Obliviate {Blackinnon} escrita por Mrs Blackinnon


Capítulo 1
The one that got away


Notas iniciais do capítulo

Primeira Blackinnon no site! Espero que gostem, e por favor, comentem!! xx



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/612838/chapter/1

Em francês não se diz ‘Eu sinto sua falta’
Diz-se 'tu me manques', que é mais próximo de ‘você está faltando em mim’
Eu amo isso.
“Você está faltando em mim”. Você é parte de mim. Você é essencial para o meu ser.
Você é como um membro, um órgão, ou sangue.
Eu não existo sem você.
‘Tu me manques’.

“In another life, I would make you stay. So I don’t have to say you were the one that got away.”

Eram aqueles olhos novamente. Oh, ela nunca se esqueceria dos olhos que, desde que era capaz de se lembrar, apareciam em seus sonhos ainda que não fizesse idéia de sua origem. Os orbes de um azul profundo fitavam-na e, como de costume, o homem não dizia uma só palavra. Era ele também, o mesmo: cabelos muito escuros, maxilar bem delineado, postura altiva porém despretensiosa, e os olhos que pareciam desvendar-lhe a alma. A mulher se aproximava com o coração disparado, tentando em vão ver melhor o rosto desconhecido. A distância entre os dois, contudo, aumentava a cada passo, até que não fosse possível ver dele mais que uma silhueta. E então, a jovem sentia-se mais uma vez despedaçada quando ele, enfim, desaparecia como fumaça.

A jovem abriu os olhos de súbito, ainda recuperando-se do sonho que a acompanhava há mais de uma década. Respirou fundo uma vez, tentando normalizar seu ritmo cardíaco que, por alguma razão que nunca compreendeu, acelerava sempre que tinha aquele sonho. Era uma sensação estranha, uma vez que sentia franco desespero quando o desconhecido desaparecia do sonho, mesmo tendo absoluta absoluta certeza de que nunca vira aquele homem antes, pessoalmente. Depois de alguns minutos revirando na cama, o despertador na cabeceira anunciou que eram 8h da manhã e a mulher se viu sem alternativas, a não ser levantar-se – o que fez com alegria, uma vez que tinha uma companhia que, quando longe, lhe fazia mais falta do que tudo no mundo.

_Bom dia, querida... – sussurrou, já sentada na beira da cama forrada por um cobertor azul-bebê, onde dormia uma menina de longos cabelos negros e feições delicadas. Ela despertou devagar, remexendo um tanto na cama antes de finalmente abrir os olhos: cópias exatas das íris cor de chocolate da outra, emolduradas ainda pelo menos formato amendoado.

_Bom dia, mamãe. – disse, com um sorriso sonolento – Já são oito horas? – resmungou, virando-se de lado e fechando os olhos mais uma vez – Me dá mais dez minutos? – pediu, sabendo que receberia clemência. Eram férias, afinal.

_Cinco. – a outra sorriu de canto, dando um tapinha leve nas pernas da filha – Vou arrumar o café, te espero lá embaixo... – avisou, saindo do quarto bem decorado da filha adolescente que, infelizmente, permanecia desocupado a maior parte do ano.

A mulher desceu as escadas até o primeiro andar da casa tão grande em que vivia sozinha, nos meses em que sua menina estava estudando. As paredes brancas eram decoradas por diversos quadros de artistas reconhecidos, que ela admirava profundamente, os quais tinham-na inspirado a escolher a carreira que hoje lhe dava o título de Marlene Mckinnon: renomada artista plástica. Ainda que sentisse, por vezes, uma agitação interna lhe dizendo que ainda havia mais a fazer no mundo, a Arte a satisfazia profissionalmente, e fora sua salvação quando se viu grávida, jovem e solteira. Hoje, era reconhecida nacionalmente e tinha se estabelecido graças às maravilhosas obras vendidos nas galerias de arte de Cannes por alguns milhares de euros.

Prendendo os cabelos castanhos – já não tão compridos como costumavam ser quando mais jovem – em um coque, Marlene iniciou o preparo do café da manhã preferido da filha. Não demorou mais do que dois minutos para que a garota descesse as escadas, ainda sonolenta, parando logo ao lado da outra para espiar o que ela fazia, ainda que o aroma já lhe desse fortes suspeitas.

_Panquecas! – sorriu, dando um beijo no rosto da mãe – Vai demorar? Tô morrendo de fome, mãe... – reclamou, apertando o estômago enquanto se sentava na mesa de mármore.

_Adhara! – a outra ralhou – o que eu já falei sobre sentar na mesa?

_”Vai quebrar, blá blá bá... Mesa não foi feita pra sentar” – a garota imitou a mãe de forma tão perfeita, que foi impossível para a outra conter uma risada. Sentando-se na cadeira, a garota abaixou a cabeça sobre a mesa, determinada a continuar seu sono – Hein, mãe... Vai demorar?

_Não, sua draguinha... – Marlene brincou, referindo-se à fome interminável da menina – Pronto! – anunciou, colocando um prato com duas panquecas na frente da filha – Mel ou calda de chocolate? – perguntou, já abrindo o armário em busca da cobertura. Quando não obteve resposta, olhou para a garota que, risonha, encarava-a com expressão de “Não é óbvio?” – Ok, os dois então. – riu, colocando um pote com o mel e outro com a calda perto da garota.

_Obrigada, mamãe linda! – Adhara riu, colocando uma quantidade generosa de mel sobre uma das panquecas, antes de dar uma bela mordida – Mãe, você podia ser chef, sério! – comentou, deliciando-se e arrancando risadas da mãe, que comia também uma panqueca, com geléia de frutas – Helga que me perdoe, mas a sua comida é melhor que a dela! – comentou, referindo-se à senhora que trabalhava na casa, mas que estava ausente por ser final de semana.

_Você é uma figura, Adhara... – Marlene riu. O bom humor da filha era, de fato, invejável. Ela tinha uma vivacidade e uma alegria contagiantes que encantavam Marlene, pois era algo muito natural, como se viesse em seus genes – Não demore muito, ok? É melhor sairmos cedo. – avisou, sabendo da lentidão de Adhara Mckinnon quando o caso era se arrumar.

_Sim, sim! – Adhara concordou, comendo agora a panqueca com chocolate – Sabe o que eu sonhei? – perguntou, rindo de antemão – Que eu estava te ensinando a voar, e você era péssima! – a garota gargalhou, lembrando-se da cena de seu sonho em que Marlene girava no ar, sem conseguir manter o controle da vassoura.

_Eu aposto que seria ótima nesse tal quadribol, viu mocinha? – Marlene riu junto à filha – Eu tive aquele sonho de novo, acredita? – contou, tomando um gole de café.

_O mesmo cara? – a menina perguntou, interessada, recebendo um aceno positivo como resposta – Sabe, eu acho que é seu príncipe encantado avisando que tá chegando, mãe... – completou, rindo.

_Só se ele estiver se anunciando pelos últimos sei la quantos anos, né, minha filha? – Marlene riu, ainda intrigada – E você sabe que eu não tenho mais cabeça pra isso... – acrescentou, categórica. Adhara revirou os olhos, sem querer insistir. Contudo, não compreendia como sua mãe, jovem extremamente bonita e repleta de homens que dariam um rim para encontrá-la, nunca tinha se apaixonado, desde que a menina se entendia por gente. Além de seu pai, sobre quem não tinha quase informação alguma – sabia apenas que ele falecera quando Marlene estava grávida, em um acidente de carro – não se recordava de nenhum outro na vida da mãe, e isso não a incomodaria, se não fosse o fato de sentir que a deixava muito sozinha.

_Obrigada pelo café, mamãe! – sorriu – Vou tomar banho, não demoro, prometo! – avisou, subindo as escadas de três em três degraus.

Marlene riu, juntando os pratos e pousando-os na pia. Sentiria falta da bagunça de Adhara, do quão barulhenta ela era, como suas risadas enchiam a casa, tornando-o um verdadeiro lar. As duas tinham se mudado pra lá logo que Adhara completou 4 anos – a menina amara o fato de mudar-se para perto do mar – quando Marlene tinha finalmente se estabelecido profissionalmente. Viviam há sete anos no número 711 do Boulevard La Croisette, quando, no aniversário de 11 anos de Adhara, a menina recebeu uma carta convidando aos estudos na Academia de Magia de Beauxbatons, o que, para Marlene, fora um motivo de estranhamento e curiosidade, afinal, não era sempre que um louco convidava sua filha a praticar... magia. No início, tudo foi tratado como uma grande brincadeira, afinal Marlene era – como hoje sabia ser o termo correto, ainda que isso lhe soasse divertido – “trouxa”, daí seu desconhecimento perante todos os assuntos relativos ao mundo mágico. Com o passar do tempo, contudo, a natureza mágica de Adhara tornou-se inegável, e, eventualmente, a mãe da menina aceitou que – para seu completo espanto – tinha dado luz a uma bruxa. E foi a partir deste ano que, de setembro a junho, a casa se tornava o sombra do que era quando Adhara ainda morava ali, e naquela manhã, cinco anos depois, Marlene ainda sentia um aperto no peito ao pensar que se aproximava o dia de sua menina ir embora mais uma vez.

Eram por volta de dez da manhã quando Marlene e Adhara finalmente saíram de casa rumo ao Boulevard de la Magie, alameda mágica em que os estudantes da Beauxbatons podiam encontrar toda sorte de materiais mágicos que seriam necessários durante o ano letivo. Mãe e filha seguiram, assim, até a doceria Fenouil, onde se encontrava a porta de entrada para o mundo paralelo da magia: um grande expostior de pães de mel localizado nos fundos da loja que, quando tocados com a varinha da forma correta, abriam um belo portão dourado que dava passagem ao Boulevard.

_Cinco anos, e eu ainda não me acostumei com isso... – Marlene riu quando a filha fez o portão se abrir com a ajuda da varinha.

_”Muggle” – Adhara rolou os olhos, simulando pena, apenas para rir em seguida. Dando o braço direito à mãe, seguiram então ao que figurava entre as coisas que mais adoravam fazer no mundo: compras!

Além dos necessários livros escolares, um novo jogo de penas e tinteiro, mais dois conjuntos do habitual uniforme azul-celeste que era marca do colégio, Adhara ainda escolheu uma dúzia de acessórios – desde jóias até sapatos – que deixaram-nas com as mãos repletas de sacolas que – por Deus – tiveram seu peso reduzido magicamente, caso contrário seria impossível carregá-las.

_Olha que gracinha, filha! – Marlene mostrou um gatinho cor de laranja que batia a patinha fofa no vidro da vitrina da loja de animais em que estava exposto.

_Eu queria um cachorro. – Adhara reclamou, sem dar muita atenção ao gato. Nunca gostou de felinos – Não sei porque o colégio permite quase todos os animais, mas não cachorros. Olha esse que coisa mais linda... – abaixou-se no vidro, brincando com um filhote de cão negro que, podia jurar, ficaria maior que ela quando crescesse pelo tamanho que já apresentava – Quando eu me formar eu quero um pretinho igual a você, lindão. – brincou com o cachorrinho pelo vidro – Isso, igual a você!

_Addie, o que acha de irmos almoçar, querida? – Marlene chamou a filha, fazendo-a tirar os olhos do cãozinho.

_Vamos, já tô com fome de novo... – a garota riu, mexendo nos cabelos escuros enquanto olhava para o alto, o sol a pino indicando que já era meio-dia no sul da França – Massa ou Carne? – perguntou à mãe.

_Hm... Massa! – a outra respondeu, com um sorriso.

A saída do Boulevard se dava da mesma forma que a entrada, e logo as duas caminhavam para seu restaurante italiano preferido. Adhara contava qualquer caso engraçado da escola e Marlene gargalhava da interpretação da filha quando uma voz interrompeu a caminhada das duas.

_Marlene?? – a voz era titubeante, como se já não dissesse aquele nome há anos (o que era um fato), quase incerta, como se procurasse ter certeza de que não se enganava. Oh, mas como poderia se enganar quando ouvia àquela risada?

_Sim... – ela respondeu, franzindo o cenho. Não reconhecia aquele rosto, ainda que o homem de aparência estarrecida demonstrasse conhecê-la – Posso ajudar?

_Marlene, sou eu! – ele se aproximou alguns passos, sorrindo como se estivesse vendo alguém querido voltando dos mortos – Por Merlin, eu não acredito nisso... Essa é sua...? Eu pensei que... Todos pensaram que...

_Merlin? – Adhara repetiu, franzindo o cenho – Hey, quem é...

_Me desculpe... – Marlene os interrompeu, um tanto assustada e alerta após a menção de “Merlin”, isso era o tipo de coisa que Adhara aprendera no mundo mágico. E ela, Marlene, não conhecia bruxo algum! – Quem é você?

A expressão de choque tomou o rosto do homem de cabelos cor de palha e olhos como mel à menção daquelas palavras. Ele fraziu o cenho por um momento, como se tentasse concatenar as idéias e entender a situação antes de responder.

_Remus Lupin. – apresentou-se – Eu sou... – parou por um momento, sorrindo com tristeza – Eu costumava ser um dos seus melhores amigos. – completou, e Marlene o olhou surpresa, mas com uma boa dose de descrença – Você realmente não se lembra de nada, não é? – perguntou, perplexo.

_Eu... – Marlene sentia-se confusa, porque o homem parecia muito certo do que dizia e, de alguma forma, lhe passava uma confiança que ela não costumava ter nas pessoas – Me desculpe, eu não o conheço...

_Oh, Lene... – Remus deu um sorriso saudoso, olhando com carinho para o rosto que não imaginava que veria outra vez e por isso não se recordava de um momento em que se emocionado mais na vida – Eu imagino que isso pareça uma loucura pra você, mas por favor, se você me deixar explicar... – pediu, atrapalhando-se nas palavras tamanha era sua ansiedade – Posso pelo menos te pagar um café? Não vou tomar mais do que 20 minutos...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá olá! E então? Primeiramente, muito obrigada por ter lido o primeiro capítulo dessa história que, mesmo no comecinho, é tão importante pra mim! Aguardo críticas e comentários! Não demora nada e fazem o meu dia muito mais feliz, então vai lá, não custa nada!! hahahaBeijinhos, e até breve! Nox!