E se... escrita por Virgo


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Tem um discurso meio anarquista ai no meio, só avisando, porque eu sei que existem pessoas que não concordam. No que diz respeito a anarquia, esse discurso tá é bem amador para o que eu acredito e penso hoje em dia, mas decidi deixar ele do jeito que tá.
Enfim. Tenham uma boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/612490/chapter/5

Fazia um mês que estava se esforçando e por enquanto estava tudo dando certo conforme o planejado.

As muralhas negras já estavam na metade de sua construção, assim como as valas que conduziriam a lava para o mar. O porto ainda teria que esperar, mas todos os navios que chegavam com escravos já tinham sido destruídos e os escravos acolhidos com o respeito que mereciam. Os moradores da ilha estavam insatisfeitos, como o imaginado, pois tiveram de libertar seus escravos e ainda abdicar de suas terras por um tempo.

Mas haja paciência para aguentar tanto protesto de quem era a minoria mais irritante. Francamente não sabia de onde tirava tanta paciência.

¬ As propriedades são minhas! Os animais são meus! E os escravos o mesmo!— reclamava um dos mais velhos moradores, e o quinto a ver só naquele dia. - Não tem direito algum de tirar o que me pertence!

¬ Tente entender que é preciso.— falava pausadamente, na esperança de que entrasse na cabeça do velho.

¬ Você é um moleque e não sabe nada!— vontade de matar não faltava. - O que tem na cabeça para chegar aqui mandando e desmandando na vida dos outros?— agora se iria matar mesmo, era algo discutível. - O que é meu, é meu! E você não tem o direito de tirar!

¬ Escuta aqui velho gaga!— o leonino apontava ameaçador para o senhor. - Vai levar tudo o que tem pro túmulo?! Eu imagino que não! Então vou te contar mais uma novidade! Tudo o que você tem pertence mais aos seus escravos, que agora são pessoas livres, do que a você! Eles batalharam para que os animais crescessem! Eles ralaram para que a plantação de merda desse alguma coisa! Eles são pessoas e não objetos, e como pessoas merecem mais que você! Agora suma com suas reclamações descabidas antes que eu te jogue na porra daquele vulcão!— apontou para onde saia a densa fumaça.

O homem sabia, pelo olhar do moreno, que aquela ameaça estava bem distante de ser uma brincadeira, então foi embora a contra gosto. Suspirou cansado e irritado, sentindo um de seus homens se aproximar.

¬ Se mais um desses aparecer, eu não garanto que sairá com vida. — disse ao homem. - Pelo amor dos deuses ou seja lá quem a maioria aqui acredita. Tentem se resolver com eles, não empurre-os pra mim. Se tiverem problemas, usem do meu discurso, mas não os deixem perto de mim!

¬ Sim, senhor.

Depois disso não teve tantos problemas quanto aos antigos proprietários de escravos. Agora seu problema se restringia aos escravos que de tudo desconfiavam, mas isso podia ser resolvido com algum esforço e trabalhando a confiança deles. No fim das contas, o Respeito seria sua principal base.

No que diz respeito à Luta Galática tiveram um sucesso parcial, conseguiram trazer cinco pedaços da armadura, mas isso também custou-lhe quatro guerreiros. O luto de uma semana atrasou um pouco as coisas, mas ele era preciso. Agora as partes da armadura estavam bem guardadas e a fundação os procurava sem muito sucesso.

¬ Senhor.— era Dragão Negro. - A fundação mandou os Cavaleiros nos procurarem. Devemos nos preocupar?

¬ Deixe que procurem.— respondeu. - Se chegarem muito perto iremos para as cavernas a sudeste de Aokigahara, ao pé do Monte Fuji. Lá resolveremos isso. Mas só fique atento por enquanto.

¬ Entendido.— respondeu com um aceno. - Mais alguma coisa?

¬ Hai. Pode ajudar o Andrômeda com as muralhas?— perguntou. - A maré tem estado mais violenta, pois é chegado o período de tornados mais ao sul e isso tem dificultado o trabalho dele e de seus homens. Pode ajudá-lo?

¬ Estou indo até ele. Com licença. — e retirou-se.

As tempestades de fato chegaram, e chegaram bastante violentas, mas as muralhas continuaram a ser erguidas. Cada vez maiores e mais imponentes com suas paredes negras e grossas que nem mesmo um Cavaleiro perfuraria sem algum esforço.

Até mesmo suas tentativas de relações comerciais tinham dado certo, claro que depois de outras cinco tentativas. Agora seu parceiro comercial estava aguardando seus produtos, que logo seriam despachados nos navios recém construídos.

¬ Para quem mandava tantas cartas?— perguntou a virginiana.

¬ Santuário.

Ela o olhou um tanto confusa. Sabia que o Santuário tinha certos interesses naquela ilha, mas nem mesmo eles se dispunham a dar muita atenção à aquele local esquecido pelos deuses.

¬ E o que o Santuário poderia querer de nós?

¬ A primeira resposta deles dizia a mesma coisa.— o leonino parecia desanimado pelo comentário. - Lembra que as vezes o Santuário mandava alguns guardas para cá?

¬ Lembro. Eles geralmente vinham para trazer prisioneiros.

¬ Lembra também que as vezes um pobre desavisado pisava no lugar errado e morria envenenado pelo gás que sai das crateras?— algo deveras comum naquela ilha.

¬ Claro. Eram mortes horríveis.— disse a menor. - Os companheiros destes tentavam ajudar, mas nunca chegavam a tempo, só conseguiam resgatar o corpo e pra facilitar deixavam muitos pertences para trás.

¬ E depois vocês os pescavam das crateras, certo?— ela acenou. - Então, eu observei que as armaduras deles eram muito fracas. Mesmo sendo apenas soldados, as vezes eles precisam lutar com pessoas de poder semelhante ao de um Cavaleiro, deviam ter uma proteção mais decente.

Ela estava um pouco pensativa. Sorriu. Achava uma graça ela fazer bico e ficar enrolando o cabelo enquanto pensava.

¬ Agora que comentou, eles tinham armaduras de couro e as de metal eram de ligas muito fracas.— concluiu depois de um tempo.

¬ Por isso ofereci nosso trabalho como ferreiros para o Santuário.— sorriu. - Já conversei com os homens e eles disseram que são capazes de forjarem quantas armaduras forem necessárias para os soldados do Santuário, afinal, fazer a manutenção e forjar mais armaduras necessita de muita habilidade e isso eles tem. E ficaram ainda mais felizes em contribuir quando disse que o pagamento pelas peças seria de um terço em ouro e os dois terços restantes em animais, produtos, água potável e alimentos. — a menor lhe olhou descrente, era bem mais do que imaginava.

¬ Ikki... Isso vai mudar totalmente nossas vidas.— ela ainda estava descrente. - Vai mudar tudo!

Roubou um beijo, fazendo-a ruborizar e tirando um grade sorriso de si.

¬ É exatamente isso que eu espero que aconteça.— comentou. - E aliais, a carta que eles aceitaram foi aquela que você escreveu. Logo, o crédito é seu.

A loira lhe sorriu em resposta e tentou desviar sua atenção, mas ele ainda sabia que no fim das contas o responsável pela futura mudança de vida de todos seria ela e somente ela.

Com tudo isso em mente, com muitas pessoas desocupadas na ilha e com os navios voltando com os pagamentos do Santuário, puderam começara a criar uma ordem social naquele lugar. A situação fora esclarecida para todos, alguns continuaram protestando e outros aceitaram participar de bom grado.

Boa parte dos ex-escravos foram convertidos em trabalhadores do campo. Onde tentariam fazer aquela terra dar algo e onde criariam os poucos animais domésticos da ilha. As terras em que trabalhavam antes era de posse dos poucos moradores da ilha, agora eles pertenciam à apenas três deles, os que menos reclamavam, e os demais também trabalhariam nas terras, mas como administradores da produção. Claro que tudo isso era fiscalizado por um pequeno grupo de Cavaleiros Negros, cujas ordens eram: “Se uma chibata estalar, outras cem devem ser estaladas nas costas do culpado”. Ou seja, se alguém ali for tratado novamente como um escravo por um dos administradores, o administrador será tratado como um escravo.

Nos primeiros dias o moreno quase enlouqueceu com o tanto de problemas que apareceu. Os escravos ainda não tinham entendido que eram livres e os administradores não tinham entendido que aquele sistema escravista faliu.

¬ Eu tenho que desenhar?!— estava furioso e gritava com todos. - Qual a dificuldade de entender que a tirania acabou?! Que as coisas mudaram?!

Estavam em uma das antigas terras dos velhos moradores, a casa e celeiro agora serviam de armazém, mas tinha uma outra construção que estava sempre vazia e que estava causando alguns rumores repugnantes. O moreno não pensou duas vezes quando estourou o lampião dentro da construção de madeira que serviu de morada para os escravos.

Logo as chamas se alastraram por toda a estrutura de madeira e se tornaram gigantescas, quase tocando o céu. Com chamas tão violentas, o barracão logo não passaria de cinzas. O moreno ficou algum tempo admirando as chamas com ódio, pouco depois virou-se para as pessoas que assistiam a cena um tanto espantadas.

¬ Vocês não devem nada a ninguém! Suas vidas são de vocês e de mais ninguém! — apontou para o solo e continuou a gritar com os presentes. - O que vocês tiram da terra ou dos animais não é mais de um senhor, é de vocês! É de todos nós! Porque todos estão lutando e se esforçando para que o futuro seja melhor!

¬ Diz que quer construir um futuro, mas não impõem disciplina alguma! — rebateu um dos administradores. - Sem ela não teremos nada!

Procurou o homem que lhe falava com o olhar e quando o encontrou foi até ele a passos pesados. Era mais baixo que o homem, mas obviamente mais imponente, principalmente por conta do olhar que sustentava.

¬ O futuro só pode ser construído com uma base forte. — respondeu com um rosnado. - As leis desta terra escravizam as pessoas aos poucos homens livres que aqui viviam. — apontou acusador para o homem a sua frente. - Homens, como você, que exigiam lealdade e serviço, mas sem oferecer nada em troca.

¬ E você por um acaso é melhor que alguém aqui? — essa veio de um dos ex-escravos.

Era um homem velho, já devia ter sofrido e aprendido muito em sua vida. Não parecia ser o tipo de pessoa que gostasse muito de novidades e muito menos de pessoas como o leonino. Ainda estava muito irritado, porém, daria um desconto para o senhor.

¬ Eu sou um homem como o senhor. — disse de forma mais calma e respeitosa, ainda tinha alguns dos bons costumes que lhe foram ensinados. - Eu ando nesta terra para sofrer como o senhor. E assim como o senhor, eu tive que aprender o que era a realidade da vida, uma tirania. Tirania esta que só leva ao fracasso. Pegue Jango, o antigo líder dos Cavaleiros Negros, de exemplo. Pegue meu falecido mestre de exemplo.

¬ E o que de melhor você pode nos oferecer? - o homem estava visivelmente cansado.

¬ Admito que aos olhos de todos ainda sou um menino e tenho muito a aprender. — comparado ao senhor com quem falava, ele era um tolo inocente. - Mas eu estou disposto a construir um lar, um lugar em que eu me sinta feliz e bem. Um lugar em que teremos mais justiça do que antes, onde um homem trabalhará para sustentar sua família, onde um homem não será preso ou condenado sem uma acusação, onde um homem poderá trabalhar, comer e viver pelo suor de seu rosto e ser tão feliz quanto ele puder! - virou-se para os presentes novamente mais irritado, no entanto seu olhar agora era cansado, como o do homem atrás de si. - Não quero construir um mundo perfeito, também não quero ter um império. Eu só quero um lar para onde voltar e sei que todos aqui desejam o mesmo.

¬ Então quer dar um castelo para cada homem? — disse o administrador com quem falava antes. - Ridículo.

¬ A casa de um homem é seu castelo. — rebateu mal educado. - Tudo o que estou pedindo é ajuda para construir um futuro para esta terra esquecida. Não peço ouro, não peço homens, não peço mulheres, não peço comida, não peço animais. - estava cansado, por isso decidiu ir embora, deixando o resto para seus homens. - Tudo o que peço é ajuda para construir um futuro.

Depois desse dia os problemas com o campo diminuíram consideravelmente e raramente ele tinha que resolver algum problema relacionado. Agora tinha que se concentrar na construção da pequena cidade.

Muitos que chegaram nos navios tiveram suas profissões mantidas, principalmente os médicos, que apesar das condições precárias, ainda exerciam seu trabalho com muito esmero. Também haviam pedreiros, marceneiros, ourives, ferreiros, alfaiates, professores e outros mais. Estes ajudavam a construir a futura cidade que residiria dentro das muralhas e a cuidar das crianças que entraram como escravas naquela ilha.

Aos poucos iam surgindo casas e estabelecimentos dentro das muralhas, todos feitos com a mesma rocha negra. O próprio moreno estava tratando de construir a sua com os materiais que conseguia no fim do dia.

A rocha serviria de proteção para possíveis detritos que escapassem do vulcão e possíveis ataques inimigos, já que eram lava solidificada, um material naturalmente muito duro e difícil de destruir. Mas para o interior das casas não ficarem tão escuros, era feita uma espécie de massa branca para revestir seu interior e as vezes exterior. As casas eram iguais em tudo, não tinha muita diferença, só um detalhe aqui e ali. Os estabelecimentos também não tinham muitas diferenças entre si, apenas as placas de madeira, tiradas do velho porto, indicavam se ali seria um alfaiate ou um ferreiro.

Logo tiveram que se organizar mais classes e logo o embrião de um Estado estava formado.

Uma parte dos Cavaleiros Negros se dedicava à segurança e aplicação da justiça, além de ajudar na forja e nas construções civis, todos sob o olhar do irmão de Dragão Negro. Uma das partes restantes constituía um pequeno exercito, comandados pelo próprio Dragão Negro. Outra parte se encarregava da produção da pequena área fértil da ilha, monitorando o andamento e acontecimentos do “campo”, também dedicava-se à segurança e aplicação da justiça, todos sob as ordens de Andrômeda Negro. Outros cuidavam da ida e vinda de mercadorias do novo porto, organizados com rigor por Cisne Negro. E os demais trabalhavam com “relações exteriores” ao lado de Pegasus Negro.

As pessoas comuns não tinham uma vida tão diferente do seu antigo normal, afinal mantiveram seus antigos deveres, a única coisa que mudara foi o ambiente em que viviam e trabalhavam. A cidade, mesmo pequena, começava a parecer um caldeirão em ebulição de tão agitada que ela ficava, principalmente com a chegada de navios com produtos do Santuário e a saída de navios com armamentos e armaduras, além de algumas outras coisas que também passaram a ser comercializadas.

Raramente ele tinha tempo, mas gostava de andar por entre as ruas da cidade e ver como as coisas estavam.

O pequeno mercado que se formou era bastante colorido e vivo, não tinha como ficar entediado no mercado, onde fofocas não faltavam e pechinchar era a alegria da maioria. As forjas e oficinas dos ourives eram grandes e poderosas, verdadeiras fortalezas vistas de fora, dedicadas à produção destinada ao Santuário e à pedidos feitos pelos moradores da ilha. O porto era tão vivo e colorido quanto o mercado, ainda mais agora que estavam estabelecendo comercio com as demais ilhas. E a praça que se formou era quase toda ocupada por crianças e adolescentes, estes ansiosos para o inicio de sua aula ao ar livre, tal como na antiga Atenas.

Gostava de ver a praça por último, afinal seu anjo sempre estava lá. Ela dava aula para os pequenos também, lecionava o Grego – necessário caso uma das crianças fosse para o Santuário, língua que ela aprendeu com os Cavaleiros Negros – e o Inglês – considerada a língua mais falada do mundo, aprendida em sua ilha natal –, além é claro de cuidar dos pequenos, aprender o que não sabia e ajudar com o que podia.

Naquele dia, por alguma razão, ele não a avistou entre as crianças e começou a considerar voltar para casa, ver se ela estava por lá ou então no mercado e campo. No entanto, desistiu da ideia assim que sentiu tocarem-lhe o braço.

¬ Das crianças tem a admiração. Dos homens tem o respeito. Das mulheres tem o amor. Dos velhos tem o apoio.— ela deu a volta e o moreno logo a puxou para um abraço. - Você não só conseguiu a lealdade de seu povo, como o amor dele também.

Riu. Ele não queria ser um líder, como ela deu a entender. Todo o que ele queria era viver um dia de cada vez e em paz, mas antes ele tinha que ter um lugar e ele construiu esse lugar. Já estava bom assim, não precisava de mais nada para ser feliz, pelo menos o tanto que esperava ser.

¬ Não é o meu povo, não sou seu líder. — respondeu num suspiro.

Ela se afastou com um sorriso. Se colocou na ponta dos pés, o fez abaixar levemente a cabeça e estalou um beijo em sua testa. O abraçou mais uma vez e ali ficou por um tempo antes de voltar para o grupo de crianças risonhas que cochichavam atrás de si. Pilantrinhas.

¬ Sabes muito bem que essa escolha não é sua. — sorriu tão gentil quanto era possível. - O povo vai pedir que fique e, te conhecendo como conheço, você vai ficar e cumprir tudo o que prometeu.

Deu-lhe um beijo e voltou para os pilantrinhas, deixando-o meio bobo e sorridente. Desde que ela estivesse do seu lado, ele aceitava qualquer coisa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)

Bjs. L :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "E se..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.