O piano da casa ao lado escrita por Moon writer


Capítulo 1
Capítulo I - Ester


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Então, advinha quem resolveu escrever outro romance? SIM, EU! HAHAHAHA Exato, mais um para adoçar suas vidas. u-u

Boa leitura!



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Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade. Talvez seja. Não me considero uma pessoa infeliz e também não acho que não amar possa causar infelicidade. Senhor Camus, sinto muito, mas não concordo com o que escreveu.


A quem estou querendo enganar? Qual parte de mim é feliz? Qual parte deste maldito corpo não busca por um simples fragmento desse sentimento devastador, enganador e mortal que chamam de amor? Se ao menos eu tivesse uma família... Uma mãe alcoólatra, um pai depressivo e dois irmãos mortos não ajuda muito. Eu preciso de... Uma terceira pessoa. Um alguém que possa me fazer feliz, que possa me mostrar a pura essência do amor.


Garoto, concentre-se! Pare de pensar como uma garota. Você tem duas atividades para serem feitas ainda, não se deixe levar pelos pensamentos.


– Filho! - Meu coração acelera.


– Mãe, que susto.


– Desculpe, Fernando. Mas já te chamei três vezes. Escute, preciso de um favor seu.


– Eu estou estudando... - Volto minha atenção para os livros e cadernos dispostos na mesa. - Talvez outra hora.


– Não seja engraçadinho. Precisa ser agora! - Minha mãe se aproxima e põe a mão em meus cabelos. Sinto seu perfume de lavanda.


– Então diz. - Falo depois de um suspiro.


– Ontem você viu que chegaram pessoas novas na vizinhança. Marta já me contou que a nova dona está sozinha com a filha. Parece que o marido é falecido.


– Ah, sempre ela. - Marta era a fofoqueira... Digo, a nossa vizinha que morava do outro lado da rua. Nada escapava dos seus olhos e ouvidos famintos pela vida alheia. - Sua amiga deveria respeitar a privacidade dos outros. A senhora sabe que não gosto de fofoca.


– Ela não fofocou! - Minha mãe acerta minha cabeça com um cascudo. - Ela... Estava apenas me contando sobre a vizinha nova para que possamos ser amigáveis com eles. - Quase caio na gargalhada. Minha mãe nunca era convincente com seus argumentos.


– Sim, claro. - Sorrio enquanto olho distraído para a folha cheia de palavras do meu caderno.


– Enfim. - Ela abaixa e me faz olhar diretamente em seus olhos. - Quero que você vá convidá-las para um jantar aqui em casa.


– Oi? - Tomo um susto. - E por que a senhora não faz isso? - Sua expressão muda de entusiasmo e alegria para meu Deus que garoto chato!


– Querido, eu preciso fazer as compras para o jantar. - Ela levanta. - Vamos, vá convidá-las. Suas atividades podem esperar por um tempo.


Deveria jogar minha mãe em um pedestal e transformá-la numa deusa só por atitudes como essa. Se não fosse a bebida, ela seria bem mais incrível!


Relutante, eu obedeço sua ordem e vou para a casa ocupada pelos novos vizinhos. Por sorte ela se encontrava ao lado da minha e não precisava andar muito para chegar até lá. No caminho começo a ouvir um toque familiar e começo a prestar atenção para saber de onde viria o som. Para minha surpresa ele estava vindo da casa dos novatos.


Um piano.


Aquilo sem dúvidas era o toque de um piano. Não deixaria de reconhecer a suavidade de um dos meus instrumentos preferido. Surpreendo-me com a dominação que a pessoa que tocava tinha com as notas que usava. Era peculiar, certeiro, firme. Pela primeira vez a ideia ter tê-los jantando na minha casa me animava.


O som estava dentro de mim, causando-me uma sensação agradável de felicidade. Não consigo prender o sorriso, a melodia era linda. Toco a campainha e a música para, a casa silencia por algum tempo, mas logo ouço passos se aproximando.


– Olá? - Uma mulher de aparência jovial surge entre a fresta da porta.


– Oi... - Fico nervoso. - Eu moro na casa ao lado e bem... Minha mãe gostaria...


– Da casa ao lado? Ah, é um prazer conhecê-lo! - Ela me interrompe justo na hora do pedido. A porta se abre por completo e percebo que seu medo de achar que eu fosse algum tipo de criminoso passa. Olho através dela e percebo que ainda arrumavam os móveis e objetos pela casa.


– O prazer é meu, senhora. Vejo que ainda não terminou de organizar suas coisas... - Paro de falar e analiso o que cairia bem para terminar a frase. Ela me olhava atenta, não queria passar alguma imagem errada de mim.


– Oh, sim. Como só tem eu, o trabalho demora um pouco mais para ser cumprido. - Ela sorri. Talvez tenha percebido minha falta de palavras.


– Então era a senhora que estava tocando piano? - Falo mais animado do que pretendia parecer.


– Não, não. Era minha filha. Entre, ela está logo ai. - A senhora me da espaço para que eu pudesse entrar. Meio sem graça eu caminho devagar, olhando alguns quadros já postos na parede. - Ela está lá. - Sinto sua mão tocar meu ombro, olho para seu rosto e a vejo sorrir com ternura. - Minha menina é o que me mantém de pé, sou muito grata por sua existência. - Confessa. O que essa garota teria de tão especial? Decido então acompanhar o olhar da senhora e finalmente a vejo.


Seu cabelo era negro igual ao de sua mãe, longo e sedoso. Sua pele era muito branca, ao ponto de se notar algumas veias pelo braço. Usava um vestido branco de mangas curtas que caia até os joelhos. Não vi seu rosto. A garota estava petrificada, de frente ao piano, olhando diretamente para a parede. Nos aproximamos e sua mãe anuncia nossa chegada.


– Ester? O... - É então que percebo que não havia dito o meu nome. Droga.


– Fernando, senhora.


– O Fernando, nosso novo vizinho veio nos ver. Cumprimente-o. - Achei estranho a forma cuidadosa que ela fala com a filha. Mas me mantenho quieto.


– Claro, mãe. - Sua voz suave me entorpece. Nunca havia ouvido um timbre tão tranquilo como este. Ester vira-se devagar. - Olá, Fernando. É um prazer conhecê-lo.


É então que percebo.


Seu olhar era distante, apagado, sereno. Ester não olha diretamente para mim, ela era cega.


– O prazer é meu, Ester. - Digo meio sem jeito. Ela procurava minha mão para um cumprimento, tateava as coisas por perto, até conseguir tocá-la. Eu gelo. O toque de sua mão quente com a minha me fez arrepiar.


– Você está gelado. - Ela sorri enquanto acariciava meus dedos.


– Querida, não deixe o Fernando envergonhado. - Eu entendia que o comentário da mãe de Ester era para deixar a situação menos constrangedora, mas só serviu para me deixar mais vermelho.


– Ah, desculpe. - Quis dizer que estava tudo bem, mas o nervosismo me limitou ao silêncio. - Sua mão é sedosa, lisa...

– Ela para e sinto que ela continha um riso.


– O que tem demais nisso? - Pergunto.


– Nada demais, é só que não encontro muitos garotos assim. Você deve viver preso em casa não é?


Essa garota acha que é quem? Tenho mãos lisas porque me cuido! Respiro fundo e tento manter minha postura:


– É... Digamos que eu goste de ficar em casa. - Aos poucos ela solta minha mão. - Agora, eu realmente preciso ir. Mas preciso que a senhora aceite a proposta da minha mãe. - Agora eu olhava para a mãe de Ester.


– Oh! Claro que iremos, Fernando. Será um prazer conhecer sua família.


***

O sol já havia se posto quando eu finalmente resolvo tomar um banho. Passei o resto da tarde deitado, pensando em Ester. O piano não tocou durante esse tempo, nada foi ouvido na casa durante esse tempo, e me pergunto como duas pessoas ainda de mudanças conseguem não fazer barulho. Na verdade... Era só uma. Ester não poderia ajudar e Cecília estava só. Uma filha cega... Me encho de cala frios só de imaginar estar sozinho no mundo com somente uma filha deficiente ao lado.


Após o banho, vou para o quarto com a toalha presa na cintura, tranco a porta e abro o guarda roupa, afim de saber o que eu poderia usar. Olho para uma camisa xadrez de cores azul e preto, gostava dela, mas agora... Era infantil demais. Percebo uma outra camisa, desta vez, uma polo de cor vermelha. Era legal... Ah, não! Esqueci do buraco que a traça tinha feito nela. Sento na cama e tento controlar o desaponto. Olho de lado e vejo minha camiseta com o desenho da bandeira americana dobrada sobre a cadeira. Esta sim estava ótima!


Visto a cueca, depois minha calça jeans preferida e em seguida a camiseta. Vou ao banheiro novamente e penteio meu cabelo para o lado esquerdo, fazendo um pequeno topete. Dou uma ultima olhada em mim e gosto do visual despreocupado que criei. Finalmente desço para a sala e espero a chegada das ilustres visitas.


– Mas que roupa é essa? - Minha mãe pergunta com um olhar de desaprovação. - Silvio, mande seu filho ir trocar de roupa agora!- Grita.


Meu pai era o tipo de homem que não se estressa a toa, que não liga muito para as coisas. Mas ele nem sempre foi assim... Depois que meus irmãos morreram em um acidente de moto, meu pai entrou numa depressão forte, chegou a tentar suicídio duas vezes, quase morreu. Parou de trabalhar durante um ano, foram tempos difíceis. Hoje ele está bem, ainda doente, mas melhor do que em outras épocas.


– Simone, deixe o garoto se vestir como ele quiser. Ele é jovem, não há problema. - As palavras se arrastaram de sua boca.


Minha mãe estava pronta para iniciar uma discussão quando a campainha toca. Ela passa por mim e me encara feio, numa expressão de iremos conversar mais tarde.


– Sejam bem-vindas! - Ela grita ao abrir a porta. De todas as pessoas que eu conheço, mamãe sem dúvidas era a melhor em disfarçar sentimentos. Melhor até do que eu.


Me levanto e dou uma olhada para a roupa que estava um pouco amassada e começo a perceber que minha mãe tinha razão em brigar comigo. Tento então desamassar minha camiseta antes que elas chegassem a sala.


– Olá, Fernando. Boa noite. -A voz de Cecília me assusta e sinto meu rosto arder.


– Boa noite, dona... Digo, Cecília. - Combinei com ela que esqueceríamos o ‘’dona’’, ainda estou me habituando.


–Boa noite. - Meu coração acelera ao ouvir a voz da garota.


– Boa noite, Ester. - Tento ao máximo esconder o nervosismo.


– Filho! Por que não leva a filha da Cecília para dar uma volta? O jantar ainda não está pronto e acho que seria uma ótima ideia. - Minha mãe surge com mais uma ideia doida.


– Não sei...- Cecília tenta intervir e percebo o medo em sua voz. - Não está tarde?


– Não se preocupe, mãe. Estarei aqui no quarteirão. - Ester olha para mim e sorri. - Tenho certeza que estou segura. - Fico com duvidas sobre sua ultima frase. Ela quis dizer que estava segura comigo ou foi apenas impressão?


Relutante, Cecília deixa que nós fôssemos andar pelo quarteirão. Seguro o braço de Ester e saímos de minha casa. Enquanto andávamos, começo a notar sua aparência: usava um vestido de renda, beirando os joelhos de cor bege claro, com mangas que chegavam até depois do cotovelo, uma sapatilha branca com um pequeno laço rosa em cima e para completar, uma pulseira dourada enfeitava o braço que me segurava. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto, com alguns fios caindo sobre o rosto. Usava pouca maquiagem, o que para mim, não iria fazer diferença. Seu rosto era lindo! As maçãs do rosto rosadas e o lábio levemente avermelhado, contrastavam com seus olhos cor de mel.


– No que está pensando? - Sua voz me tirou to transe.


– Como assim? - Pergunto.


– Você estava frio até pouco tempo, e agora... - Ela sorri. - Você está quente, como se estivesse com febre.


– A-Ah... Esta roupa que esquenta muito, sabe? - Tento esconder minha respiração acelerada.


Sua mão começa a acariciar meu braço. Ela sobe e desce lentamente até pousar sua mão na antiga posição.


– Está de camiseta.


– O tecido que faz esquentar. - Ela sem duvidas era esperta.


– Sabe? - Diz depois de um minuto de silêncio. - A cegueira pode ser ruim, mas por causa dela consegui apurar todos os outros sentidos. Percebo tudo que você deixa transparecer.


– Como ficou cega? - Tinha que mudar o rumo da conversa rápido, mas logo percebo o quão idiota foi minha pergunta. - Me desculpe, Ester! Se... Se não quiser falar, está tudo bem. - Tento me retratar. Não dou uma a dentro.


– Consigo sentir daqui seu rosto ficando vermelho. - Ela sorri.


– Por favor, não me deixe mais envergonhado.


– Desculpe. E eu não tenho problema em contar o que aconteceu comigo. - Ela para. - Podemos nos sentar em algum lugar?


Já estávamos um pouco longe de casa e a praça era muito longe, não havia um banco por perto.


– Sentar?


– Sim. Não tem problema se for no chão mesmo. - Ester põe os dedos sobre a boca e sorri. Normalmente acharia aquela atitude ridícula, mas com ela...


A levo para a varanda de uma das casas na rua, nos sentamos e torço para que o dono do imóvel não saísse.


– Assim está melhor. - Ela fecha os olhos e respira fundo, o vento balança seus fios de cabelo. E já posso confessar que estou fascinado por Ester. - Perdi a visão logo depois de nascer, um erro médico. Meus pais tiveram muita dificuldade no começo. Minha mãe me contava que meu pai trabalhava durante todo o dia e em algumas noites arrumava vaga como músico numa casa de show da cidade onde morávamos, só para nos manter. - Seus olhos ainda se mantinham fechados. - Minha mãe sempre me achou limitada para tudo, mas meu pai não. Quando eu estava com ele do lado sentia que poderia ter o mundo em minhas mãos. Para ele, eu era... Normal.


– Mas você é normal, Ester.


– Eu sei disso. Ele me ensinou. - Finalmente ela abre os olhos e os fixa na casa a frente da que estávamos. - Quando tinha seis anos, ele decidiu me levar para conhecer o lugar de seu trabalho como musico. Foi então que conheci o piano. Aquele toque me enfeitiçou e meu pai tinha notado. Então, todas as quintas ele me levava para o clube, passava a noite ouvindo Jazz. Meu pai tocava sax e eu achava um máximo o ouvir. Mas a diversão da noite era depois do show, depois que todos já haviam ido embora. Ele me ensinava a tocar.


– Seu pai é incrível. - Ouvindo Ester, não consigo segurar o pensando de comparação entre nossos pais. Ela tinha um musico e eu um infeliz com a vida.


– Sim ele era! - Sorri timidamente. - Logo eu peguei o jeito com o instrumento e o dono do clube percebera isso. Não demorou para que eu estivesse tocando com meu pai. Ele sempre me contava antes de eu dormir que a casa estava cheia, mas eu já sabia disso. Os aplausos me davam essa certeza. Foi então com doze anos que consegui comprar meu piano, aquele que viu hoje cedo. Me senti orgulhosa e agradecida por meu pai ter me dado a chance de tocar. Tudo estava indo bem, até que... - Ela silencia.


– Até que?


– O dono do clube recebeu uma proposta: uma espécie de turnê com os membros da banda de Jazz que ele mantinha. A notícia animou a todo, e claro que a mim e a meu pai também. Estava ansiosa para viajar até que ele fala que eu não poderia ir por ter apenas doze anos. ‘’Fique com sua mãe.’’ ele disse. ‘’Não se preocupe, voltarei para que possamos tocar juntos novamente’’, mas ele não voltou. Um caminhão que tinha sido roubado colidiu com o carro que levava a banda. Todos morreram.


– Sinto muito. - Era o que eu conseguia dizer. Meu pai era um infeliz com a vida, mas ele estava vivo.


– Eu também sinto. Depois de sua morte, as coisas ficaram difíceis para mim e minha mãe. A começar pela convivência naquela casa, onde tudo o lembrava. Por nossa sorte, ela conseguiu um emprego em uma das empresas desta cidade, foi por isso que nos mudamos. Estamos começando de novo, do zero. E sinto que dessa vez, depois de cinco anos em tentativas falhas tudo ficará bem.


– Obrigado por ter me contado sobre sua vida e sobre seu pai. Ele foi um grande homem. - Seguro sua mão. E mesmo com meu coração querendo sair pela boca, a mantenho posta lá.


– Fernando... Desde o momento em que pisou na minha casa, sua presença se impregnou em mim. Eu sinto uma sensação nostálgica de liberdade, como só conseguia sentir com meu pai. E isso é fantástico! - Ela sorri para mim. Mesmo não me enxergando e mantendo seus olhos fixos na casa da frente, ela sorriu para mim.


– Você é incrível. - Sua mão aperta a minha e seu calor percorre todo o meu corpo. - Eu... Não sei, mas... - Sinto algo vibrar no meu bolso e lembro do celular. Me arrependo de não ter o deixado em casa. - É minha mãe, acho que está na hora de voltarmos. - Aviso a Ester depois de ler a mensagem que mamãe havia deixado.


– Tudo bem, vamos voltar. Eu já estou com o estômago roncando mesmo. - Sorri.


No caminho de volta para minha casa, Ester segura a minha mão. A bengala que ela levava quase não se mexia. Ela confiava em mim. Ester confiava num cara que mal conhecia, mas que seus sentimentos o faziam acreditar nele. Acreditar em mim. E pela a primeira vez, depois de muito tempo, volto a acreditar em... Amor.


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Notas finais do capítulo

Primeiro, peço perdão por algum erro de digitação ou algumas repetições na fanfic... Estou treinando para melhorar. XD
Enfim, conto com seu comentário à respeito de Ester, Fernando e todo os personagens e enredo. Isso é muito importante para mim. ;---; É isso.

Até a próxima! XD



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