Olhava pela janela a ver as gotas escorrendo pelo vidro e doce tilintar delas batendo no telhado.

Sobre a escrivininha estava uma folha de papel branca esperando a verdade e uma caneta rosa de tinta azul quase gasta.

Essas últimas horas, passei tentando arranjar coragem dentro de mim para lhe contar que vamos ter um fruto de nosso amor, se é que ele alguma vez existiu.

As malas estão despostas sobre a cama com a roupa, alguns livros, fotos e mais algumas coisas que possa vir a precisar.

Ao lado, estava o meu ingresso para o outro lado do mundo, onde planeio viver até ao fim dos meus dias, ou pelo menos, até arranjar coragem suficiente para enfrentar as adversidades da Vida.

No criado mudo estava meu celular que apitava a cada minuto avisando-me de uma nova mensagem, e a maior parte era dele:

"Onde você ta?"

"Me liga por favor, estou preocupado com você"

"Me responda por favor, preciso de saber se você ta bem!"

Maldita noite! Já nem sequer consigo olhar para a cara dele ou falar com ele.

E sabe qual é a pior parte da dor? Queremos ser consolados por quem nos faz sofrer.

Mais uma voz ouvi a música do meu celular fazer parte do ambiente e interromper-me pelos ouvidos. Mais uma vez era ele. E desta vez Tomei coragem e atendi.

"Violetta Castillo onde você ta?"

Parei de respirar . Pode sentir o desespero e a preocupação da pessoa que estava do outro lado da linha. Aquela voz quente e suave que me faz sorrir. Pela primeira vez naquela semana permiti-me sorrir, mas depois voltei a lembra-me do sucedido. Afinal, não podemos esquecer-nos de uma ser que esta a ser gerada por nós, dentro de nós. Era também a primeira vez naquelas semanas que se seguiram ao "acontecimento" em que ouvi a voz dele. A voz de Leónard Vargas.