Someday escrita por Jonh White


Capítulo 3
Take me to church


Notas iniciais do capítulo

Quebras de sonhos
causam a agonia do desesperado
sonhando com suas realidades
sonhando acordado



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Já era mais de meia-noite, e minha mãe me esperava angustiada sentada em sua cadeira de balanço e olhando para a parede paranoicamente contando cada segundo que se passava desde que eu tinha a ligado, por volta das 22h30min da noite. Quando ela escuta o som do atrito de um carro aproximando-se de casa, ela já levanta e se põe a observar da grade do portão, silenciosamente, com seu clima sorrateiro para criar sua ideia preconceituosa de cada ser humano ao qual eu me relacionava. De lá, ela viu o abraço, pois infelizmente eu já tinha aberto a porta do carro e mesmo à noite, o fumê claro dos vidros era facilmente penetrado pela fraca luz das lâmpadas da iluminação pública da rua. E como qualquer besteira que possa ser associada a algo ruim, assim foi como a mente doentia da minha mãe fez enquanto franzia a testa observando assustada e temerosa quanto a nossa ação mútua de uma simples despedida.

Eu mal entro em casa, e quando termino de fechar o portão ela estava atrás de mim, batucando com o pé no chão de braços cruzados e testa franzida, com seu olhar penetrante a me julgar por minha alegria e cheiro de pecado.

“Como foi a festa? Basta te soltar um pouco e já fica com gracinhas para cima de mim? Isso é hora de uma criança chegar em casa?”

“Não. Por isso eu posso chegar esse horário.”

“Mas você perdeu o amor pela sua vida? Não pense que Deus gosta desse tipo de comportamento!”

“Eu não sei do que ele gosta mãe, só me deixa entrar em casa...”

Eu passo por ela a tirando da frente, mas para ela aquilo era uma grande afronta a sua autoridade. Minha mãe era uma cética religiosa, que cega pela busca desenfreada pelo amor e compaixão de Deus, me aprisionara por toda a minha vida em igrejas me tentando fazer ser um homem direito e conforme os padrões morais cristãos. Mas não sei bem se eu sou uma brincadeira de Deus ou apenas mais um espécime de projeto infeliz.

Vou o mais rápido possível para o meu quarto e tiro minhas roupas, para minha surpresa minha mãe já estava escorada na porta apenas observando, e ela vê as marcas em minhas costas que resultaram daquela brincadeira com Syan. Sem mais pensar e já mais desconfiada que nunca me pergunta.

“O que é isso nas suas costas? Se envolveu em alguma briga na festa?”

“A senhora não cansa de fazer perguntas? – me assusto – Mas meu Deus, porque não age como uma mãe normal?”

“Como ousa usar o nome de Deus para basear as suas mentiras, enquanto eu aqui feliz achando que tinha crescido e já tinha virado um homem, estava se esgueirando como uma criança com qualquer uma em um círculo pecaminoso ao qual se envolveram seus amigos. Não pense que vou tolerar isso.”

“Eu não estou lhe pedindo nada! Só me dê licença, preciso tomar banho.”

Eu começava a me irritar com o comportamento dela, me seguindo, prendendo e sem me deixar respirar e decidir o que iria querer da minha vida, por mais que quisesse me proteger, ela passava dos limites ao invadir meu espaço em busca de erros que pudessem me colocar contra os seus princípios e me provar como eu era um filho ruim para ela. Desde que meu pai havia sumido quando eu era menor, ela tinha mudado completamente. Antes pouco ligada à religião que lhe foi ensinada quando menor, ela se apegou profundamente sentindo-se sozinha, e tendo o seu vazio do abandono preenchido pela graça da misericórdia de Deus.

No banho eu já não conseguia mais pensar na minha mãe. A cena de Chris me beijando se repetia a cada segundo que passava dentro da minha cabeça. Eu imaginava a porta se fechando e a gente ficando lá, conversando, sozinhos, naquele ambiente que não poderia ser mais perfeito para que algo mais acontecesse. Mas na imaginação, fantasias são fugas das decepções decorrentes da falta de ação nesta vida. Ele continuava, tirava minha camisa superior e eu sentava em seu colo e assim a gente poderia ficar por horas se dependesse de mim. Depois de um tempo, estaríamos sem camisa deitados sobre o outro em cima das toalhas de mesa que estavam empilhadas dobradas em cima de um batente, com o atrito na região inferior esquentando nossos corpos como em um incêndio interno. Foi o suficiente para eu não me aguentar, aquelas ideias fluindo e me enlouquecendo, controlei meus pensamentos com minhas mãos que deslizavam sobre o meu corpo e descendo a cada momento e descontrolando-se na parte mais baixa que atingiu. Já estávamos nus em minha mente com uma interação peniana exagerada e como em uma sintonia múltipla, atingíamos o que chamei de “trovão de fogo”. Em pouco tempo já tinha chegado ao orgasmo, e ofegante com a cabeça apoiada sobre o braço estendido na parede apertava meu membro de olhos fechados, sonhando com que um dia tudo isso fosse real.

Ao sair do banheiro, de olhos caídos e com uma fisionomia tanto de satisfação como de tristeza passo por minha mãe que estava vendo o jornal da manhã passada, coisa que nunca fazia desde que meu pai havia ido embora, eu estranho, mas prefiro deixa-la quieta para não provocar outra briga da qual acabaria fugindo irritado. Em meu quanto, vestido, com poucos minutos volto a pensar em Chris. Fazia tempo que pensava nele como algo mais, mas nunca houve um real avanço na nossa amizade que mesmo antiga e forte, era vaga e muitas vezes superficial, mas daquela vez eu me sentia diferente sentia algo que nunca teria imaginado e mal sabia que aqueles sentimentos me fariam mudar completamente meu conceito de dependência ou aprisionamento, estava enfim apaixonado e tinha certeza disso.

Fui para a sala, já ia dormir e como já me era previsto, lá estava ela a me esperar ansiosa para uma conversa séria. Ela assenta-se no sofá depois de colocar o jornal em cima da televisão que desliga no momento seguinte, e me chama tocando suavemente no local ao lado do seu com uma expressão que não lhe era comum. Eu me sento, e assustado permaneço olhando-a nos olhos fixamente por um tempo. Após se ajustar ao assento, ela se vira para mim e inicia o diálogo falando pausadamente.

“Sabe filho, às vezes quando algumas mães têm seus filhos, elas se decepcionam não com eles, mas com elas mesmas. Elas se sentem vulneráveis por não conseguir perceber se estão sendo competentes em seu novo trabalho, e acabam ficando inseguras se estão fazendo a coisa certa na maioria das vezes. Isso implica em uma relação não muito construtiva com o crescimento dos filhos, que se sentem sufocados ou até mesmo incompreendidos, mas você deve entender que eu só quero o melhor para você a partir do que eu considero correto. A partir do que o Senhor nos fala. – e pega as minhas mãos e as põem em seu colo – Então me explique, o que está passando na sua cabeça sempre que temos uma discursão dessas.”

“Eu só quero que a senhora saiba, que eu não preciso mais de tanta atenção e nem deste seu comportamento. A senhora devia sair mais de casa, fazer mais amigos e se divertir. Ficar vegetando e remoendo o passado com coisas inúteis não vão mudar o que temos aqui dentro. Se puder me fazer esse favor... se ame também.”

Ela ri. E com a pior de todas as suas faces de descaso e incredulidade debocha de meus conselhos com suas rugas e linhas de expressão a quase saltar de seu rosto. Ela para e me encara como se me mandasse sair, e termina o que chamava de “conversa”.

“Saiba você que não há prazer no mundo que me faça trocar meu Deus por tal.”

Eu explodo por dentro. Não aguentava mais aquilo, se aquela seria minha vida por no mínimo mais cinco anos eu já estava pronto para morrer. Ela não sabia mais o que era ser jovem, nem imaginava o que se passava na minha mente com todas aquelas coisas que para o senhor que ela queria que eu servisse seria considerado um erro. Como eu poderia viver em um meio ao qual sou chamado de amaldiçoado? Desisti de escutá-la, estaria inerte em meus pensamentos a qualquer investida dela. Seria apenas eu em minha mente.

Eu subo para meu quarto e ligo o computador, queria conversar com alguém, desopilar daquela pressão familiar escrota ao qual era preso. Catherine estava online. Eu nunca tinha sido seu grande amigo, embora naquele momento eu realmente estivesse interessado em falar com ela, principalmente pelo fato de saber que ela gostava de Chris e agora poderia estar iludida como nunca, estaria iniciando meu jogo de manipulação. Comecei um chat com ela, ela para meu prazer respondia rápido.

– Vincentin: Oi

– Cath: Oie

– Vincentin: Td bem?

– Cath: Sim ♥, e com vc?

E assim se passaram algumas horas de puro papo furado. Às vezes eu tentava dar investidas discretas para entrar no assunto, mas parecia que ela as interceptava de todas as formas, como se as detectasse uma a uma. Mas no fim, acabamos nos conhecendo como nunca antes mesmo em anos após o início da interação social, sempre fomos os mais opostos do grupo que formamos com Syan e Chris. A sua melhor amiga era a Penny, uma menina baixinha que gostava de coisas estranhas – na minha percepção, coisas diferentes da outras garotas, mas nada oficial – comparada as coisas comuns de meninas, embora nunca tenha se mostrado de forma alguma uma pessoa expositiva com a própria vida, afinal, eu fazia jogos psicológicos e testes de personalidade com as pessoas de forma inconsciente em minha cabeça.

Conversamos sobre família, contei para ela o que achava dos meus problemas em casa, e ela se sentiu confortável em retribuir com desabafos sobre seus pais que um era pastor e a outra uma ex-freira agora convertida. Hoje em dia, somos sempre colocados nesses tipos de situações estranhas mesmo. No dia seguinte no colégio, passamos o recreio juntos e éramos de salas diferentes ignorando completamente Syan e Chris que não entendem bem a nossa aproximação tão repentina e depois vem nos perguntar o que estava acontecendo entre a gente. Eles não receberam aquilo muito bem.

Passaram-se semanas e nós permanecemos com o mesmo comportamento, grudados em todos os momentos em que podíamos, sempre rindo e conversando sobre as mais diversas coisas. Houve momentos em que a conexão se tornou tão forte que percebi que estávamos nos entregando muito rapidamente um ao outro, e estava gostando daquilo, aliás, não conhecia aquele lado de Catherine e sentia que ninguém mais além de mim conhecia o que ela estava me mostrando, estávamos completamente integrados. Mas Chris certo dia ficou com ciúmes e cansou de nos ver juntos em todos os momentos do dia e me chamou para conversar em particular, e como de costume subimos até o último andar do colégio onde normalmente ninguém transitava nos corredores e lá sentamos no chão.

“O que está rolando entre você e a Catherine?”

“Desde quando você se importa comesse tipo de coisa?”

“Desde que você sabe que eu gosto muito dela.”

“Você nunca usou essas palavras comigo! Isso eu te garanto.”

“Vincent, para de cinismo cara! Qual o teu problema afinal? Ta se fazendo de idiota?”

“Só quero saber qual seu ponto com isso, nada demais.”

“Eu não quero toda essa proximidade entre vocês e...”

“Espera, quem disse que você decide com quem eu falo, converso ou qualquer porra do tipo?”

“Eu te amo, simples e complexamente assim! – nisso ele encosta-se a parece com as costas e coloca as pernas apoiadas no chão por cima das minhas, eu estava sentado do seu lado – Serve para você?”

“Disso eu sei, mas tipo, você também não gosta dela? Vai ter que se decidir e...”

“Por que você acha que eu estou aqui neste exato momento?”

Aquele não era o momento perfeito com o qual eu fantasiava a noite antes de dormir sonhando com uma declaração súbita ou no mínimo romântica dele para mim, seguida de um sexo completamente sem sentido que fluiria com o calor do momento. Mas aquilo, aos meus olhos e ouvidos não sei se conseguiria equiparar a perfeição que me soou. Ele estava diante de mim, vulnerável e frágil, com os seus olhos a me encararem fixamente dentro dos meus, eu não tive qualquer reação e quando compararem estar apaixonado com estar chapado acredite é a mesma sensação.


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Notas finais do capítulo

Agora irei postar no mínimo dois capítulos por semana, o tempo esgotou aqui, é que os dois primeiros já estavam prontos por conta de uma viajem ai, muito social, decidi escrever.

Cap. 4 (Até 13/05)



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