A primeira coisa que vejo ao abrir os olhos é minha mãe sentada ao meu lado, na beira da cama, acariciando minhas costas. Instantaneamente começo a gritar, mas nenhum som sai da minha boca. Eu tento gritar de novo, dessa vez, totalmente desesperada. Então ela chega mais perto e eu consigo sentir aquele cheiro forte de bebida novamente, quando ela tenta me tocar novamente, eu sento e vou ma arrastando para traz, tentando chamar papai desesperadamente.

Ao encostar na parede, fico encurralada, não há como fugir dela. No momento em que eu estou me espremendo o máximo contra a parede, tentando escapar das mãos do monstro que tentava me puxar mais para perto de si, sinto uma dor aguda no pulso direito, como se alguém estivesse tentando enfiar uma agulha em mim.

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Sento ofegante na cama, olho para o lado e vejo papai sentado numa cadeira, me olhando com uma expressão ao mesmo tempo de alívio, preocupação e cansaço.

– Papai! - falo desesperada, percebendo que não estavam no meu quarto, e que havia algo preso ao meu pulso. - Ela estava do meu lado e eu tentei gritar, mas minha voz não saía, e ela tentou me puxar para perto dela!!

– Calma. - diz ele, me abraçando. - Fala mais de vagar. O que está acontecendo?

– O que ela fez comigo? - pergunto chorando. - Por que a gente está no hospital??

– Quem? - pergunta ele.

– Ela! - falo desesperada.

– Ah! - diz ele, subitamente entendendo de quem eu estava falando. - Querida, "ela" não chega nem perto de você há dez anos! Foi apenas um sonho.

Meu choro ganha forças, apesar de eu estar aliviada. Tinha sido um pesadelo, isso sim.

– Por que a gente está no hospital? - pergunto depois de me acalmar.

Papai fala que depois que a gente "discutiu" eu levantei muito rápido da cama, e como eu não comia nada desde de manhã, eu desmaiei. Ele me trouxe até o hospital pois ficou muito preocupado, e, para a minha sorte, eu só teria que passar a noite aqui, em observação. Agora eu me concentrava em comer uma prato gigante de comida, que não estava das melhores (comida de hospital nunca é boa! Eu me pergunto como eles querem que as pessoas comam isso?).

~ ♥ ~

Sábado de manhã eu e papai voltamos para casa. John foi logo para cima de mim, morrendo de saudades. Daniel e Yannskar me ligaram, querendo saber como eu estava, pois de alguma forma eles descobriram que eu estava no hospital. Então combinamos de ir ao cinema de tarde, e eu sabia que um dos motivos do Dani ter dado essa ideia foi o fato de eu não conseguir explicar direito o que tinha acontecido pelo telefone ou por mensagens (sim, eu tenho esse sério problema).

Nós nos encontramos no shopping duas horas antes do filme começar e ficamos andando por uns dois minutos, até a Yannskar não se aguentar e perguntar o que tinha acontecido. Eu expliquei da melhor maneira possível, não deixando de fora nenhum detalhe, a não ser o sonho (eles não estavam interessados nisso de qualquer forma0, e lembrando de pedir desculpas ao Dani no final, por ter continuado correndo depois de esbarrar nele.

– Então quer dizer que você fez o Christian Grey tirar a camisa? - perguntou a Yannskar.

– Sim. - respondi.

– E você não deu nem uma olhadinha?! - perguntou o Dani incrédulo.

– Na verdade eu estava tão nervosa que eu nem reparei. - falei, desejando poder voltar no tempo e dar uma espiadinha.

– Para de pagar de santa! - disse ele.

– Ha-ha! Muito engraçado você, Daniel Lee! - respondi irônica.

– Vai! Tenta puxar pela memória! - pediu a Yannskar, enquanto passávamos na frente de uma loja da Calvin Klein.

– Ei, vocês me ajudam a escolher uma calça jeans nova?! - pedi.

– Não mude de assunto mocinha! - disse o Daniel.

– Tá! Eu tento, mas só se vocês me ajudarem! - propus.

– OK! - disseram eles praticamente ao mesmo tempo.

Depois de sairmos da loja, com uma calça nova pra mim e DUAS para a Yannskar, eles continuaram insistindo para que eu tentasse lembrar.

– Na hora que eu levantei a cabeça, quando eu fui pedir desculpas, eu meio que conseguir ver... - falei.

– E... - falou o Dani, enquanto a Yannskar me encarava, esperando por mais informações.

– Ele é musculoso... Eu acho. - respondi.

– Tanquinho?! - perguntou a Yannskar.

– Não sei! Não deu pra ver direito.

– Ai meu deus! - disse ela. - Você tem que aprender a ver as coisas que são IMPORTANTES!

Eles passaram a próxima hora me fazendo "ver as coisas IMPORTANTES", e eu não conseguia parar de rir. Nós vimos o filme Cinderela, que eu achei muito fofo. Depois, quando eu já estava em casa, atualizei o meu instagram, que ninguém (exceto a Yannskar e o Daniel) sabia que era meu, e depois de comer pizza com papai, dormi.