Capítulo 4

Como tanta coisa pode ter mudado em tão pouco tempo. Em um pouco mais de seis meses eu já senti tantos sentimentos distintos por Teresa: amor, admiração, saudade, ódio, rancor, mágoa e novamente saudade, só que dessa vez uma ainda maior, que chega a triturar o peito. E agora diante dessa revelação acho que a única coisa que consigo sentir é decepção, não de Teresa, mas de mim mesmo. Decepção por ter feito tudo errado, por ter pensado errado, por ser um covarde que se deixou acreditar na primeira impressão. Agora eu pago o preço por isso, vendo a garota que eu amei um dia, e confesso que não sei se ainda amo, com um filho de outro no ventre.

– Essa criança é do Andrew? – As palavras saíram da minha boca sem eu conseguir controlar.

– Isso não vem ao caso agora. – Ela me olhou de relance com raiva nos olhos e depois voltou sua atenção para Minho. – O que precisamos é achar uma maneira de distrairmos Andrew para que eu também possa fazer o teste e substituir o de Vanessa caso de negativo para imunidade.

– E quando nós vamos fazer isso? – Perguntou Minho com certa esperança no olhar.

– Imediatamente. Andrew vai fazer de tudo para que o Berg seja consertado logo pela manhã e eu não vou conseguir segurá-lo mais depois disso – Ela falava enquanto andava de um lado para o outro na sala – Gally, você fez parte do Braço Direito, então creio que saiba muitas coisas ocultas sobre eles, não estou certa?

– Sim, mas o que isso tem haver? Todos eles morreram naquela explosão.

– Nem todos. E os que sobreviveram estão nos causando grandes problemas.

– Que tipo de problemas? – Samuel, um dos nossos líderes perguntou.

– De alguma maneira desconhecida, eles conseguiram amostras do Fulgor X, e estão tentando construir Transportais para os Paraísos que ainda restam para disseminar o vírus e acabar com o que ainda resta da raça humana. Se você conseguisse dar alguma informação útil sobre eles você estaria ajudando tanto no nosso plano, quanto no de encontrarmos o Braço Direito para impedirmos esse desastre.

– Acredite baby, eu sei de coisas absurdas sobre esses caras ainda. Traz o seu namoradinho pra cá, que eu conto pra ele – Gally disse, já se sentindo orgulhoso de poder ajudar.

– Não da pra ser assim, Andrew é muito sistemático. Eu vou até o Berg, o convenço a fazer o teste em Vanessa, assim que ele aceitar mando os guardas virem chamar ela e Minho e você vai junto. Lá, enquanto eu começo os procedimentos, você comenta alguma coisa sobre o Braço Direito, Andrew com certeza vai ficar curioso e vai te fazer perguntas. Gally, você vai se fazer de receoso, afirmando que pode contar alguns podres deles, mas que prefere contar só para ele. Faça de tudo para tirá-lo da sala por pelos menos uns cinco minutos.

Gally concordou com tudo aquilo e Teresa saiu para se encontrar com aquele idiota. Bem na entrada da cabana ela e Brenda se cruzam, eu pude ver faíscas saindo dos olhos das duas, mas por sorte elas apenas se olharam.

– A traidora só vai embora amanhã, o sem educação do amigo dela disse que o Berg está quebrado, mas que de amanhã não passa. Minho, eu sinto muito, mas nós vamos dar um jeito assim que eles forem embora – Brenda se aproximou de Minho, e esse nem deu atenção pra ela.

– Teresa já deu um jeito Brenda, mesmo que temporariamente. – Aris interveio.

– Essa afirmação idiota só podia vir de você mesmo Aris. Como que a traidora mentirosa vai resolver essa situação? Matando todos de uma vez?

– Não, ela vai usar o filho dela, pra salvar o meu. – Minho a olhou raivoso.

– Filho dela? Como assim? Ela tem um bebê? – Brenda estava confusa.

– Teresa está grávida, e o seu bebê é imune ao vírus e ela vai fazer com que Andrew acredite que o bebê de Minho também seja. – Disse.

– Nossa, a garota toda poderosa que se achava a tal, a melhor que todas, arrumou barriga? Tenho certeza que ela engravidou do Andrew só pra ele não dar um pé na bunda magra dela.

Caramba, será que estava tão na cara assim que aquele bebê é daquele mértila? Eu ainda tinha esperanças de que não fosse.

– Cara, eu vou até o chalé pra contar tudo pra Vanessa. – Minho disse e eu assenti – Mas eu quero te pedir uma coisa, eu quero que você vá junto com a gente na hora do procedimento. Você é meu melhor amigo e te quero do meu lado.

– Só se eu for junto – Brenda se intrometeu antes mesmo de eu responder.

– Você sabe que Teresa não vai te querer lá e acho que nem a mim. Desculpa cara, mas vou ficar te devendo essa – Disse piscando discretamente para Minho – Brenda, eu quero que reúna as mulheres da comunidade no alojamento e tenta acalma-las, afirmando que eles vão embora amanhã e tudo vai voltar ao normal. Eu vou fazer isso com os homens e depois nos encontramos na hora do jantar.

Até o jantar provavelmente tudo já estaria feito e Brenda não desconfiaria que eu fui junto com o casal. Sai da cabana sozinho e fui até a colina, aguardando Minho me chamar.

Minha cabeça estava a mil por hora, pensamentos desconexos pairavam sobre ela. Um turbilhão de dúvidas me invadiu. Dúvidas sobre o mundo em que vivemos, de como vai ser daqui pra frente, de como o Thomas que sempre soube o que fazer nos momentos difíceis agora estava perdido, sem ideias, sem iniciativa. Eu sei que precisava encontrar alguma maneira de salvar o meu grupo, mas antes precisava encontrar uma maneira de salvar a minha mente que estava sendo iludida descaradamente pelo meu coração.

– Terra chamando Thomas...

– Oi, cara, nem vi você chegar. – Me assustei com Minho a meu lado.

– Vim te buscar. Já conversei com Vanessa, expliquei tudo pra ela.

– E como ela reagiu?

– Acho que melhor que eu. Ela confia de olhos fechados em Teresa – Ele se sentou ao meu lado – E você, como está? Sua cabeça deve estar uma bagunça.

– Você nem imagina o quanto. De repente parece que o mundo começou a girar ao contrário. As coisas que eu achava que eram certas, parece que não são tão certas assim. Sentimentos antigos que estavam quase adormecidos estão querendo despertar, e isso não pode acontecer de forma alguma, ainda mais agora.

– Falando no nosso bom idioma, você ficou muito balançado com a volta de Teresa, mas sabe que não pode tomar atitude nenhuma em relação a vocês dois, primeiro por causa da Brenda e segundo por que ela está esperando um bebê do Andrew.

– Mas por que todo mundo tem tanta certeza assim que a criança é daquele otário? Teresa não pode ter tanto mal gosto assim. – Disse estressado.

– Isso tudo é dor de cotovelo, Thomas? – O imbecil do meu amigo ria da minha cara – Acho que ela só seguiu em frente, assim como você. E desculpe te decepcionar, mas o bebê é sim do Andrew e eu tive essa informação de uma fonte muito confiável.

– Teresa te falou? Ou foi o senhor perfeição se vangloriando sobre o assunto?

– Nem um, nem outro. Thaís, uma garota que trabalha com eles. Ela é como se fosse a dama de companhia da Teresa. Quando me encontrou falou bem assim: ‘ Teresa me mandou chamá-los para que o procedimento seja feito. Por favor, não deixe que Andrew desconfie que o teste do seu bebê vai ser trocado pelo teste do bebê deles. Não demonstre nenhum nervosismo’. Então não há mais dúvidas, o coitadinho é filho daquele mértila.

Confesso, fiquei abalado com essa afirmação e um sentimento estranho passou sobre mim. Sentimento de como se eu houvesse perdido algo e dessa vez por definitivo. Minho percebeu minha reação.

– Admita cara, você está magoado por causa disso.

– Eu amo a Brenda, mas também sinto algo especial por Teresa. Algo que eu não sei distinguir, mas que precisa ser esquecido.

– Eu tenho minhas suspeitas sobre o nome desse sentimento, mas vou deixar você descobrir sozinho. Mas só me fala uma coisa, você queria muito que esse bebê fosse seu, não queria?

Fiquei um bom tempo pensando no que Minho disse, até que o encarei e criei coragem pra dizer.

– Sei que isso é absurdo, mas, às vezes eu penso que queria muito que Teresa estivesse carregando um filho meu em seu ventre. Eu não sei mais o que pensar.

– Eu não acredito que você tem a coragem de dizer isso, Thomas.

Escuto uma voz feminina irritada bem atrás de mim, me viro e dou de cara com alguém que não deveria ter escutado aquilo.