O que acontece no trem escrita por Panda Chan


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Olá jovens pessoas, como vocês estão?Eu resolvi sair TOTALMENTE da minha zona de conforto escrevendo essa One-shot, ela é especial para o Desafio do Nyah de abril que é o mês do yaoi e meu aniversario (sentiram a ironia do destino?).Espero que se divirtam lendo e não deixem de dizer o que acharam. Boa leitura



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Quando Alexy foi convidado para a festa de natal na casa da sua grande amiga Rosalya, não imaginou que terminaria o dia com um nariz de rena, várias tranças no cabelo e um cansaço que parecia demais para seu corpo aguentar.

O garoto de cabelos azuis suspirou desanimado enquanto aguardava o trem chegar na plataforma que estava vazia com exceção a ele e um segurança que usava seu quepe para esconder o rosto adormecido sem muito sucesso.

– Que véspera de natal fabulosa, Alexy – murmurou para si mesmo.

Armin, seu irmão gêmeo e traidor, faltou à festa da Rosa por ter ficado gripado, mas quem disse que passou seu vírus para Alexy faltar também? É claro que não, Armin vive dizendo que Alexy deve encarar tudo sorrindo como sempre, mas o garoto azul está cansado disso.

Durante toda a tarde, ele teve que olhar Kentin corando ou gaguejando diante daquela que não deve ser nomeada e que também é uma grande amiga de Alexy, porém ainda não percebeu sobre a grande queda do vigésimo andar que o garoto tem pelo Ken. Como ele desejou estar de cama sem poder sair de casa da mesma forma como seu irmão gêmeo apenas para não ver quem ama sofrer por outra pessoa.

O trem chegou e logo Alexy entrou acomodando-se em um dos bancos e fechando os olhos lentamente, pronto para tirar um merecido cochilo. De olhos fechados ele apenas podia ouvir o ronronar do motor que vibrava lentamente o vagão vazio. A solidão era bem vinda naquele momento.

Foi então que ele escutou passos apressados e fortes de alguém correndo para o vagão, abriu o olho esquerdo apenas para saciar a curiosidade de ver quem seria seu companheiro de vagão e logo fez o possível para arrumar sua postura e por um belo sorriso em seu rosto.

O garoto de cabelos castanhos e olhos verdes sacudia rapidamente a cabeça para se livrar dos pequenos flocos de neve presos nos fios. As calças jeans pretas pareciam deixá-lo mais alto do que era e ficavam muito melhor nele do que as horrorosas calças de estampa militar que o garoto tanto gostava de usar na escola. O casaco verde musgo e o cachecol preto que usava completavam seu look simples demais, na opinião de Alexy.

Oh Kentin, você é o desastre de moda mais bonito que existe, pensou enquanto suspirava.

O garoto começou a passar os dedos por seus fios de cabelo azulados na tentativa de se livrar de qualquer vestígio das terríveis tranças que Rosalya e Kim haviam feito nele.

Kentin suspirou frustrado com o clima terrível que era típico de dezembro em seguida olhando atentamente pela primeira vez para o vagão onde havia entrado. O vagão estava completamente vazio com exceção da sorridente figura de cabelos azulados e casaco laranja.

– Kentinho! – Alexy gritou animado batendo no local vazio ao seu lado – Que coincidência incrível você entrar no mesmo vagão que eu!

Kentin suspirou enquanto ia se sentar no local indicado por seu animado colega de classe. A presença de Alexy o deixava desconfortável e o garoto sabia exatamente como piorar isso gritando ou fazendo com que o pobre Kentin ficasse constrangido sem motivo.

– Oi, Alexy – ele murmurou observando a janela para não encarar os grandes e curiosos olhos violetas do garoto ao seu lado – Não sabia que você iria pegar o trem nesse sentindo.

– Se soubesse você teria vindo comigo? – os olhos do garoto brilharam tanto quanto duas estrelas com a simples ideia de caminhar lado a lado com Kentin.

– Não – respondeu rapidamente – Eu tive que levar alguém em casa – completou apressado ao ver a decepção no olhar do outro.

– Ah, levar em casa – o sorriso de Alexy murchou enquanto ele compreendia quem era aquele alguém que teve a sorte de ir pra casa com o seu Kentinho.

– É perigoso deixar uma amiga ir sozinha para casa.

– Ainda mais quando é a pessoa que você ama – o garoto de cabelos azuis disse, sentindo o gosto amargo que cada palavra deixava em sua boca.

Kentin, surpreso, quase sentiu os olhos saltarem das órbitas e encarou o rapaz ao seu lado sem qualquer resposta para aquela afirmação. Vendo a sua reação, Alexy quase se arrependeu do que disse. Quase.

– Do que você está falando? – Ken gaguejou sentindo seu rosto esquentar como se estivesse em chamas.

O outro se divertiu com a reação extrema do garoto de olhos verdes e resolveu prosseguir com a provocação para continuar vendo a expressão fofa no rosto do amado.

– Eu sei que você ama aquela pessoa – sorriu – Acho que todos sabem menos ela é claro. Garota lerda – revirou os olhos automaticamente – Não tenha medo de admitir, Ken. O que acontece no trem fica no trem.

– Você está falando dela – Kentin relaxou e permitiu-se dar uma risada tímida – Por um instante eu pensei que... Esquece – ele balançou a cabeça como se o que fosse dizer não tivesse importância.

O pobre garoto esqueceu-se que estava sentado ao lado do maior fofoqueiro de toda Sweet Amoris, eleito como tal em uma votação democrática entre todas as garotas da classe. Alexy até mesmo tirou seus headfones do pescoço deixando-os em seu colo como se isso o fizesse ouvir melhor o que o garoto corado ao seu lado falava.

– Você pensou que eu, o quê? – questionou com o sorriso igual ao do Gato de Cheshire estampado no rosto.

– Droga, acho que eu acordei o monstro da fofoca – Kentin murmurou, arrependendo-se de ter falado demais enquanto passava a mão direita pelo meio de seus cabelos.

Alexy gargalhou alto com o comentário do colega. Ken sentiu seu coração acelerar com o som da risada do outro.

– Em qual estação você irá descer? – Alexy perguntou.

– Na estação XX – Kentin respondeu mesmo estranhando bastante a pergunta do garoto

– Ótimo – ele bateu palmas animado – Eu só irei descer na estação XXX e como a velocidade do trem está reduzida, tenho muito tempo para te interrogar – ele cantarolou balançando de um lado para o outro no banco do vagão.

– Não me faça saltar do trem em movimento, por favor – a careta de desgosto no rosto de Kentin fez com que outro ataque de gargalhadas dominasse Alexy.

O ronronar do trem e as gargalhadas animadas do garoto de cabelos azulados eram os únicos sons no veículo. Saber alguma fofoca sobre o Senhor Calças de Militar era o melhor presente de natal que ele ganharia em 2015, tinha certeza disso.

– Conte-me tudo que seu jovem coração amante de biscoitos esconde – ele piscou com apenas um olho, encostando-se ao banco com os braços atrás da cabeça de maneira relaxada.

– Contar algo para você é o mesmo que publicar no jornal da escola, então irei guardar essa informação. E eu não sou amante de biscoitos – completou corando um pouco mais.

– Admitir um vício é o primeiro passo para vencê-lo – Alexy comentou, citando a frase que tantas vezes ouviu sua mãe dizer ao irmão viciado em games.

– Se isso fosse verdade, você não seria viciado em compras – retrucou com uma expressão de tédio no rosto que retornava a sua cor normal.

O som das gargalhadas descontroladas de Alexy causava um estranho efeito em Kentin, ele sentia que devia fazer o outro rir. Só de saber que o garoto de cabelos azulados estava contente com algo, ele sentia que devia fazer de tudo para preservar aquela felicidade.

– Eu sou uma exceção – limpou as lágrimas de felicidade que começavam surgir abaixo de seus olhos – Comprar é sinônimo de respirar para mim.

– E fofocar também – alfinetou Kentin.

– Você está muito saidinho, Senhor Calças de Militar.

– Não me culpe – Kentin sorriu timidamente. Alexy sentiu seus batimentos cardíacos se descompassando.

– Então, vai me contar seu segredo? – resolveu deixar de lado a postura relaxada para encarar melhor o par de olhos verdes de sua paixão.

O que o atraía tanto naquele garoto sem estilo algum? Nem o próprio Alexy compreendia, apenas sentia como se um ímã gigante o levasse diretamente para Kentin desejando estar sempre ao seu lado.

– Acho que para você não tem problema – coçou a cabeça um pouco nervoso com a declaração que iria fazer – Estou gostando de alguém, mas não é aquela garota.

Ele queria começar a pular e dançar balançando os fios de cabelo azuis por todos os lados e gargalhando como se tivesse ganhado na loteria. Queria ir até um navio e imitar a famosa cena de Titanic, mas ao invés de gritar “Eu sou o rei do mundo!” gritaria “Eu tenho uma chance com Kentin!”. Toda essa ilusão durou apenas cinco segundos antes que ele percebesse que suas chances continuavam as mesmas, o Kentinho não gostava de garotos.

– Quem é a felizarda?

O humor do garoto estava bem menos alegre, mas a curiosidade ainda obrigava-o a perguntar quem havia conseguido aquilo que ele tanto desejava. Ah, como seria belo um mundo onde aquele belo par de olhos verdes brilhasse sempre que o visse.

– Isso eu vou realmente manter em segredo – ele disse sério – Estou com medo de me declarar e receber uma resposta negativa.

– Nenhuma pessoa na face da terra seria imbecil o suficiente para te dar um fora – Alexy falou com sinceridade – Tenho certeza que essa pessoa gosta de você.

– Essa pessoa me faz passar vergonha direto e vive apontando meus defeitos na frente de todos para me envergonhar, por isso acho que ela não me corresponde.

– Oh minha santa bolsa de grife! – Alexy quase saltou do banco – Você está afim do Castiel?

– O quê? – Kentin questionou antes de começar a rir – Não! Que nojo, Alexy.

Nojo deve ser isso o que ele pensa sobre relações homossexuais. Alexy sorriu mesmo querendo chorar.

– Você devia dizer mesmo assim para a pessoa que gosta dela e já que não é o Castiel eu te apoio nisso.

– Esse é o problema – suspirou – Eu realmente acho que essa pessoa não gosta de mim, ela parece querer que eu fique com todos menos com ela.

– Então é uma idiota que não merece os seus sentimentos.

– Eu queria tanto deixar de gostar dessa pessoa – o sorriso de Kentin era triste e isso partia o coração de Alexy.

A voz entediada do maquinista soou pelos autofalantes avisando que a estação XX seria a próxima parada. Os dois continuavam sozinhos no vagão vazio e nem tinham percebido que a viagem juntos se aproximava do fim.

– Obrigado por me ouvir, Alexy – o garoto de cabelos castanhos se levantou para caminhar até a porta e desembarcar.

– Espere – Alexy o empurrou pelos ombros forçando a se sentar novamente – Não deixe que a indiferença dessa pessoa te impeça de mostrar o que sente! – gritou aquilo que tanto desejava ouvir.

Alexy gostaria de ser corajoso o suficiente para agarrar Kentin e mostrar como se sentia, mostrar o quanto o amava em segredo. As coisas eram complicadas entre eles, mas se Kentin pudesse ser feliz mesmo que com outra pessoa isso já o deixaria contente.

As respirações de ambos se misturavam de tão perto que seus rostos estavam. Algo dizia para Alexy que aquilo era intímo demais e que ele deveria respeitar o espaço do outro e se afastar, mas ele não conseguia. Mesmo aquela pequena distância já deixava seu coração alegre.

A distância começou a diminuir rapidamente, Alexy se perguntou se era culpa do movimento do trem, mas na verdade era o rosto de Kentin se aproximando até que os lábios se tocaram e milhares de fogos de artifício e pinguins dançarinos dominaram a barriga do rapaz.

As carícias calmas que as línguas faziam ao se tocar se tornaram mais urgentes e rápidas quando Alexy pôs a mãos na nuca do rapaz puxando-o para mais perto de si. A felicidade dele era tamanha que iria começar a gritar e pular assim que ninguém estivesse vendo. Finalmente, ele estava tendo seu tão esperado beijo.

Os batimentos cardíacos de ambos estavam acelerados, mãos passeavam pela nuca e os cabelos um do outro brincando aleatoriamente com algumas mechas e deixando tudo bagunçado não que eles se importassem. Nenhum dos dois desejava que aquele momento tivesse fim.

– Estação XX, desembarque pelo lado esquerdo do trem – avisou a voz monótona nos autofalantes.

Kentin interrompeu o beijo. Os olhos verdes pareciam mais escuros, a boca estava quase vermelha e seu cabelo havia se tornado um desastre por culpa de Alexy, mas ele estava feliz.

– Tenho que descer – levantou-se e começou a andar em direção à porta do vagão.

– Eu sou a pessoa de quem você gosta? – Alexy perguntou entusiasmado levantando-se pronto para seguir seu amado.

– Sim – Kentin sorriu timidamente. A campainha que indicava o fechamento das portas começou a soar e ele deu um passo para fora do trem – E não se esqueça: O que acontece no trem fica no trem.

A porta se fechou e Alexy observou a figura do seu amado ficando cada vez menor à medida que o trem se afastava da estação.

– Desculpe Kentinho, mas dessa vez o que acontece no trem vai ter que sair do trem – ele murmurou pouco antes de aproveitar a solidão no vagão para gritar e dançar como um louco comemorando o beijo que recebeu.

Naquele momento Alexy teve certeza de que era o garoto mais feliz do mundo e que nenhuma véspera de natal seria melhor que aquela.


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Notas finais do capítulo

Então bolinhos, gostaram?Deixem as opiniões em comentários, é muito importante para mim saber se meu primeiro yaoi ficou legal ou não.Críticas construtivas são sempre bem vidas.Beijinhos e paçoca para vocês.



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