Fix You - SasuHina escrita por White Crown Phoenix


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Boa leituraa *--*



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"Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso

Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa

Quando você se sente cansado, mas não consegue dormir

Preso em marcha ré"

Tudo estava embaçado, o mundo girava rápido demais e Uchiha Sasuke não sabia como havia parado ali. Ele estava estirado de bruços no sofá de couro preto de sua casa. O braço direito pendia para fora quase tocando o chão sem força. Na verdade, todo o corpo do homem estava sem força, cansado, inerte e totalmente sem vontade. Quando abriu os olhos tão lentamente quanto suas pálpebras pesadas deixaram, sentiu uma imensa vontade de botar todo o conteúdo de seu estômago para fora. Tudo rodava ao seu redor e ele não lembrava bem o porquê. Fez um esforço, tentou se erguer e suas têmporas latejaram como nunca. Piscou, se concentrou e pode ver que sobre a mesinha de centro feita de vidro que ficava logo ali próxima ao sofá estavam duas garrafas de vinho tinto. Uma pela metade, a outra praticamente vazia.

Ele suspirou e se lembrou. Ele havia saído do estúdio de dança tarde da noite. O corpo dolorido de tanto ensaiar precisava relaxar e ele sabia, exatamente como haviam acontecido as suas últimas noites, que não iria conseguir dormir mesmo estando tão cansado. Precisava de um estímulo.

Entrou no seu carro e dirigiu até o pub mais próximo, e pediu um whisky estilo caubói: sem gelo, sem nada. Tomou uma dose, duas, três. Não estava satisfeito. Sua resistência a bebidas alcoólicas era grande e apesar de sentir seu peito aquecido, os efeitos eram mínimos.

-Preciso de algo mais forte. – pediu ao barman que o olhou preocupado e impressionado para aquele rosto conhecido.

Conhecido não porque Sasuke era um artista famoso. Conhecido sim, pois aquela rotina havia se tornado um hábito para ele. Ensaiar à exaustão mesmo depois do expediente ter acabado, se sentir sem sono e buscar o antídoto naquele mesmo pub, quase sempre no mesmo horário.

Tomou vodka, rum, conhaque. Já trocava os pés e falava embolado quando pediu duas garrafas do melhor vinho da casa para viagem. Trôpego saiu pela porta da frente do pub catando as chaves no bolso da calça que agora parecia tão grande. Praguejou em voz alta e confusa, maldizendo as chaves que haviam se perdido sozinha nos seus bolsos. Ele sentiu uma mão segurar seu ombro com força, impedindo-o de cair ao tropeçar sobre os próprios pés. As garrafas bem presas aos braços.

-Ah! Meu velho amigo Naruto! – dando um meio sorriso ao virar para trás e reconhecer o companheiro de banda. – Você chegou em boa hora! Eu não consigo achar minhas chaves... Deve estar aqui em algum lugar... Me ajude...

Uzumaki Naruto o encarou com reprovação. O companheiro de banda não estava bem e estava fora de controle. Sabia dos hábitos atuais do amigo e por isso deu seu telefone pessoal para o gerente do pub, caso Sasuke bebesse demais e não estivesse em condições de voltar para casa sozinho. Suspirou baixinho e segurou com força o braço do outro que ainda vasculhava os bolsos teimosamente.

-Você não vai dirigir neste estado, Sasuke. Você está completamente embriagado. Venha, eu te levo para casa no meu carro.

-Naruto, Naruto! Sempre preocupado com as pessoas! – sorriu o bêbado com as faces coradas. – Mas eu estou bem! Posso ir sozinho...

Sem ouvir mais nenhuma palavra, o loiro puxou o amigo pela camisa e o arrastou até o seu carro, empurrando sua cabeça quando o mesmo não quis se sentar.

Sasuke então lembrou-se do amigo ter dirigido calado até a sua casa, enquanto ele virava a garrafa de vinho recém-comprada direto no gargalo e ria de si mesmo. Naruto também havia subido até o seu apartamento e o jogado no sofá com as feições sérias e desapontadas, o que não é típico do loiro já que sempre fora alegre e meio tapado. Sasuke ainda bebia, o vinho escorrendo pelo canto da boca e melando a sua camisa de linho cinza.

Após balbuciar algumas palavras que ele não tinha certeza de quais eram, Naruto partiu de seu apartamento batendo a porta com força.

Sasuke havia se arrastado para o banheiro do seu luxuoso apartamento, ligou a água fria e se jogou embaixo da água se arrepiando ao choque térmico. Ficou ali parado enquanto pensava se deveria ligar para o companheiro para pedir desculpas e agradecer. Naruto estava o ajudando muito ultimamente. Tomando conta dele como uma babá. Ele riu de seu estado. Um riso envergonhado.

-Não há o que se fazer. – comentou para as paredes do boxe que ecoaram sua voz de volta. – Só sobramos nós dois.

Sim. Havia um ano que a banda havia se tornado uma constelação de apenas duas estrelas e o líder sentia-se responsabilizado, inútil, de mãos atadas. E ele lembrou como ele próprio ia buscar Neji Hyuuga e Sabaku no Gaara em pubs à uma hora da manhã.

Lembrou-se de quando Neji havia aparecido à porta de seu apartamento para dizer que ele e Gaara estavam pensando e revogar os contratos com a gravadora. E lembrou-se como ele se viu impotente diante da vontade dos amigos. Seus conselhos não bastavam, sua interferência era ineficaz. Tanto para ajudá-los na situação como para dissuadi-los. Tudo era em vão. E foi em vão. Agora o que ele só sabia era se lamentar. Ele e Naruto também não voltaram aos palcos, mas não saíram da gravadora. Eles ainda tinham um fio de esperança. Mas nada adiantou.

E os quatro brigaram entre si. Não se viam mais, não se ligavam mais e Sasuke temia em pensar se eles ainda eram amigos. Amigos. Essa palavra nunca havia doído tanto. Havia um peso indescritível nela e tudo que Sasuke fazia para se aliviar desse peso era beber. Não dormia mais, nem as pílulas adiantavam. Pelo menos o álcool o ajudava a desmaiar e a não ter sonhos. Ou melhor: pesadelos.

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"Quando as lágrimas começam a rolar pelo seu rosto.

Quando você perde algo que não pode substituir

Quando você ama alguém, mas é desperdiçado

Pode ser pior?"

Hiato. Hyuuga Hinata odiava aquela palavra. Nacionalmente conhecida como Hyuuga Hina, cantora e dançarina do grupo pop japonês, ela se via dividida pelo seu grupo e sua faculdade de dança. Ah, ela era uma excelente bailarina, mas a sua vida dupla começava a prejudicá-la. A faculdade começava a exigir seu tempo e dedicação, coisa que como sendo uma pop star não estava ajudando. Entrevistas, ensaios, shows, tudo isso consumia o seu tempo e ela, perfeccionista como era, não queria atrapalhar seus estudos. E ela persistia na sua jornada estudante versus estrela pop.

Até que foi chamada no gabinete do reitor. Depois daquilo tudo mudou. Precisava se concentrar nos estudos. E foi assim que o grupo entrou em hiato.

O sol se recolhia quando enfim, Hinata deixou a sala de dança moderna para poder então retornar para a sua casa após um dia exaustivo na universidade.

Encontrava-se no vestiário trocando suas meias-calças por calças de verdade quando seu telefone tocou e ela pode ver sua amiga e também companheira de grupo Tenten.

-Oi, Tenten! – ela atendeu radiante. Fazia alguns meses que não se encontravam.

-Hina! – a outra respondeu como o seu costumeiro bom humor. – Quero te ver hoje! Podemos sair?! Tenho algumas novidades.

E assim, a garota rumou para casa para se arrumar e encontrar com Tenten numa cafeteria pequena e de estilo retrô.

Ambas fizeram seus pedidos e aguardaram pacientemente.

-Eu vou me concentrar na minha carreira de atriz agora. – comentou Tenten, consertando as madeixas castanhas e levando a xícara de cappuccino quente aos lábios. – Como estamos em hiato e esse sempre foi minha vontade inicial...

-Faz muito bem! – comentou a bailarina quanto trazia à boca o canudo de seu suco de morango. – Ficar parada é exaustivo.

-Nem fale. Já faz seis meses que estamos nesse chove não molha graças a alguém! – Tenten sorriu e piscou para a outra, divertida. – Além de que, acho uma ótima oportunidade para eu me focar e tentar me destacar na minha verdadeira área de trabalho.

-Concordo. Por isso que tive que deixar de lado nossa vida corrida. Precisava me valorizar e colocar em primeiro lugar minha dança. – Hinata sugou mais um pouco do suco, pondo-o de lado. – Eu fui escalada para um curso nos Estados Unidos. Tudo pago! Eu vou pra Los Angeles!

A sua amiga bateu palmas em aprovação à boa notícia. Elas se abraçaram em comemoração e mal viram quando um jovem alto, charmoso e de pele bronzeada adentrou o lugar fazendo o sino instalado próximo à porta soar.

- Tenten! Hina!

As duas ergueram o olhar ao mesmo tempo em que viam o doce, atrapalhado e gentil Uzumaki Naruto se aproximar. Elas o cumprimentaram com alegria e ofereceram uma cadeira que ele aceitou com gratidão.

-Como vocês estão passando?

-Bem, Naruto! – sorriu Tenten levando um pedaço de sua torta de limão à boca.

-Estamos deixando as novidades em dia. – continuou Hinata, piscando os longos cílios. – E você como está?

-Bem... Estou... Levando. – comentou o jovem cabisbaixo. – Mas no geral estou bem. Quem não está nada bem é o Teme.

Tenten só ergueu as sobrancelhas e deu uma olhadela rápida para a amiga que havia ficado levemente sem graça com o nome citado.

-Por que, Naruto? – Tenten perguntou erguendo a cabeça e olhando não para o rapaz, mas para a outra garota que agora lhe chutava levemente a perna.

-Eu acho que ele ainda não se acostumou com a idéia. – continuou o rapaz sem notar a movimentação ao redor. – Tenho pra mim que ele anda se culpando com tudo que tem acontecido.

-Ahh... Imagino que ele ande precisando de alguém que console ele. – Hinata sentiu a amiga falar em sua direção mais uma vez com um tom de voz artificial e insinuativo. – Não concorda, Naruto?!

O rapaz, alheio às incitações de Tenten e ao constrangimento da outra ergueu os ombros em dúvida.

-Não acredito muito nisso pra falar a verdade. Ele anda se fechando ultimamente. Não conversa mais, finge que está tudo bem e se embriaga a noite.

Um silêncio tomou conta do ambiente sendo interrompido vez ou outra pelo som do cappuccino de Tenten sendo sugado pelos seus lábios. Uma garçonete muito feliz quebrou de vez o silêncio quando chegou com o pedido de Naruto. A atrapalhada moça apenas conseguia sorrir para os três clientes com uma expressão boba no rosto.

Impaciente, Tenten sorriu e deu dois tapinhas no ombro da garçonete que se afastou ainda soltando risadinhas.

-Você ia dizendo... – retomou o assunto a mesma apoiando os cotovelos na mesa e o queixo nas mãos. – Quer dizer que Uchiha Sasuke fica de porre toda noite, é?!

-Pois é. E eu que fico de babá e acabo sem dormir direito. – o rapaz sacudiu a balançou a cabeça numa expressão de indignação.

Hinata mordeu o lábio inferior e acariciou o ombro do amigo que sorriu em agradecimento pelo afago. Ali, refletido nos olhos de Naruto as duas puderam ver um pouco da tristeza que estava não só em volta de sua banda, mas por toda a gravadora. A separação havia sido um baque para todos.

Mais tarde, na varanda de seu apartamento, Hinata fitou as estrelas que brilhavam timidamente no véu negro que se estendia sobre toda Londres. O vento desarrumou seus cacheados cabelos castanhos, fazendo-os se soltarem do coque que estava até então amarrado em sua cabeça. Um arrepio percorreu as suas costas e uma lembrança percorreu-lhe a mente. A lembrança acariciava-lhe sutilmente e ela, ao invés de sorrir em satisfação, deixou que uma lágrima lhe brotasse no canto do olho esquerdo.

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"Luzes vão te guiar até em casa

E aquecer teus ossos

E eu tentarei, consertar você"

Ele não era obrigado a estar ali. Ele não precisava estar ali. Na verdade, ele não tinha o que fazer ali, mas mesmo assim ele a sua imagem refletida no enorme espelho que ocupava o salão de dança da gravadora mostrava uma face concentrada e suada de um homem esforçado que recapitulava todas as coreografias de suas músicas. Músicas que foram gravadas por um quarteto e que soavam fortes nos ouvidos de Uchiha Sasuke. Seu iPod estava no volume máximo e o homem vestindo moletom preto e calças de ginástica acinzentadas não notou a entrada de uma garota na sala de dança.

Ela retirou os saltos e aproximou-se a uma distancia segura do homem e o acompanhou em seus movimentos.

Sasuke dançava entretido. Ia para um lado para o outro até que girou. Quando girou percebeu o corpo esbelto envolto por uma saia jeans e uma blusa sem alças preta e de renda. Ele parou e sentiu-se zonzo já que não havia parado um minuto sequer para descansar entre uma música e outra.

Ele pronunciou seu nome, mas não pode ouvir nem mesmo suas palavras já que os fones no seu ouvido não deixavam. A garota sorriu e se aproximou, retirou do bolso dele o aparelho, escolheu uma música, o conectou a uma caixa de som disponível ali no salão e se aproximou.

- Vamos dançar. – ela disse no ouvido do outro. - Um tango soou.

Sasuke tomou a cintura dela e a conduziu com eficiência. Ela o olhava nos olhos, olhar este que ele retribuiu. Eles giraram pelo espaço da sala e quando seus olhos se distanciavam por causa de um giro, logo voltavam a se encontrar. A música se intensificou e o casal dançava graciosamente, de um jeito sedutor. As cochas da garota se encontravam com a cintura do homem e os dois ofegavam com a intensidade e charme do espetáculo particular.

Quando a canção chegou ao final, Sasuke jogou Hinata pra um lado sem soltar sua cintura e escondeu o rosto no seu ventre.

Ficaram naquela última posição por alguns segundos até que ele a ergueu gentilmente e foi pegar o seu iPod que já começava a tocar outra música.

-Bom te ver, Sasuke-kun. – murmurou a garota arrumando os cabelos agora desajeitados pelos passos de dança. Ela tentou um sorriso na direção dele.

-Bom te ver também, Hina– sua voz era seca.

Ele não mais olhou para ela, tampouco retribuiu o gentil sorriso que lhe fora dado. Apenas caminhou em direção a sua mochila e de lá retirou uma toalha que enxugou o rosto molhado de suor e uma garrafa que Hermione duvidou muito que fosse água quando ele a levou a boca e fez uma careta ao dar o primeiro gole.

-O que é isso?! – ela tomou a garrafa das mãos do homem que sem reflexos não conseguiu pegar de volta e cheirou seu conteúdo. O cheiro de álcool desceu por suas entranhas e a garota voltou-se para ele com um ar de decepção. – Você agora virou alcoólatra?

Sasuke revirou as orbes ônix e tomando a garrafa de volta para si, deu mais alguns goles. Nada disse, apenas guardou tudo dentro da sacola e a fechou. Já estava indo embora, quando Hinata o puxou pela manga da camisa.

-Encontrei com Naruto-kun ontem. – ela ia dizendo. – Ele está bastante preocupado com você.

-Meus problemas com Naruto, eu mesmo resolvo. – e se livrou das mãos dela com rispidez.

-O problema não é só de vocês! – ela exclamou, angustiada. – Você não conversa com ninguém direito há meses! Ninguém te vê, ninguém sabe de você e quando te encontram, você não conversa! Só fica bêbado pelos cantos...

-Ninguém pediu sua opinião. – ele puxou os cabelos negros arrepiados para trás, num gesto irritado.

-Mas eu quis dar, oras. Acho que você esqueceu que você é o líder. Naruto-kun também está precisando de você.

-Ótimo líder eu sou. – Sasuke vacilou e levou a mão livre ao rosto, limpando os olhos rapidamente. – Talvez esteja na hora de mudarem de líder...

Ele caminhou até a porta sem ser impedido por Hinata.

-Você pode até tentar desistir de si mesmo, Uchiha. Mas tem muita gente que não vai. – ele parou com a porta aberta sem se virar e ela soube que ele estava ouvindo. – A culpa disso tudo não é sua. Aliás, não existe quem culpar! Apenas... aconteceu.

Sasuke fechou a porta atrás de si sem olhar pra trás indo em direção ao carro. Ele dirigiu o mais rápido que podia enquanto virava o conteúdo de sua garrafa goela abaixo. A bebida embaçava sua visão e diversas vezes o volante saiu de seu controle durante seu trajeto para casa. Como se algo maior o vigiasse, Sasuke chegou em casa intacto, ainda que trôpego. Demorou alguns minutos até que ele acertasse o buraco da fechadura e pudesse se arrastar e se jogar no tão conhecido sofá de couro preto. Apagou.

O sonho era confuso e até mesmo ali, tudo girava. Sasuke sentiu uma imensa vontade de vomitar enquanto luzes turvas brilhavam forte em sua mente e piscavam com intensidade. Então acordou caído de bruços no tapete. O vômito escorrendo pelo canto de sua boca e um pano úmido lhe enxugando a testa encharcada de suor. Ele tentou reconhecer a mão que lhe ajudava, mas o esforço lhe promoveu voltas no estômago. Apenas percebeu que ainda era de madrugada quando olhou o relógio digital e viu – ou pensou que viu – que eram duas e vinte e sete da manhã. Sendo assim, apenas fechou os olhos e aceitou a ajuda. Seja quem fosse agora lhe ajudava a se erguer do chão e a andar em direção ao banheiro de seu quarto. Sentiu sua camisa sendo desabotoada lentamente pelas mãos – como ele sentiu – leves enquanto estava sentado no tampo do vaso sanitário. Suas calças também foram desabotoadas e retiradas com delicadeza. Finalmente somente separado de sua cueca box preta da nudez completa, foi guiado ao chuveiro que lhe acertou um jato gelado de água.

Assustado, porém ainda tonto, ofegou levando as mãos a cabeça para massageá-la e retirou a cueca encharcada para se enxaguar. Aos poucos recuperou a consciência e olhou em volta. Não havia ninguém ali. Franziu o cenho ainda se banhando, a cabeça latejando de dor. Fechando a torneira após o termino do banho, puxou a toalha preta e enrolou-se pela cintura. Pingando, saiu do banheiro olhando em volta. O quarto também estava vazio, mas logo reparou que a porta de seu closet estava encostada.

Hyuuga Hinata encontrava-se ali, escolhendo uma camisa para combinar com uma bermuda que já estava em suas mãos quando, pulando para trás percebeu a presença do homem que a olhava de um jeito sério.

-Já terminou? – ela perguntou num sussurro.

-Já, não está vendo?! – Sasuke soou mal-humorado. – O que está fazendo aqui?

-Eu te segui. – ela replicou rapidamente num tom mais forte. – O porteiro deixou que eu subisse para ver como você estava e eu encontrei a porta aberta e você estirado no chão, fedendo a vômito. De nada. – completou ela, o olhando com os olhos perolados de maneira intensa e oferecendo as roupas que carregava.

Sasuke nada disse. Apenas tomou as peças da mão da garota e as analisou por alguns poucos segundos procurando alguma coisa para criticar.

-Cueca. – ele sibilou.

-O-o quê? – as maçãs do rosto da garota tornaram-se intensamente vermelhas à menção.

-Você esqueceu de pegar uma cueca para mim. – respondeu Sasuke agora ensaiando o sorriso de deboche.

-Ah. – rapidamente a garota se virou ainda enrubescida, escolheu uma peça qualquer e jogou para o homem rapidamente como se não quisesse manter contato com o algodão macio na ponta dos seus dedos.

Ele apanhou no ar e se virou, abrindo a tolha pela parte da frente para provocá-la e vestindo primeiro a cueca e depois a bermuda. Livrou-se da toalha e voltando a se virar para uma Hinata muito vermelha, vestiu a camisa branca que grudou no seu peito albino ainda molhado.

Ficaram ali se encarando por alguns instantes. Até que ele cortou o silêncio com a voz sarcástica.

-Muito obrigado, Hinata por socorrer este alcoólatra, mas não preciso mais de sua ajuda. Pode ir embora. Deixe que eu lhe acompanhe até a porta. – e fazendo uma reverência exagerada, Sasuke apontou o caminho para fora de seu quarto.

Ele não fazia isso porque a presença dela o incomodava. Fazia isso pois não queria envolvê-la nos seus problemas e ficou aliviado ao ver que ela o seguiu, e ficou um pouco receoso ao perceber o olhar baixo que ela sustentava. Contudo, ela apenas o acompanhou até a sala de estar que ainda exalava o cheiro do vômito dele.

-O que foi? – perguntou ele.

-Eu não vou embora. Não agora.

Bufando e girando os olhos negros teatralmente, o homem se dirigiu ao bar pessoal que ficava próximo a enorme varanda de seu apartamento.

-Ok, então. Fique e assista. – comentou enquanto começava a destampar uma garrafa de Jack Daniels e o colocava puro num copo de vidro parte para incomodá-la, parte para se aliviar.

Mas antes que terminass; a garrafa e o copo foram tomados de suas mãos.

-Nem pensar. – ela disse entre dentes. – Eu vou ficar por um motivo: não te deixar encostar em sequer uma gota de álcool.

Rápida e ágil, Hinata equilibrou mais algumas garrafas em suas mãos e correu para a cozinha onde as esvaziou na pia e colocou os frascos vazios no chão.

Um incrédulo moreno a observava da porta da cozinha tentando achar palavras para revidar.

-V-você sabe quanto custa cada garrafa dessas? – ele finalmente perguntou, se aproximando dela enquanto ela esvaziava a última garrafa que havia trazido.

-Não quero saber. – ela ergueu as sobrancelhas e lhe deu um olhar determinado. O tirou do caminho e logo voltou com mais seis garrafas – as últimas do bar – bem equilibradas entre os braços.

Tentando impedi-la de continuar o trabalho, ele puxou uma das garrafas que, com o bom reflexo que tinha, ela não deixou facilmente fazendo a garrafa escorregar e se espatifar em mil pedaços de vidro no chão da cozinha. Sasuke se afastou dando um pulo para trás, Hinata, no entanto, tentou pegar a garrafa antes dela atingir o chão, inutilmente e juntamente com o conteúdo da garrafa, umas gotas vermelhas escorreram para o chão e o homem logo reconheceu o sangue.

-Ai... – grunhiu a garota estendendo a mão cortada para olhar melhor. – Me cortei.

-A culpa é sua. – comentou o homem se agachando e puxando a mão da garota para ele também poder ver o corte. – Se tivesse me entregado a garraf...

-Uchiha! – ela o olhou irada. – Por favor, cale-se e vai pegar algumas coisas para eu fazer um curativo!

Crispando os lábios preocupado, Sasuke levantou-se a puxando pela mão boa até o banheiro do seu quarto ainda pensando no que acabara de acontecer. Ela o acompanhou sem mais nada dizer e ele se perguntou se ela estaria muito chateada. Ele levou sua mão ferida e abriu a torneira deixando a água cair sobre o corte e ,o mais suavemente que conseguiu, girou a mão fina e delicada da garota entre as suas. Depois passou sabão neutro fazendo a garota gemer por causa do ardor. Logo em seguida abriu o armário debaixo da pia e de lá retirou álcool iodado, gazes e esparadrapo. Gentilmente, despejou um pouco do iodo na mão da garota que agora mordia o lábio inferior para conter um silvo de dor. Dor que estava nítida em sua face retorcida. Sasuke aplicou a gaze tapando o corte, e para segurá-las colocou um pedaço do esparadrapo.

Ao fim, desejou que o processo tivesse sido um pouco mais longo para que pudesse segurar a mão dela entre as dele só mais um pouco.

-Fique aqui. Eu vou ajeitar a cozinha. – ele disse. – O corte não foi profundo, você vai ficar bem.

Após enxugar o chão e varrer os cacos de vidro, Sasuke voltou para o seu quarto e a encontrou sentada na ponta da cama, analisando o curativo que ele fizera.

-Ainda está ardendo? – quis saber. Ela aquiesceu.

-Arigatô, Sasuke-kun.

-Dotashimashiteee. – murmurou, sabendo que era ela que estava curando aquela dor que estava carregando dentro de si havia muito tempo. Curando apenas com o seu singelo sorriso.

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"Bem no alto ou bem lá embaixo.

Quando você está muito apaixonado para esquecer.

Mas se você nunca tentar, nunca vai saber.

O quanto você vale."

Hyuuga Hinata permaneceu no apartamento de Uchiha Sasuke, ainda que a contragosto dele. Terminou de esvaziar as garrafas sem dar atenção às caretas dele, limpou o carpete da sala e o colocou para tomar vento na varanda, passou um pano úmido na cozinha para tirar o cheiro do álcool que a bebida derrubada anteriormente deixara, e vasculhou cada canto do apartamento para se certificar que não havia mais nenhuma bebida alcoólica escondida.

Já era de manhãzinha quando ela finalmente se sentou no sofá com o copo d'água na mão boa. Mirou o curativo improvisado como havia feito durante todo o resto da madrugada. Sasuke havia pegado no sono em seu quarto e ela se aproveitou disso para cumprir sua missão.

Exausta e contente consigo mesma, ela calculou que ele iria dormir por mais um bom tempo, por isso tomou a chave que se encontrava na fechadura e foi para a sua própria casa. Era domingo, por isso não tinha que ir para faculdade. Apenas pegou uma mochila de roupas, tomou banho e rumou para o supermercado. Comprou algumas coisas e voltou para o apartamento do moreno.

Percebeu que, como havia previsto, ele ainda não havia acordado. Dirigiu-se para a cozinha para preparar o café da manhã. Preparou panquecas doces e salgadas, passou um café bem forte para ajudar na ressaca que ela sabia que Sasuke teria. Colocou os pratos sobre a mesa de vidro que ficava próxima ao sofá e quando terminava de ajeitar duas almofadas as quais eles se sentariam.

Sasuke surgiu com os cabelos bagunçados e o rosto marcado pelos lençóis de sua cama.

-Ohayou Gozaimasu. – ela sorriu para ele que logo se sentou sobre a almofada no chão.

-Uau. Está cheirando bem... – comentou ele enquanto começava a se servir.

Com um sorriso ainda maior, a garota o acompanhou. Comeram em silêncio e Hinata percebeu que ele não tinha um café da manhã decente há dias.

- "Talvez estivesse trocando a comida pelo álcool" - pensou ela enquanto analisava o corpo de aspecto doente que Sasuke carregava. Não porque estivesse magro. Mas porque estava pálido, mais pálido do que de costume, se isso era possível.

-Como está a sua mão? – ele quis saber.

-Bem. – respondeu voltando a olhar para o curativo de maneira carinhosa.

-Vem, vamos trocar esse curativo. – ele estendeu a mão para que ela o acompanhasse até o banheiro novamente.

Delicadamente, ele repetiu o processo que fizera anteriormente e ela, submersa em seus pensamentos, apenas sentiu o toque macio das mãos grandes do homem sobre a sua.

Sendo assim, ela relembrou mais uma vez. Hinata não podia esquecer. Ela não poderia. E ela nem tinha certeza se aquilo que ocorrera entre os dois um ano atrás havia significado algo para Sasuke, mas ela sabia o quanto havia significado para ela.

Era uma noite de sábado em Londres e chovia. Aquele dia estava acontecendo um grande evento que reunia todos os artistas da gravadora num show gigantesco para os fãs. O grupo dela havia acabado de descer do palco após mais uma apresentação bem sucedida e ela e as outras três garotas conversavam enquanto bebiam água. Tudo estava bem, se não fosse a tensão entre quatro garotos que se apresentariam daqui a poucos minutos. A banda de Sasuke, Naruto, Neji e Gaara ia ser a atração principal com seu novo single, mas ao invés de uma aura feliz e alegre como costumavam exalar, os garotos estavam quietos e conversavam baixo separados em dois grupos.

-Eles não parecem nada bem. – comentou Tenten entre um gole e outro de água.

-E não estão. Vocês não estão sabendo? – Sakura ergueu as sobrancelhas ao mesmo passo em que baixava a voz num sussurro quase inaldível. – Ouvi o Neji e o Sasuke conversarem. – a rosada enrubesceu com a informação dada já que isso significava que ela havia espiado os dois. – Na verdade eles estavam discutindo sobre a banda.

O ar de mistério pairou no ar enquanto a mais baixinha do grupo bebia um pouquinho mais da sua água.

-E aí! – quis saber uma afobada Ino, cutucando o ombro da amiga. – O que eles estavam falando?

-Bem... eu não entendi direito mas parece que JunSu, YooChun e JaeJoong queriam mudar os termos do contrato e... não conseguiram. – Sakura olhou para os lados, apreensiva.

-E isso significa... – Ino segurou a garota pelos ombros, quase sacudindo-a.

-Significa que eles vão entrar em hiato forçado.

A revelação fizera as meninas ficarem em silêncio mirando os próprios pés. Hinata, no entanto, continuou olhando para os rapazes observando o quanto estavam estranhos e desconfortáveis. Notou quando foram chamados para o palco e como se locomoveram de forma arrastada e pesada.

Mais tarde naquele mesmo dia, quando havia se trocado e combinava com Tenten onde iriam jantar, Hinata entreouviu alguém comentar que o Uchiha não havia conseguido terminar a canção. Ele havia chorado bem na sua parte solo e deixara o palco antes que os outros.

Ela e Tenten deixaram transparecer surpresa e disfarçaram o olhar que deram quando o colega de gravadora passara depressa ainda com as roupas da apresentação em direção as escadas que levavam ao telhado do clube onde as apresentações aconteciam.

-Bem, preciso me trocar também! – comentou Tenten enquanto apontava para as próprias roupas. – Me espera um pouquinho.

Sozinha, Hinata decidiu-se por subir as escadas e ir atrás de Sasuke. Falar com o moreno, confortá-lo.

A chuva caia forte e a garota mal podia ver o que estava a sua frente. Apertou a visão enquanto o viu sentado num pequeno murinho que separava um gerador. Cautelosamente ela se aproximou e se sentou do seu lado.

-Está tudo bem? – ela disse num tom mais alto para se sobrepujar ao barulho da chuva e dos trovões.

Ele nada disse. Nem chegou a olhar a morena, apenas permanecera com os olhos negros fixos no chão. Ela então se levantou e começou a cantar e dançar bem a frente dele que enfim passou a prestar atenção nela.

-Preciso de um par aqui nessa parte. – ela disse interrompendo a dança e esticando a mão na direção dele.

Ele deu um meio sorriso de canto e aceitou o convite e a dança continuou. Quando terminou os dois davam risada por estarem dançando completamente encharcados e ela chegou a ter certeza que até mesmo seus ossos estavam mais pesados por causa de tanta água que caía.

-Arigatô. – ele comentou olhando-a carinhosamente.

-Estamos aí. – Hinata deu um soquinho delicado no ombro dele. Ainda sorrindo, retribuiu olhar que ele lhe dava. – Além disso, formamos uma boa dupla de dança.

Quando menos esperava, aquele olhar amigável transformou-se num olhar sério e quando esperava menos ainda, Sasuke aproximou-se dela e tocou os seus lábios finos nos dela.

Lábios quentes e gentis, ela pôde sentir. Hinata também pôde sentir os braços fortes e descobertos do homem a enlaçarem pela cintura para aproximar seus corpos. Sentiu seus olhos fecharem quando ele lentamente escorregou a língua para dentro de sua boca e beijar-lhe mais intensamente sem perder a sutileza. Imóvel, no entanto, ela não conseguia retribuir os carinhos que recebia. Assim sendo Sasuke se afastou e a deixou ali na chuva sussurrando um baixo "Me desculpe...".

Aquele momento, Hinata não havia tirado da cabeça nem por um segundo. O beijo nunca havia se repetido desde então e ela mal vira o próprio Uchiha durantes os doze meses que se sucederam. Nada. Nem mesmo uma ligação. E a sensação que ele lhe provera ainda percorria seu corpo e ela sabia, tinha certeza que queria que mais uma vez aquele beijo se repetisse.

Queria lhe dizer que ela havia gostado e que o as desculpas dele eram totalmente desnecessárias, mas não tinha coragem... Por isso apenas aproveitou o toque gentil do curativo sendo refeito.

-Vou passar essa semana te vigiando. – brincou ela quando ele enfim a soltou. – E também para você terminar de cuidar da minha mão.

Ele apenas deu um meio sorriso de canto.

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"Luzes vão te guiar até em casa

E aquecer teus ossos

E eu tentarei consertar você"

Havia passado um mês desde que ele havia se encontrado com Hyuuga Hinata. Desde então ele não estava mais exagerando na bebida. Saia para a academia pela manhã, pela tarde passeava pela praia com um filhote de doberman preto que ele mesmo se dera de presente recentemente, chamado Kuro, às vezes visitava Uzumaki Naruto e pela noite ele voltava ao salão de dança da gravadora para continuar com seus ensaios que iam até a madrugada. Quando dormia, sonhava com a pele macia de Hinata e desejava que ela estivesse ali em sua casa novamente, nem que fosse por apenas um dia. Queria ter mais garrafas para serem confiscadas por ela, queria sentir o seu perfume lavanda que exalava da curva de seu pescoço, queria beijá-la como já havia feito uma vez. Mas ele ainda se lembrava como ela não retribuíra e por isso ele tinha receio. Receio de estragar pelo menos aquela relação de amizade que eles haviam reatado. Preferia isso a ficar mais um ano sem falar com ela, por isso uma vez por semana, eles trocavam mensagens e ele se sentia satisfeito.

Numa noite dessas, quando ele voltava para casa um pouco mais tarde que o usual, recebeu uma ligação de um preocupado Naruto. Sasuke não pode deixar de perceber a ansiedade na voz do amigo quando ele falou a primeira vez.

-Relaxa, Dobe. Eu não estou bebendo. Apenas ensaiei até mais tarde dessa vez... – Sasuke respondeu de imediato antes que o outro completasse o que ia falar, mas logo foi interrompido.

-Não foi por isso que liguei! – cortou o amigo soando irritado. – É a Hinata. Ela está no hospital! Parece que sofreu uma lesão grave na coluna enquanto se apresentava num balé... Ela não está nada bem...

Chocado com a informação e a preocupação correndo pelo seu corpo, pisou mais fundo no acelerador.

-Sasuke!? Teme! – O Uzumaki falava com a voz alterada do outro lado da linha. – Você ainda está na linha?

- Naruto, me diga qual é o hospital! Eu já estou a caminho...

-Mas, Sasuke. Ela está em Paris... – ia dizendo o rapaz, mas Sasuke apenas desligou o telefone sem mais explicações.

Acelerou o carro e apressou-se em direção a seu apartamento. Entrou em casa, fez as malas o mais rápido que pode, carregou o pequeno Kuro e o colocou em sua pequena kennel.

-Vamos tirar umas férias, Kuro...

O Hospital de Paris parecia escuro naquele dia. Eram cinco da manhã quando ele desembarcara no aeroporto. Rumara direto para um Hotel, deixara Kuro no quarto com água e ração suficiente para um dia, tomara um rápido banho e agora, 8:10 em ponto ele chegava ao hospital. Ansioso, se movimentou rapidamente até a recepção apoiando-se na bancada. Falando fluentemente em francês pediu à recepcionista que lhe dissesse qual era o quarto da Srta. Hinata Hyuuga.

Percorrendo os corredores, Sasuke enfim achou o quarto 1103. Girou a maçaneta cautelosamente e ali naquele quarto deparou-se com uma adormecida Hinata. Seus longos cabelos lisos caiam-lhe pelos ombros e ela se via deitada no leito de lençóis brancos enquanto Tenten sentava-se ao seu lado num pequeno sofá.

Quando percebeu a sua presença, Tenten sorriu sem graça e Sasuke notou que havia olheiras profundas ao redor de seus olhos.

-Uchiha... – ela murmurou o mais baixo que podia. – Bom te ver.

-Konbanwa, Tenten. – ele respondeu no mesmo tom baixo. - Como ela está? – quis saber olhando para Hinata com um ar preocupado.

-Ah... – ela olhou para a amiga deitada bem ali. – Parece que foi bem séria essa lesão. Vai fazer uma cirurgia para ver se... - A mulher levou a mão à boca e o ele percebeu que seus olhos haviam se formado uma lagrima. - Para ver se ela pode voltar a dançar... – completou com a voz rouca.

Sasuke ficou pasmo. Todos sabiam que o maior sonho de Hinata era ser uma bailarina profissional e agora que havia se voltado inteiramente para a faculdade, não era justo que tudo terminasse daquele jeito.

-Logo agora... – continuou Tenten contendo as lágrimas. – Logo agora que ela foi chamada para uma companhia de dança aqui em Paris...

Sasuke fitou o rosto adormecido de Hinata mais uma vez e ele viu o caminho que algumas lágrimas, agora secas, haviam percorrido por suas bochechas até o queixo.

- Tenten vá pra casa. Eu fico com ela até ela acordar. Você precisa descansar.

-Tem certeza? Não quero te dar trabalho...

-Não é trabalho algum. Vá pelo menos dormir um pouco. Dá pra ver que não descansou nada.

Antes de sair, Tenten deu um beijo na testa da amiga e dando um aceno de cabeça para Sasuke murmurou um "Cuide bem dela".

As horas se passaram lentamente para ele que constantemente checava se ela estava dormindo tranquilamente, se o intravenoso estava colocado da maneira certa(mesmo não sabendo qual seria a maneira correta), se o travesseiro estava fofo o suficiente e se por acaso ela estava tendo pesadelos. Vez ou outra ele a viu tremer, ou murmurar palavras sem sentido ou franzir a testa. Quando ela o fazia, ele lha acariciava os cabelos até que ela voltasse a ter um sono tranqüilo, mas nem um só vez ela despertou.

Com os olhos, Sasuke contornou as curvas do rosto de Hinata explorando calmamente cada cantinho, cada traço. As pálpebras estavam levemente inchadas, motivo pelo qual – ele suspeitava – estava chorando quando foi levada ao hospital. A sua pele estava pálida, sem cor, por isso achou por bem abrir um pouco mais as cortinas para que o sol entrasse. Seus cabelos estavam perfeitos e novamente o homem levou a mão á testa da garota afastando um pouco sua franja, movimento o qual – ele não deixou de reparar – fez Hinata, ainda adormecida, se arrepiar. Sua boca estava levemente aberta, deixando que o ar passasse pelo pequeno espaço que ali existia. Boca que possuía lábios grossos que se abriam como um botão de rosa que agora estavam ressecados. A respeito disso ele queria fazer alguma coisa. Queria molhar os próprios lábios e beijá-la. Ao invés disso, levou sua mão a dela e a segurou com delicadeza. Sem soltá-la, sentou-se no sofá e encostou a cabeça na ponta do colchão.

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"Lágrimas rolam no seu rosto

Quando você perde algo que não pode substituir

Lágrimas rolam pelo seu rosto

E eu..."

Sentiu um raio de sol esquentar a parte direita de seu rosto. Estava confortável, ela não queria despertar para a realidade de sua condição. No entanto, havia outro calor reconfortante em sua mão: um calor suave e terno. Lentamente foi abrindo os olhos, tomando conhecimento do quarto a sua volta e daquela mão que esquentava a sua.

Ela não podia acreditar em seus olhos. Ali, deitado próximo á sua perna estava um adormecido Uchiha Sasuke que segurava com delicadeza sua mão em cima do colo. Ela sorriu para si e apertou um pouco mais a mão segura na sua. Com a mão livre ela aproximou dos cabelos arrepiados do moreno e os afagou, tomando cuidado para não despertá-lo. Continuou fazendo carinho e traçando caminhos pelos cabelos negros do outro. Satisfeita e com o coração acelerado ela afastou a mão, preocupada que ele tivesse sentido os seus toques.

Quando já suspirava aliviada que ele não tivesse despertado, tomou um susto quando reparou nos olhos negros de Sasuke olhando fixamente para ela.

-Por que parou? Estava bom. – ele sorriu quando as maçãs do rosto da garota enrubesceram de leve, tão quanto sua palidez permitiu.

-V-você estava acordado todo esse tempo? – ela quis saber apertando os olhos como se temesse a resposta.

-Desde que senti sua mão apertar a minha.

Eles deram risadinhas baixas. Mas logo Hinata se lembrou da dor nas suas costas. Uma dor que se espalhava por todos os seus movimentos. Suas feições devem tê-la denunciado, pois Sasuke agora a encarava com um olhar sério e preocupado, com o cenho franzido.

-Quer que eu chame o médico, uma enfermeira?

-Não é necessário. Essas dores são normais... – ela tentou sorrir em meio à dor, mas fracassou e voltou a falar com a voz embaçada. – Tem uns comprimidos nessa gaveta, pode pegá-los para mim?

Ela apontou para um pequeno criado mudo ao lado da cama onde havia uma bandeja com uma jarra d'água e dois copos. Sasuke abriu a gaveta, pegou uma pílula de cada cartela, serviu um pouco de água em um dos copos e levantou-se para ajudá-la, pondo um remédio por vez em sua boca e a ajudando a sustentar o copo de vidro nas mãos.

- Arigatô. – ela sorriu timidamente e voltou a se acomodar na cama. Ela o contemplou por alguns instantes enquanto ele depositava o copo de volta na bandeja. – Sasuke-kun, o que faz aqui? Digo, você não estava em Londres?

-Não. Estava por aqui a passeio quando Naruto me ligou dizendo que você estava no hospital. Passei pra ver como estava para retribuir o favor. Tenten pediu para que ficasse um tempo com você para que ela pudesse descansar um pouco.

Hinata não notou as falsas descrições dos fatos relatadas pelo moreno e voltou sua atenção para a manga da camisa dele que estava levemente rasgada.

- O que aconteceu? – perguntou apontando para o local com o indicador.

- Nada de mais. Lembra que eu te mandei uma mensagem dizendo que eu havia comprado um cachorro?

Ela riu ao recordar, perguntando-se se o cachorro gostava de roer todas as roupas dele.

Passaram o resto da manhã assim. Conversando, dando risada e até as dores de Hinata pareceram melhorar um pouco. Parte por causa do analgésico que tomara, parte pela presença de Sasuke ali, divertindo-a. Os dois almoçaram no quarto do hospital quando uma enfermeira trouxe uma bandeja com dois pratos de sopa.

Ele tornou a ajudá-la a tomar sua sopa, levando a colher à boca da garota lentamente. Ela corou, mas aceitou a ajuda já que tinha dificuldade até mesmo para pegar numa colher devido às dores.

-Comida de hospital. Ninguém merece. – comentou Sasuke, duas horas depois quando finalmente Hinata havia esvaziado seu prato e ele o dele. – Quando você sair daqui, vou te convidar pra ir lá em casa novamente e eu vou cozinhar para você.

-Cozinheiro, é?! Essa eu não esperava.

-Aprendi algumas coisas. Não dá pra pedir comida em restaurante sempre! É enjoativo. Às vezes eu queimo a comida, mas dá pra engolir. Além disso, preciso retribuir toda aquela semana que você cozinhou para mim.

Os dois riram e Hinata pensou que poderia estar tão bem quanto uma pessoa naquela situação poderia estar. Estar ao lado de Sasuke e sentir o toque de sua mão na dela vez por outra, a acalmava e a fazia pensar que poderia conseguir superar tudo aquilo.

Os dois entraram em silêncio quando seus olhares se cruzaram com uma dada intensidade quase ao mesmo tempo que Tenten entrava no quarto.

-Konnichiwa! – ela saudou e foi logo beijar o rosto da amiga. – Vejo que está se sentindo melhor, Hina!

-Um pouco. – confirmou.

-Fico feliz. – ela sorriu. – Na recepção me disseram que sua cirurgia foi marcada para amanhã à tarde.

Hinata aquiesceu.

-Eu vou estar aqui quando você acordar. – completou Tenten, acariciando a testa da amiga.

-E eu vou estar aqui o tempo todo – Sasuke disse ainda sem ter desviado seu olhar sequer para ver Tenten entrar e a garota enrubesceu sentindo-se protegida e segura apenas pela menção daquelas palavras.

E quando ela acordou após a cirurgia, sentiu a mão quente de Sasuke tomar a sua. Viu o sorriso dele se formar depois de desenhar com os lábios "Foi um sucesso" e ela sorrir para si mesmo que ainda havia esperança.

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"Luzes vão te guiar até em casa

E aquecer teus ossos

E eu tentarei consertar você"

Eram quase três da madrugada quando o celular de Sasuke tocou fazendo-o pular de sua cama com o susto. Olhou o visor e viu ali o nome de Hinata o chamando. Rapidamente atendeu a ligação com a voz ainda sonolenta.

-Er... Sasuke-hun? – ele ouviu a voz chorosa do outro lado.

-Aconteceu alguma coisa? – quis saber depressa.

-Mais ou menos... – a voz de Hinata falhava do outro lada da linha. – Me desculpe, Sasuke-kun. Eu não devia ter te acordado...

E antes que ele pudesse responder qualquer coisa, ela desligou o telefone. Preocupado, o moreno procurou qualquer roupa no closet, catou as chaves do carro e rumou para o apartamento da garota o mais rápido que conseguiu.

Havia quatro meses desde que ela voltara para Londres e se recuperava lentamente da cirurgia o que a deixava frustrada. Toda vez que Sasuke a via, sentia a garota desestimulada e deprimida.

Bateu à porta do apartamento três vezes e quando a maçaneta girou, ele pode ver o rosto inchado e as lágrimas rolando dos pequenos olhos pelorados de Hinata ainda que tudo dentro da casa estivesse escuro.

Ele a enlaçou pela cintura e beijou a sua testa.

-Você não precisava ter vindo aqui... – sussurrou entre soluços.

-Shhhh... – Sasuke a abraçou com mais força, sentindo as lágrimas dela molharem a sua camisa. – Eu vim porque fiquei preocupado.

Lentamente ele a guiou para a varanda do apartamento seguindo o brilho que lua emanava do lado de fora. Com a brisa suave batendo nos cabelos de ambos, Sasuke observou os olhos marejados da garota que retribuiu vacilante.

-Se eu não conseguir... Eu não tenho mais nada... – Hinata deixou mais algumas lágrimas rolarem.

Sasuke enxugou o rosto da garota com o polegar deixando que a luz da lua cheia desenhasse os contornos da face da menina. Sem se conter mais um instante, ele se aproximou dela, puxando levemente a sua nuca e pousando um beijo cálido nos lábios úmidos e levemente salgados da garota que pareceu surpresa.

-Se você quiser, Hina...– ele murmurou baixinho, sentindo mais algumas lágrimas descerem do rosto dela. – Se você quiser, eu vou estar aqui para você.

Mais uma vez ele se aproximou dos lábios dela com cautela e se sentiu aliviado ao sentir os braços dela o envolver pelo pescoço e desta vez ele a beijou mais intensamente. Pegou-a no colo com gentileza e a guiou para o seu quarto.

Os lençóis tinham o cheiro dela quando ele a depositou ali. Ele sentiu o corpo dela se arrepiar quanto ele afastou uma das alças de seu pijama e sutilmente ela guiou a mão dele até o seu peito e ele sentiu o coração dela pulsar com força. Imitando-a, ele também levou a mão dela ao seu peito. E sorrindo, eles juntaram as cabeças, se afagando e ali souberam que aquele sentimento era mútuo.

E também souberam que qualquer dificuldade que enfrentassem dali pra frente, resolveriam sempre juntos.

-Eu espero por isso há tanto tempo, Sasuke-kun...– murmurou rouca, deixando lágrimas de felicidade serem derramadas.

-Eu também... – ele a deitou devagar tirando a própria camisa.

E assim, ele mergulhos nos cabelos negros azulados da garota, aspirando seu perfume, procurando aliviá-la de qualquer pensamento ruim, arrancando suspiros, beijando-a ainda mais. Ela sorria e sussurrava seu nome e aquele momento, eles sabiam, havia reorganizado tudo dentro de suas mentes. Tudo que estava confuso e escuro, estava claro agora. Tudo estava consertado, enfim.

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Notas finais do capítulo

Gostaram? E então? Mereço reivews???



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