Capítulo 10 – Um dia Diferente

Um dia diferente, mesmo que tudo seja igual, a calmaria da manhã é a mesma, o teto que vejo é o mesmo, o som de pouco movimento na rua é o mesmo, quase nada muda a semelhança com o dia anterior é evidente, porém uma única coisa um diferencial que faz esse dia muda para mim, uma fração momentânea em algo que passaria despercebido por pessoas que não me dão importância, nesse mesmo dia a doze anos atrás eu vinha ao mundo.

Pergunto-me se minha mãe vai me dar alguma coisa? Não tenho certeza se ela sabe que hoje é meu aniversário, porém não sou eu quem vai lembrá-la. Desço as escadas apressadamente, hoje estou com bastante fome, não por ser meu aniversário mais sim porque ontem comi pouco na janta.

– Bom dia Bel – diz uma doce voz na entrada da cozinha. Sinceramente, é tão difícil assim dizer o meu nome?

– Bom dia – secamente. Mantenho a normativa de educação e apenas pego meu café da manhã e retorno para o meu quarto, minha mãe não falou nada... Possivelmente ela não lembra o que na verdade não me afeta nem um pouco.

Após uma manhã chata totalmente dentro das minhas expectativas, chego finalmente a escola, por mais um ano esse lugar é o único que me deixa feliz, tem um pequeno reboliço e alguns cochichos pelos cantos, algo está acontecendo e eu não sei.

– Oi Bel – Diz Suzy animadamente. Queria ter sido batizado de Carlos, assim ninguém poderia me dar um diminutivo feminino.

– Bom dia Suzana – digo sarcasticamente. Sei que ela não gosta de ser chamada assim, mas eu também não gosto de ser chamado de Bel e ela sabe.

– Nem vou falar nada, sei que está fazendo isso para provocar – diz ela ainda animada. Ela é tão graciosa e engraçada, e uma pena que as pessoas não vejam esse lado dela.

– Você sabe por que esse reboliço todo? – Um tom bem curioso. De fato estou bem incomodando e curioso com isso.

– Parece que agora a escola tem um clube de dança – responde ela ainda em um tom animado.

– Dança de que tipo?

– Acho que é tipo dança de rua sabe? Eu não tenho certeza, mas acho que é isso.

– Estranho... Em fim vamos para a sala antes que o sinal toque, pra não pegarmos a manada depois – agora também em um tom animado.

– Ta bom vamos.

Passamos metade da aula conversando, Suzy não era muito inteligente, mas acompanhava bem as matérias, em geografia ela era até melhor que eu, por isso essa aula geralmente depois de copiar a matéria ficávamos conversando. Já no segundo tempo matemática era concentração total da sala, o professor era apelidado secretamente pelos alunos de “Capetão”, pois era muito rigoroso com a matéria e ainda mais com as provas que eram extremamente difíceis, mesmo querendo muito falar com Suzy tive que deixar ela se concentrar, foram dois tempos intensos, porém fomos salvos dessa tortura pelo sinal que marcava a hora do intervalo.

Já no refeitório, por acaso desde que comecei a minha amizade com a Suzy passo a maioria do tempo de intervalo no refeitório, estávamos tendo nossa rotineira passagem de intervalo conversando e comendo.

– Ah! Eu trouxe uma coisa para você – diz Suzy com um pouco de comida ainda na boca. Ela não liga muito para modos, mas acho esse jeito dela livre de ser tão legal.

– Eu disse que não queria presente – respondo timidamente. Lógico que eu queria, mas não queria admitir.

– Não é nada de mais... Só um livro, é bem pequeno se chama o viajante é bem legal – com um meigo sorriso no rosto. Entrega-me o livro de capa fina e aparentemente com poucas paginas, o que pra mim é ótimo apesar de ser relativamente inteligente eu detesto ler.

– Obrigado... Mas mesmo assim eu disse que não precisava – ainda tímido. Tentando manter a pose, mas to muito feliz foi o único presente que ganhei hoje.

– Gosto de te agradar você é o único que fala comigo... Ninguém mais me nota nessa escola, alias na vida – diz ela um pouco desanimada. Puxa ela tem realmente um problema por não ser aceita em um grupo.

Fico meio sem graça, sem saber como reagir, queria muito animá-la, porém eu mesmo não sou um agitador das maças, como poderia fazer com que ela fosse notada por todos se nem eu mesmo sou?

Em meio aquela quietude avisto a distancia Leo, e na mesma hora me vem uma idéia na cabeça, posso até não ser a pessoa mais famosa da escola, mas certamente conheço uma, ele pode ser a minha resposta para esse problema.

– Vou aqui na diretoria e já volto – digo bem baixinho e apressadamente. Já me levantando e indo em direção a Leo.

– Mais fazer o que? – Pergunta ainda com a boca cheia.

– Nada de mais é bem rápido – digo já me despedindo.

Deixo Suzy sozinha na mesa e começo a seguir o Leo, é bem difícil chegar perto dele porque ele tem sempre um bando junto, entre amigos que ficam cortejando as meninas que ficam perto dele, e as próprias garotas que ficam babando em cima dele.

– Hei Leo...

– Fala Bel, tudo jóia meu maninho? – com seu sorriso irritante.

– Preciso de sua ajuda com uma coisa – com a voz um pouco trêmula. Não sou muito bom de enrolar o que tenho a dizer.

– Isso é inédito... O que você quer? – em um tom sarcástico. Parecia um pouco incrédulo com o que eu disse.

– Sabe a Suzy? – ainda trêmula.

– Suzy... Ah! A sua namorada? – diz ele alegremente. Pior ainda disse isso alto, ele é o rei da inconveniência.

– Ela não é minha namorada – em um tom mais ríspido. Bem que eu queria que fosse, mas atualmente ele não é.

– Entendi meu maninho – diz ele com um sorriso largo no rosto. Parece que está adorando me deixar sem graça.

– Em fim... Gostaria que você ajudasse ela a se enturma, sabe ter mais amigos – em um tom calmo.

Leo fica me olhando um pouco estranho, levanta uma de suas sobrancelhas como se tivesse avaliando o meu pedido, e ainda com um sorriso largo no rosto ele chega perto e põe uma das mãos em meu ombro.

– Ta bom maninho... Mas você vai ter que fazer uma coisa pra isso dar certo – um pouco sério. Faço qualquer coisa para que ela fique contente e se sinta parte de algum grupo.

– O que? – em total curiosidade.

– Vai ter que se afastar dela um pouco – ainda sério. Como assim me afastar? Se estou fazendo isso para ficar com ela.

– Porque tenho que me afastar? – Agora preocupado.

– Bem como ela anda muito com você ela não fica junto de outras pessoas e maninho você não é a pessoa que mais atrai gente da sala neh? Deixe ela sozinha por algum tempo e certamente ela em alguns dias estará andando com algum grupo de meninas – ainda serio.

Não é bem isso que eu quero me afastar dela, isso seria ruim pra mim, estou fazendo isso para ficar junto dela não para mantê-la distante, mas ela está tão solitária quero ajudá-la se for preciso me afastar eu me afastarei.