O Melhor Amigo escrita por kamia din


Capítulo 12
Capítulo 12 – Aluados


Notas iniciais do capítulo

Já após uma passagem de tempo na escola Abel decide se soltar na vida, um estranho encontro o aguarda enquanto que novos rumos em sua família serão tomados.



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Capítulo 12 – Aluados

Não importa muito se a felicidade de fato está me acompanhando. Nunca me abri com ninguém, e guardo a mágoa da solidão comigo. Confio apenas em mim mesmo nesse turvo lugar onde me encontro. Dizem que, se tentar de verdade, se prosseguir com vontade, seus sonhos e desejos se realizarão, mas meu sonho está apenas no passado de pessoas com as quais já não tenho contato e de um alguém que já se foi. Nunca vou realizar meu sonho. Estou perto de dormir, e é mais uma noite com peso no meu coração... Nada mais importa para mim.

Vem o início do ano, e com ele procuro conseguir um pouco de entusiasmo para tentar melhorar meu destino. Estamos, na verdade, em meados de fevereiro. Está muito quente aqui, mas às vezes fica frio também; é um tempo bem doido. Já faz algum tempo que tenho malhado em uma praça aqui perto — se eu ficar mais bonito, talvez comece a atrair as meninas, então isso é o que me incentiva. Antigamente não me deixavam sair à noite por aqui, mas desde que fiz catorze anos minha mãe tem permitido que eu volte para casa até a meia noite. Na grande maioria das vezes, fico em uma casa de jogos eletrônicos que tem aqui perto, assistindo as pessoas jogarem. É um pouco solitário, mas ao mesmo tempo acho legal assistir aos jogos.

Passei os últimos três anos sobrevivendo na escola, vivendo em solidão e assistindo as pessoas que passaram por mim se desenvolvendo e crescendo em meio às suas amizades. Por medo de machucar mais a mim mesmo ou alguém, eu me isolei de todos na escola, falando com alguém só mesmo se muito necessário. Por fim, nesse ano decidi mudar a minha postura. Eu cresci um pouco e decidi me aventurar mais, ser mais divertido e me jogar na vida com força. Quero pessoas a minha volta, amigos, quem sabe até uma namorada! Poxa, eu já tenho quase quinze anos e nunca beijei uma garota antes...

Levanto um pouco tarde, o que já quebra um pouco o ritmo que eu queria seguir, mas nem tudo sai como o planejado. Por sorte, hoje é feriado e amanhã será sábado, portanto sem maiores problemas por ter acordado tarde. Tomarei o meu café da manhã e irei até a praça para malhar.

De cara, antes de sair, fico olhando como as coisas aqui caíram em uma normalidade estranha. Minha mãe continua tentando em vão se conectar comigo, sr. Marcos passa o dia trabalhando e eu quase não o vejo, Solene tem saído bastante — também quase não a vejo — e a Mellíssa continua tão invisível quanto antes. Uma rotina de mentira para uma família de mentira.

Começos a andar pelo bairro desfilando minha bermuda jeans que passava do meu joelho. Só a uso assim, porque tenho um pouco de vergonha de mostrar minhas pernas finas. Minha camisa preta é da minha banda favorita, Os Morcegos. De um tempo para cá, tenho escutado bastante música de rock alternativo, gosto do som e das letras, principalmente as que falam de solidão.

Assim chego ao parque que, por sinal, estava bem vazio. À essa hora da tarde, pessoas que têm vida social certamente estão fazendo alguma coisa de útil, diferentemente de mim.

Começo a minha série de exercícios. Como já faço isso há algum tempo, já tenho alguma ideia de como proceder. No início era tudo bem aleatório, não havia uma série; eu simplesmente fazia barra e paralela até me cansar ou até meu braço começar a doer. Por sorte, um dia tinha um daqueles brutamontes malhando, e ele me ensinou desde sobre ter uma série, sobre o tempo de descanso até a me aquecer. Foi bem informativo. Algumas vezes ainda o vejo no bairro, porém não falo nada. Não sei bem o motivo, mas não sou bom em manter contato.

Já na metade da minha série, apenas sentado descansando e olhando para a rua, vejo alguns carros passando e uma hora ou outra uma pessoa, mas a quietude predomina; de fato esse é um bairro muito calmo, nada acontece aqui. Em meio às passagens, vejo um cara alto vindo em direção ao parque. O rapaz de longos cabelos loiros, pele bem clara, corpo magrelo e um pouco desengonçado andou em minha direção, chegou próximo a barra e começou a se aquecer. Deu uma olhada descompromissada em minha direção, mas continuou o seu aquecimento.

– Banda maneira, a Os Morcegos – ele disse em um tom calmo e tranquilo. Sinto-me um pouco estranho; não sou bom em ter conversas casuais assim repentinamente.

– Ah sim. É minha banda favorita – falo timidamente. Disse a primeira coisa que veio em minha cabeça.

– Já escutou O Capuz da Noite? – pergunta ainda calmo e tranquilo. À medida que falava comigo, começava a se elevar na barra.

– Já sim, também gosto muito – digo ainda timidamente. Na verdade não gosto muito, mas para manter a conversa decidir dizer que sim.

O rapaz assim que sai da barra se senta ao meu lado e estende sua mão em um gesto de cumprimento. Agora que o vejo mais de perto, percebo que ele é bem mais velho que eu; aparentava ter uns dezessete ou dezoito anos.

– Meu nome é Jackson, mas pode me chamar de Jack – ele falou ainda calmo e tranquilo.

– Eu sou Abel – falei em um tom baixo. Essa é a parte que menos gosto, a de falar o meu estranho nome.

– Você costuma ir aos Aluados na rua de baixo?

– Não... Nem sei o que é – respondo curiosamente.

– É uma rua onde se reúne o pessoal que curte skate e rock alternativo, eu vou lá hoje. Se quiser passa na minha casa às dezenove pra irmos juntos... Vou eu e mais um amigo meu – ele convidou, mostrando empolgação em sua voz.

Na mesmo hora a recusa veio em minha mente, porém se parar para pensar bem era exatamente dessa oportunidade que eu estava precisando: um ambiente onde tem várias pessoas com as quais eu poderia interagir! Prometi para mim mesmo começar a me aventurar na vida, e essa é a hora.

– Sim, então às dezenove eu apareço na sua casa... Mas onde ela fica? – pergunto bem contente e curioso.

– Na esquina aqui, descendo a rua. É o primeiro portão vermelho, se tiver mais amigos para levar, pode trazer... Lá, quanto mais melhor, e também assim você não vai ficar se sentindo deslocado – falou ainda com empolgação em sua voz.

Estranho. Só pelo fato de eu gostar de uma banda, ele me chamou para algo assim. Mesmo que ele não tenha intenção de ser meu amigo, se ele me levar até esse tal lugar tá valendo! Não sou mais bobo ao ponto de acreditar em todos, mas se pode me levar até meu objetivo está tudo bem.

Após terminar minha série, me despedi estranhamente feliz de Jack. Volto para casa imaginando como seria essa noite, se conheceria novas pessoas e se por fim acharia um grupo pra mim e quem sabe uma garota que não seria só uma amiga: seria minha única e especial.

Logo que chego em casa, ouço gritos exaltados vindos da sala. Geralmente ignoro qualquer tipo de discussão nessa família, mas essa em particular me chamou a atenção por uma palavra dita — Aluados. Ouvi de relance essa palavra no ar, e resolvi ficar para ouvir o resto do assunto.

– Mas mãe, eu quero muito ir! – disse a voz mais fina. No momento, pela entonação, eu percebo logo que se trata de Solene.

– E um lugar muito cheio de jovens inconsequentes... Além disso, você quer voltar muito tarde! – disse a voz mais estridente. Logo percebi que se tratava de minha mãe.

– Ah, mãe! – respondeu em um tom de total descontentamento. Solene parecia muito frustrada.

Na mesma hora as palavras de Jackson vieram a minha cabeça, de fato ir sozinho seria bem estranho, ao menos se levasse ela não ficaria totalmente só. Não gosto muito de Solene, mas ela é bem eloquente e faz amizades com facilidade. Em meio à isso tudo, resolvo me incluir na conversa:

– Se ela quiser, eu a levo e a trago – faço minha voz ecoar pela sala.

As duas se assustam um pouco com minha declaração repentina. Solene na mesma hora abre um sorriso parecendo esperançosa, ao contrário de minha mãe, que parecia bem confusa.

– Bem... Vou ver com seu pai, Sol. Se você vai junto, tudo bem, filho... Mas cuide de sua irmã, tá? – ela diz com incerteza. Sabia em sua voz que dizia isso pra me agradar; parecia não querer consentir, porém fazia de tudo para não me contrariar.

De fato aquela pouca conversa na sala foi a primeira vez que houve alguma interação “filho-mãe” vinda de minha parte. Também foi bom ver o sorriso da Solene me tendo como uma espécie de salvador. Pela primeira vez em muito tempo, parecia que eu estava em família.


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Notas finais do capítulo

Finalmente começando um novo arco Abel agora adolescente espero que gostem.