É de Graça escrita por Ikarus


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

só queria sair do bloqueio ;n;



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“Nem todo bom humorista é um bom cômico, nem todo comediante é um bom ator e nem todo bom roteirista é um bom cronista.” Assim começaria uma citação promovendo o trabalho de um grande e genial escritor (e talvez ele o fosse). Mas tudo passava por cima daquela cabeça cabisbaixa. Não importava se era o próprio Luis Fernando Verissimo quem tinha escrito aquelas mil e uma lisonjas na contracapa do livro: Ele se sentia um medíocre.

E, medíocre, lá estava ele tirando os fones do ouvido por um minuto para falar no telefone. A cabeça latejava do silêncio que fazia na ausência do Spotify enquanto seu dedão trabalhava para digitar o número da psicóloga qualquer que o recomendaram. Um fone voltou para seu ouvido. A música ocupava os lábios dele e o cara nem percebeu quando o outro lado atendeu.

“Boa noite, psicóloga Héderváry, como posso ajudá-lo?”

Essa música nova do Mumford and Sons tem uma pegada boa, né? Bora ouvir mais um pouquinho. Aumentou o volume.

“Senhor, senhora, seja lá quem esteja no outro lado da linha; são onze da noite e eu tenho que terminar esses relatórios ainda hoje. Então, se puder me dizer o que você quer, poderemos ambos nos ajudar, não é?”

Se bem que agora parece The Killers sem o banjo.

E a moça desligou na cara dele.

É verdade. Tinha de falar com a psicóloga. Tinha de fingir que estava preocupado com a própria saúde. Discou o número de novo.

“Juro que se for trote, descubro quem você é–”

“Foi mal. Juro que não é trote, moça.”

Ela respirou fundo. Talvez fosse um “tá, fala logo”. Talvez fosse um “você não me engana”. Mas era todo o tempo do qual ele precisava.

“Preciso de… Preciso conversar com alguém. Não queria ligar pra linha de suicídio, acho que só encurtaria o caminho.”

“Você sabe que eu vou cobrar por isso, né?”

“Espero que sim.”

“Muito bem. É depressão, né?”

“Acho que é. Não sei se não conseguir encontrar graça nas coisas conta como depressão.”

“Depende do caso. Pode-se dizer que sim. Mas que insano, como assim não consegue rir de jeito nenhum?”

“Não consigo.”

“Poxa, nem vídeo no YouTube? Pera, conheço um cara de stand-up comedy muito bom, bate aí: B-E-I-L-S-C-”

“H-M-D-I-T. Não rola.”

“Conhece? Poxa, é muito bom esse aí.”

“Claro que conheço. Esse porra aí sou eu.”


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