
– Não. Eu não fiz curso algum. - Ela passou as mãos pelos cabelos castanhos. - Quando eu era criança a minha mãe trabalhava na casa de uma senhora japonesa, então eu não tinha com quem ficar e acabava sempre indo para lá. - A garota sorriu se lembrando da pequena, mas boa recordação - Eu sempre ficava muito entediada e um dia ela acabou me ensinando para ver se eu ficava quieta. Então acabei me interessando.
– Você tinha quantos anos quando ela começou a te ensinar? - Perguntou Hana.
– Oito, era bem difícil e lembro que ela sempre me dava alguma bronca, mas infelizmente eu não aprendi muito a escrever.
– Por que não? Você se desinteressou?
– Não, a Vovó acabou ficando muito doente e indo para outra cidade. - A garota deu um pequeno sorriso.
– Mas apesar de tudo, parece ser boas memórias para você.
– Ah, são sim.
– Mas é incrível como você fala bem. - Comentou o homem mais velho a mão sobre o queixo. - Acho que tive uma ideia.
– Seiji? - Chamou a esposa, enquanto o marido dava um pequeno sorriso.
– Alice o que você acha de-
– Já posso me retirar? - Perguntou Hiro enquanto colocava o copo com chá sobre a mesa. - Acho que já fui simpático o suficiente por hoje. - O pai suspirou impaciente, ignorando completamente o filho.
– Ally você me prometeu que depois do jantar iria jogar comigo. - Começou o outro e a garota sorriu para a criança, Alice olhou para Hana que ainda analisava o marido.
– Podemos ir?
– Ah, sim. - Consentiu a mulher. Os três jovens se levantaram. - E Hiro você não vai poder ir para seu quarto enquanto Alice estiver aqui. - O rapaz assentiu mal-humorado, enquanto caminhava para a sala e novamente se jogava no canto do sofá, o irmão mais novo já tinha ligado o vídeo game e colocado o seu jogo favorito.
Alice se sentou timidamente no inicio do sofá preto e Naoki sentou-se ao seu lado tagarelando sobre querer ser o melhor naquele jogo, Hiro percebeu que aquele lugar ao lado do irmão era o dele e o controle também, mas ao contrário do que normalmente acontecia naquele momento havia uma intrusa em seu lugar.
A garota sentiu um olhar sobre si e lançou o olhar para canto do sofá onde Hiro a observava, então ele logo desviou sua atenção para o celular e Alice se sentiu confusa, por que apesar dos dois estarem distantes parecia que apenas o fato dele apenas ter que vê-la o irritasse profundamente.
– Você vai querer jogar também? - Ela perguntou lhe mostrando o controle, ele voltou a encará-la.
– Não. Por que diabos acha que eu iria querer jogar com você? - Ela passou a mãos sobre os cabelos lisos tentando procurar uma resposta enquanto sorria sem jeito, pensou em responder, mas o vídeo mostrando os personagens do jogo se iniciou na televisão tomando sua atenção. Logo Naoki escolheu seu personagem e Alice o dela, o garotinho lhe explicou os botões para chutar, agarrar e soltar especiais no jogo de luta, pensou que ia vencer fácil, mas a garota o acabou o vencendo sem sequer Naoki encostar nela.
– Mas eu pensei que você nunca tinha jogado. - Soltou o menininho com o gosto amargo da derrota na boca.
– Eu nunca joguei esse jogo, mas quando era criança costumava jogar com meu irmão. Eles são quase a mesma coisa. - Alice sorriu e Hiro se divertiu pela derrota do irmão, ao menos quando os dois jogavam ele deixava Naoki vencer primeiro e quase sempre pegava leve com o irmão, mas ela parecia não querer pegar leve.
– Entendi. Mas agora eu irei vencer. - Esbravejou o garoto. Então começaram outra partida e ela o derrotou de novo, de novo e de novo, foi assim até quando Naoki enfim desistiu, quando seu orgulho já estava muito destroçado e apertava os botões do controle sem vontade e mesmo assim se via incapaz de dizer que não queria jogar mais.
– Naoki pode vir aqui? - Hana o chamou no inicio da cozinha.
– Já vou. - O garoto respondeu, então perdeu novamente.
– Não quer parar? - Perguntou Alice, o menino assentiu e foi então que se deu conta de deveria ter deixado o garoto ganhar ao menos uma vez. Ele desligou o video game pelo controle e levantou-se. - Olha eu não deveria ter pegado tão pesado com você. Desculpe.
– Não, tudo bem. - Falou Naoki sorrindo - Até que foi legal. - O garoto foi em direção a cozinha.
– Você é uma garota muito má, sequer pegou leve com uma criança de oito anos. - Ela ouviu a voz de Hiro atrás de si. - Agora o meu irmãozinho está triste por sua culpa.
– Não é como se você se importasse. Claramente está se divertindo.
– Eu me importo com meu irmão. - Hiro soltou fazendo a garota se virar para ele, para ver se falava a verdade - Mas isso é bom para mostrá-lo como você e o pessoal desse país são.
– Você sempre fala que eu sou algo. Eu sou o quê? - Ela perguntou e afastou-se um pouco para poder olhar o garoto nos olhos sua. - Ou melhor, o que o pessoal do meu país é?
– Egoístas. - Ele soltou, os olhos fixos no dela e por um momento Alice teve certeza que Hiro sabia muito bem sobre o que falava. - O pessoal do seu país são ignorantes, idiotas e... Tenho tantas palavras para descrevê-los que não consigo achar uma apropriada o suficiente. - Ele fez uma pequena pausa - E eu fico feliz que está noite já está acabando, pois sei que não irei mais te encontrar por que até mesmo olhar para você me irrita.
– Olha aqui seu-
– Que bom que estão conversando. - Falou a mulher com um sorriso, saindo da cozinha com Naoki pegado em sua mão, mal sabia que acabara de atrapalhar o ínicio de uma discursão.
– Ally, eu já vou dormir. Então terei que me despedir. Mas você virá me visitar né?- Naoki se aproximou da garota e a abraçou carinhosamente.
– Ah, sim. Claro que sim. - Mas Alice achava improvável de uma outra visita acontecer.
– Então até mais e boa noite, Ally.
– Boa noite, Naoki. - Alice colocou a mão na cabeça da criança, viu-o despedi-se do irmão mais velho e afastar se enquanto falava algo para a mãe. - Eu acho que vou embora. - Falou Alice para si mesma, pensou que seria melhor ir, antes que a noite divertida que teve fosse estragada pelo idiota atrás dela.
O rapaz não disse nada, apenas voltou a sentar-se no sofá, a garota logo o seguiu ficando o máximo possivel afastada dele, esperaria apenas Hana voltar agradeceria e iria embora, não precisaria aguentar insultos ou qualquer coisa vinda daquele garoto, por algum motivo achava já ter ouvido e sentido demais, já estava cheia de desaforos.
Após alguns minutos a mulher saiu do corredor escuro.
– Hana, eu irei embora. - Alice falou enquanto se aproximava.
– Poderia esperar um momento? Eu e o Seiji precisamos falar com você.
– Comigo?
– Sim. - Ela sorriu carinhosamente. - Vem aqui. - Alice ficou meio confusa, mas mesmo assim a seguiu.
– Você também Hiro.
– Eu? - O rapaz ergueu as sobrancelhas.
– Sim. é um assunto que interessa aos dois.
– Que assunto tem a tratar comigo e com essa garota?
– Logo verá. - Então Hiro levantou-se e a seguiu por algum motivo sabia que algo bom não estava por vir, entraram na cozinha, Seiji estava com alguns papéis sobre a mesa, analisando-os.
– Então Alice - Começou o homem quando os dois se aproximaram da mesa e ficaram um ao lado do outro - Soube que no momento você não tem emprego. Ou melhor, você teria um, se não tivesse perdido a chance para ficar com meu filho.
– Ah, não precisa se preocupar com isso. - Soltou a garota.
– Então - Recomeçou o homem ignorando a resposta da garota. - Já que você não tem um emprego no momento gostaria de ser a professora do meu filho?
Alice piscou algumas vezes, sentia-se confusa novamente, aquela família era estranha foi algo que passou por sua cabeça, desde que entrou ali, desde que conheceu tanto filho mais novo quanto o mais velho confusão era tudo o que sentia.
"Aquele homem deveria está brincando", foi algo que pensou e ao mesmo tempo teve certeza que não.
– O que me diz? - Seiji perguntou com um pequeno sorriso.
A garota olhou Hiro, mas ele não disse nada, ao observá-lo com mais precisão notou que o rapaz estava mais confuso que ela e pela primeira vez naquela noite, ou melhor, desde que se conheceram, sentiu como se os dois fossem iguais e enfim mesmo que silenciosamente puderam se entender.